sábado, 28 de fevereiro de 2015

ALDEIA DE ESCADA - (Histórico - Guararema - SP creditos - Aurelio Leite)

Segundo Aureliano Leite em 1560 Braz Cubas se embrenha pelo sertão e descobre ouro em vasta sesmaria que chega quase à margem esquerda do Rio Anhembi (Tietê). A descoberta é comunicada ao Rei por carta data
da de 25 de Abril de 1562. Em sua entrada pelo sertão, Braz Cubas desce a seguir pelo Rio Paraíba e, atravessando a Mantiqueira, esbarra no Rio São Francisco. Segundo o historiador, Isaac Grinderg, este foi o primeiro homem a pisar em nosso solo.
1608- A 22 de setembro, Gaspar Vaz obtém uma sesmaria em Mogi.
1611- O próprio Gaspar Vaz fundou o aldeamento da Escada, para onde foram levados índios já catequizados. Já em 1625 o aldeamento havia sido entregue aos jesuítas que sobreviviam da lavoura. Em 1652 os padres jesuítas erigiram a primeira capela no arraial. Devido ao seu posicionamento geográfico, durante séculos a localidade constituiu-se como etapa obrigatória dos caminhantes que iam de São Paulo para o Rio de Janeiro e vice-versa. Por dar proteção aos índios os jesuítas somaram muitos inimigos, inclusive Gaspar Vaz, que defendia a escravização dos índios. Os inimigos atacavam as aldeias e destruíam várias reduções jesuíticas ao sul do Brasil e Uruguai: tão freqüente se tornaram estes ataques, que os jesuítas foram reclamar ao Papa, o qual em 1640 declarou todos os índios da América livres. Com o acontecido os colonos decidiram pela expulsão dos jesuítas de toda a capitania.
Em 15/12/1732 o índio chamado a moda portuguesa de Sebastião Silva é nomeado capitão-mor dos Índios do arraial da Escada, nesse mesmo ano, a primeira capela foi demolida em virtude de má conservação para dar lugar a outra capela. Em 1734, com a vinda dos Franciscanos, ergueu-se um alojamento anexo que passou a funcionar como convento. Construído em taipa de pilão, o conjunto, representativo da Arquitetura Colonial Brasileira, foi tombado pelo Patrimônio Histórico e Artístico Nacional no dia 25/01/1941. A capela recebeu o nome da Nossa Senhora da Conceição e logo passou a chamar-se Nossa Senhora da Escada. Há várias hipóteses para a mudança do nome. O fato mais provável talvez seja este: "Reza a tradição popular que os indígenas tinham por hábito colocar sobre a sepultura de seus mortos um fardel cheio de alimentos e uma escada para que a subida da alma até o reino de Tupã se realizasse de maneira tranqüila. Conhecedores deste fato, os padres teriam tratado de esculpir degraus ao redor da Virgem, com o objetivo de estabelecer uma ligação entre as crenças pagãs e a religião adventícia, de modo a facilitar a catequização.
Conhecedores dos fatos ocorridos no arraial da Escada. O padre vila de São Miguel, com o apoio do vigário da vara de São Paulo, André Baruel autoriza o supervisor da vila de São Miguel a levar para essa igreja "as imagens e alfaias" da igreja da Escada junto com 46 índios, que aqui viviam, com isso não concorda a Câmara de Mogi das Cruzes, que com povo reunido vai a São Miguel e trás de lá as imagens e os índios que haviam sidos tomados a Escada. (Leonardo Arroyo, " Igrejas de São Paulo").
Foi o Arraial da Escada elevado a FREGUESIA DA ESCADA pela Lei n.º 09 de fevereiro de 1846. Porém, esse fato foi revogado pela Lei n.º 06 de 23 de maio de 1850, pois o Arraial teve atrofiada sua propriedade em conseqüência da atração exercida pelos outros vizinhos. Só em 1872, pela Lei n.º 01 de 28 de fevereiro, foi definitivamente elevado a Distrito de Paz. Foram seus primeiros dirigentes: Benedito Antônio de Paula, Antônio de Mello Franco e Joaquim Alves Pereira. Como vigário da nova paróquia que surgia, veio o Padre Miguel Piement e a 03 de julho de 1872 a capela de Nossa Senhora da Escada foi instituída canonicamente e hoje faz parte do Patrimônio Histórico Nacional.
Em 1875, Dona Laurinda de Souza Leite, a fim de auxiliar uma ex-escrava, Maria Florência, fez-lhe doação de um quinhão de terra situado às margens do rio Paraíba, em lugar plano, distante 3,5 Km do Arraial da Escada, pouco acima da foz do ribeirão Guararema. Levada por sentimentos religiosos, Maria Florência deliberou construir numa parte do terreno recebido, uma capela para o santo de sua devoção, São Benedito. Com o auxílio de outras pessoas e algumas economias suas, Maria Florência em pouco tempo conseguiu terminar a construção da Capela de São Benedito. Aos poucos foram se estabelecendo outros moradores nos arredores da capela, formando-se um vilarejo que recebeu o nome de “GUARAREMA” - (do tupi guarani - Pau D’Alho), devido à abundância dessa árvore nesta região. Em julho de 1876, inaugurou-se o trecho da EFCB - Estrada de Ferro Central do Brasil, entre Mogi das Cruzes e Jacareí com a passagem da estrada de ferro pela Vila: esta se desenvolveu rapidamente e por Decreto n.º 8 de 08 de janeiro de 1890, a sede do Distrito de Paz da Escada foi transferida para o povoado de Guararema, que foi elevado à categoria de Município pela Lei n.º 528, de 03 de junho de 1898. Como era preciso ter um prédio para Câmara e outro para cadeia, logo construídos a 19 de setembro de 1899, com a instalação da Primeira Câmara Municipal de Guararema, foram empossados: Major José de Paula Lopes, Joaquim Paião, Maximino Prudêncio de Mello, Benedicto Pinto de Souza, Joaquim Alves Pereira e Benedicto de Souza Ramalho. Em 23 de setembro de 1899 foram realizadas eleições dos Poderes Municipais, sendo presidente o Major José de Paula Lopes e Vice Presidente Joaquim Paião. Foi o 1º. Intendente Municipal (Prefeito): Benedicto de Souza Ramalho. Secretário: o músico e compositor Júlio Cezar Nascimento. Comissão de Justiça e Finanças: Major José de Paula Lopes e Joaquim Alves Pereira. Comissão de Obras Públicas e Higiene: Benedicto de Souza Ramalho, Benedicto Pinto de Souza e Maximino Prudêncio de Mello. A Sede Municipal foi elevada à categoria de cidade, pela Lei Estadual n.º1.038 de 19 de Dezembro de 1906.A denominação dos habitantes do município é "GUARAREMENSE". Fonte: http://migre.me/oOiq2
MAPA DE SANTOS - 1976 - CAMINHO DOS PAULISTA, ESTRADA GERAL DO SERTÃO, CAMINHO VELO  - ALTO DA SERRA (ESPAÇO COLONIAL DE PIQUETE-SP)

História do Brasil - Economia Mineradora


TERRA DE MINAS - O CICLO DO OURO 3/5


TERRA DE MINAS - O CICLO DO OURO 4/5


TERRA DE MINAS - O CICLO DO OURO 1/5


TERRA DE MINAS - O CICLO DO OURO 2/5


A colonização indígena no Brasil (05/08)


HISTÓRIA DO BRASIL: AS CAPITANIAS HEREDITÁRIAS = EDIÇÃO E NARRAÇÃO PROF...


sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Escravidão e Resistência no Brasil (Prof.º Leonardo Castro)

O Tráfico NegreiroA partir da segunda metade do século XVI, começaram a ser trazidos para a América os africanos como escravos em número expressivo para a exploração sistemática de sua mão-de-obra.


Escravos à venda no mercado do Valongo, junto ao porto do Rio de Janeiro. Gravura de W. Read, século XIX. 
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Blog Nova História Geral e do Brasil: http://migre.me/oN5eg

Instrumento de Tortura


Instrumentos de castigo
Em ferro e madeira, séculos XVIII e XIX, conjunto de peças destinadas a castigar, imobilizar e marcar escravos no Brasil: viramundo, libambo, cinto de ferro, palmatória, mordaça, gargalheiras, algema com cadeado e ferros de marcar.
Fonte: Literart, uma aventura http://migre.me/oN4tT

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Os caminhos da Estrada Real (Transcrição)

O historiador Francisco Sodero Toledo, idealizador do projeto Bica do Ouro, afirma que a Estrada Real era o nome dado a um conjunto de estradas públicas, de propriedade da Coroa Portuguesa, que ligava os portos fluminenses à região de exploração do ouro e diamantes, em Minas Gerais, Mato Grosso e Goiás. Segundo ele, essas estradas eram as únicas vias autorizadas a transportar metais preciosos das áreas de mineração para os portos, de onde partiam para Portugal. A primeira dessas vias a ser aberta foi o Caminho do Ouro, que ligava a cidade de Paraty à região mineradora de Vila Rica e Diamantina. Esse caminho cortava a área paulista do Vale do Paraíba, passando pela cidade de Lorena. 
Um pequeno trecho desse caminho passa por dentro do campus da EEL e, à sua margem, uma mina d’água resiste ao tempo: a Bica do Ouro, um local onde bandeirantes, aventureiros e pessoas das mais diversas origens e procedências paravam para descansar e matar a sede no período do Brasil colônia. Sodero afirma que a restauração desse ponto histórico constitui um símbolo de integração com a comunidade local e o início de um amplo trabalho na busca do desenvolvimento sustentável regional. Segundo ele, o projeto visa a restaurar a mina, recuperar o seu entorno e oferecer à comunidade interna da EEL e à sociedade um ponto de encontro, uma identificação.
O historiador afirma que é de suma importância restaurar essa mina, já que ela é memória viva da história, ecomplementa: “Há a necessidade de reestruturá-la para que a USP possa oferecer à comunidade a oportunidade de conhecer e reviver essa história. O fato de a EEL ter seu território cortado pela Estrada Real insere a USP na rota do turismo histórico nacional”.
O Projeto Turístico Estrada Real vem sendo implantado no Brasil desde 2001 e tem como objetivos valorizar o patrimônio cultural e promover o turismo histórico nacional, através da revitalização de centenas de caminhos que compunham essa estrada tão importante no período colonial. A professora Rosa Ana Conte, presidente da Comissão Organizadora das Comemorações do Jubileu em Lorena, diz que o Caminho do Ouro e o projeto de restauração da Bica do Ouro conferem às comemorações do aniversário de 75 anos da USP um caráter único, levando-se em conta que um marco histórico nacional de extrema importância pertence, através da EEL, ao patrimônio da USP.
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Documentos cartográficos e o Caminho original do Ouro à partir do Guaipacaré:
Mapa produzido pelo Sitio Histórico de Parati-RJ - o Caminho percorrido é via - Registro (Piquete).
Estrada Real do Sertão, Caminho dos Paulista, Caminho Velho, Caminho da Serra Acima, o caminho percorrido é pelo espaço colonial de Piquete via Alto da Serra (Meia Lua), entrando pela região originariamente denominada Soledade de Itajubá, Garganta do Sapucai, hoje Marmelópolis-MG.

O caminho percorrido originariamente à partir do Guaipacaré, para a  Região do Rio das Mortes, antes da criação da Comarca de mesmo nome que passou a pertencer a São João Del Rei, teve como sede Distrital a Cidade de Guaratinguetá-SP, que fora por mais de 300 anos um dos maiores entrepostos de abastecimento da Minas Gerais.
Caminho de São Paulo a Minas & Caminho Velho - Contido na obra - Cultura e Opulência do Brasil por suas Drogas e Minas - André João Antonil, quando então em conformidade com o Mapa o Caminho originalmente Percorrido era Sudoeste em direção a Piquete-SP.
 

MAPAS DE SANTOS  Carta corográfica - Cap. de S. Paulo, 1766 .Apresentando o Estado Político da Capitania de São Paulo em 1766, foi elaborada esta carta, com particular atenção aos limites com Minas Gerais. Neste caso a toponímia Alto da Serra, corresponde a espaço Colonial de Piquete-SP  (Meia Lua). (http://migre.me/aWncu)
Fonte> http://migre.me/oFGK9

Uma questão de limites - Refeito recentemente, mapa das capitanias hereditárias ganha nova cara, 150 anos depois da publicação de sua versão mais conhecida - Alice Melo 1/9/2014

Por questões políticas, o rei Dom João III autorizou a colonização do Brasil 30 anos após a chegada de Pedro Álvares Cabral a este lado do Atlântico. Em 1533, a Coroa decidiu repartir as terras do além-mar entre 15 capitães donatários, gente que não tinha grande fortuna ou negócios na metrópole, mas que teria condições de administrar a nova colônia. Assim nasceram as capitanias hereditárias que, durante mais de cem anos, pareciam ser (geograficamente) “uma série de linhas paralelas ao equador que iam do litoral ao meridiano de Tordesilhas”, conforme explicou o historiador Boris Fausto em História do Brasil (1996). Um estudo publicado recentemente nos Anais do Museu Paulista, no entanto, contesta a versão clássica do mapa das capitanias presente até hoje em livros didáticos, e mostra que a divisão de terras do norte do país, na verdade, seguia linhas verticais e não horizontais.
O engenheiro Jorge Cintra, professor titular de Informações Espaciais na Escola Politécnica da USP, é o autor da pesquisa que pode mudar a maneira como se visualiza a configuração do Brasil nos primeiros 50 anos de colonização. “Eu comecei a fazer um estudo sobre os limites da região Sul e encontrei alguns erros. Decidi conferir tudo e vi que o maior quebra-cabeça estava no norte”, conta.
Ao ter acesso a cópias de documentos originais, como a carta de doação a João de Barros (da capitania do Rio Grande), Cintra pôde perceber que se as linhas dos segmentos do norte seguissem para oeste, o rei estaria repassando pedaços de mar a alguns donatários. E, além disso, se mantivessem o ritmo, em paralelo, jamais se cruzariam, conforme sugere a seguinte declaração do rei de Portugal: “Léguas se estenderão e serão de largo ao longo da costa e entrarão na mesma largura pelo sertão e terra firme adentro tanto quanto puder entrar e for de minha conquista, que não sejam por mim providas a outro capitão".
Temístocles Cézar, professor do Departamento de História da UFRGS, diz que o estudo de Cintra é “mais do que uma nova cartografia”, é uma “forma de entender o que já existe através de um exercício de desconstrução original, erudito e consistente, sem fechar a questão, mas colocando-a em um patamar mais sofisticado de argumentação”. Um tipo de estudo que não é muito realizado no Brasil.
O mapa com que Cintra dialoga – usado nos livros didáticos – foi feito no século XIX pelo historiador Francisco Adolfo de Varnhagen (1816-1878), responsável em grande parte pela construção de uma visão de Brasil que prevalece até hoje. Para desenhar aquele mapa Varnhagen teria recorrido a uma cartografia de Luis Teixeira, de 1586, quando a configuração do que viria a ser o território brasileiro já era diferente. Especialista nas publicações deste grande pioneiro da historiografia brasileira, Cézar comenta que, “no caso de Varnhagen, em que pesem o número de críticas que recebe desde a publicação da História geral do Brazil [1854-1857] e sua peculiar tendência para a polêmica, ele pouco foi contestado em relação ao material iconográfico e cartográfico de suas produções”.
Cético em relação ao alcance que este estudo pode ter, o historiador Guilherme Pereira das Neves, da UFF, opina que talvez o redesenho leve muito tempo para ser conhecido pelo grande público. “O resultado do mapa é importantíssimo, mas acho que difícil que deem importância a isso. É um tipo de resultado que se tem na história que não representa uma nova teoria. É uma correção de rumo”. Para ele, existe “um problema específico de como o Brasil lida com sua história”. Exemplo disto seria “a pouca importância que se dá a essa história. Há exemplos de best-sellers que romanceiam personagens e eventos [do nosso passado], mas que repetem os grandes jargões. Não existe preocupação em provocar o leitor a pensar uma coisa diferente. Portanto, a história não tem função crítica no Brasil, é uma memória identitária”.
Para além deste problema estrutural da relação do país com seu passado, se existe uma esperança de que a releitura chegue ao grande público, ela vai demorar ao menos três anos para se materializar, já que a seleção do MEC de material didático para a rede pública de ensino (refeita neste intervalo de tempo) acabou de ser concluída. Por enquanto, não há indícios de que editoras deste tipo de livro publicarão o estudo em suas páginas.

Publicado pelo historiador Varnhagen no século XIX, mapa das capitanias hereditárias foi reproduzido e atualizado por cartógrafos ao longo das décadas. (Acervo da Biblioteca Guita e José Mindlin da Universidade de São Paulo, São Paulo)

Fonte: Revista de História.com.br http://migre.me/oFok2

 

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Estudioso reconstrói Capitanias Hereditárias e afirma que livros escolares estão errados - Membro do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, Jorge Cintra propõe mudanças significativas no desenho das divisas (por Mateus Campos ) (Transcrição)


Membro do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, Jorge Cintra propõe mudanças significativas no desenho das divisas por Mateus Campos 08/07/2014 7:00 / Atualizado 08/07/2014 8:30 
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RIO - Membro do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, o engenheiro Jorge Cintra fez uma descoberta que pode mudar os livros escolares. Em um artigo recente, ele contesta o mapa das Capitanias Hereditárias eternizado por Francisco Adolfo de Varnhagen, considerado o pai da historiografia nacional, e propõe mudanças significativas no seu desenho. A partir de documentos da época, Cintra, que leciona na Escola Politécnica da USP, conseguiu reconstruir com maior exatidão os limites das porções de terra doadas, entre 1534 e 1536, pela Coroa Portuguesa a comerciantes e nobres lusitanos.
A nova imagem proposta pelo estudioso - Agência O Globo
- A técnica evoluiu muito, os instrumentos de medição também. Para a cartografia, isso proporciona maior rigor na obtenção de resultados. E, sobretudo, acho que o professor Cintra, por ser engenheiro, teve uma exatidão que talvez um historiador não tivesse. O grande mérito dele foi ter verificado um erro de base, um erro de interpretação - elogia o geógrafo Jurandyr Ross, responsável por romper um paradigma semelhante ao propor uma nova classificação para o relevo brasileiro.



O mapa como é frequentemente utilizado em livros didáticos - Agência O Globo:
 O sistema de Capitanias Hereditárias, que já havia sido utilizado com relativo sucesso na África, dividiu o território em 15 partes e pretendia viabilizar a exploração das riquezas do “Novo Mundo”. As terras tinham como limites o Oceano Atlântico, a Leste, e o Tratado de Tordesilhas, a Oeste. Após recuperar, analisar minuciosamente as cartas de doação e de notar detalhes que passaram despercebidos por Varnhagen em mapas da época, Cintra assegura que, no Norte, a divisão das fronteiras não foi feita de acordo com paralelos, e sim através de meridianos. - Coloquei tudo em dúvida. Descobri um erro ao Sul e resolvi conferir todo o resto. Logo percebi que, de fato, o Norte não estava bem resolvido. Havia capitanias finas demais, era uma incógnita - explica. De fato, as fronteiras que constam no mapa do Atlas Histórico Escolar do MEC, desenhado por Manoel Maurício de Albuquerque sob forte influência das definições de Varnhagen, mostram territórios extremamente estreitos no Norte. Para Cintra, frases contidas nos documentos de doação são as chaves para a solução do problema. Por exemplo, o documento destinado a Antonio de Cardoso de Barros diz: As quais quarenta léguas se estenderão e serão de largo ao longo da costa e entrarão na mesma largura pelo sertão e terra firme adentro”. - Se as divisas fossem para Oeste, o rei estaria doando um pedaço de mar. Isso é pouco lógico. Ora, o único jeito de se entrar sertão adentro é em direção ao Sul - sustenta. Na mesma carta, há também uma cláusula de conflito. Ela previne a possibilidade de alteração sobre as limitações das divisas com os capitães vizinhos. - Essa cláusula de compatibilidade não existe em nenhuma outra carta de doação. Como poderia haver conflito se as linhas fossem todas paralelas? - sentencia.
Finalmente, Cintra se valeu de uma observação sagaz do mapa de Bartolomeu Velho, de 1561. Nele, apesar de não haver divisas desenhadas, os nomes das capitanias ao Norte estão escritos em blocos separados de acordo com linhas imaginárias verticais.
- Se a divisão fosse horizontal como se pensava, o autor não precisaria “quebrar o texto” em duas ou três linhas e nem valer-se de abreviações. Ele poderia escrevê-los por extenso na mesma linha - pontua.
Além disso, no novo desenho proposto por Cintra, existem terras não distribuídas no Norte. Segundo o pesquisador, elas ficaram de fora das doações realizadas pela Coroa. Três capitanias — Maranhão, Rio Grande do Norte e São Vicente — também foram divididas em lotes. Por fim, o primeiro lote de São Vicente também teve divisas modificadas.
Para Cintra, o mapa de Varnhagen tem incorreções, pois o estudioso, em “História Geral do Brasil” (1854), recorreu a um desenho de Luis Teixeira onde as capitanias são representadas em 1586, mais de 50 anos após o início da divisão. Nele, a situação já não era mais a mesma. Por isso, o professor ressalta a importância de se duvidar de concepções tidas como definitivas:
- O artigo mostra uma coisa importante: até um entendimento que já vem de 160 anos pode ser derrubado. Ele deixa essa mensagem. Devemos colocar em dúvida outras coisas. Precisamos olhar novamente para os documentos cartográficos, voltar às fontes. Podemos ir mais fundo nos problemas.
Para Jurandyr Ross, que participou da banca de admissão de Cintra na Escola Politécnica, a descoberta é importante para o ensino de História no Brasil.
- O artigo me surpreendeu muito e causará um impacto significante para os livros escolares, que precisão corrigir esses mapas logo. Vamos ensinar uma História cada vez melhor - empolga-se.
Renato Franco, professor da disciplina Brasil Colonial no Departamento de História da UFF, elogia o artigo, mas não vê grandes mudanças na maneira com que o período pode ser enxergado pelos estudiosos do assunto.
- O texto é muito interessante. No entanto, não traz grandes impactos para a História do Brasil Colonial. Embora tenha sido completamente extinto apenas no século XVIII, o sistema de Capitanias Hereditárias rapidamente perdeu a força diante do desinteresse de boa parte dos donatários e do assédio de outras potências. Em 1549, a Coroa portuguesa mudou de estratégia e, progressivamente, as Capitanias Hereditárias foram perdendo força como forma de organização político-administrativa. O grande mérito do artigo é propor uma discussão sobre as eventuais imprecisões cartográficas, mas muda pouco no que diz respeito à nossa forma de enxergar a História do Brasil Colonial como um todo - opina.
Cintra concorda com Franco. Para ele, o período já “foi muito bem estudado” pelos profissionais brasileiros. Sobre a alteração dos livros escolares, diz não ter muita pressa. O cartógrafo explica que no meio científico, assim como na própria História, as coisas costumam levar tempo para serem completamente aceitas e solidificadas.
- A comunidade científica tem que ter calma. O primeiro reconhecimento foi ter sido publicado por uma revista de qualidade (“Anais do Museu Paulista”, da USP). Significa que revisores e editores de lá puseram a mão no fogo pelo meu trabalho. A partir daí, cada autor de livro didático tem que tomar conhecimento do artigo e se convencer dele. Então, vai começar a fase de transição - finaliza.

 Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/sociedade/educacao/estudioso-reconstroi-capitanias-hereditarias-afirma-que-livros-escolares-estao-errados-13170302#ixzz3S8pdOX8j © 1996 - 2015. Todos direitos reservados a Infoglobo Comunicação e Participações S.A. Este material não pode ser publicado, transmitido por broadcast, reescrito ou redistribuído sem autorização.
Fonte: O GLOBO http://migre.me/oFgro

COTIDIANO DOS NEGROS NO BRASIL ESCRAVISTA. (SHEILA DO CASTRO FARIA)

IV - HABITAÇÃO, HÁBITOS ALIMENTARES E VESTIMENTAS
Durante muitos anos, a historiografia abordou a condição escrava de uma forma  estática. Interpretou-a como uma situação em que as mudanças e o movimento não  ocorriam. Ser escravo significava não se poder movimentar fisicamente, a não ser a serviço  ou com a permissão do senhor. Estudiosos baseavam-se nos depoimentos e nos desenhos  feitos por viajantes, normalmente vindos de áreas não escravistas (quase sempre europeus,  embora alguns norte-americanos tenham deixado registros), que estiveram no Brasil. A
maior concentração de relatos e pinturas foi, sem dúvida, a do século XIX, após a abertura dos portos, em 1808, e a chegada da família real. Retratava-se o escravo acompanhado de  correntes ou de colares punitivos ao pescoço, descalços, seminus ou em situações de  castigo, amarrados a troncos e chicoteados. Também foi comum a imagem do negro no  trabalho, sempre braçal, pesado, extenuante, em algumas delas, homens negros carregando  liteiras, situação vil do ser humano, a de carregar como animal de carga um semelhante.  Tratava-se de registrar o exótico e a inferioridade da América escravista, selvagem,  composta por uma população negra e mestiça bárbara e brutal; em outros poucos casos, de  denunciar o sistema escravista.  Tanto os relatos quanto as pinturas tenderam a mostrar a promiscuidade da  habitação dos negros, a pobreza e as condições de vida sub-humanas, em particular na  alimentação, sempre deficitária e nada atrativa. A roupa também impressionou certos  observadores. A variedade delas, em cidades como Rio de Janeiro e Salvador, fez com que inúmeros pintores tivessem a indumentária de negros e negras como destaque, retratando-a  em detalhes. Quanto mais estranho, mais interessava aos autores.  Foi com base nos relatos de cronistas e viajantes que passaram pelo Brasil que grande  parte dos historiadores ou estudiosos teceu comentários sobre a vida cotidiana dos  escravos. Mantiveram-se, assim, as interpretações superficiais e, mesmo, exóticas, sugeridas
por um grupo de pessoas que esteve no Brasil de passagem e que dificilmente poderia  entender os significados profundos dos costumes de negros africanos e seus  descendentes163. Hoje, já se podem entrever um pouco mais as formas complexas com que
escravos e ex-escravos organizaram suas vidas, inclusive a material, que passavam distante  das intenções e, mesmo, dos interesses dos senhores. Casas e senzalas: o lugar de morar.  O termo senzala ou sanzala, algumas vezes grafado como cenzala, no século XVIII, tem sua origem no banto, tronco tinguístico de várias línguas da África centro-ocidental. Difícil é precisar o significado original do termo. Moraes Silva164, dicionarista de final do século XVIII, define-o como “no Brasil, a casa de morada dos pretos escravos”. Hoje, em  kimbundo, idioma banto e língua franca de uma extensa área de Angola, na época do tráfico de escravos, a palavra possui três significados. O primeiro deles é “povoado”,  provavelmente anterior aos outros dois; o segundo, “residência de serviçais em propriedade  agrícola” e, por fim, “moradia de gente separada da casa principal”. As duas últimas
acepções foram muito usadas no Brasil, mas é o significado de “povoado” que chama a  atenção, pois, nas condições históricas da África centro-ocidental, um novo povoado era  geralmente formado por migrantes aparentados entre si, que fugiam das guerras de  apresamento de cativos165. Sem dúvida, o trabalho mais importante e esclarecedor que existe na historiografia  brasileira sobre as senzalas dos escravos é o de Robert Slenes, intitulado “Na senzala, uma  flor. As esperanças e as recordações na formação da família escrava”166. O autor sugere que o termo senzala, no Brasil, que designava o conjunto de moradias dos escravos, provavelmente foi dado, pelos africanos, derivando-o do sentido inicial de “povoado”  ou “comunidade”. De qualquer forma, foi a partir da entrada maciça de africanos do tronco lingüístico banto que senzala se tornou termo vulgar para designar o local de moradia dos escravos.  O jesuíta Antonil chegou a utilizá-lo, sob a forma de sanzala, mas sem deixar claro se  o fazia aludindo ao grupo ou à moradia dos escravos do engenho de Sergipe do Conde, em  livro escrito em final do século XVII, mas só editado em 1711167. Já nos inventários  paulistas do século XVII, analisados por Alcântara Machado168, inexiste o termo senzala. As  moradas dos escravos africanos ou seus descendentes, raros na região, por imperarem os  escravos índios, eram designados não como senzalas, mas como “casas dos negros”. Ao que tudo indica, a palavra senzala só se generalizou no século XVIII. Viajantes estrangeiros,  do final do período colonial, a exemplo do francês Debret e do bávaro Rugendas169,  também indicavam a casa dos negros como cabanas e choupanas, ambos os termos sinônimos  de “casa rústica”, segundo Moraes Silva. Outros termos também são encontrados, como  choça, palhoça e mocambo, este último, pelo nosso dicionarista setecentista, também sinônimo  de quilombo, ou “habitação feita nos matos pelos escravos pretos fugidos no Brasil; qualquer  choça, ou palhocinha, no Brasil para habitação, ou se recolherem os que vigiam  lavouras”170. De qualquer forma, os termos empregados pelos eruditos, para designar a moradia dos escravos, são sempre depreciativos, salientando a pequenez, a rusticidade e a pobreza das habitações. Luiz Figueira, que viveu em Angola, no início do século XX, notou, preconceituosamente, que (...) as habitações dos ambundos são geralmente acanhadas, pequenas, primitivas: a cubata propriamente dita. Vivem nas povoações constituídas por grupo de cubatas, cônicas ou quadradas, feitas de pau-a-pique, à laia de tabique usado na divisão das casas. Baixas, possuem uma porta e a maioria nem postigo tem, nem janela por onde entre o ar e a luz. (...) Devido ao fogo os tetos cobrem-se de fuligem, as paredes enegrecem, tisnam-se e o interior da cubata torna-se de aspecto repelente, sujo, imundo171. A historiografia sobre o período colonial não deu muita atenção ao lugar de habitação dos escravos, limitando-se a afirmar, como Alice Canabrava, entre outros, que “a casa-grande, a senzala, a capela e a casa de engenho formam o quadrilátero principal e característico do engenho de açúcar”172. Realmente, sempre as senzalas estavam localizadas muito próximas das casas de morada dos senhores. No século XIX, a proximidade das moradias senhoriais e escravas, nas grandes propriedade, é explicada, pela historiografia, pela necessidade de controle visual das escravarias, mas presumo que a origem desta proximidade remonte aos primeiros séculos de colonização. Em algumas áreas escravistas do Novo Mundo, como no Caribe britânico, por exemplo, as casas de senhores e de homens livres ficavam bem distantes das senzalas, e nem por isto o controle sobre a escravaria era negligenciado. É provável que a proximidade entre casa-grande e senzala, no Brasil colonial, se explique por outros motivos, como a defesa contra os índios,  especialmente nos primeiros séculos, mantendo-se o costume posteriormente. Também é fato que a área de beneficiamento dos produtos, como no caso específico do açúcar e,  posteriormente, do café, estava anexa às casas de morada dos proprietários. Formavam, forma, o fato é que a proximidade de construções nas áreas rurais tornava o contato entre escravos e livres cotidiano e íntimo, numa convivência em que os brancos se africanizavam e os africanos se aportuguesavam, o que escandalizava os observadores estrangeiros que pelo Brasil passaram, sendo motivo de seus vários registros. De todo modo, a imagem trazida por uma historiografia tradicional de senzalas coletivas e trancafiadas à chave é cada vez menos defensável, à luz das pesquisas mais atuais sobre o cotidiano da escravidão. Na verdade, havia vários tipos de senzalas e também variava a composição de seus ocupantes. A habitação dos escravos está vinculada à possibilidade ou não de formação de família entre eles. Como afirma Hebe Mattos173, a face mais visível do cativeiro era a realidade da plantation, com grandes escravarias, compostas de homens adultos e solteiros, executando trabalho coletivo sob a forte pressão de castigos físicos. Era para este contingente populacional que, via de regra, pelo menos para o século XIX, se destinavam as senzalas coletivas, que podiam ser de vários tipos, a se dar crédito às descrições de viajantes que pelo Brasil passaram. Havia a “senzala pavilhão”, térrea, separada em cubículos, cada um com saída para um pátio, segundo descrição de Hermann Burmeisteer, em 1851. Dizia ele que “É lá que moram os escravos; os casados, juntos num cubículo, os solteiros 2 ou 3 em cada peça, os homens separados das mulheres. Em geral, há pavilhões separados para os homens e para as mulheres”174. Há outras descrições deste tipo de senzala, algumas incluindo varandas em cada cubículo, e parece que ela não foi incomum, pelo menos no Sudeste do XIX, e podem ser encontradas, ainda hoje, em fazendas preservadas. Outro tipo é a senzala denominada por Slenes de “senzala barracão”, que seria uma construção comprida, com pequenas tarimbas, separadas por divisão de madeira, possuindo no centro um corredor largo, “tendo na frente uma esteira ou cobertor para tapar a entrada do lado do corredor”, segundo Tschudi, que descreveu uma senzala deste tipo para Cantagalo, no Rio de Janeiro, em 1860175. Os barracões dos solteiros não tinham,  via de regra, separações internas. O que parece claro em todos os relatos, segundo Slenes, é que havia distinção entre os locais de dormir de escravos solteiros e casados, havendo, inclusive, indícios evidentes de que era comum os escravos casados morarem em construções separadas, muitas vezes em barracos e cabanas individuais. Diversos relatos afirmam que os casados ocupavam casinhas ou barracos individuais. Luiz Figueira informa que, em Angola, no início do século  XX, “dentro dos álumbo [forma plural de élumbo, que significa as vivendas de um determinado indivíduo em que se encontram divididas as aldeias] as cubatas da gente casada estão separadas das outras onde dormem os solteiros e as das raparigas separadas das destes por meio de pequenas paliçadas”176, divisão semelhante às das senzalas relatadas pelos viajante.

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quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

OS GUAIANASES DE PIRATININGA – Capistrano de Abreu - Parte 1 (Transcrição)

OS GUAIANASES DE PIRATININGA – Capistrano de Abreu - Parte 2
capistrano
Os Caminhos Antigos e o Povoamento do Brasil Capistrano de Abreu.
OS GUAIANASES DE PIRATININGA*
Os índios encontrados pelos colonos europeus que primeiro transpuseram a serra de onde se avista o mar e se estabeleceram nos campos corridos pelo Tietê, são geralmente conhecidos pelo nome de Guaianases, na fé de Pedro Taques, Gaspar da Madre de Deus e seus epígonos.
Submetendo à crítica as diversas narrativas, cuja florescência gradual definiu Cândido Mendes de Almeida, alguém rompeu a unanimidade: os Guaianases, sugeriu, falavam idioma diferente do tupi; não podiam ser guaianases Tibiriçá, Piquerobi e seus comarcãos. A sugestão foi vista com pouco favor em São Paulo; nas revistas do Museu e do Instituto Histórico apareceram artigos combatendo-a; a contribuição mais recente deve-se ao Dr. Afonso de Freitas, monografia erudita e conscienciosa, suculenta síntese de todos os argumentos que reforçam a opinião tradicional.
Começa Afonso de Freitas dizendo que a palavra guainá pertence ao tupi-guarani, e a propósito ventila numerosos pontos sobre os quais o autor destas linhas não pretende, nem mesmo deseja competência. Que a palavra pertença ao abanheenga ou neengatu é natural; com ela designavam os que não falavam esta língua, assegura Ruy Diaz de Guzman, autor da Argentina. Designando-os por um vocábulo seu não fizeram mais que nós brasileiros, desperdiçando o nome dos Coroados desde Mato Grosso e Piauí até Rio Grande do Sul.
Os nomes das localidades de Piratininga não podiam ser dados senão por faladores da linha geral. Sem dúvida; mas se não era esta a língua dos Guaianases, como poderia provir deles a toponímia piratiningana?
Posto nestes termos o debate pode eternizar-se estéril; cumpre descobrir o meio de feri-lo por outro lado, e felizmente existe.
* Artigo publicado no "Jornal do Commercio", de 25 de janeiro de 1 917.

O CANTO DOS ESCRAVOS - Clementina de Jesus, Doca, Geraldo Filme


terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

CAPÍTULOS DE HISTÓRIA COLONIAL, CAPISTRANO DE ABREU - (MINISTÉRIO DA CULTURA Fundação Biblioteca Nacional Departamento Nacional do Livro)

SERTÕES
IX – O SERTÃO

Podemos começar pela capitania de São Vicente. O estabelecimento de Piratininga, desde a era de 1530, na borda do campo, significa uma vitória ganha sem combate sobre a mata, que reclamou alhures o esforço de várias gerações. Deste avanço procede o desenvolvimento peculiar de São Paulo.
O Tietê corria perto; bastava seguir-lhe o curso para alcançar a bacia do Prata. Transpunha-se uma garganta fácil e encontrava-se o Paraíba, encaixado entre a serra do Mar e a da Mantiqueira, apontando o caminho do Norte. Para o Sul estendiam-se vastos descampados, interrompidos por capões e até manchas de florestas, consideráveis às vezes, mais incapazes de sustarem o movimento expansivo por sua descontinuidade. A Este apenas uma vereda quase intransitável levava à beira-mar, vereda fácil de obstruir, obstruída mais de uma vez, tornando a população sertaneja independente das autoridades da marinha, pois um punhado de homens bastava para arrostar um exército, e abrir novas picadas, domando as asperezas da serra, rompendo as massas de vegetação, arrostando a hostilidade dos habitantes, pediria esforços quase sobre-humanos.
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Escravos serviam de carregadores. Compunha-se a carga de pólvora, bala, machados e outras ferramentas, cordas para amarrar os cativos, às vezes sementes, às vezes sal e mantimentos. Poucos mantimentos. Costumavam partir de madrugada, pousavam antes de entardecer, o resto do dia passavam caçando, pescando, procurando mel silvestre, extraindo palmito, colhendo frutos; as pobres roças dos índios forneciam-lhes os suplementos necessários, e destruí-las era um dos meios mais próprios para sujeitar os donos.
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 À parte geográfica das expedições corresponde mais ou menos o seguinte esquema: Os bandeirantes deixando o Tietê alcançaram o Paraíba do Sul pela garganta de São Miguel, desceram-no até Guapacaré, atual Lorena, e dali passaram a Mantiqueira, aproximadamente por onde hoje transpõe a E. F. Rio e Minas. Viajando em rumo de Jundiaí e Mogi, deixaram à esquerda o salto do Urupungá, chegaram pelo Paranaíba a Goiás. De Sorocaba partia a linha de penetração que levava ao trecho superior dos afluentes orientais do Paraná e do Uruguai. Pelos rios que desembocam entre os saltos do Urubupungá e Guaiará, transferiram-se da bacia do Paraná para a do Paraguai, chegaram a Cuiabá e a Mato-Grosso. Com o tempo a linha do Paraíba ligou o planalto do Paraná ao do S. Francisco e do Parnaíba, as de Goiás e Mato-Grosso ligaram o planalto amazônico ao rio-mar pelo Madeira, pelo Tapajós e pelo Tocantins.
As bandeiras no século XVI devastaram sobretudo o Tietê, cujos numerosos Tupiniquins depressa desapareceram, e o alto Paraíba, chamado rio dos Surubis em Piratininga, segundo informa Glimmer; com o tempo foram-se alongando os raios do despovoamento e depredação, característico essencial e inseparável das bandeiras.O movimento paulista para o sertão ocidental chocou-se com o movimento paraguaio à procura do mar: Ciudad Real, no Piqueri, próximo do salto das Sete Quedas, Vila Rica, no Ivaí, datam da segunda metade do século XVI, antes do Brasil cair sob o domínio da Espanha. Com estes colonos a gente de São Paulo cultivou a princípio boas relações; nas caçadas humanas foram às vezes sócios aliados. Além disso a viagem por terra do Paraguai para a costa fazia-se mais facilmente procurando Piratininga, do que repetindo a incômoda travessia de Cabeza de Vaca. A harmonia entrava assim no interesse de ambas as partes. Só mais tarde houve conflitos e as duas povoações desapareceram.
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Os paulistas não se limitaram a passar de bandeirantes a conquistadores. Houve sempre alguma mineração em Iguape e Paranaguá: em maior número ainda, entregaram-se a pesquisas minerais a partir da era de 670, depois que o monarca português apelou para seu brios. Antes da grande dispersão provocada pelos descobertos auríferos, a população grupava-se nas margens do Tietê e nas do Paraíba. Na ribeira do Tietê, Mogi das Cruzes, Parnaíba, Itu, Sorocaba; na do Paraíba, Jacareí, Taubaté, Guaratinguetá precedem os descobertos. A maior densidade provàvelmente notava-se no Paraíba, cujo vale estreitado à direita pela serra do Mar, à esquerda pela da Mantiqueira, produzia o efeito de condensador. Entretanto, a abundância de vilas não importa forçosamente população considerável. Em terras de donatários deviam facilitar as fundações o orgulho de poder juntar ao próprio nome o título de senhor de tais e tais vilas e o interesse de nomear tabeliães, etc.
Já neste tempo, Piratininga não se impunha como entrada única do planalto: formaram-se grupos conjugados do sertão e da marinha: Parati e Taubaté; S. Vicente, Santos, São Paulo, Mogi e quiçá Jacareí que, pelo menos mais tarde, possuiu ligação direta com o litoral; Iguape, Paranaguá, São Francisco e Curitiba: esta última, aparentemente destinada a situação preponderante, atraiu pouca população, e medrou precàriamente enquanto não lhe deu vida o comércio de trânsito, principalmente de muares, procedentes do Sul.
Um escritor anônimo dizia a respeito dos paulistas pouco depois de 1690: “Sua Majestade podia se valer dos homens de São Paulo, fazendo-lhes honras e mercês, que as honras e os interesses facilitam os homens a todo o perigo, porque são homens capazes para penetrar todos os sertões, por onde andam continuamente sem mais sustento que caças do mato, bichos, cobras, lagartos, frutas bravas e raízes de vários paus, e não lhes é molesto andarem pelos sertões anos e anos, pelo hábito que têm feito daquela vida. E suposto que estes paulistas, por alguns casos sucedidos de uns para com outros, sejam tidos por insolentes, ninguém lhes pode negar que o sertão todo que temos povoado neste Brasil eles o conquistaram do gentio bravo que tinha destruído e assolado as vilas de Cairu, Boipeba, Camamu, Jaguaripe, Maragogipe e Peruaçu no tempo do governador Afonso Furtado de Mendonça, o que não puderam fazer os mais governadores antecedentes por mais diligências que fizeram para isso.
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 Nota: ...à esquerda pela da Mantiqueira, via Registro (Piquete), os grifos são meus.
Fonte: http://www.sertoes.art.br/capitulos-de-historia-colonial-capistrano-de-abreu/#conteudo

GUIA DA UNESCO - Una guía para la administración de sitios e itinerarios de memoria.

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