segunda-feira, 31 de outubro de 2016

JONGO PIQUETE SP AMOSTRA CULTURAL AREIAS SP

1°Encontro da Cultura da Diversidade - GRUPO JONGO DE PIQUETE

JONGO: "Momento de divertimento e ao mesmo tempo de resistência...." (Transcrição)

Pisei na pedra, a pedra balanceou,levanta meu povo, cativeiro se acabou.(Pisei na Pedra - ponto de louvação, Darcy Monteiro)
Criado nos tempos da escravidão e praticado atualmente nos quintais das periferias de grandes cidades ou em pequenas cidades e comunidades rurais do Sudeste do Brasil, o Jongo é uma manifestação que se expressa por meio de dança de roda ao som de tambores aos quais se integram elementos de magia. A força e o uso da palavra marcam essa forma de expressão, que reúne canto, dança coletiva e música, cuja origem remete ao trabalho escravo nas fazendas de café e cana de açúcar do Sudeste do país, notadamente no vale do Rio Paraíba do Sul. 
Denominado de jongo, caxambu, tambor ou tambu, é tocado e cantado de diversas formas, a depender de onde ocorra, apresentando semelhanças e elementos comuns que fazem com que, mesmo com nomes distintos, seja compreendido como uma mesma manifestação. É praticado por populações negras, descendentes de escravos, principalmente os de origem bantu, uma vez que o respeito e a louvação aos antepassados, a utilização de enigmas cantados e o uso da umbigada na dança são características dos povos bantos e estão presentes no Jongo. 
Momento de divertimento e ao mesmo tempo de resistência, as rodas de Jongo que aconteciam à noite, ao som de dois ou três tambores, chegaram a ser proibidas no período escravocrata, principalmente porque os senhores temiam que os negros organizassem motins e/ou fugas. 
Os pontos, como são chamados os versos cantados, possibilitaram a comunicação entre escravos, pois eram utilizados vocabulário de origem africana e linguagem cifrada, ou seja, palavras cujos significados eram distorcidos. Assim, era possível fazer críticas e protestos sem serem compreendidos.

Nos tempos da escravidão, a poesia metafórica do jongo permitiu que os praticantes se comunicassem por meio de pontos que os capatazes e senhores não conseguiam compreender. Sempre esteve, assim, em uma dimensão marginal, em que os negros falam de si, de sua comunidade, por meio da crônica e da linguagem cifrada. (IPHAN, 2007, p. 14).

A escravidão, a chegada aos cafezais, a libertação e fatos do cotidiano são temas recorrentes nas narrativas contidas nos pontos, cuja maior característica é o improviso carregado de tom crítico e/ou de protesto. Pode-se dizer que essa forma de expressão, transmitida entre gerações, guarda e perpetua a memória de escravos e seus descendentes nos estados do Espírito Santo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo. 
Dança-se o Jongo no período junino, nas festas de santos padroeiros, no Dia da Abolição da Escravatura (13 de maio), no Dia da Consciência Negra (20 de novembro) e em aniversários de pessoas importantes para as comunidades jongueiras. Atualmente, também acontece em eventos promovidos pelos poderes públicos ou por ONGs. Entretanto, o Jongo é eminentemente uma festividade comunitária, um encontro de vizinhos e parentes.
A roda de Jongo acontece em locais abertos, geralmente terreiros. Embora tipos e quantidades de instrumentos variem entre localidades, a base rítmica do Jongo é composta por um par de tambores: um maior, chamado de tambu ou caxambu, cujo som é grave; e um menor, chamado de candongueiro, cujo som é agudo. Em alguns lugares complementam o grupo de instrumentos musicais o chocalho e/ou a puíta, um tambor de fricção (como uma cuíca) que pode ter entre 25 cm ou 40 cm de diâmetro. Apesar de a maioria dos tambores serem fabricados artesanalmente — feitos de tronco escavado coberto com pele de animal —, atualmente pode-se encontrar nas rodas instrumentos de fabricação industrial.
Assim como a formação instrumental, os modos de dançar e de cantar apresentam variações. A roda pode girar ou permanecer parada. Duplas de dançarinos entram e saem do centro da roda, onde dançam em movimentos de afastamento e aproximação, quando dão uma umbigada, ou seja, encostam seus umbigos. No canto, o solista, que pode ser um homem ou uma mulher, lança o ponto, o qual pode ser repetido integralmente pelo coro, cantado na mesma melodia apenas com sílabas, sem palavras, ou dividido em partes, uma cantada pelo solista e outra pelo coro. Ao fim do canto do solista, os tambores começam a soar e a dança se inicia. Começa então um diálogo cantado entre solista e coro até que o solista grite machado! ou cachoeira!, quando tambores e dança param. Em seguida, o mesmo solista tira outro ponto ou é substituído. O improviso, característica dos pontos, vem se perdendo ao longo do tempo, de modo que atualmente há um repertório de pontos mais restrito que é memorizado e compartilhado pelos grupos. 
Comumente a roda se inicia com um ponto de reverência ou um pedido de licença, como o cantado em Serrinha, Rio de Janeiro:

Bendito, louvado seja
É o Rosário de Maria,
Bendito para Santo Antônio
Bendito pra São João
Senhora Sant’Ana
Saravá meus irmãos
(IPHAN, 2007, p. 38)

Quem inicia os pontos “geralmente ocupa uma posição de destaque no grupo, seja por sua idade e respeitabilidade, seja por sua capacidade de liderança”. (IPHAN, 2007, p. 52).

Segundo o dossiê Jongo no Sudeste, elaborado pelo Iphan, as comunidades de jongueiros dividem os pontos em dois tipos, de acordo com suas funções e efeitos: i) pontos de visaria ou bizarria que “são cantados para louvar entidades, pedir licença, contar e comentar fatos do cotidiano, alegrar e animar os dançarinos, dar a despedida, ao fim da roda“. (IPHAN, 2007, p. 53); e ii) pontos de gurumenta, demanda ou gromenta que “prestam-se ao desafio e tem poderes de ‘ encante’”. (IPHAN, 2007, p.54). Estes últimos desafiam participantes a decifrar enigmas, podem provocar rixas entre participantes ou podem ter efeitos mágicos. Os enigmas são lançados para serem decodificados, se não conseguem, o jongo fica “amarrado”. A roda, que vara a noite, pode ser finalizada com um ponto de encerramento ou de despedida. 

Vou caminhar que o mundo gira
Vou caminhar que o mundo gira
Gira meu povo
(Vou caminhar/Jongo da Serrinha)

No final do século XX, verificou-se o surgimento de um movimento para reavivar o Jongo, já que os processos de transformação urbana e migratório fizeram com que a manifestação acabasse em algumas comunidades. Além disso, contribuiu também para a diminuição da incidência do Jongo o fato de que, por muitos anos, práticas e expressões afro-brasileiras foram tidas como fator de vergonha para a população que a praticava, no contexto de uma sociedade do entorno que as desvalorizava, pois vinham de comunidades negras, excluídas e invisibilizadas ao longo dos séculos. 
Estratégias para a continuidade do Jongo vêm sendo implementadas pelas comunidades jongueiras, a exemplo do estímulo à participação de crianças, criação de grupos mirins, e a não proibição da participação de pessoas que não sejam filhas de jongueiros. Grupos estão promovendo apresentações artísticas em outros espaços, fora da comunidade, a fim de trazer maior visibilidade para a manifestação.
Desde 1996 são realizados encontros anuais itinerantes de jongueiros nos estados do Rio de Janeiro e São Paulo, onde são debatidas dificuldades e possibilidades para a manifestação com apresentações noturnas em espaços públicos. Em um desses encontros, no ano 2000, foi criada a Rede de Memória do Jongo que visa articular as comunidades jongueiras entre si e com a sociedade mais abrangente. 
Fruto dessa mobilização, em 2005, o Jongo foi reconhecido como patrimônio cultural brasileiro de natureza imaterial e inscrito no Livro das Formas de Expressão. Em 2011, foi instituído e inserido no calendário oficial do estado do Rio de Janeiro, o dia 26 de julho como o Dia Estadual do Jongo, por meio da Lei Estadual n. 6.098, de 5 de dezembro. 
Fonte: IPHAN http://migre.me/vowb7

domingo, 30 de outubro de 2016

Pedro Taques. (Transcrição)

Pedro Taques. N. em Portugal. Passou para o Brasil como Secretário, em companhia de Dom Francisco de Sousa, 7o. Governador Geral em 1591. Esteve na Bahia até 1598, ano em que, com Dom Francisco, foi a São Paulo visitar as minas de ouro e ferro então descobertas por Afonso Sardinha. Deixando o cargo de Secretário em 1602, diante de viagem de Dom Francisco de Sousa para o Reino de Portugal, serviu em honrosos cargos em São Paulo, até que, em 1609, recebeu daquela autoridade a mercê do ofício de Juiz dos Órfãos da Vila de São Paulo, em caráter vitalício, conforme provisão de 6-jun-1609. Do casamento com Ana de Proença, celebrado em São Paulo (SP), originaram-se os filhos: Pedro Taques de Almeida, Guilherme Pompeu de Almeida, Sebastiana Taques, Antônio Pompeu de Almeida, Maria Pompeu Taques (também citada como Mariana Pompeu) e Lourenço Castanho Taques. Fal. em 26-OUT-1644 em São Paulo (SP). 
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Fonte Usina das Letras: http://migre.me/vnSQQ

"A logistica e as batalhas em busca de Ouro no Sertão.". " processo de ocupação e exploração das terras americanas pelos portugueses, a partir do século XVI"

Fundação da Cidade de São Paulo
"A fundação de São Paulo está ligada ao processo de ocupação e exploração das terras americanas pelos portugueses, a partir do século XVI. Inicialmente, os colonizadores fundaram a Vila de Santo André da Borda do Campo (1553), constantemente ameaçada pelos povos indígenas da região."
"Segundo os relatos dos padres, o lugar foi escolhido por seu clima agradável, sua vegetação do campo e suas águas limpas e abundantes. E o principal: pela presença, na região, de uma numerosa população indígena que já convivia com os portugueses,  pronta para ser catequizada, batizada e transformada em um rebanho de fieis servidores da igreja católica."
 "O abandono da antiga Vila Santo André aconteceu por causa da  condição de pobreza e da situação de medo em que viviam seus habitantes diante das constantes  ameaças de ataques dos Carijós e de outras tribos indígenas inimigas.
Isso levou o primeiro povoado paulista do planalto a sair da borda do campo e ir reunir-se ao que estava dentro dos campos de Piratininga para o interior de São Paulo se afirmando como posto de colonização portuguesa em terras Paulistas."
"A situação não estava nada boa na Vila de São Paulo, no entanto a pequena vila formada em torno do colégio dos padres ia crescendo cada vez mais assim como outros aldeamentos indígenas eram criados pelos jesuítas nas vizinhanças. Aldeamentos que viriam a ser a origem e dar o nome de atuais bairros paulistanos, como São Miguel Paulista, Pinheiros, Penha e Santo Amaro, e de cidades da Região Metropolitana de São Paulo, como Guarulhos, Barueri e Carapicuíba."
Fonte: http://migre.me/vnVCY
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Capitão Sebastião de Freitas. N. em torno de 1565 em Lagoa, Comarca de Silves, Distrito de Faro, Província do Algarve, Portugal. Cavaleiro Fidalgo da Casa Real Portuguesa. Foi provedor da Santa Casa de Misericórdia na cidade onde nasceu. Em 1591, passou de Portugal para a Bahia como soldado da Companhia do Capitão Gabriel Soares de Sousa, encarregado de acompanhar o Governador-Geral Francisco de Sousa em expedições destinadas ao descobrimento de minas de prata no Brasil. Da Bahia passou para S. Paulo (SP), onde C. em 1592 c. Maria Pedroso, com quem teve os filhos: Isabel, Maria, Catarina e Mécia de Freitas, Ana Ribeiro, João de Freitas e Antônio Pedroso de Freitas. Em 1594, acompanhou o Capitão Jorge Correia ao sertão em guerra contra os gentios de Mogi que cercavam a Vila de S. Paulo. Em 1595, acompanhou, com seus escravos, o Capitão Jerônimo Pereira de Sousa em nova guerra contra o inimigo gentio. Pelos serviços prestados, foi armado Cavaleiro por D. Francisco de Sousa em 1600, em São Paulo, onde foi pessoa de respeito, autoridade e estima, tendo sempre as rédeas do governo local. Em 2-JAN-1604, recebeu "terras de sesmaria para fazer suas roças", conforme carta de Pedro Vaz de Barros, Governador da Capitania de São Vicente, publicada na publicação "Sesmarias" (Vol. I). Em 1606, recebeu de Jerônimo Correia Souto Maior, Capitão-Mor Governador da Capitania, em nome do Donatário Lopo de Sousa, a patente de Capitão da Gente de Piratininga do Campo de São Paulo, para com ela combater os inimigos da Vila. Em 1628, tomou parte na bandeira de Antônio Raposo Tavares ao Guairá. Fal. em sua fazenda em Juqueri (SP) em 1644. 
Fonte: Usina de Letras http://www.usinadeletras.com.br/exibelotexto.php?cod=6801&cat=Ensaios
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JOSÉ CARLOS VILARDAGA - SÃO PAULO NA ÓRBITA DO IMPÉRIO DOS FELIPES: CONEXÕES CASTELHANAS DE UMA VILA DA AMÉRICA PORTUGUESA DURANTE A UNIÃO IBÉRICA (1580 - 1640) Os ingleses destruíram casas, igrejas e engenhos, obrigando o capitão a pedir socorro junto aos moradores da vila de São  Paulo, que, simplesmente, se recusaram a prestá-lo. Entre os conflitos do mar e do sertão, optaram pelo do sertão, que lhes dizia respeito. Embora, no planalto, Sardinha tivesse organizado, nos meses de setembro e  outubro de 1592, entradas punitivas e estabelecido um sistema de revezamento na  vigilância do forte, exemplos de pedidos como os do  castelhano João de Santa Anna, que solicitava  à Câmara um “chão” no rocio da vila em 1592 por “ ser muito necessário recolherem-se os moradores à vila e nela terem casas por respeito de estarmos em guerra” ,davam mostra de que a situação estava mesmo longe de apaziguar. De fato,  apesar de os conflitos serem empurrados para áreas cada vez mais distantes, ainda em  1593 a pressão indígena se fazia sentir, só que agora na área  de  Mogi, onde atacaram gente de Antonio Macedo e Domingos Luis Grou. Numa única emboscada no rio  Jaguari, segundo as Atas, teriam morrido o francês Guilherme Navarro, Francisco Correa, Diogo Dias, Manuel Francisco e Gabriel Pena. Os depoimentos dos sobreviventes assustavam a todos, que, em uníssono, exigiam do capitão Jorge Correa, estante em São Paulo, talvez para acalmar os ânimos,  que não  voltasse a Santos sem  antes dar uma lição nos  índios de Bogi. Pressionado pelas ameaças dos corsários no litoral e com o apoio da Companhia  de Jesus, Correa se recusou a aceitar a intimação e ainda proibiu a guerra intencionada  pelos moradores de São Paulo. Os oficiais, então, escreveram para o Rio de Janeiro, solicitando ajuda ao governador-geral e ao próprio rei. Fatos que talvez expliquem a primeira intervenção do governador-geral, D. Francisco de Souza, em São Paulo, quando mandou que se remetesse Correa preso à Bahia e que fosse designado como novo capitão-mor da capitania João Pereira de Souza Botafogo, enquanto o donatário não nomeasse um substituto. Correa acabou absolvido das acusações e retomou o posto na capitania, mas suas relações com os habitantes de São Paulo continuaram azedadas. 
Fonte: http://migre.me/vnV3T 
NotaItinerários e objetivos, em especial no que diz respeito aos primeiros caminhos, percorridos em busca dos Sertões da América Portuguesa, foram objeto de discussões, envolvendo Historiadores do passado, sabido que no presente, permanentemente são levantadas dúvidas. Entretanto, distante de minha área especifica de interesse, o contraforte da Mantiqueira, Serra de Jaguamimbaba, espaço colonial de Piquete-SP, Sertão dos Índios Bravos, faz-se necessário considerar que o avanço em busca do Sertão, ocorreu de forma planejada, não obstante ao fato de ser às  custa de milhares de  vitimas. Os ataques das tribos indígenas, não obstante  ao fato de serem vistas como constituídas de crueldade,  representava indiscutível defesa de seus territórios.  Desta feita, os relatos dão conta de que, o avanço se deu paulatinamente, em razão dos conflitos, de Santo Andre, para o Planalto do Piratiningue, São Miguel Paulista, Guarulhos, e a questionável Mogi das Cruzes, como itinerário. artigo de José Carlos Vilardaga, da conta de que Mogi das Cruzes, como posto avançado, em busca do Sertão, não garantia tranquilidade, como se pode ver do relato da emboscada no rio Jaguari, afluente do Paraiba do Sul. Em conclusão, resultado dessa logística as entradas em demanda do Sertão das Gerais, no tempo de Don Francisco de Souza, 7.º Governador do Brasil, tais como, Andre de Leão, Nicolau Barreto, Afonso Sardinha (rumo a Serra de Jaguamimbaba), João Pereira Botafogo,  Anthony Knivet (que alcançou o rio paraíba, pelo mesmo Jaguari).  

Afonso Sardinha o Moço (Transcrição)


Afonzo Zardinha de Melo "' houve dois, pai e sete filho, ambos versados em mineração e empenhados na procura de metais. Em 1589 os dois descobriram, em uma de suas excursões, minério de ferro, uranio e o sopé do Morro Araçoiaba (próximo à atual cidade de Sorocaba). Afonso Sardinha, o Velho, morreu depois do filho, em 1616. Mas não há provas, a não ser no que escreveu Pedro Taques de Almeida Pais Leme, de que esteve presente na descoberta das jazidas de minério de ferro de Araçoiaba e na construção do Engenho de Ferro. Ele foi um grande explorador da fauna e flora brasileira e contribuiu com os escravos a escaparem dos senhores.porém ele tinha muitos escravos
A terra
No século XVI, a região de Sorocaba, era o ponto para onde convergiam e a que se limitavam os índios Tupi do rio Tietê, os Tupiniquins e os Guaianazes de Piratininga, os Carijós dos campos de Curitiba, os Guaranis de Paranapanema e outros das nascentes desse rio, sendo lugar muito percorrido e conhecido por diversas tribos, o que facilitou ao colonizador suas empreitadas. Por volta de 1589, numa entrada liderada por Afonso Sardinha, descobriu-se minério de ferro no Morro Araçoiaba.
 Afonso Sardinha o Velho
Não se pode afirmar quando Afonso Sardinha, português, chegou ao Brasil, à Capitania de São Vicente. Tampouco se sabe onde nasceu nem a data. Deve porém ter sido dos mais velhos moradores da Capitania. Ao chegar, foi morar na Capitania de Santos. Em seu testamento, fala em papéis de crédito que um pirata inglês lhe havia levado, em várias transações próprias de quem negocia com navios e cargas. Ao chegar a São Paulo, em data ignorada, mas anterior a 1570, montou depósitos de açúcar e adquiriu casas que alugava aos vigários. Finalmente adquiriu uma grande fazenda pelo que se diz que em 1580 seriam homem de posses. Fazia, no fim do século XVI, vir negros da África como escravos. Enviava mercadorias à Metrópole ao menos uma vez por ano. Analfabeto como quase todos, assinava o nome com uma cruz com três hastes. Em seu Testamento, de 13 de novembro de 1592, descreve seus bens, especialmente uma grande Fazenda que, segundo vários autores, seria na região de Parnaíba. Foi casado com Maria Gonçalves. Não tinha filhos com ela mas um, ilegítimo e mameluco, de alguma índia. No seu testamento, declara expressamente "o que faço por não ter herdeiro forçado(herança legítima) a quem de direito deva deixar a minha fazenda (bens) porque Afonso Sardinha, o Moço, é havido depois de eu ter casado com minha mulher e por eu já ter dado a ele o que devia lhe ter já dado de minha fazenda até 500 cruzados, nos quais entram as terras onde está no Amboaçava…" Era uma grande soma o que prova a sua riqueza.
Aparece pela primeira vez em Livros de Atas e de Registro da Câmara de São Paulo, em 1575, ao tomar posse como Almotacel. Depois, em 1576 e 1577, seu nome aparece como vereador. Entre 1578 e 1586, não há menção. Em 1587, foi eleito Juiz e se manteve vereador. Tomou posse em 27 de Janeiro. Teria vivido na Vila nos dois anos seguintes, pois, em 1592, foi nomeado para comandar um grupo (uma verdadeira bandeira) que avançou pelo sertão para acabar com as invasões dos índios. Aliás, em 1585 (fato que pode explicar sua ausência da Vila de São Paulo), tomou parte na expedição de Jerônimo Leitão para os lados de Paranaguá, para combater os índios Carijós.
Em 9 de julho de 1615 ainda, com sua mulher Maria Gonçalves, fez doação ao altar de Nossa Senhora da Graça do Colégio de Santo Inácio, da vila de São Paulo, de todos os seus bens móveis e de raiz, com terras de Carapicuiba, por serem casados há 60 anos sem herdeiros. Afonso Sardinha o Moço era bastardo e mesmo assim já morrera.
 Bandeirante
Diversas vezes comandou expedições militares contra os índios. Não foi, até 1593, membro de qualquer entrada para preagem de índios ou procura de ouro. Dedicava-se mais a negócios comerciais e residia na Vila de Santos (depois da de São Paulo), mas foi um Bandeirante, sendo inclusive nomeado «Capitão da Gente de São Paulo» para cuidar da defesa da Vila contra as incursões e dar fim ao gentio invasor.
O grande feito: forja de ferro
Em 1591 no local se instalou a primeira usina siderúrgica: dois fornos rústicos e uma forja para produção de ferro. O empreendimento de Sardinha representou grande proeza mas, sem prosperar, encerrou suas atividades por volta de 1628, terminando assim o primeiro ciclo da exploração de Ipanema em (Sorocaba). Este fato conferiu a Afonso Sardinha o título de Fundador da Siderurgia Brasileira.
Em 1597 mais duas pequenas forjarias foram construídas nas cercanias de Ipanema. Entretanto, pelo tratado de Methuen, de 1703, entre Inglaterra e Portugal, Portugal foi obrigado a destruir suas manufaturas na Europa e na Colônia, desestimulando qualquer empreendimento com forjas.[1]
Afonso Sardinha, o Moço ou o Mameluco, tinha acompanhado o pai em todos seus feitos e morreu pobre, na cidade dos €3scravosem meio a uma expedição guerreira.
D.Francisco de Sousa havia enviado ao interior, pesquisar metais, Bento Maciel Parente e Diogo Martins Cão, e não obtendo resultado decidiu três entradas em 1596, partindo da serra dos Aimorés (a de Diogo Martins Cão), das costas de Parati (a de Martim Correia de Sá) e da vila de São Paulo (a de João Pereira de Souza Botafogo capitão-mor de São Vicente desde 14 de março de 1595, que não a realizou por ter sido preso por ordem real no meio da bandeira, e Domingos Rodrigues, fundidor de ferro trazido por D. Francisco do reino, chefiou um pedaço dela, dirigindo-se para a bacia do São Francisco e penetrando em território atualmente goiano, se deteve nas regiões de Paraupava). Dom Francisco chegou a São Paulo em maio de 1599 com grande comitiva e visitou então as minas de Afonso Sardinha o Moço, Bacaetava, São Roque e Jaraguá.
Dom Francisco em 1601 nomeou Diogo Gonçalves Laço capitão das minas de ouro e prata do Ibiraçoiaba: na ocasião, declarou Afonso Sardinha o Moço como seu descobridor, com Clemente Alvares. Eram minas, mas de flancos de montanha ou «grupiaras». Ordena no regimento a Laço aos dois Afonso Sardinha as diligências que somente serão executadas por Nicolau Barreto no ano seguinte, acompanhado por Afonso Sardinha, o Moço, que morreu no sertão em 1604.
Esta importante bandeira de Nicolau Barreto teve início em agosto de 1602. Partiu de São Paulo, autorizado Nicolau por Dom Francisco a descobrir ouro e prata (o objetivo real teria sido a pesquisa de ouro e prata no Peru). Desceram o rio Tietê e o rio Paraná, atingiram o rio Guairá mas trouxeram apenas índios e de volta a São Paulo, onde chegaram em 1604. Haviam-na integrado Afonso Sardinha o Moço, Simão Borges Cerqueira, fidalgo da Casa Real, Ascenso Ferreira, Pedro Leme, Manuel Preto, Francisco de Alvarenga. Pensa-se que queriam na verdade penetrar no reino do Peru à procura de minas, já que o mesmo soberano dominava o continente. Desta bandeira resultou que o governador Dom Francisco Arias de Saavedra, adiantado do Rio da Prata, mandou por terra a São Paulo emissários para falar com Dom Francisco de Souza, que impediu o quanto pode a ida de bandeiras escravagistas.
Afonso o Moço fez testamento em 1604 no sertão, que se pode ler em Silva Leme, volume I, página 76. Foi escrito pelo padre João Alvares, um dos capelães. Nele declara possuir 80.000 cruzados de ouro em pó, enterrado em botelhas de barro. Declara ser descobridor das minas de ouro no Brasil, nas serras de Jaguamimbaba, hoje Serra da Mantiqueira, na de Jaguara, termo de São Paulo, na de Vuturuna, termo da vila de Parnaíba, e na de Hiriraçoiaba ou Araçoiaba, termo de Sorocaba; fez também dois engenhos de ferro em que fundia com abundância tal metal, tudo à sua custa, circa 1590. Declara que desde 1592 morava na Embuaçava, terras dadas pelo pai.
Iniciador do ciclo do ouro das Minas de São Paulo, descobrira ouro de 1589 a 1600 na serra da Mantiqueira, em Guarulhos, Jaraguá, São Roque e Ipanema onde também encontrara ferro. Seu companheiro nas diligências era Clemente Álvares, mineiro prático. Em 1598, com outros Paulistas e mais de 100 índios, fizera entrada para «saltear índios» e descobrir metais, supondo-se que atingiu nas Minas Gerais o sertão do Jeticaí. Com seu filho Pedro Sardinha, também grande sertanista, desenvolveu os trabalhos de mineração no Jaraguá, que Brás Cubas tentara, mina donde diz ter extraido 80 mil cruzados e que o neto Gaspar Sardinha ainda explorava em 1636 com lucro. Deixou dois filhos legítimos, Luzia e Pedro.

Na Capitania de São Vicente Washington Luís 1.º Parte

Capítulo XIX - Nicolau Barreto  - Chegando a um sertão do Brasil, onde escassearam os víveres e onde, segundo informações de um indígena aprisionado, havia muitas tribos selvagens, conforme narra o roteiro de Guilherme Glymmer, a bandeira de André de Leão regressou a S. Paulo, sem descobrir minas e sem cativar índios.
Sendo pequena em número, 60 a 70 homens, e com poucos mantimentos, a bandeira não ousou prosseguir no descobrimento, nem fazer a guerra ao gentio numeroso e inimigo, que lá se achava.
A causa, pois, do insucesso dessa expedição foi sua organização deficiente em pessoal e em mantimentos, causa facilmente removível diante da pertinácia de d. Francisco de Souza, absorvido completamente em descobrir as minas de ouro e prata, já procuradas desde o Norte do Brasil, não trepidando ele em deixar a sede do governo, na Bahia, para vir encontrá-las partindo do Sul. Promoveu ele a organização de outra expedição muito mais numerosa e convenientemente abastecida, de modo, a devidamente explorar e descobrir a região tão procurada. 
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Azevedo Marques na sua Cronologia, pág. 224, informa que:
"em agosto de 1602 parte de S. Paulo para o sertão numerosa bandeira ao mando de Nicolau Barreto, em direção de Mogy das Cruzes, com o fim ostensivo de descobrir ouro. Dela fizeram parte pessoas importantes daquela época, tais como Simão Borges de Cerqueíra, fidalgo da Casa Real, Ascenso Ribeiro, Pedro Leme, Manuel Preto, Francisco de Alvarenga e outros."
Cita como fonte dessas informações o inventário de Ascenso Ribeiro, no cartório de órfãos de S. Paulo. Este inventário de Ascenso Ribeiro não foi encontrado no Arquivo Público do Estado de S. Paulo, por mais cuidadosas que tivessem sido as pesquisas feitas por Manuel Alves de Souza, encarregado pelo Governo do Estado de S. Paulo, de traduzir, copiar e publicar os inventários lá recolhidos do Cartório de Órfãos, e desejoso esse paleógrafo de cumprir as instantes recomendações que lhe haviam sido feitas.
Outros inventários, porém, publicados pelo Arquivo, vieram esclarecer, precisar e preencher lacunas da breve, contudo preciosa, notícia recolhida por Azevedo Marques.
Assim o inventário de Brás Gonçalves (Inv. e Test., vol. 11, pág. 9 e segts. e o de Manuel de Chaves, idem, V. 1º, pág. 459 e segts.) confirmaram a existência da bandeira comandada por Nicolau Barreto; ela porém partiu, não em agosto, mas nos princípios de setembro, porque esses dois bandeirantes, que nela tomaram parte, ainda se achavam em S. Paulo nos primeiros dias de setembro, e aí assinaram, neste mês, setembro, documentos de dívida, com o fim de obter recursos pecuniários para a entrada que fizeram na companhia de Nicolau Barreto (Inv. e Test., vol. 1º, pág. 486, vol. 11, pág. 17).
A partida em princípios de setembro se confirma na vereança de 8 desse mês na qual o único vereador do ano de 1602, restante na vila, Josepe de Camargo e o povo "por não haver oficiais e se irem todos os mais fora, elegem dois juízes, um vereador e um procurador do conselho que sirvam na ausência dos mais" (Atas, vol. 2º, pág. 109).
É lógico supor-se que indicando o mês de agosto para a partida da bandeira, Az. Marques se tenha apoiado em documentos de dívida, idênticos aos que se encontram nos inventários de Braz Gonçalves e de Manuel de Chaves, e que permitem agora marcar a partida da bandeira para princípios de setembro. Essa diferença de poucos dias para a partida não invalida a informação amplamente confirmada.
No seu livro História da Companhia de Jesus (vol. 1º, pág. 189 em nota) o padre Pablo Pastells transcreveu em nota, e na íntegra uma carta do padre Justo Mancilla van Surck, escrita da Bahia, a 2 de outubro de 1629, ao geral da Companhia de Jesus, em que descreve com cores vivas, e, com palavras veementes, acusa de crueldade os costumes paulistas de então, dizendo que "no ano de 1602 (?) foi de S. Paulo a buscar e trazer índios Nicolau Barreto, com licença de seu irmão Roque Barreto, capitão da terra, com capa de descobrir Minas".
Assim, quer com documentos municipais, quer com os jesuíticos, se mostra não haver dúvida alguma quanto à ida de Nicolau Barreto ao sertão, com "cerca de 270 a 300 homens", e mais índios escravos.
Acrescenta Azevedo Marques que a bandeira partiu em direção a Mogi das Cruzes. Quis ele designar não o destino, mas o itinerário e o fez pelo nome atual de uma das primitivas paragens que anteriormente foi chamada Mogi, designação que não ignoram os que cuidadosamente estudam a toponímia de S. Paulo.
É ele, mesmo, Azevedo Marques, que, sob o verbo Mogi das Cruzes, nos seus Apontamentos, informa que, em tempos remotos, tal localidade se denominou Bogi, que se transformou em Mogi com o acréscimo das Cruzes, porque no adro da primeira matriz, que lá houve, existiram plantadas três cruzes. Aí Braz Cubas, segundo ainda o mesmo informante, tinha uma fazenda de cultura em terreno compreendido em uma grande sesmaria obtida em 1560, e que começava abaixo da serra e ia até o cimo. Era uma paragem, bem conhecida na época da partida da bandeira, essa de Bogi, nome corrompido em Mogi, e mais tarde transformado em Mogi das Cruzes. Pedro Taques conta que foi Braz Cardoso o fundador da povoação de Mogi das Cruzes, em 1602, ereta vila em 1º de setembro de 1611 (História da Capitania de S. Paulo).
Bogi... Mogi... são modificações da mesma voz pronunciada pelos índios tupis e que eram grafadas conforme permitiam as poucas letras dos escrivões da época. É freqüente, nas Atas da Câmara, nos testamentos, no Registro das Sesmarias, encontrar-se o nome da mesma localidade ou duma mesma tribo indígena, escrito de macio diferente, na mesma página, nas páginas seguintes, e, em anos subseqüentes, como já disse, podendo-se ver as transformações de tal nome até a sua fixação atual.
Nas concessões de datas de terras nessa paragem se pode acompanhar a evolução dessa palavra, até se consolidar na atual Mogi das Cruzes.
Assim (livro 1 de Sesmarias, publicação do Arquivo de S. Paulo) o capitão-mor Gaspar Conquero concedeu a 24 de janeiro de 1609 a Francisco Vaz, terras pelo "... ombiaci para a banda da Paraíba, defronte de uma serra que se chama Tapeti, no Boixi miri (vol. 1º, pág. 38).
A 10 de novembro de 1609 o mesmo Gaspar Conquero deu a Fulano Rodrigues, morador em S. Paulo, uma légua de terra na banda dos campos de Utacurubitiva no caminho "que Gaspar Vaz fez e que vai para Boigi mirim a saber partindo da barra dum rio que se chama Guayoó... e correrá avante até dar no Rio Grande de Anhembi" (idem, vol. 1º, pág. 66)
A 27 de fevereiro de 1610, ainda Gaspar Conquero concedeu uma sesmaria ao clérigo João Álvares, natural da vila de S. Paulo, filho e neto de conquistadores, assistente em Boigi-mirim, uma légua de terra em quadra, que começará a partir pelo caminho para o dito rio da Paraíba e fica... para o Rio Anhembi (idem, v. 1º, pág. 90).
A 1º de abril de 1610, mais uma vez esse capitão-mor concedeu a Domingos Agostin em Boigi-Mirim uma légua de terra do outro lado do Anhembi partindo com Gaspar Vaz (idem, vol. 1º, págs. 91 e 92).
A 15 de março de 1611, Amador Bueno, morador em S. Paulo, em petição ao capitão-mor Gaspar Conquero, declarando que está informado que junto a Maria Álvares, dona viúva, mulher que foi de Manuel Eianes, perto de S. Miguel, aldeia dos índios, estão terras devolutas para a banda de Mogi, as pede etc. (idem, vol. 1º, pág. 145).
Por Aguiar Barriga é concedida em Mogi-Mirim, a Manuel da Siqueira e a Francisco Bicudo, moradores em S. Paulo, filhos e netos de povoadores e conquistadores, uma légua de terras, nas cabeceiras do padre João Alvres e outros, que com elas partem, rio acima em Taquaquecetiba no termo da vila de Santa Ana da outra banda do Anhembi (idem, vol. 1º, págs. 252 e 253).
A 4 de janeiro de 1641 é concedida a João Portes de El Rey e outros, filhos e netos de povoadores e conquistadores desta capitania, na vila de Santa Ana das Cruzes de Mogi-Mirim duas léguas de terras de matos daninhos pelo rio arriba à mão esquerda do Rio Anhembique (idem, vol. 1º, pág. 418).
Nessas sete sesmarias – das quais as duas primeiras trazem a data de 1609, época muito próxima à da partida da bandeira de Nicolau Barreto – nessas sesmarias o nome e escrito de diversas maneiras; mas as indicações locais, que o acompanham como a Serra Tapeti, que fica na vizinhança de Mogi das Cruzes, o rio Anhembi, a barra do Rio Guaiaó, a aldeia de S. Miguel, Tacuaquecetuba (acidentes geográficos e povoações intermediárias entre S. Paulo e Mogi das Cruzes), Boacica, o Rio Paraíba, as confrontações coincidentes com Gaspar Vaz e com o padre João Alvres, levam a identificar, sem dúvida alguma, Boigi, Mogi, Mogi-Mirim com Sant-Anna das Cruzes de Mogi-Mirim e afirmar que Mogi-Mirim, antiga povoação que se fez na sesmaria de Braz Cubas, fundada por Braz Cardoso, criada vila em 1611, elevada a cidade em 1855, é a atual Mogi das Cruzes.
Avisadamente andou Az. Marques indicando em 1872, época em que escreveu os seus Apontamentos, "Mogi das Cruzes" como sendo a direção da bandeira de Nicolau Barreto, porque, se o fizesse com o nome contemporâneo da entrada, estabeleceria confusão com uma outra localidade, mais tarde chamada, e ainda hoje, "Mogi Mirim", situada próxima ao Rio Mogi-Guaçu, afluente do Rio Pardo. 
Fonte: http://www.novomilenio.inf.br/sv/svh072t.htm 
Parafraseando: Acrescenta Azevedo Marques que a bandeira partiu em direção a Mogi das Cruzes. Quis ele designar não o destino, mas o itinerário e o fez pelo nome atual de uma das primitivas paragens que anteriormente foi chamada Mogi, designação que não ignoram os que cuidadosamente estudam a toponímia de S. Paulo. Relativamente ao itinerário, foi este, o mesmo percorrido por Andre de Leão. Por outro lado, percorrendo no inicio itinerário diferente, Anthony Knivet, Adré de Leão, e Nicolau Barreto, seguiram a mando de Dom Francisco de Souza o mesmo destino percorrendo o rio Paraiba até o Guaipacaré, em demanda da Serra da Mantiqueira.  Em conclusão no que diz respeito ao destino, os relatos de Guilherme Glymmer, conincide com os relatos de Anthony Knivet e fundamenta os relatos trazidos a respeito da Bandeira de Nicolau Barreto.

Na Capitania de São Vicente Washington Luís - 2.º Parte

Capitulo XIX - Nicolau Barreto
Os documentos locais da vila de S. Paulo dão elementos seguros para se concluir que a diretriz da bandeira foi Mogi das Cruzes.
O documento, já aqui citado, inserido em nota pelo padre P. Pastells, no volume 1º da sua citada História da Companhia de Jesus na Província do Paraguai, às páginas 189 a 191 em nota, e consistente como disse em uma carta do pe. Justo Mancilla van Surck, datada da cidade do Salvador, Bahia, a 2 de outubro de 1629, dirigida ao Geral dos Jesuítas, narra que "O pe. Francisco Carneiro contou que no ano de 1602 (?) saiu de S. Paulo a buscar e a trazer índios Nicolau Barreto, irmão de Roque Barreto capitão da terra, com o fim ostensivo (com capa) de descobrir minas e levou em sua companhia 270 portugueses e 3 clérigos. Acrescenta que uns quarenta deles encontraram por aqueles montes com uns índios cristãos, que, enviados por nossos padres de Vila Rica do Espírito Santo, tinham ido buscar seus parentes e trazê-los para as nossas aldeias e, com efeito, levavam para lá umas 700 almas; porém os portugueses tomaram todos, não obstante os índios cristãos lhes dizerem que eram enviados dos nossos padres e que perto havia muitos outros índios infiéis, que poderiam ser levados".
Na sessão de 24 de novembro de 1602 (Atas, vol. 2º, pág. 113) em requerimento e protestação ao capitão-mor Diogo Lopes de Castro, a Câmara declarou que "eram ido dez homens ou mais pelo rio abaixo em busca de algumas peças (índios) e que lhes poderia suceder matarem-nos"..., declaração que se torna mais explícita, quando em seguida fez escrever "que a sua notícia era vindo, como dez ou doze homens que estavam em seguimento de Nicolau Barreto, capitão, que Roque Barreto, capitão que foi desta capitania, mandou ao sertão, mudaram de viagem e se foram pelo rio Anhembi abaixo, aonde lhes pode suceder muito mal com os matarem" e "que é necessário e será grande serviço de Deus mandar em seu seguimento 15 ou 20 homens... e os tirar d’algum perigo em que podem estar"... (Atas, vol. 2º, pág. 114).
Evidentemente o fato narrado por Pastells é o mesmo referido pela Câmara de S. Paulo; o mesmo ano de 1602, a mesma expedição sob o comando de Nicolau Barreto com três clérigos, a mesma circunstância, de uma parte que se destacou do corpo principal da bandeira. Esses dois documentos se completam. Há apenas pequena discordância quanto ao número dos homens, que se separaram da bandeira, discordância facilmente explicável.
O padre Mancilla alude a cerca de 40 homens, a Câmara de S. Paulo se refere a uns 10 ou 12. Nenhum deles quis dar, nem o poderia fazer, o número exato desse destacamento. O padre Mancilla não sabia, de ciência própria, o fato de 1602. Escrevendo 27 anos depois, e da Bahia, a ele se referiu por o ouvir ao padre Francisco Carneiro, que possivelmente aumentou o número das pessoas, componentes do destacamento.
A Câmara de S. Paulo, contemporânea e interessada no fato, sugeriu menor número para facilitar o capitão Roque Barreto a prestar o auxílio de 20 ou mais homens para juntá-los aos 10 ou 12 que tinham ido rio abaixo, o que provavelmente foi feito, e faz coincidir aproximadamente os dois efetivos indicados para o destacamento. Essa circunstância tem porém, pouca importância, desde que em ambos está bem caracterizada a bandeira de Nicolau Barreto em 1602, da qual se separou uma parte.
Do trecho transcrito da obra do pe. Pastells vê-se que o destacamento, que se separou da bandeira de Nicolau Barreto, encontrou "por aqueles montes 700 índios que iam sendo levados para Vila Rica do Espírito Santo", a fim de serem catequizados nas aldeias que lá existiam. Como se lê os 700 índios, aprisionados nessa ocasião, pois, não estavam na Província do Paraguai; ao contrário, eram para lá levados por índios já cristianizados. Eram os padres jesuítas do Guairá – que vinham "chasser dans nos terres", poderia dizer o cabo da bandeira.
O aprisionamento foi feito nos montes do vale do Tietê, onde habitavam os tupiniquins. Ambas as entradas, quer a mandada pelos jesuítas, mencionada na obra de Pastells, quer a que se referiu Azevedo Marques, tendo por objetivo buscar gentio, motivo da luta entre a catequese religiosa e a cativação colonial, se haviam de encontrar nos sertões da capitania de S. Vicente, nos quais ambas penetravam.
Se o destacamento tivesse ido ao Guaíra, o padre Mancilla indicaria essa circunstância, como, também, sem dúvida alguma, mencionaria a presença de Nicolau Barreto, se ele lá tivesse ido com a sua bandeira.
É claro que não se limitaria a transmitir a informação do pe. Francisco Carneiro, ex-reitor do Colégio do Rio de Janeiro. Afirmaria o que teria ouvido in loco aos padres das reduções do Guairá, porque ele foi um deles e dos mais zelosos, desde 1628 [1
]
A Câmara Municipal da pequenina vila de S. Paulo seiscentista, situada na colina entre o Tamanduateí e o Anhangabaú, informa que dez ou doze homens, que estavam em seguimento de Nicolau Barreto, mudaram de viagem e foram pelo Rio Tietê abaixo.
Ora, visto desse S. Paulo quem mudou de viagem pelo rio, deixando a companhia de Nicolau Barreto e foi pelo Tietê abaixo, evidentemente tomou a direção de Barueri, de Pirapora, de Itu etc., foi em suma em direção ao Rio Paraná para o Oeste.
A tropa de Nicolau Barreto, que não mudou de direção, não poderia ir para o Oeste, porque então toda ela mudaria de direção; não seguiria para o Sul, porque logo chegaria ao litoral, nem para o Norte porque logo esbarraria com as então ínvias serras da Cantareira, Atibaia, Bragança, contrafortes da Mantiqueira, que, se fossem transpostas, dariam também caminho para as nascenças do Rio S. Francisco.
A bandeira de Nicolau Barreto, portanto, só poderia ir para Leste, e indo para Leste foi em direção a Mogi das Cruzes. E é lógico que para lá fosse, porque mais numerosa em homens e bem apercebida de víveres, e organizada com parecer de d. Francisco de Souza, fosse buscar as minas de ouro e prata, por este governador obstinada e ardentemente procuradas, e que se supunham situadas nas nascenças do Rio S. Francisco, não atingidas por André de Leão.
É natural que seguisse para o mesmo sertão já percorrido sem êxito por André de Leão, em busca das minas desejadas. Era uma nova tentativa que se realizava para o mesmo fim.
Era lógico que o fizesse; porque esse roteiro, já conhecido e já em parte trilhado recentemente nessa época, levava às nascenças do Rio S. Francisco.
E foi por aí que seguindo, sem dúvida alguma, o mesmo roteiro de Glymmer, atingiu afluentes do Rio S. Francisco já atingidos pela bandeira de André de Leão. A identificação no terreno deve ser a mesma.
Após cerca de cinco meses de marcha, a bandeira de Nicolau Barreto, a 17 de fevereiro de 1603, chegava ao Rio Guaibií, e nesse dia e no arraial de Nicolau Barreto, Braz Gonçalves assinou um documento a Domingos Barbosa no valor de 3 cruzados (Inv. e Testamentos, vol. 21, pág. 32), atingindo depois o Rio Paracatu. Nos valiosos Prolegômenos à História do Brasil, de frei Vicente do Salvador, no capítulo IV, Capistrano de Abreu, não obstante reconhecer a excelência dos dois ensaios feitos por Orville Derby, a respeito das entradas de André de Leão e de Nicolau Barreto, publicados na Revista do Instituto Histórico de S. Paulo, põe em dúvida que Nicolau Barreto tivesse chegado ao Rio Paracatu, afluente do alto S. Francisco, e que lá tivesse aprisionado índios temiminós. Para essa dúvida indica o episódio de Manuel Preto vindo do Guairá (em 1606-1607) ter encontrado temiminós no caminho e cita o volume 2º das Atas de S. Paulo na página 184. O fundamento dessa dúvida, tenho a ousadia de dizer, não me parece procedente.
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Nota: Ainda que não tenha sido possivel esmiuçar as reflexão trazidas no Boletim Vol. 12, do Departamento do Arquivo do Estado de São Paulo com o tema; "A exploração do vale do S. Francisco pela bandeira de Nicolua Barreto (1602-1604) e a fábula da invasão do Guayrá" Superada a dúvida quanto ao caminho percorrido, é certo que a partir das Capitanias do Sul, entraram as Bandeiras,  enviadas a região central do Brasil, em demanda do São Francisco, por ordem de D. Francisco de Souza. Entre outras, as Bandeiras comandada por Andre de Leão em 1601 e Nicolau Barreto de 1604. Indubitavelmente, faz-se necessário considerar que também esteve a serviço do mesmo Sétimo Governador Geral do Brasil, nos Sertões das Gerais, bem como em mais de uma oportunidade o aventureiro Inglês, Anthony Knivet. Entrando pelo rio Jaguari na região de Mogi da Cruzes, afluente do Paraiba,  sendo certo que este ultimo rio foi a partir do Rio de Janeiro (Paraty)

sábado, 29 de outubro de 2016

Armar escravos em Minas colonial : p otentados locais e suas práticas de reprodução social na primeira metade do século XVIII, por ANA PAULA PEREIRA COSTA *

A mobilização de escravos armados no governo e manutenção da ordem nas conquistas.
 A idéia de senhores armarem seus escravos para deles se utilizar como um “exército privado” pode a princípio parecer-nos muito contraditória. Tradicionalmente a imagem que se construiu acerca dos escravos foi a do “inimigo doméstico”, ou a da mercadoria preciosa sob a qual o senhor poderia exercer total domínio, ou a de seres traiçoeiros sempre prontos a se rebelarem contra seus donos. Sendo assim, porque seus senhores supririam esses “inimigos” com armas? Como bem lembrou David Brion Davis, podemos fazer uma analogia deste argumento com uma realidade atual, ao pensarmos que armar escravos seria algo similar a fornecer armas e granadas aos condenados das penitenciárias de segurança máxima7. Levando em consideração os vários relatos empíricos que mostram a presença de escravos armados lutando ao lado e às vezes, defendendo seus senhores, uma importante questão a ser considerada é: porque alguns escravos escolheriam lutar pelos seus donos? A compreensão dessa questão de como e porque agiam esses escravos armados é fundamental para apreendermos o funcionamento da instituição humana mais degradante de toda a história8. Estudos recentes sugerem que usar escravos armados, seja em exércitos “formais” seja em milícias particulares, não era algo nada excepcional, sendo esta uma prática comum a diferentes épocas e lugares; prática esta que também foi levada para as Américas portuguesa e espanhola9. Em relação à América portuguesa alguns autores têm demonstrado que era relativamente comum que senhores armassem seus escravos no Brasil colonial, desde o século XVI até o século XIX, em diferentes paragens. 
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ESTRADA REAL: A ESTRADA DO MEDO - (Transcrição)

 
Ouro por todos os cantos .... na cabeça daquela gente, sobretudo. Intrigava-se, traia-se, matava-se por motivo fútil, movidos por cega ambição
Nos idos de 1.700, o temor entre os comerciantes que transitavam pela Estrada Real era tão grande - diante das notícias de perigo e incertezas do roteiro - que muitos já deixavam prontos os seus testamentos antes de cada viagem. Cruzar a rota do ouro e dos diamantes era uma verdadeira aventura no século XVIII. Homicídios, roubos e contrabandos eram frequentes. Embora as ações dos salteadores e bandoleiros, na maioria das vezes reprimidas, nem sempre as autoridades tiveram sucesso.

 
O palco da violência não se limitou às estradas, alcançando também os sertões e as serras. E em menor escala as vilas. Uma forma usada pelos senhores para se protegerem era a companhia de negros, sempre armados e cachorros. A maior parte dos ataques acontecia à noite. Ninguém era poupado, fosse mulher, criança ou idoso.
Foram várias as tentativas de se conter a criminalidade. Em 1766, o rei de Portugal, dom José I, proibiu os sítios volantes e ranchos sem estabelecimento sólido e determinou que os indivíduos dispersos deveriam se estabelecer em povoações civis. Em 1775, houve nova carta régia, prevendo mais organização das minas e tornando mais freqüentáveis os caminhos.
Em 1781, Joaquim José da Silva Xavier - Tiradentes - assumiu o patrulhamento da serra da Mantiqueira, com a missão de estudar as terras, rios, fazer cartas geográficas dos sertões, com seus habitantes e em que se ocupavam. A partir de seus estudos, foram reconhecidos caminhos que ligavam as minas ao Rio de Janeiro e estabelecidos os locais estratégicos em que deveriam ser colocados registros, rondas e patrulhas.
As quadrilhas de Minas na época do ouro:
MANTIQUEIRA
Era a quadrilha mais badalada. Atuou durante três anos na região do Alto da Mantiqueira. Extremamente organizada, era chefiada pelo  "Montanha". A estratégia do grupo, que matava os policiais para roubar as fardas,  lembra a técnica atualmente usada pelos traficantes cariocas. Fardados, faziam falsas blitze nas estradas e roubavam todo o ouro que passava por ali. Foi desmantelada em 1786, a partir das diligências feitas por Tiradentes.
MÃO DE LUVA
Atuava no Rio de Janeiro e Minas Gerais. Recebeu este nome porque o chefe usava uma luva. Eram contrabandistas, vistos pelas autoridades como perigosos bandidos. Faziam comércio de ouro com todo tipo de gente. Matavam somente quando atacados. O grupo foi desarticulado pelas tropas do governo de Minas, a pedido do então governador Luiz da Cunha Menezes.

VIRA-SAIA
Atuava no Norte de Minas Gerais, perto da Serra do Grão Mogol. Os integrantes eram considerados altamente perversos. Dificilmente as tropas do governo conseguiam pegá-los, o que criou o mito de que teriam "pacto com o diabo". O grupo se desfez no começo do século XIX e acredita-se que migrou para a Bahia.

SETE ORELHAS
Chefiada por Januário Garcia Leal, que recebeu este nome porque portava um colar com sete orelhas humanas - arrancadas dos homens que mataram seu irmão. A quadrilha assombrou Minas Gerais no final do Século XVIII. Era desorganizada - ao contrário das demais - e usava formas perversas de matar. Seus integrantes embrenharam-se pelo sertão e nunca mais foram vistos.

Nota, Em 1781, Joaquim José da Silva Xavier esteve no Alto da Serra da Mantiqueira, local em que se deu a instalação do Registro de Itajubá e no sertão da adjacencia, espaço colonial de Piquete-SP designado ainda de Amantiqueira Quadrilheira, ou seja, vigiada.
Fonte: http://migre.me/vni9Z

sexta-feira, 28 de outubro de 2016

Jongo de Piquete - 12º Encontro de Jongueiros (2008)

Jongo (Transcrição)

Jongo do quilombo sao jose.jpg
O Jongo é uma das Danças Populares e das Dança Afro-brasileiras mais fortes no Brasil.
Uma manifestação associada ao legado cultural africano no Brasil e que influiu fortemente na formação do samba, e das culturas populares brasileiras como um todo.
Segundo os jongueiros, o Jongo é o "avô" do Samba.
Foi declarado Patrimônio Imaterial da Humanidade pela UNESCO. 

Origens

Inserindo-se no âmbito das chamadas danças de umbigada (aparentada com o "Semba" ou "Masemba" de Angola), o Jongo foi trazido para o Brasil por negros bantu, sequestrados para serem vendidos como escravos nos antigos reinos de Ndongo e do Kongo, região compreendida hoje por boa parte do território da República de Angola.
Composto por música e dança características (jongoo), animadas por poetas que se desafiam por meio da improvisação, com cantigas ou pontos enigmáticos, o Jongo tem, provavelmente, como uma de suas origens (pelo menos no que diz respeito à estrutura dos pontos cantados) o tradicional jogo de adivinhas angolano, denominado Jinongonongo.
Pesquisas históricas indicam que o Jongo possui, na sua origem, relações com o hábito recorrente das culturas africanas de expressão bantu, durante o período colonial, de criar diversas comunidades organizadas internamente, dentre as quais podemos citar até mesmo irmandades católicas, como a Congada. Essas fraternidades tiveram importante papel na resistência à escravidão, como modo de comunicação e organização, até mesmo comprando e alforriando escravos.
Apesar de ser uma expressão da religião, mantém como um traço essencial de sua linguagem a presença de símbolos que possuem função supostamente mágica ou sagrada, provocando, segundo se acredita, fenômenos mágicos. Desse modo, o fogo serve para afinar os instrumentos e também para iluminar as almas dos antepassados.
Há comunidades, como a favela da Rocinha no Rio de Janeiro, onde se relata que antigamente não poderiam participar do jongo mulheres e crianças. Em outras comunidades acredita-se que a participação sempre foi aberta a homens e mulheres.
Dentre as importantes jongueiras mulheres, cita-se Clementina de Jesus.
A valorização da ancestralidade toma forma de um grande respeito aos mais velhos, também chamados "jongueiros cumba", pois a idade é relacionada, nesse contexto, à grande sabedoria e poder. Isto é visível em metáforas cantadas/narradas/faladas como a que um jongueiro cumba, certa vez, plantou uma bananeira no início da noite da festa do jongo e, ao amanhecer, todos colheram bananas maduras.


O Tambor

Tambor.jpg
Os tambores são consagrados e considerados como ancestrais da própria comunidade. Feitos de troncos de madeira e couro animal, são elementos centrais no jongo, sempre reverenciados pelos jongueiros, pois fazem ligação com entidades do mundo espiritual e expressam a conexão do jongo com outras manifestações afro-brasileiras. São respeitados na roda de jongo verdadeiras entidades e sem eles o jongo não sai.
Alguns tambores chegam a ter mais de cem anos de batuque e são passados de geração em geração. São tão importantes que, em geral, o guardião é o líder da comunidade jongueira.
Os instrumentos que acompanham os jongueiros variam. Na formação mais conhecida inclui dois ou três tambores chamados de tambu e candongueiro ou de caxambu e candongueiro. Algumas comunidades usam também um tambor de fricção (espécie de cuíca maior, a puíta ou angoma puíta).


A Dança

Iniciado o toque dos tambores, forma-se uma roda de dançarinos que cantam em coro, respondendo ao solo de um deles. De forma encadeada, para abrir a roda é necessário o ponto (forma poética e musical) de homenagem aos jongueiros velhos. Existem os pontos para pedir licença aos ancestrais vivos e mortos. Há ainda pontos de circunstâncias específicas como de encerramento e saída da roda.
Sozinhos ou em pares, os dançarinos vão ao centro da roda passando pela saudação (permissão) ao tambor. Muitas vezes nota-se no momento da substituição, o elemento da umbigada.
A dança em círculos com um casal ao centro remete à fertilidade; sem esquecer, é claro, as ricas metáforas utilizadas pelos jongueiros para compor seus "pontos" e cujo sentido permanece inacessível para os não-jongueiros.
Dança-se conforme se sabe, rodando, pulando, arrastando os pés, devagar, rápido. Muitas vezes os passos são como de danças observadas nas rodas de santos da umbigada. Mais característicos do Jongo da Serrinha, usam-se marcações com os pés oriundas de outras Danças Populares como o mancador, amassa café e tabiado, além da saudação com os braços pro céu em reverência a poderes divinos ou ancestrais.
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Características e Legado do Jongo

Dançado e cantado outrora com o acompanhamento de urucungo (arco musical bantu, que originou o atual berimbau), viola e pandeiro, além de três tambores consagrados, utilizados até os nossos dias, chamados de Tambu ou 'Caxambu', o maior - que dá nome à manifestação em algumas regiões - 'Candongueiro', o menor e o tambor de fricção 'Ngoma-puíta' (uma espécie de cuíca muito grande), o Jongo é ainda hoje bastante praticado em diversas cidades de sua região original: o Vale do Paraíba na Região Sudeste do Brasil, ao sul do estado do Rio de Janeiro e ao norte do estado de São Paulo e Região das Minas e das fazendas de Café em Minas Gerais, onde também é chamado "Caxambu".
Entre as diversas comunidades que mantêm (ou, até recentemente, mantiveram) a prática desta manifestação, pode-se citar as localizadas na periferia das cidades de Valença, Vassouras, Paraíba do Sul e Barra do Piraí (Rio de Janeiro) além de Guaratinguetá e Lagoinha (São Paulo), com reflexos na região dos rios Tietê, Pirapora e Piracicaba, também em São Paulo (onde ocorre uma manifestação muito semelhante ao Jongo conhecida pelo nome de 'Batuque') e até em certas localidades no sul da Bahia

O Jongo no Rio de Janeiro

Na cidade do Rio de Janeiro, a região compreendida pelos bairros de Madureira e Oswaldo Cruz, já nos anos imediatamente posteriores à abolição da escravatura, centralizou durante muito tempo a prática desta manifestação na zona rural da antiga Corte Imperial, atraindo um grande número de migrantes ex-escravos, oriundos das fazendas de café do Vale do Paraíba. Entre os precursores da implantação do Jongo nesta área se destacaram a ex-escrava Maria Teresa dos Santos muitos de seus parentes ou aparentados além de diversos vizinhos da comunidade, entre os quais Mano Elói (Eloy Anthero Dias), Sebastião Mulequinho e Tia Eulália, todos eles intimamente ligados a fundação da Escola de Samba Império Serrano, sediada no Morro da Serrinha. A partir de meados da década 70, no mesmo Morro da Serrinha, o músico percussionista Darcy Monteiro 'do Império' (mais tarde conhecido como Mestre Darcy), a partir dos conhecimentos assimilados com sua mãe, a rezadeira Maria Joana Monteiro (discípula de Vó Teresa), passando a se dedicar à difusão e a recriação da dança em palcos, centros culturais e universidades, estimulando por meio de oficinas e workshops, a formação de grupos de admiradores do Jongo que, embora praticando apenas aqueles aspectos mais superficiais da dança, deslocando-a de seu âmbito social e seu contexto tradicional original, dão hoje a ela alguma projeção nacional. É digno de nota também o 'Caxambu do Salgueiro', grupo de Jongo tradicional que, comandado por Mestre Geraldo, animou, pelo menos até o início da década de 1980, o Morro do Salgueiro, no bairro da Tijuca e era composto por figuras históricas daquela comunidade, entre as quais Tia Neném e Tia Zezé, famosas integrantes da ala das baianas da Escola de Samba G.R.E.S. Acadêmicos do Salgueiro.

Encontros de Jongueiros

Em 1996 aconteceu no município de Santo Antônio de Pádua (RJ), o I Encontro de Jongueiros, resultado de um projeto de extensão da Universidade Federal Fluminense (UFF), desenvolvido pelo campus avançado que a universidade possui neste município. Deste encontro participaram dois grupos de jongueiros da cidade e mais um de Miracema, município vizinho. A partir daí, o encontro passou a ser anual. Hoje, cerca de treze comunidades jongueiras participam deste Encontro.
Em 2000, durante a realização do V Encontro de Jongueiros, em Angra dos Reis, foi criada a Rede de Memória do Jongo e do Caxambu, com o objetivo de organizar as comunidades jongueiras e fortalecer suas lutas por terras, direitos e justiça social.


Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade

Mediante a um inventário realizado pela equipe do CNFCP/Iphan iniciado em 2001, o jongo foi legitimado em 2005 como patrimônio imaterial brasileiro.
Se estivesse vivo, Darcy do Jongo completaria 80 anos em 2012 e veria um sonho concretizado: a consagração do dia do Jongo. O dia 26 de julho, a celebração do Dia Estadual do Jongo, instituído em 2011 pela Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), atendendo a um pedido do Jongo da Serrinha.
Jongo1.jpg
Fonte: http://wikidanca.net/wiki/index.php/Jongo

A ORIGEM DA PALAVRA CAXAMBU - Da revista “Fontes da Vida” ed. Julho de 1962 (Transcrição)

Caxambu devia grafar-se cachambu, porque bem de duas palavras africanas: cacha (tambor) e mumbu (música). O vocabulário servia, ao tempo dos escravos, para designar não só o instrumento que eles tocavam nas danças, mas ainda a própria dança ou batuque.
Dizem uns que, outrora, os negros vindos de Baependy e circunvizinhanças, costumavam reunir-se nas referidas Águas e aí celebravam batuques memoráveis, ao som dos seus caxambus, e assim, do hábito do convite “Vamos ao caxambu”, ficou o termo aplicado ao próprio sítio da festa.
Outros referem a lenda de que as águas das fontes, principalmente quando ainda um grande brejo ali dominava, produziam, borbulhando, um murmuro mais ou menos violento e de certo modo comparável ao rufar do tambor dos escravos.
Mas a explicação mais cabível é, sem duvida, a que faz derivar a designação “Caxambu” do morro existente, o qual é de forma cônica, exatamente como o instrumento africano. Isso parece verdadeiro, porque há outros lugares em Minas chamado também Caxambu e todos situados sobre ou junto a algum morro de forma cônica ou de cone truncado. Assim há em Maria da Fé um Caxambu, e em S. Jose dos Botelhos encontra-se um arrabalde, distante cerca de duas léguas com o mesmo nome de Caxambu e que oferece as condições topográficas já argüidas.
Segundo outros, entre eles o Dr. Pais Leme, o topônimo CAXAMBU, teria sido originado dos vocabulários brasílicos CAA (mato) + XA (ver) + UMBU (riacho), o que resultaria: MATO QUE VE O RIACHO.
Nós entretanto discordamos,
O topônimo “CAXAMBU” não é de origem africana as traduções, Cacha (tambor) e mumbu (música) assim como a outra do Dr. Pais Leme CAA (mato) + XA (ver) + UMBU (riacho) não são exatas; o nome Caxambu é de origem indígena; dos bugres que habitaram as regiões de Baependy; nome também dado pelos nativos Cataguases, que, em diversas tribus, viveram em Minas Gerais, “Typi” cabeça de geração ou raiz-mãe.
Chamavam também “Tapuia”, que significa “avós”.
Com a corruptela “Typi”, veio “Tupy”, assim sempre, depois denominados (Vêde “história antiga de Minas Gerais”, Diogo de Vasconcelos).
O nome Caxambu, já existia antes do local ser apossado pela concessão das Sesmarias, a diversas famílias dos Bandeirantes Paulistas, fundadores de Baependy.
É assim que, recorrendo ao Dicionário Geográfico do Dr. João Mendes de Almeida, jurisconsulto e político conservador na Capital paulista, no seu livro, à pagina 67, ele diz: – Caxambu é uma fonte de águas minerais na província de Minas Gerais.
Aplico aqui este nome por serem muito procuradas por enfermos estas águas, Caxambu corruptela de Cata-mbu, golfa ferve.
De cata “golfar, fazer torvelinhos, borbulha; “mbu, o mesmo que pu “ferver”, mudado o “p” em “mbu” por causo do som nasal de “catã”.
Alusivo a golfar da terra a fonte, fazendo bulhões ou uma como fervesse”. Em Tupi, a palavra Caxambu significa “bolha?” e com referencia a água, é a bolha que o liquido faz como “a ferver”.
Esta explicação satisfaz a origem da palavra indígena – Caxambu.
Segundo a versão de H. Sanchez Quell embaixador do Paraguay em 1957, a palavra CAXAMBU é de origem GUARANY.
Versão também aceita e mais ou menos idêntica, a de origem Tupy.
CAXAMBU – CAA – UMBÚ – MURMÚRIO DA SELVA.
MAPAS DE SANTOS - Carta corográfica - Capitania de S. Paulo,    - -
Apresentando o Estado Político da Capitania de São Paulo de 1766, foi elaborada esta carta, com particular atenção aos limites com Minas Gerais: do Alto da Serra, espaço colonial de Piquete-SP, vai-se ao Morro Cachumbu. http://migre.me/vmCgt

A LINGUAGEM CIFRADA NOS “PONTOS” DE JONGO por Maria Vergínia Chambela Costa (UCB)


A pesquisa em questão diz respeito a uma análise da linguagem cifrada nos pontos de Jongo com a intenção de mostrar a riqueza de linguagem que existe nessa manifestação folclórica.
As manobras estilísticas (Ducrot, 1977) e os jogos lingüisticos através da mutação semântica das palavras (Giraud - 1975) estão sempre presentes.
Em princípio, é primordial que se entenda o que significa “Jongo”.
É uma palavra oriunda do quimbundo, língua dos indígenas bantos de Angola. É um rítmo que chegou ao Brasil- colônia, com os negros trazidos como escravos para o trabalho forçado nas fazendas de café do Vale do Paraíba.
Os bantos são membros de uma grande família etnolinguística dos escravos chamados angolas, congos,cambindas, benguelas e moçambiques e foram os primeiros escravos que chegaram ao Brasil.
A dança do Jongo é de intenção religiosa -fetichista, podendo ser considerada afro-brasileira. É uma coreografia de roda, com movimentos circulares no sentido contrário aos dos ponteiros do relógio. Dança-se ao som de dois tambores: um grande“tambu”, outro pequeno, “candongueiro”; de uma “puíta”ou “cuíca”. Usam também “guaiás”(chocalhos).
Os jongueiros procuram vencer um ao outro num desafio, através dos “pontos” do jongo. A dificuldade reside no texto dos pontos, pois são todos enigmáticos e metafóricos.
Ponto é uma pergunta versificada, cantada, falada ou declamada que o adversário precisa adivinhar o que seja. Se adivinha ele “desata” ou “desamarra” o ponto.
Os pontos encerram um sentido simbólico que dá às palavras uma semântica peculiar aos jongueiros, possibilitando o entendimento entre eles. As frases curtas retratam o contato com a natureza, o dia-a-dia do trabalho braçal nas fazendas, a revolta com a opressão sofrida e a saudade da África. Sempre no linguajar do homem rural.
Os escravos trouxeram com eles o ritmo africano para cultuarem, em seus rituais, os seus ancestrais e deuses. Aqui aconteceu o que é chamado pelo folcloristas de “funcionalidade do folclore”, baseado no fato de que o povo não conhece o ato gratuito, tudo o que faz tem um destino ou preenche uma função. O fato folclórico se modifica de acordo com a sociedade.
Esses escravos se comunicavam através de mensagens secretas, onde protestavam contra a escravidão, zombavam dos patrões publicamente, combinavam festas de tambor e fuga.
Segundo Ducrot (1977), quando fala sobre “O implícito fundado na enunciação”, o ato de usar a palavra não é, “nem um ato livre, nem um ato gratuito”. Não é livre porque algumas condições devem ser satisfeitas para que se faça uso da fala; não é gratuito, porque toda fala apresenta-se motivada, pois está sempre respondendo a certas necessidades ou visando a certos fins.
Os jongueiros aprenderam a trocar o sentido das palavras, criando um novo vocabulário para se comunicarem entre si e fugirem do castigo dos senhores que não entendiam esta linguagem cifrada, enigmática e metafórica.
Ex: quando algum escravo via o senhor chegando, avisava aos outros através do ponto.
Ei campo quimô
Ei campo quimô
Piquira tá curiando
Piquira tá curiando, é...
Nota: piquira é um peixinho muito pequeno e os escravos eram os piquiras em atividade.
E quando não o avistavam com tempo de avisar aos companheiros cantavam:
O cumbi virô, ei, ei, ei
o cumbi virô ,ei, ei, ei
cumbi, á, á, á, á, á,
Nota: cumbiera o “sole”. Simbolismo de autoridade, sol e sinhô.
E ao terminarem as atividades e chegada a hora de ir embora, cantavam: “Vamo simbora ,vamo simbora
A coroa do rei alumiô”.
Nota: a lua já havia aparecido. A lua era a coroa do rei, do sol. Era noite. Giraud (1975) explica que “o valor semântico de uma palavra é o seu sentido” e também afirma que “uma mutação semântica é uma mutação de sentido”. Em muitos casos o enunciado contido no ponto do jongueiro serve apenas para fazer a mensagem passar, deixando-lhe a possibilidade de refugiar-se por trás do sentido literal.
Ex: água com areia
Não pode combiná
Água vai imbora
Areia fica no lugá
Nota: água é o fazendeiro novo, inexperiente, sem prestígio político, que fracassa em seus negócios; areia é o proprietário antigo, poderoso, forte, que domina o município.
Manobras estilísticas é o termo empregado por (Ducrot, 1977) quando: a manifestação do conteúdo implícito repousa numa espécie de astúcia do locutor. Sabendo que o destinatário vai procurar as motivações possíveis do ato de enunciação realizado, e que , se acreditar na honestidade desse ato, vai interrogar-se sobre as conseqüencias dos fatos enunciados, o locutor procura trazer o destinatário para o seu próprio jogo e dirigir à distância seus raciocínios”.
O jongueiro procura sempre enredar os outros com jogos lingüísticos e manobras estilísticas, no sentido de provocá-los com palavras para testar sabedoria.
Ex:
Vim no seu caminho
Mas não vim furá pilão
Eu venho contá vaca
Não venho contá bezerro
Nota: “estou no seu caminho, mas sem má intenção, não vim brigar nem ofender, vim para as coisas de maior importância e não quero saber de ninharias”.
Ex:
Debaixo de papai velho
Menino tá sepurtado
Quero contá do meu ponto
Menino tá sepurtado”
Resposta do outro jongueiro:
Meu irmão sendo mais velho
Licença peço procê
Eu vô desinterrá menino
Pra nóis tudo aqui bebê.
Nota: “o chefe do jongo , companheiro do cantador desde a infância, enciumado com a sabedoria, enterrou uma garrafa de pinga debaixo do tambu”.
Ainda, segundo Ducrot (1977) as manobras estilísticas permitem ao locutor fazer com que o destinatário entenda o que se quer dizer sem ter dito, fugindo aos riscos que poderiam surgir com a explicitação. O ouvinte fica sabendo mas, ao locutor fica garantido o poder de negar.
Os jongueiros utilizavam, largamente, estas manobras em seus pontos, como se pode ver:
O pinto com o galo
Dorme junto no polero
Se o galo facilitá
O pinto canta primero.
Nota: galo, jongueiro velho; pinto , jongueiro novo. Todos juntos na dança, mas o galo deveria ter cuidado para que o mais novo não demonstrasse maior sabedoria.
Segundo Mangueneau (1996), o implícito desempenha um papel primordial onde “dizer , nem sempre é dizer explicitamente”; o dito e o não dito estão sempre entrelaçados no discurso onde “a pragmática concede todo o peso às estratégias indiretas do enunciador e ao trabalho de interpretação dos enunciados pelo co-enunciador. Muitas vezes o locutor enuncia o explícito para fazer o implícito passar, invertendo a hierarquia “normal” para chegar a seus fins”. Isso pode ser visto nesses pontos:
O mundo estava torto
São Pedro endireitô
Na sola do seu sapato
Corre água e nasce frô.
Nota: água, simboliza pinga; havendo água, há flor; havendo pinga, há alegria.
Eu vim de baixo
Sinhá me falô
Não catuca boi da guia
Que eu também sô guiadô.
Nota: boi da guia, é o principal, que dá direção aos outros. Um jongueiro estava provocando o chefe , e um outro avisa que não o melindrasse, que ele também era guiador, estava, portanto, ali, para defendê-lo.
Dandeiô, danda, bandeira de São Pedro,
Letrero de São João.

GUIA DA UNESCO - Una guía para la administración de sitios e itinerarios de memoria.

Ficha 22: Ruta de la libertad (A Rota da Liberdade), São Paulo, Brasil (A Rota da Liberdade), São Paulo, Brasil ■ ANTECEDENTES ■ ANTECED...