segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Série Quilombos Comunidade Quilombola Vive Do Cultivo Da Terra Em Minas ...



Piquete-SP, Caminho do Ouro, Espaço de Memória da Escravidão e do Trafico Atlântico de Escravos. Artesanato produzido tradicionalmente  pelo Artesão Afrodescendente, Senhor Jacó
 

domingo, 28 de setembro de 2014

O Retrato do Rei

   
O Retrato do Rei é um romance da poeta e romancista brasileira Ana Miranda, publicado em 1991 em São Paulo.

Resumo da história

Trata-se da guerra dos emboabas, que ocorreu no Brasil de 1707 a 1709, entre paulistas e portugueses, principalmente. Emboabas é o termo usado pelos paulistas para designar os forasteiros.
O livro é organizado em seis seções: O contrato da carne; O retrato do rei; A herança; A guerra; À ventura; Pós-escrito. O conflito todo começa devido ao contrato da carne ter sido retirado das mãos do frei Francisco, o qual passa a arquitetar ações para que a guerra ocorra e depois ajuda os portugueses a vencer a guerra. O retrato do rei de Portugal foi enviado a Minas Gerais, para ficar com os paulistas e mostrar aos portugueses de que lado Vossa Magestade estava, mas o retrato acaba sendo escondido por Mariana de Lancastre depois de ser envenenada por frei Francisco.
Mariana é uma fidalga portuguesa que vai à Minas para falar com o pai prestes a morrer. Seu pai manda um paulista desbravador ir buscá-la: Valentim. Ao longo do penoso caminho, eles apaixonam-se, mas nada revelam um ao outro. A seção da herança fala da morte do pai de Mariana e da data de ouro que ela herdou, sem ter um escravo para trabalhar lá. A fidalga, que estava de posse do retrato do rei, veste-se de homem e foge de Valentim e dos paulistas e fica morando na data. Valentim vai atrás dela para ficar apenas vivendo perto dela e olhando-a por alguns dias, sem falar de seus sentimentos.
Os desentendimentos entre paulistas e portugueses aumentam e os portugueses chegam a matar a pauladas um paulista velho e desarmado pelas atitudes de seus filhos. Assim, a guerra começa. Os paulistas são mais valentes e habilidosos no combate, mas os portugueses confiscam as armas deles. Os paulistas refugiam-se em Sabará para fortalecerem-se para a guerra, e cortarem a estrada que traz a carne a ser comercializada vinda do norte. Os portugueses atacam, ateando fogo em todo o vilarejo. Outras batalhas acontecem, mas os paulistas só são definitivamente derrotados quando são covardemente massacrados pelos portugueses depois de 6 dias de fome e rendidos. Valentim e Heironimo, os líderes, estavam em São Paulo buscando reforços, por isso escapam ao ataque. De São Paulo parte um exército paulista que conquista duas cidades em seu caminho, mas rendem-se e voltam a São Paulo depois de os portugueses devolverem o retrato do rei a eles.
Mariana, que estava vagando por Minas atrás de Bento do Amaral, que lhe roubou o retrato do rei, assume para si o amor que sente por Valentim e vai para São Paulo atrás dele. Ao chegar lá e vê-lo noivo de outra, ela rouba o retrato da Câmara dos vereadores e foge para o mato, aonde se joga segurando o retrato do rei numa grande queimada. Valentim larga a noiva e procura desesperadamente por ela por toda a região.

Personagens principais

  • Mariana de Lancastre;
  • Valentim Pedroso de Barros;
  • frei Francisco de Menezes;
  • Hieronimo Pedroso de Barros;
  • Fernando de Lancastre;
  • Bento do Amaral;
  • Manuel Nunes Viana;
  • Manuel da Borba Gato;
  • Hieronimo Pedroso;
  • Pedro de Moraes Raposo
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre http://migre.me/lXvIy
Espaço Colonial de Piquete no Roteiro do Caminho da Narrativa contida no Romance Retrato do Rei. Uma vez que o caminho percorrido necessariamente a partir do povoado com cabanas e uma pequena igreja sobre uma colina coberta de plantação de bananeiras às margens do Paraíba. (Vila de Guaipacaré),  era em direção ao Registro (Piquete-SP), no sopé da Mantiqueira. (Retrato do Rei - Ana Miranda - São Paulo, Companhia das Letras 199, Capitulo 10 pág. 92 e Capitulo 11, pág 96), na fala do personagem Valentim:
 
                                    Capitulo 10
                                                      Frei Francisco chegou ao Pindamonhangaba e dali atingiu o Guaratinguetá. Mas dois dias caminhando até o pôr-do-sol, e ultrapassou o porto Guaipacaré, onde ficam as roças de Bento Rodrigues. Três jornadas depois avistou o Paraíba correndo no meio de um vale.
                                    A viagem transcorria com lentidão quando Frei Francisco, feliz, ouviu um sino ecoando. A estrada melhorou, tornou-se mais larga, pavimentada de pedras grandes.
                                     Avistou ao longe Mariana e seu cortejo.
                                      Às margens do Paraíba, um rio caudaloso cercado de rochedos, havia um povoado com cabanas e uma pequena igreja sobre uma colina coberta de plantação de bananeiras. Atrás de uma das casas, pastavam cavalos que serviam de muda às escolta do ouro.
....................................................................................................................................................................................
                                   Capitulo 11
                                   "Já estamos no Sertão de Minas?" , perguntou Mariana, ao atingirem o sopé de uma montanha.
                                    "Sim", disse Valentim, abaixando-se e recolhendo um punhado de terra vermelha. "Aqui começa o Embaú. Embau quer dizer garganta, vale. Estais vendo aqueles morros?" Valentin apontou uma  massa verdejante de matas.
                                      "São a Mantiqueira", ele disse. " Muros altos, para que nas Minas não cheguem os fracos.
...................................................................................................................................................................................................
Compilando os Mapas este trazendo a toponímia das localidades do Caminho, Vila de Guaipacaré (Lorena).  Resta esclarecido que  o Registro (Piquete-SP),  estava localizado no sopé da Montanha, onde começa o Vale do Embaú, em demanda da Vila Conceição do Embaú (Cruzeiro), objetivando alcançar a Garganta de mesmo nome.
 
 
 
 
 
 
 

terça-feira, 23 de setembro de 2014

MASSACRE NO CAPÃO DA TRAIÇÃO (Transcrição)

Via Registro (Piquete-SP),   - Nota: "Mas sabendo da vinda de reforços para auxiliar o português, os paulistas recuam na direção de Parati e São Paulo"

 

Borba Gato, então com oitenta anos, já não tinha a energia que a situação requeria. Diante da reação de Nunes Viana, limitou-se a repetir a ordem de expulsão, com ameaças de confisco de bens e de prender quem ajudasse o emboaba. Enquanto isso, Nunes Viana continua se armando. Sempre tentando evitar a guerra, Borba Gato comete dois erros táticos: firma uma espécie de paz provisória com Nunes Viana, estabelecendo uma dupla autoridade nas minas, e, pior ainda, deixa o centro dos acontecimentos, voltando para sua fazenda no rio Paraopeba.
Com Borba Gato ausente, um português é assassinado. Em represália, os emboabas lincham José Prado, pai do criminoso. As lutas se generalizam. Os paulistas, inferiorizados em homens e armas, retiram-se do lugar, incendiando, de passagem, as plantações do inimigo. Os emboabas reagem pondo fogo nos campos dos paulistas, em Ribeirão do Carmo (hoje, cidade de Mariana). Com estes concentrados na região do rio das Mortes, os emboabas estabelecem um governo próprio para a região. Nunes Viana é escolhido chefe e, depois de alguma relutância, pois o desrespeito à Coroa era claro, acaba aceitando. Para o lugar de Borba Gato, Nunes Viana nomeia Mateus Moura, um homem que já havia assassinado a própria irmã. Para seus lugar-tenentes, Nunes Viana escolhe dois foragidos da Justiça: Bento do Amaral Coutinho e Francisco do Amaral Gurgel.
Borba Gato, senhor dos sertões, não mandava mais. E de nada valiam suas cartas ao governador do Rio de Janeiro,
Fernando Martins Mascarenhas de Lencastre, denunciando Nunes Viana como contrabandista e acusando os emboabas:- São homens que entraram desaforando de toda a sorte. Cada vez que querem fazer um motim ou levantamento; para isso têm elegido cabos nesse distrito, e dado senhas, que não há mais que dá-la um, para todos estarem juntos.
Mas os emboabas ainda não estão satisfeitos: Bento do Amaral Coutinho ruma para o rio das Mortes. Sua missão é expulsar de vez os paulistas. Mesmo com menos gente, estes conseguem bater Bento do Amaral no arraial da Ponta do Morro. Mas sabendo da vinda de reforços para auxiliar o português, os paulistas recuam na direção de Parati e
São Paulo.Um grupo de cinqüenta bandeirantes, entretanto, não consegue escapar e é cercado pelos emboabas. Sob promessa de serem poupados, entregam suas armas e se rendem. Ao vê-los desarmados, Bento do Amaral Coutinho ordena o massacre. Nenhum paulista escapou. E o lugar do crime ganhou nome: Capão da Traição. Fonte: http://migre.me/lQzKQ
"Mas sabendo da vinda de reforços para auxiliar o português, os paulistas recuam na direção de Parati e São Paulo"

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

ESTRADAS REAIS NO SÉCULO XVIII: A IMPORTÂNCIA DE UM COMPLEXO (Transcrição)

 Sistema de circulação e o controle do território
Como expressa a historiografia, a mineração de metais preciosos tornou-se a atividade central da política exploratória da América Portuguesa no Setecentos, logo, o seu destino deveria ser, indubitavelmente, os portos da Colônia. O porto de Santos foi o primeiro a ter função de escoar o ouro para a metrópole, dada a proximidade com as minas, a rede de clientelismo que favorecia os “paulistas poderosos" (ANDRADE, 2002) no recebimento dos lotes minerais, bem como na proximidade e acesso que essa praça portuária tinha à vila de São Paulo, que, na ocasião, constituía-se como o principal ponto de entroncamento de vários caminhos e rotas de penetração (ABREU, 1963), resultado da tradição bandeirista. Desses, o caminho do vale do Paraíba que conduzia à Serra da Mantiqueira, após seguir o vale, tornou-se a principal rota de entrada de migrantes, da saída do ouro e do próprio abastecimento das minas nos seus primeiros anos. Era o chamado Caminho Geral do Sertão. Prado Jr. (2000) e Santos (2001), dentre outros autores, utilizaram os relatos de Padre Antonil [16] para descrever a rota paulista que partindo da vila de São Paulo, passava pela Penha, Itaquaquecetuba, Mogi das Cruzes, Laranjeiras, Jacareí, Taubaté, Pindamonhangaba, Guaratinguetá e Lorena. Transpunha-se a serra da Mantiqueira pela garganta do Embau e, vencida a “cordilheira” o caminho bifurcava-se, indo um dos ramos para as minas de Ribeirão do Carmo e Ouro Preto e o outro para as minas do Rio das Velhas. A esse caminho, juntou-se uma variante que partia do Rio de Janeiro por terra até Sepetiba, seguia por mar até Paraty e daí, subia a Serra do Mar atingindo o planalto nas proximidades da vila bandeirante de Guaratinguetá, seguindo desse ponto em diante pelo mesmo Caminho Geral. Esse caminho do Rio de Janeiro às Minas Gerais, passando por Paraty passou a ser chamado no século XVIII de Caminho Velho.
O rápido crescimento populacional da região aurífera e sua necessidade de abastecimento, bem como o escoamento rápido e seguro do ouro demandavam um sistema de circulação com qualidades não encontradas nem no Caminho Velho, muito menos no Caminho Geral, dadas as suas dimensões espaço-temporal alargadas. Faltava, desta forma, dotar os sertões das Minas Gerais dos Cataguás, como assim era chamada a região aurífera, de um sistema de circulação mais rápido e seguro com o objetivo de garantir maior fluidez na circulação do ouro, mercadorias, alimentos, pessoas e informações, logo, maior controle sobre a arrecadação dos impostos, como o quinto real e o dízimo. Em outras palavras, podemos dizer que a exploração das minas de ouro deu-se num ritmo veloz, enquanto a circulação continuava viscosa em virtude das inúmeras dificuldades encontradas nos primeiros caminhos.
A intenção da abertura de um caminho que ligasse diretamente a cidade do Rio de Janeiro às Minas Gerais já aparecia em cartas escritas pelo então Governador do Rio de Janeiro – Artur de Sá e Meneses – ao Rei de Portugal, como na de 24 de maio de 1698. Nela, o Governador demonstra preocupação com “o extravio do ouro por caminhos outros, com as dificuldades que se acham os mineiros de todas as vilas e os do Rio de Janeiro de chegarem” e, por fim, com o próprio abastecimento de gêneros alimentícios para justificar sua ida a São Paulo com o objetivo de “encontrar alguém para a abertura de um caminho que viesse pôr fim a tais inconvenientes à Fazenda do Rei” [17]
Na própria carta, o Governador informa que um certo Amador Bueno havia se oferecido para a abertura do caminho, porém, “eram tão grandes os interesses que me pedia, que o excusei sobre a dita diligência”. Como esse era um negócio de grandes possibilidades lucrativas, o paulista Garcia Rodrigues – o descobridor das chamadas esmeraldas - se prontificou em abrir tal caminho em menos tempo. Antes de nos revelar uma simples negação a um e a autorização a outro, a carta nos revela os conflitos existentes entre os paulistas para o controle do futuro Caminho Novo. [18]
O debate travado sobre o ponto de partida e a data do início da abertura do Caminho Novo nos revela que, sob qualquer um dos pontos de vista, havia, de fato, um enorme interesse em controlar o mais rápido possível o caminho do ouro. A rapidez em que iniciou as obras e a concessão, já em 1700, por ordem do Governador do Rio de Janeiro, do direito exclusivo de fazer ou manter negócio no Caminho Novo [19] , mesmo que se limitando a uma picada para pedestres, evidencia que Garcia Rodrigues não só sabia utilizar muito bem a memória de seu pai [20] para garantir mercês junto à Corte e de seus representantes na Colônia (poder de crédito), como sabiamente previu que o controle do caminho do ouro lhe garantiria poder político e econômico por décadas, ou ainda, como bem mostrou RODRIGUES (2002), por séculos! [21] . Seu itinerário [22] era o seguinte:
“Descendo da Borda do Campo (atual Barbacena) pelo vale do Paraibuna, abandonava-o pouco abaixo de Simão Pereira, e, cruzando o rio, ia ter diretamente ao Paraíba em Paraíba do Sul. Das margens do Paraíba tomava o caminho rumo geral de SSW e, passando por Pau Grande (perto da estação de Avelar) e pelo atual Pati do Alferes, alcançava a serra do Couto que permitia a passagem relativamente fácil da bacia do Paraíba para a dos altos formadores do Santana, chegando-se, então, à frente escarpada voltada para a Baixada e drenada pelos afluentes do Iguaçu. Do sítio do Couto, alcançava a baixada pelo vale do Pilar, afluente do Iguaçu, acompanhando-o até a sede da freguesia do Pilar. Daí dois rumos poderiam ser tomados: descer pelo rio até a Guanabara e o Rio de Janeiro, ou chegar a esta cidade por terra, atravessando o rio Iguaçu e em dois dias alcançar Irajá” (Bernardes, 1961, p.60).
Nos dez primeiros anos de sua existência, o Caminho do Couto não passava de uma picada aberta na mata com inúmeros problemas e limitações para os viandantes e comerciantes, a saber: a estrada era tão estreita que permitia a passagem somente de pedestres, obrigando, dessa forma, o transporte de toda sorte de mercadorias ser realizado nas costas de escravos negros e índios, o que o tornava extremamente oneroso; ausência de pousos e estalagens em extensos trechos do caminho, impondo aos viandantes o pernoite “no mato”; e, talvez o maior dos problemas, a irregularidade ao longo do ano no abastecimento de alimentos pelas poucas roças existentes. [23]
De qualquer forma, nesses primeiros anos, a possibilidade de fazer o percurso das Minas de Ouro ao Rio de Janeiro em dez dias era uma vantagem imensurável se comparada aos caminhos Geral e Velho, tanto para o erário Real, que passava a ter maiores condições de controle da produção e circulação do ouro, quanto para os comerciantes que abasteciam as minas e, sobretudo, aos migrantes que mais rápido chegavam à região aurífera. [24] Todavia, a vantagem temporal do Caminho Novo de Garcia Rodrigues, ou Caminho do Couto como também era conhecido, não foi capaz de proporcionar a fluidez que a mineração passou a demandar a partir da segunda década do Setecentos, resultado do próprio crescimento da população e da produção aurífera, bem como da necessidade cada vez maior de fornecimento de gêneros da terra e mercadorias em geral.
Em requerimento de 1723, encaminhado ao Rei [25] , moradores do rio Inhomirim explicitam os problemas do Caminho do Couto e pediam autorização para abertura de uma outra variante mais rápida e segura, dada “as muitas inconveniências, moléstias, perdas e riscos de vida que continuamente experimentam os viandantes deste atual Caminho”. Nas palavras dos próprios moradores, “o lucro que tiram dele [transporte pelo Caminho Novo], nêle o tornam a deixar, gastando mais de oito dias até o Paraíba.” Explicitando que já conheciam uma outra variante de trajeto para o caminho – talvez já previamente utilizado como rota alternativa para o não pagamento dos tributos reais – os mesmos moradores elencam suas vantagens que:
“fazendo-se o caminho pelo rio Inhomirim que desde a barra é povoado de moradores, com estalagem à beira d’água, cômodos pastos para as bestas até o pôrto e que as dito acomodar, porque de qualquer pôrto poderão carregar bestas e marchar até o Paraíba sem tirar cargas, nem sentirem inconveniência de subir serra nem alugarem canoas por não ser necessário e sobretudo ser o caminho muito breve que em três dias se poderá ir à Paraí [26]
No mesmo ano, o Governador do Rio de Janeiro, Aires de Saldanha, ordena ao sargento-mor Bernardo Soares de Proença que “vá aquele sertão fazer o referido exame” para comprovar as “ditas” vantagens anunciadas pelos moradores do Inhomirim.
Tão logo comprovada a vantagem desta variante, o sargento Bernardo de Proença colocou-se efetivamente na tarefa de torná-la em condições de circulação, levando aproximadamente quatro meses e meio nessa tarefa. [27] Este passou a ser chamado de Caminho de Proença ou Caminho de Inhomirim. Segundo Bernardes (1961, p.62):
“abandonando este [Caminho do Couto] ao sul do Paraíba (atual Encruzilhada), seguia para sudeste na direção do vale do Fagundes e de seu afluente Secretário, que acompanhava antes de ganhar o Piabanha, cujo curso seguia até o alto da serra. Daí descia à Baixada pelo vale do Inhomirim ou Estrela até o porto de mesmo nome, por onde se alcançava por água o Rio de Janeiro”.
O interesse e a necessidade em tornar a circulação entre as Minas Gerais e o porto do Rio de Janeiro mais rápida era tão evidente que o processo de abertura dessa variante do Caminho Novo foi também extremamente rápido, pois, da petição dos moradores do Inhomirim ao comunicado por parte do Governador do Rio de Janeiro do término das obras (06/10/1725) [28] não se passaram mais que dois anos.
Esse fato nos prova o quanto a Coroa Portuguesa estava empenhada em fincar seu poder e controle sobre as Minas Gerais. Das primeiras expedições de descobrimento no século XVII até a abertura dos Caminhos do Couto e de Inhomirim, o chamado “sertão das minas” já passara por inúmeras transformações socioespaciais, tais como o surgimento de outros caminhos e rotas menores de circulação interna, crescimento demográfico, surgimento de inúmeras vilas, degradação ambiental dos rios e riachos, dizimação da população indígena, entre outras. No entanto, a Coroa ainda não conseguira instalar-se efetivamente com seu cetro de poder nessa área, objetivando maior controle e arrecadação de impostos sobre a produção aurífera. Faltava a esse novo território um sistema de circulação capaz de garantir maior fluidez para o escoamento do ouro, às mercadorias vindas do litoral e aos gêneros da terra de abastecimento, bem como maior fluidez do controle régio, que chegava nas minas muito lentamente.
Os Caminhos do Ouro proporcionaram a dinamização, normatização e. conseqüentemente, maior controle dos processos socioespaciais já instalados nas Minas Gerais em anos anteriores. Em outras palavras, podemos dizer que foi a partir da abertura destes que novos sistemas de objetos e sistemas de ações representativos das forças  metropolitanas e locais se densificaram, garantindo e viabilizando  a transformação da configuração territorial brasileira.
.................................................................................................... Fonte: http://www.ub.edu/geocrit/sn/sn-218-33.htm
Caminho Velho - via Registro (Piquete), Conceição do Embau (Cruzeiro-SP) em direção a Garganta do mesmo nome. Passando pelo  Registro Mantiqueira.
Caminho Geral do Sertão - via Alto da Serra, espaço colonial de Piquete, passando pelo Registro de Itajubá, entrando pela região de Soledade de Itajubá (hoje Marmelópolis-MG).

sábado, 20 de setembro de 2014

Expansão territorial do Brasil



CAMINHO DO OURO DE PARATY, VIA REGISTRO (PIQUETE-SP), ESPAÇO COLONIAL.

500 ANOS O BRASIL - FAUSTO E A POBREZA DAS MINAS - EP. 07


Mapa da Capitania de São Paulo 1776, Estrada Real do Sertão, Caminho Velho, Caminho dos Paulistas. Alto da Serra, espaço colonial de Piquete-SP.  

Afonso Sardinha o Moço

Afonso Sardinha, o Moço ou o Mameluco, tinha acompanhado o pai em todos seus feitos e morreu pobre, no sertão, em meio a uma expedição guerreira.
D.
Francisco de Sousa havia enviado ao interior, pesquisar metais, Bento Maciel Parente e Diogo Martins Cão, e não obtendo resultado decidiu três entradas em 1596, partindo da serra dos Aimorés (a de Diogo Martins Cão), das costas de Parati (a de Martim Correia de Sá) e da vila de São Paulo (a de João Pereira de Souza Botafogo capitão-mor de São Vicente desde 14 de março de 1595, que não a realizou por ter sido preso por ordem real no meio da bandeira, e Domingos Rodrigues, fundidor de ferro trazido por D. Francisco do reino, chefiou um pedaço dela, dirigindo-se para a bacia do São Francisco e penetrando em território atualmente goiano, se deteve nas regiões de Paraupava). Dom Francisco chegou a São Paulo em maio de 1599 com grande comitiva e visitou então as minas de Afonso Sardinha o Moço, Bacaetava, São Roque e Jaraguá.
Dom Francisco em 1601 nomeou
Diogo Gonçalves Laço capitão das minas de ouro e prata do Ibiraçoiaba: na ocasião, declarou Afonso Sardinha o Moço como seu descobridor, com Clemente Alvares. Eram minas, mas de flancos de montanha ou «grupiaras». Ordena no regimento a Laço aos dois Afonso Sardinha as diligências que somente serão executadas por Nicolau Barreto no ano seguinte, acompanhado por Afonso Sardinha, o Moço, que morreu no sertão em 1604.
Esta importante bandeira de Nicolau Barreto teve início em agosto de
1602. Partiu de São Paulo, autorizado Nicolau por Dom Francisco a descobrir ouro e prata (o objetivo real teria sido a pesquisa de ouro e prata no Peru). Desceram o rio Tietê e o rio Paraná, atingiram o rio Guairá mas trouxeram apenas índios e de volta a São Paulo, onde chegaram em 1604. Haviam-na integrado Afonso Sardinha o Moço, Simão Borges Cerqueira, fidalgo da Casa Real, Ascenso Ferreira, Pedro Leme, Manuel Preto, Francisco de Alvarenga. Pensa-se que queriam na verdade penetrar no reino do Peru à procura de minas, já que o mesmo soberano dominava o continente. Desta bandeira resultou que o governador Dom Francisco Arias de Saavedra, adiantado do Rio da Prata, mandou por terra a São Paulo emissários para falar com Dom Francisco de Souza, que impediu o quanto pode a ida de bandeiras escravagistas.
Afonso o Moço fez testamento em 1604 no sertão, que se pode ler em Silva Leme, volume I, página 76. Foi escrito pelo padre João Alvares, um dos capelães. Nele declara possuir 80.000 cruzados de ouro em pó, enterrado em botelhas de barro. Declara ser descobridor das minas de ouro no Brasil, nas serras de Jaguamimbaba, hoje
Serra da Mantiqueira, na de Jaguara, termo de São Paulo, na de Vuturuna, termo da vila de Parnaíba, e na de Hiriraçoiaba ou Araçoiaba, termo de Sorocaba; fez também dois engenhos de ferro em que fundia com abundância tal metal, tudo à sua custa, circa 1590. Declara que desde 1592 morava na Embuaçava, terras dadas pelo pai.
Iniciador do ciclo do ouro das Minas de São Paulo, descobrira ouro de
1589 a 1600 na serra da Mantiqueira, em Guarulhos, Jaraguá, São Roque e Ipanema onde também encontrara ferro. Seu companheiro nas diligências era Clemente Álvares, mineiro prático. Em 1598, com outros Paulistas e mais de 100 índios, fizera entrada para «saltear índios» e descobrir metais, supondo-se que atingiu nas Minas Gerais o sertão do Jeticaí. Com seu filho Pedro Sardinha, também grande sertanista, desenvolveu os trabalhos de mineração no Jaraguá, que Brás Cubas tentara, mina donde diz ter extraido 80 mil cruzados e que o neto Gaspar Sardinha ainda explorava em 1636 com lucro. Deixou dois filhos legítimos, Luzia e Pedro. Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Afonso_Sardinha 

Rio Itabaquara - Piquete-SP ao fundo - Pico do Meia Lua -  Serras de Jaguamimbaba.

Casos, Descasos e Causos de Ibituruna (primeiro povoado mineiro)


sexta-feira, 19 de setembro de 2014

O Reconhercimento da Comunidade Afro-Diáspora brasileira como Agente Histórico, o caminho para resgate da memória e da verdadeira dignidade.

Projeto da UNESCO “Rota do Escravo: Resistência, Herança e Liberdade” -
O desdobramento do Projeto Mundial da UNIESCO, Rota do Escravo, voltado ao Patrimônio e ao Turismo, especialmente no que dia respeito a valorização dos sítios históricos ambientais ou culturais. No caso em questão os 100 lugares de Memória do Tráfico Atlântico de Escravo de Escravos e da História dos Africanos Escravizados no Brasil’  possibilita afirmar que se trata de um momento impar de  reconhecimento do povo da diáspora como "agentes históricos possuidores de uma consciência e vontade". O Caminho do Ouro como espaço de Memória, na perspectiva da presença do escravo relativamente ao trabalho e cotidiano, implica na contemplação como protagonista desse povo. Fato jamais cogitado em temos de Brasil. Sendo possível afirmar nesse caso que, o  Itinerário deve ser considerado como recepcionado como incluso entre os classificados como patrimônio comum da humanidade. Devendo ser para tanto considerado a indiscutível diversidade cultural presente em todo percurso de escoamento do ouro de Minas até o litoral pela Coroa. A Exemplo da Rota das Abolições na França deve ser considerado todo o percurso com suas atividades e paisagem culturais e naturais de Diamantina-MG até Paraty-RJ. Possibilitando vislumbrar a construção de um verdadeiro sentimento de pertencimento, somado ao empoderamento que venha dar origem a uma atuação como legitimo agente de transformação da inconveniente realidade.  Ademais os relatos no que tange ao trabalho e cotidiano no itinerário resulta abundante, como no caso da   Obra de André João Antonil,  Cultura e Opulência do Brasil Por Suas Drogas e Minas"; que neste contexto descreve dois itinerários; a) "Roteiro do Caminho da Vila de São Paulo para as Minas Gerais e para o rio das Velhas  (Estrada Real do Sertão, Caminho Geral  do Sertão, Caminho dos Paulistas); b) "Roteiro do Caminho Velho da Cidade do Rio de Janeiro para as Minas Gerais dos Cataguás e do rio das Velhas". Aliás tendo em vista que na reflexão sobre o tema a prevalência até então do  interesse quase que exclusivamente mercadológico no Brasil, relativamente ao itinerário, ou seja exploração econômica.  Não deixando de existir tal proposito, na busca do reconhecimento do caminho como patrimônio da humanidade. Consequentemente,  é muito pouco provável que, se não viesse da comunidade internacional o reconhecimento da diversidade presente nesse Itinerário relativamente a presença do Negro Escravo. Não creio que pudesse vir a ser cogitado  como instrumento de enfretamento da questão,  tendo em vista o  descaso com o tema, que na mesma direção pode vir a se transformar  em verdadeiro Itinerário Cultural da Diáspora. Tudo isso  em razão da invisibilidade histórica e o ostracismo relegada ao tema no Brasil enquanto politica pública. 
1) - França: A Rota das Abolições da Escravidão e dos Direitos Humanos- Lançada em 2004, a « Rota das abolições da escravidão » se relaciona com o projeto internacional da « Rota do escravo » apoiado pela ONU e a UNESCO sobre o dever de memória e se posiciona sendo a aplicação da Lei do dia 10 de maio 2001 adotada por França e « reconociendo o tráfico negreiro e a escravidão sendo crime contra a humanidade ». Fonte: http://pt.abolitions.org/
2) - Unesco planeja roteiro cartográfico sobre rota de escravos em Portugal.  
Pintura de Debret
Da Redação, com Rádio ONU 03/01/2013 08:45
Nova York - Um comitê da Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura, Unesco, deve levar a Portugal, neste ano, projetos para resgatar a memória do tráfico de escravos no país. http://migre.me/lMr2U
 3) 20º Aniversário do Projeto A Rota do Escravo na América Latina e no Caribe e 50º aniversário do Projeto História Geral da África. Em 2014, a UNESCO celebra o 20º aniversário do Projeto A Rota do Escravo, iniciado em 1994 na cidade de Ouidah (Benin). A celebração também faz parte do 50º aniversário do Projeto Historia Geral de África. (Fonte:- 16.07.2014 - UNESCO Office in Brasilia  http://migre.me/lMtdt)
...............................................................................................................


 

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

As novas jóias da humanidade (Transcrição)

Unesco inclui 13 novos sítios na Lista do Patrimônio Mundial. Burkina Fasso, Quirguistão e Cabo Verde aparecem pela primeira vez na relação - Graziella Beting
© UNESCO

Vista de Ribeira Grande, em Cabo Verde, a primeira cidade colonial construída pelos europeus abaixo dos trópicos Como ocorre todo ano desde 1972, o Comitê do Patrimônio Mundial da Unesco se reúne e analisa a situação dos bens culturais, naturais e históricos de sua lista de “localidades de grande valor universal”, assim como as propostas de novas candidaturas. Neste ano, o 33º encontro decidiu pela inclusão de 13 novos sítios (dois naturais e 11 culturais) na Lista do Patrimônio Mundial.
Burkina Fasso (com as ruínas de Loropéni), Quirguistão (Montanha Sagrada de Slamain) e Cabo Verde(centro histórico de Ribeira Grande) entraram na lista. Já o vale do Elba, em Dresden, na Alemanha, foi desclassificado, depois de passar três anos como “patrimônio em perigo”. Isso porque foi erguida na cidade uma ponte para passagem de veículos bem no meio do centro histórico, com prédios do século XVIII e XIX. A instituição conta agora com 890 patrimônios da humanidade, espalhados por 145 países.
Único candidato brasileiro, o Caminho do Ouro de Paraty não foi incluído. O comitê sugeriu que o Brasil revise suas dimensões e mude a denominação para “bem misto”, ressaltando seus valores naturais – e não só históricos. Uma das ideias é ampliar a proposta, incluindo a Estrada Real, a rota de escoamento de ouro de Minas Gerais até o litoral, criada pela Coroa portuguesa. Assim, seria abrangida toda a paisagem cultural e natural de Diamantina (MG) até Paraty (RJ)
Fonte: http://migre.me/lLm19
...............................................................................................................................
Nota: Estrada Real . Estrada da humanidade
Do Brasil para o mundo, com escalas na história, gastronomia, arquitetura, festas populares e belezas naturais. A Estrada Real (ER) caminha a passos largos para se tornar patrimônio da humanidade sob a chancela da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco). A iniciativa de pedir o título na categoria Itinerário cultural partiu do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), que terá um grupo de trabalho para fazer estudos e o dossiê sobre a rota que ligava, desde o século 17, Diamantina e Ouro Preto ao Rio de Janeiro e Paraty (RJ), para escoamento de ouro e diamantes em direção a Portugal. A intenção do Iphan, diz o superintendente regional em Minas, Leonardo Barreto de Oliveira, é apresentar toda a documentação dentro de um ano.
Confiante no potencial da ER para ganhar reconhecimento internacional, Leonardo tem em mãos um primeiro levantamento sobre o trajeto de 1.632 quilômetros, que passa por 198 municípios de três estados, sendo 168 em Minas Gerais, 22 em São Paulo e 8 no Rio de Janeiro. Nesse roteiro, há 50 quilômetros de trechos calçados de pedras, remanescentes do período colonial, além de cidades e monumentos reconhecidos pela Unesco, como Ouro Preto, Diamantina e o Santuário de Bom Jesus de Matosinhos, em Congonhas, e outros tombados pelo Iphan. Se obtiver o título, a ER estará no patamar de outros tesouros da Terra, entre eles o Caminho de Santiago de Compostela, na Espanha, e a Rota do Incenso e das Especiarias, no Oriente Médio
. (Fonte: http://migre.me/lLodp)
............................................................................................................
Observação: O desdobramento do Projeto Mundial da UNIESCO, Rota do Escravo, voltado ao Patrimônio e ao Turismo, especialmente no que diz respeito a valorização dos sítios históricos ambientais ou culturais. No caso em questão os lugares de Memória do Tráfico Atlântico de Escravo, incluindo o Caminho do ouro, não possibilita afirmar que passa o Itinerário a fazer parte do patrimônio comum da humanidade enquanto bem misto? Passando ainda a considerar de maneira ampla toda rota de escoamento do ouro de Minas até o litoral pela Coroa? Reiterando, desta feita não temos abrangido todo percurso com suas paisagem culturais e naturais de Diamantina-MG até Paraty-RJ?  Nesta perspectiva a sugestão de que seja revisada suas dimensões e mude a denominação para “bem misto” não implica afirmar que não se há que falar mais em caminho principal e área de influência, como se pretende a exemplo o projeto "Caminho Religioso Estrada Real" que pretende ter como paradigma o Caminho de Santiago de Compostela, haja visto de seus  ramos, Frances e Espanhol? Uma vez que temos na mesma direção em conformidade com os Roteiro contido na Obra de André João Antonil,  Cultura e Opulência do Brasil Por Suas Drogas e Minas"; neste contexto dois ramos; a) "Roteiro do Caminho da Vila de São Paulo para as Minas Gerais e para o rio das Velhas  (Estrada Real do Sertão, Caminho Geral  do Sertão, Caminho dos Paulistas); b) "Roteiro do Caminho Velho da Cidade do Rio de Janeiro para as Minas Gerais dos Cataguás e do rio das Velhas". Aliás tendo em vista infelizmente, que no que tange a   reflexão sobre o tem prevalecido  interesse mercadológico, direcionado a atrair investidores dispostos a explorar comercialmente rota,  ou seja, visando tão somente a  exploração econômica. O possível reconhecimento futuro do caminho, como patrimônio da humanidade, da um novo direcionamento, sendo certo que, é muito pouco provável, se não viesse da comunidade internacional, bem como, das entidades representativas no Brasil, voltadas especificamente ao tema, da promoção da igualdade racial, o reconhecimento da diversidade  cultural nesse Itinerário, relativamente a presença do Negro Escravo não teria sido contemplado . Definitivamente, é  pouco provável que pudesse vir a ser cogitado  como instrumento de enfretamento da questão de promoção da dignidade da  pessoa humana,  tendo em vista o  descaso com o tema, que nada impede que venha a ser transformar  em verdadeiro Itinerário Cultural da Diáspora com todos os benefícios que passa advir.

 

CAMINHO DO OURO - patrimônio comum da humanidade.

Desdobramento do Projeto Mundial da UNESCO, Rota do Escravo voltado ao Patrimônio e ao Turismo, no que diz respeito a valorização dos sítios ligados ao tráfico atlântico de escravos tonou-se realidade no Brasil entre outros, com o reconhecimento do CAMINHO DO OURO, como Lugar de Memoria do Tráfico Atlântico de Escravos. Possibilitando afirmar que, esse Itinerário passa a fazer parte do patrimônio comum da humanidade.
Toponímia "Alto da Serra,"  espaço Colonial de Piquete-SP
(Mapa de Santos - Carta corográfica - Capitania de S. Paulo, 1766 - Apresentando o Estado Político da Capitania de São Paulo em 1766, foi elaborada esta carta, com particular atenção aos limites com Minas Gerais. Clique nas imagens para reduzi-las: http://migre.me/lL8SP)
Nota: "A diversidade cultural como património comum da humanidade é uma forma de todo o ser humano reconhecer e respeitar a importância da expressão linguística e criadora de cada um.  Infelizmente há uma crescente degradação da diversidade cultural no mundo, ambiental, biológica e cultural.  Compete-nos a nós como seres humanos defender o direito à existência e à igualdade de oportunidades para todos em todas as formas vivas e nunca desistir pela vida como património da humanidade." (Fonte: Blog Mentes Brilhantes, créditos, Helena Silva - http://migre.me/lL7aA)

 

A importância da história de Paraty (Transcrição)


JUSTIFICATIVA
Como justificativa do projeto optamos por transcrever texto de autoria do Prof. Dr. Armando Martins de Barros, da Universidade Federal Fluminense, Coordenador das pesquisas "Memória e Tempo Guarani " e "Memória Caiçara",o qual foi originalmente escrito para compor a justificativa do projeto Caminhos da história: revitalização do acervo documental do Instituto Histórico e Artístico de Paraty, apoiado pela FAPERJ, o qual entendemos ser o presente projeto uma etapa de continuidade.
.........................................................................................................................................
A importância da história de Paraty "A região de Paraty encontra-se em área de confluência de diferentes caminhos que se justapõem como que em camadas de História, diferenciados no tempo segundo os interesses,os povos e os grupos sociais dominantes à cada época. Provavelmente a região serviu entre, aproximadamente 10.000 e 5.000 AC, ao trânsito de animais de médio e pequeno porte, possibilitando sua constituição como campo de caça de povos cujos sítios arqueológicos ainda encontram-se em estudo. Ao longo do século XVI bandeirantes vicentinos e militares em entradas atualizaram a significação desses caminhos, colocando-o a serviço de ligação entre a Capitania de São Vicente, o planalto de Piratininga e a sede do Governo-Geral do Rio de Janeiro. Finalmente, essas antigas trilhas transformadas em Caminhos de Pedra no período do ouro e do café por comerciantes e tropeiros foram resignificadas no século XX, servindo ao fluxo turístico entre o Rio de Janeiro e São Paulo, transformando Paraty em portal de acesso ao patrimônio histórico e ao santuário ambiental da Baía da Ilha Grande e ao Parque Nacional da Serra da Bocaina. Não podemos compreender a produção do povoado de Paraty senão no contexto de sua inserção na Baía da Ilha Grande. Os caminhos do mar articulam-se aos caminhos da terra fazendo com que os colonos vicentinos por uma mestiçagem levassem a constituição da cultura caiçara entre o litoral do Rio de Janeiro e o norte do Paraná. Em áreas litorâneas da Baía da Ilha Grande, como as enseadas do Ariró e de Paraty viviam no período pré - cabralino os tupinambás ( do tronco tupi) que contribuíram não apenas para toponímia da região como para a designação da fauna e flora - razão pela qual o peixe Paraty, futuramente, usado para a designação do município. Na primeira metade do século XVI, os tupinambás ampliaram seus territórios de caça de Angra dos Reis até Cananéia (SP), locais onde o alemão Hans Staden ficou prisioneiro na década de 1550. Liberto anos depois, Hans Staden retornou à Europa, escrevendo célebres livros como "Viagem ao Brasil", onde fala do cacique Cunhabebe, assim como das localidades de Mambukabe (Mambucaba) e Tiekquarippe , muito provavelmente o distrito de Taquari, distante cerca de vinte quilômetros de Paraty. No século, XVI, a estratégia de proteção da colônia levou a metrópole portuguesa a constituir as capitanias hereditárias. Paraty foi rota vicentina nos dois primeiros séculos da colonização. A localização da grande baía, com inúmera enseadas naturais e praias tranqüilas, a consideração dos ventos, das marés, do clima, do relevo determinaram a lógica de transbordo, dos navios para a terra, enriquecendo e povoando Paraty. Os viajantes vindos do Rio de Janeiro para o litoral sul aportavam em Paraty, seguindo por terra na direção da garganta de Cunha e, desta, descendo para o Vale do Paraíba onde retornavam ao litoral, em direção à São Vicente, ou seguiam para o planalto paulista, rumo a Vila e Colégio São Pedro de Piratininga. No litoral norte paulista, o desenvolvimento da Capitania de São Vicente permitiu a crescente presença de bandeirantes no planalto de Piratininga, tornando Angra do Reis e Paraty pontos de câmbio nos deslocamentos dos vicentinos para a cidade do Rio de Janeiro. Exemplo dessa subordinação apresenta-se na jurisdição de São Vicente sobre Paraty até 1561 e a partir desse ato a Capitania de Itanhaém. Paraty somente alcançou a condição de Vila em 1608 e sua emancipação, em 1667, como Vila de Nossa Senhora dos Remédios.(1) Pelas facilidades geográficas - qualidade das enseadas para portos seguros, gargantas que facilitavam os caminhos superando a Serra do Mar - a dinâmica do processo social envolvendo bandeiras, entradas, passagem na exploração da terra e dos índios - hospedarias, ranchos, pastos, estrebarias, ferrarias, engenhos, aldeamentos, missões, escolas e igrejas - contribuiu para que fossem gradativamente transformados em vilarejos, vilas, freguesias e cidades. Assim as cidades hoje fluminenses da Baía da Ilha Grande vincularam-se aos interesses de bandeirantes e tropeiros baseados em São Vicente e na Vila de São Pedro de Piratininga tornando Paraty e Angra do Reis expressões de uma mesma lógica de colonização, unindo-as àquelas hoje situadas no litoral paulista - Ubatuba, São Vicente, Santos - na Serra da Bocaina e no Vale do Paraíba paulista - Cunha, Taubaté e Guaratinguetá. A partir de 1693, Paraty tornou-se o caminho obrigatório de escoamento do ouro descoberto no Sertão de Cataguases, colocando-se em estreita ligação econômica com as cidades mineradoras de ouro e de diamantes da Capitania de Minas Gerais - Vila Rica, Ouro Branco, Mariana, Congonhas do Campo, Diamantina. Exemplo dessa estreita relação foram os caminhos que se reuniam no chamado Caminho Velho do Ouro construído como estrada calçada com pedras pelos escravos numa extensão de 1.200 quilômetros. Se no período colonial, a economia de Paraty era fundada no escoamento portuário da riqueza originada na agro - manufatura do açúcar e na extração do ouro, assistimos no Império a uma rearticulação de funções integrando mais profundamente os caminhos do mar aos da terra. A região renova-se como área estratégica devido a proximidade de seu litoral ( como o de Angra do Reis e de Mangaratiba) das lavouras de café do Vale do Paraíba e, a partir de 1850, das vantagens das inúmeras ilhas e enseadas na Baía da Ilha Grande - ideais no tráfico ilegal de escravos trazidos da África, com reflexos sobre o desenvolvimento da borda d'água em enseadas que transformaram-se em portos de intenso movimento: como Paratymirim, Jurumirin, Ariró, Marambaia, Mangaratiba. (2) A economia da baia da Ilha Grande articulou-se assim o litoral à agro -exportação cafeeira e as cidades como Taubaté, Guará, Cunha, Bananal, São José do Barreiro, diluindo-se sua percepção de fronteira regional fluminense na segunda metade do século XX. Todavia, com a chegada da estrada de ferro em meados do século de XIX, a baía da Ilha Grande sofreu um colapso e, abandonados os caminhos e isolada por terra durante quase cem anos, Paraty somente teve reaberto seu acesso por estrada em 1953, via o município paulista de Cunha. A estrada reaberta tem seu piso sobre parte do antigo Caminho Velho do Ouro, construído pelos escravos no séculos XVIII. Com a estrada, levas de visitantes iniciaram um turismo cultural antes desconhecido pelos habitantes da cidade. Com o turismo, surgem formas de penetração do capital e da mercadoria antes inexistentes, derivando o produto turístico e surgindo a propriedade de veraneio, a gradativa ocupação residencial da vila histórica, com a intensa aquisição de imóveis pela classe média paulista, antes ocupadas pelos caiçaras. Em 1974, o governo inaugura a estrada Rio - Santos, no contexto da infraestrutura das Usinas Nucleares e da instalação do terminal da Petrobrás, colocando Paraty dentro do eixo rodoviário litorâneo Rio de Janeiro - São Paulo.Uma nova lógica ordena o ir-e-vir da população nativa, com o afluxo turístico especialmente paulista e o aporte de fortes interesses imobiliários, ocupando com condomínios e resorts as antigas vilas de pescadores caiçaras. Enquanto pescadores, suas vilas ocupavam, até o início da década de 1970, a maioria das praias entre Mangaratiba e Ubatuba. Nesse período, com a construção da estrada Rio - Santos, essa população foi se retirando de áreas próximas à Portobelo, Portogalo, Frade, Itaorna, Mambucaba, Bracuhy, São Gonçalo e mesmo na Ilha Grande.No processo de realização do capital fundiário, comunidades caiçaras tiveram interditado seu modo de vida e em muitos casos, constituindo-se uma ruptura no modo de vida tradicional, implicando no estranhamento pelos seus membros, de suas próprias manifestações estáticas e artísticas,posto que desenraizadas do mundo do trabalho que lhes dava sentido e hoje, em alguns locais da baía da Ilha Grande, fetichizadas. Porque a produção historiográfica dirigida aos estudos culturais ou a literatura para - didática da Baia da Ilha Grande é quase inexistente? Essa situação em parte se explica pelo desinteresse da metrópole no século XVIII na circulação de documentos, mapas, relatos de viagens que facilitassem o ataque de piratas ou corsários à região responsável pela exportação marítima do ouro originado nas lavras de Minas Gerais. A ausência de uma documentação farta e expressiva, proporcional à sua importância, somente é compreensível se considerarmos a estratégia dissimulada pela coroa portuguesa a quem não interessava a circulação de documentos - mapas, relatos de viagens, diários, cartas náutica - que facilitassem o acesso de navios corsários ou de outros estados à Baia da Ilha Grande.(3) A localização de Paraty no século XVIII era segredo de Estado. Um exemplo desse ocultamento são os documentos referentes à viagem de Martim Afonso de Souza. Em 1531, a esquadra de Martim Afonso de Souza fundeou na Baia da Ilha Grande, organizando uma Entrada que explorou o sertão em direção aos Andes e o ouro existente na Bolívia e Peru.Somente em 1839, com o apoio do governo imperial o historiador Varnhagem teve acesso a uma transcrição parcial, modificada, com grafia setecentista e não quinhentista, omitindo a forma de ingresso na baia em questão. (4) O silêncio documental ampliou-se com a proibição para importação de escravos, imposta pela Inglaterra em meados do século XIX. No período, portos na Restinga de Marambáia, Jurumirim, Ariró, Mambucaba e Paratymirim serviram não apenas à exportação do café do Vale do Paraíba, como também, a um intenso contrabando de mão-de-obra escrava, originada na África e ainda lembrada por caiçaras de mais de 90 anos, ouvida de seus pais que participaram como marinheiros do tráfico na costa de Moçambique e Angola. A Coroa, em Lisboa, através do Conselho Ultramarino, monopolizou a produção de informações e restringiu seu acesso, impondo um confisco do conhecimento proporcional e orgânico àquele que realizava no âmbito da produção econômica extrativa, com o pau-brasil, o açúcar e o ouro. Por outro lado, seus representantes coloniais na máquina administrativa, fiscal e no exército,muitas vezes truncavam informações em relatórios, cartas e petições aos órgãos de controle colonial ultramarino. Resultado dessa rede contraditória na gestão colonial foras as Devassas realizadas pela Coroa com o fim de disciplinar e ordenar as práticas econômicas, coibindo o contrabando e os movimentos que ensaiavam o nativismo no século XVIII. Na sociedade dos homens livres, na colônia, envolvendo comerciantes, tropeiros, proprietários de engenhos e canaviais, o documento escrito não se tornou uma moeda simbólica de uso corrente, seja por força de sua condição, eminentemente analfabeta, seja em razão de que o documento textual vinculava-se à oficialidade, despregado do cotidiano onde a comunicação se realizava na língua geral nhengatu, mesclando o português e o tupi. Infelizmente, somada à estratégia oficial de ocultação documental na Colônia e no Império, prosperou ao longo da República a omissão e incúria dos gestores do público em preservar documentos textuais e iconográficos, causando a destruição de acervos inestimáveis, produzidos pelas Câmaras de Vereadores ( registros de debates, leis, eleições, discursos), Prefeituras ( cópias de leis, posturas, fiscalizações, petições, relatórios, alforrias de escravos) , religiosos ( livros de registro de nascimento, óbitos, casamentos) e da sociedade civil ( atas de assembléias, manifestos, planos de trabalho). Todo esse quadro de truncamento e ocultação dificulta sobremaneira o acesso à documentação referente ao povoamento indígena, lusitano, africano, nipônico ou do oriente médio na área da Baia da Ilha Grande. Surge daí uma cultura perversa de desvalorização documental, que favoreceu a destruição dos acervos produzidos pelo Estado. Paraty é reconhecida como um espaço que gera ações de novo tipo, envolvendo não apenas parcerias inéditas que atuam sobre as contradições estruturais da sociedade brasileira e que se projetam naturalmente sobre a memória e a história da sociedade brasileira. Algumas das mais importantes ações de preservação do patrimônio no município nasceram de movimentos sociais, envolvendo a intelectualidade e a juventude estudantil. Na década de noventa, inúmeras organizações não-governamentais passaram a realizar ações de difusão patrimonial e ambiental, subsidiando a elaboração de planos de manejo urbano e rural, especialmente nas áreas de preservação arquitetônica, paisagística, arqueológica e ambiental no município de Paraty. Entre essas ações encontram-se a constituição do Conselho Municipal do Turismo, voltado a discutir aspectos referentes ao desenvolvimento das condições de infraestrutura, bens e serviços no perímetro do município, a criação do Fórum de Desenvolvimento Local Integrado e Sustentável de Paraty (Fórum DLIS) composto de representantes das associações de moradores do município, reunindo comunidades caiçaras, quilombolas, a criação de organização social pela Prefeitura, voltada ao encaminhamento especifico do processo de tombamento da cidade como Patrimônio Mundial da UNESCO. A valorização da memória cultural, mediante a preservação, o registro e a guarda dos diferentes suportes é extremamente relevante como eixo metodológico unindo em interfaces os diferentes sujeitos sociais e subsidiando políticas públicas voltadas para o patrimônio intercultural no âmbito da educação, da cultura e da oferta de equipamentos urbanos como o acesso a instituições memória.Isso porque, de forma gradativa, vem sendo combatida a ainda hegemônica interdição sobre a história brasileira de um olhar branco, europeu, que dilui sejam as contradições originadas na escravidão, sejam as diferentes formas de discriminação étnica, omitindo, não raro, a influência das manifestações indígenas e africanas - quando não a presença árabe, libanesa, turca, nipônica - no campo simbólico do imaginário, do estético ou do político, ausentando-se finalmente do compromisso em ampliar as oportunidades de acesso na sociedade nacional, coerente com uma cidadania plena. O projeto apresenta-se na perspectiva da educação patrimonial considerando que apesar da importância histórico cultural da região, as condições de acesso ao seu patrimônio documental é deficitária. De um lado, a riqueza expressa na arquitetura de suas vilas históricas, nos sítios arqueológicos como os caminhos de pedra, os conventos, os mosteiros e os sambaquis. De outro lado, a penúria dos sistemas públicos municipais que não detém recursos para preservar e difundir o patrimônio documental acumulado em decorrência das ações culturais e administrativas locais e regionais. O impacto positivo do acesso ao patrimônio registrado e organizado didaticamente na e sobre a região do litoral sul fluminense pode ser dimensionada nos aproximadamente cinqüenta mil alunos e três mil professores, distribuídos por mais de cento e sessenta unidades escolares -- regulares, multisseriadas e diferenciadas, em comunidades da região, culturalmente heterogêneas, presentes principalmente fora dos centros urbanos locais, ou em comunidades de singular cultura, como caipiras, caiçaras, quilombolas ou guarani mibyá, bem como, na perspectiva de viabilizar o acesso de informações sobre o patrimônio para aproximadamente, quinhentos mil turistas que, anualmente, visitam o município de Paraty. Em Paraty, os caiçaras afastados de suas tradicionais vilas de pescadores, concentraram-se nas terras novas da Ilha das Cobras e no Parque da Mangueira, bairros periféricos à Vila Histórica. A maioria daqueles que anteriormente residiam na Vila Histórica, não resistiram à pressão imobiliária e vendendo suas casas, criaram bairros como os de Fátima, Corumbê, ou Chácara, tendo alguns mantido nas margens dos rios Mateus Nunes ou Perequê-Açu a cultura da construção naval de baleeiras, escunas e canoas. No plano da produção da existência pela cultura da pesca é possível encontramos elementos que afirmam a longa duração de saberes em contexto intercultural. Entre os caiçaras,o construtor de canoas sempre foi respeitado pelo seu conhecimento das florestas e do estágios de crescimento de árvores como cedro e jequitibá, matérias primas das embarcações. Como as canoas, escavadas e esculpidas sem o recurso à matemática ou engenharia ocidental, os remos, com pontas semelhantes à flechas, numa hidrodinâmica facilitada por sua forma côncava, tem sua artesania tributária dos ancestrais dos tupinambás. No que diz respeito ao movimento de apropriação da escola (de tradição moderna e não-índia), e da Educação Patrimonial para um contexto intercultural (onde a singularidade do conhecimento indígena seja preponderante), tem se realizado experiências importantes nas aldeia guarani-mbyá localizadas nos municípios de Angra dos Reis e de Paraty, que podem ser apropriados em fontes orais, textuais, fotográficas, videográficas. No caso da história da escola junto ao povo guarani, todas esses fontes podem ser reunidas pois pensar o ensino indígena diferenciado é desconstruir a instituição escolar e reconstruí-la na perspectiva do universo guarani, atualizando-a e resignficando-a como discurso, marcada por uma ênfase mnemônica e pela confluência do tempo do sagrado na experiência individual e do grupo. Essa perspectiva, de caráter metodológico mais geral, se impõe à construção social da escola diferenciada indígena em uma perspectiva de Educação Patrimonial. Os desafios envolvendo a interculturalidade atingem também a comunidade de afro-descendentes, dada as suas características singulares na baía da Ilha Grande. Em que pese sua grande concentração nos engenhos e fazendas de café e de cana até 1888, com a Lei Áurea ocorreu um êxodo em direção ao Rio de Janeiro. Apenas um contingente de famílias afro-brasileiras permaneceu na região, especialmente nas áreas do Campinho(Paraty) e Santa Rita, em Bracuhy (Angra dos Reis). Essas comunidades recentemente tiveram reconhecidos pelo Estado seus direitos de propriedade coletiva, embora o compromisso dos governos municipais e estadual fluminenses em apoiar as ações de afirmação etno-cultural não tenham atingido suas políticas de educação, cultura e turismo. Defendemos nas práticas educativas escolares a pertinência da Educação Patrimonial enquanto eixo transversal aos currículos e em contexto necessariamente intercultural. Nas práticas educativas não escolares, envolvendo o próprio turismo, a educação patrimonial é por nós concebida na confluência das ações do Estado e das organizações não governamentais, reconhecendo-se aos sujeitos institucionais que se apresentam, a condição potenciais agentes multiplicadores da educação patrimonial. Todas essas confluências se fazem em torno de aspectos hoje cruciais à humanidade em sua sobrevivência planetária: a importância da defesa do meio ambiente; a urgência de uma educação patrimonial que afirme as identidades e o diálogo daqueles que habitam lugares de memória; a implementação de educação ambiental estimulando ações de sustentabilidade que viabilizem o agro-eco-turismo e o turismo histórico como eixos de auto sustentação dos povos do mar e da floresta, sem perder de vista a dignidade e privacidade de suas práticas educativas. Talvez, ombreando com outros sujeitos sociais, as escolas no perímetro dos Caminhos de Pedra transformem-se naturalmente em centros de memória e espaços indissociados da cultura local e universal. Quem sabe assim transformemos o tempo e o espaço da escola em esferas da Vida e da Natureza, no movimento da corredeira e não à margem como água ficada, tornando finalmente a escola, parafraseando Pascal, como uma esfera espantosa, cujo centro está em toda parte e a circunferência em lugar nenhum. O presente projeto tem como pressuposto a temporalidade enquanto produção social e espaço de sociabilidade, considerando a História e a Memória como mediações discursivas para preservação das manifestações culturais como sujeitos da Memória, detentores de lugares na história. Por quê associarmos interculturalidade e patrimônio? Entendemos da necessidade de deslocarmos a discussão de patrimônio cultural para a de patrimônio intercultural, isto é, de pensarmos a educação patrimonial em contexto intercultural, condição necessária para que sejam melhor divisados possibilidades, limites e desafios da educação patrimonial em práticas escolares e não-escolares. "
Fonte: http://migre.me/lKKy7

Caminhos atlânticos memória, patrimônio e representações da escravidão na Rota dos Escravos (Transcrição)

Patrimônio e turismo
A valorização dos sítios ligados ao tráfico atlântico de escravos no Benim remonta ao período posterior à Segunda Guerra Mundial. Pierre Verger, com a ajuda do IRAD, da França e da República Federal da Alemanha, incentivou e promoveu a restauração do antigo forte português de São João  Batista da Ajuda. Em 1967, o forte se tornou o Museu de História de Ajuda.10 O museu passou a ocupar a superfície de 1 hectare, que inclui um grande edifício, onde ficava a residência dos antigos oficiais portugueses, no qual se encontram hoje o acervo da instituição. O sítio contém ainda uma capela, uma antiga guarnição e as casernas. Em 1943, a administração colonial já tinha tomado a decisão de estabelecer o Museu Histórico de Abomé11 nos antigos palácios reais de Abomé. A área total do sítio totaliza 44 hectares. Os palácios dos reis Guezo e Glèlè, onde as coleções do museu são ex-postas, ocupam aproximadamente 2 hectares. Em 1985, após terem sido danificados durante um furacão, os palácios foram colocados, ao mesmo tempo, nas listas da UNESCO do patrimônio mundial e do patrimônio mundial em perigo.12 Os palácios foram incluídos nas duas listas da UNESCO porque eles correspondiam a dois critérios básicos estabelecidos pela organização: de um lado, eles trazem “um testemunho único ou pelo menos excepcional de uma tradição cultural viva ou desaparecida” e, de outro lado, eles oferecem um “exemplo eminente de um tipo de construção ou de conjunto arquitetural ou tecnológico ou de paisagem ilustrando um ou vários períodos significativo(s) da história humana”.13 O projeto de restauração e conservação dos palácios reais, que fazia parte do programa de Prevenção nos Museus da África (PREMA), foi realizado em parceria com o governo do Benim. A primeira fase do projeto começou em 1992, graças ao financiamento vindo de diferentes organismos, como a Cooperação Alemã, o Instituto Getty de Conservação e a Agência de Cooperação Cultural e Técnica (ACCT), atual Organização Internacional da Francofonia. Durante essa primeira etapa, as coleções foram recuperadas e organizadas em uma nova reserva. Entre 1995 e 1997, ao longo da segunda e terceira etapas, financiadas pelo fundo da Cooperação Italiana da UNESCO, foram encontrados 56 baixos-relevos que ornamentavam as paredes do antigo palácio do rei Glèlè. O trabalho dos restauradores consistiu em reunir a documentação sobre a arquitetura do sítio, treinar os restauradores e publicar os documentos de referência e em organizar um colóquio tendo como assunto os palácios reais. Os baixos-relevos coloridos que decoram as paredes do palácio formam uma história constituída por imagens, representando diferentes dinastias abomeanas. As representações dos guerreiros e guerreiras armados e dos prisioneiros decapitados descrevem claramente as campanhas militares do reino do Daomé contra os reinos vizinhos. No começo, pode-se afirmar que a restauração dos edifícios históricos se enquadrava numa perspectiva de valorização da memória do reino do Daomé e não necessariamente numa dinâmica de recuperação da memória da escravidão. No entanto, como na mesma época outros projetos ligados à memória da escravidão foram desenvolvidos no Benim, a restauração dos palácios teve o efeito de reavivar a memória da escravidão, não necessariamente do ponto de vista dos grupos escravizados, mas daqueles que participaram ativamente na produção e no comércio de escravos.
.............................................................................................................................................................
 Fonte: http://migre.me/lJTuM
Nota: Desdobramento do Projeto Mundial da UNESCO, Rota do Escravo voltado ao Patrimônio e ao Turismo, no que diz respeito a valorização dos sítios ligados ao tráfico atlântico de escravos tona-se realidade no Brasil entre outros, com o reconhecimento do CAMINHO DO OURO, como Lugar de Memoria do Tráfico Atlântico de Escravos. Possibilitando afirmar que, esse Itinerário passa a fazer parte do patrimônio comum da humanidade
- Inventário dos Lugares de Memória do Tráfico Atlântico de Escravos e da História dos Africanos Escravizados no Brasil O trabalho de organização do Inventário dos Lugares de Memória do Tráfico Atlântico de Escravos e da História dos Africanos Escravizados no Brasil foi coordenado pelo Laboratório de História Oral e Imagem (LABHOI) da Universidade Federal Fluminense, em parceria com o Comitê Científico Internacional do Projeto da UNESCO "Rota do Escravo: Resistência, Herança e Liberdade". Reúne 100 Lugares de Memória e foi construído a partir da indicação e contribuição de diversos historiadores, antropólogos e geógrafos do país, após consultas e intensas trocas de informações. Sem essa generosa contribuição, inclusive na redação preliminar dos verbetes e indicação da bibliografia ou fontes de referência, não teria sido possível a reunião desse amplo material. O avanço da pesquisa histórica sobre o tráfico e a escravidão em nosso país permitiu a reunião dessas 100 indicações, mas temos certeza que estamos longe de esgotar o Inventário. Esse trabalho deve ser entendido como um ponto de partida para novas e futuras ações (nos âmbitos federal, estadual e municipal), tanto no campo da pesquisa histórica, como no do ensino, educação patrimonial, divulgação e desenvolvimento do turismo cultural dos Lugares de Memória do Tráfico e História dos Africanos Escravizados no Brasil. Demos prioridade às evidências documentais, escritas ou orais, da presença histórica e cultural dos africanos, com o objetivo de centrar o foco na ação e no legado dos recém-chegados. Por outro lado, sabemos que a lista seria interminável se tivéssemos optado por reunir os Lugares de Memória dos descendentes de africanos no Brasil. O inventário é sobre os locais onde é possível lembrar a chegada dos africanos ou identificar as marcas de sua presença e intervenção.
Escravizados em seu continente, entre os séculos XVI e XIX, muitas vezes em guerras internas entre os inúmeros reinos que existiam nas diversas regiões da África tocadas pelo tráfico, africanos de diferentes línguas e origens tornaram-se "escravos", categoria jurídica de época, no Brasil. Aqui reorganizaram suas identidades, criando novos sentidos para suas referências africanas. Nos verbetes, utilizamos tanto o termo jurídico de época (escravo) quanto o adjetivo "escravizado", que sublinha o caráter compulsório da instituição. Para referir às novas identidades africanas criadas Américas, respeitamos a diversidade de expressões utilizadas pelos especialistas consultados, refletindo diferentes cronologias, abordagens historiográficas e usos regionais. Se, de início, foi uma tarefa difícil a separação entre africanos e afrodescendentes, o esforço foi recompensado. O leitor também ficará impressionado com as dimensões das ações dos africanos escravizados no Brasil. Para melhor compreensão e maior visibilidade dos Lugares de Memória do Tráfico Atlântico de Escravos e da História dos Africanos, organizamos os 100 Lugares em 7 diferentes temáticas, apresentadas a seguir: Trabalho e Cotidiano
1. Praça do Pelourinho de Alcântara (Alcântara - MA)
2. Beco de Catarina Mina (São Luís – MA)
3. Árvore Baobá (Nísia Floresta – RN)
4. Mercado da Praia da Preguiça (Salvador – BA)
5. Ruínas das Senzalas do Engenho Freguesia (Candeias - BA)
6. Ruínas do Engenho Vitória (Cachoeira - BA)
7. Mina de Ouro do Chico Rei - Encardideira (Ouro Preto - MG)
8. Sítio Arqueológico do Morro de Santana (Mariana- MG)
9. Senzala da Fazenda Santa Clara (Santa Rita de Jacutinga - MG)
10. Chapada dos negros (Arraias – TO)
11. Caminho do Ouro - Estrada Real (Paraty –RJ)
12. Fazenda dos Beneditinos (Duque de Caxias - RJ)
13. Fazenda Lordelo (Sapucaia - RJ)
14. Fazenda e Senzala Machadinha (Quissamã - RJ)
15. Casa de Zungu – (Rio de Janeiro – RJ)
16. Estrada Velha São Paulo – Santos (SP)
17. Floresta Nacional de Ipanema (Real Fábrica de Ferro) (Iperó – SP)
18. Praça da Liberdade (São Paulo – SP)
19. Comunidade Quilombola Guajuvira (Curiúva – PR)
20. Invernada Paiol de Telha (Guarapuava - PR)
21. Porto de Desterro e Mercado Público (Florianópolis – SC)
22. Capela de Sant‟Anna (Florianópolis – SC)
23. Fazenda da Tapera da Barra do Sul (Florianópolis – SC)
24. Sítio das Charqueadas (Pelotas - RS)

Fonte: http://migre.me/lJY4f

 
 
 
 
 
 

GUIA DA UNESCO - Una guía para la administración de sitios e itinerarios de memoria.

Ficha 22: Ruta de la libertad (A Rota da Liberdade), São Paulo, Brasil (A Rota da Liberdade), São Paulo, Brasil ■ ANTECEDENTES ■ ANTECED...