terça-feira, 24 de maio de 2011

ORIGEM DE PIQUETE - QUILOMBOS COM SEUS MOCAMBOS E MALOCAS INDÍGENAS

  (1)
....um plano de revolta de escravos programado para o dia de São João foi surpreendido e sufocado pelas autoridades em Vassouras, Província do Rio de Janeiro, em 1847. No ano seguinte, foi descoberto outro plano, dessa vez para uma revolta em meio às festividades de Santo Antônio, no mês de junho (Slenes 1991-92: 64). Em fevereiro do mesmo ano, o Delegado de Polícia de Lorena, município da Província de São Paulo situado no Vale do Paraíba, informou ao delegado de Parati, sul da Província fluminense, que havia denúncias a respeito de uma insurreição de escravos de seu município no dia da festa de São João e/ou de São Pedro, em junho. Além disso – e pior –, os ditos escravos “há muito trabalham em sociedades secretas em combinação com os escravos de vários municípios, entre outros com os dessa cidade [Parati], e servem-se dos escravos tropeiros como emissários, e estes trazem a notícia do que tratam” (idem: 291). (1)
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                               O Quilombo vai falar ! O núcleo que veio a dar origem a Piquete sempre foi uma verdadeira trincheira, de negros e índios na busca de liberdade, lutando contra a opressão imposta por um regime cruel escravocrata.
                                 A carta do Delegado de Lorena em fevereiro de 1848, nos da essa exata dimensão. Fala-se até em sociedade secreta. Dando conta da existência de um movimento organizado, em especial no que tange a rede de informação utilizada. Os escravos tropeiros. Diante de tais planos, o pânico se justificava. Nestas constatações é possível afirmar que, a realidade trazida, não se resume a um único momento, tratava-se de um movimento que jamais se arrefeceu, como na serra da barriga, as muralhas do sertão da mantiqueria, se tornaram um ambiente propricio ao sempre movimento de luta pela liberdade .
                                  A assertiva encontra fundamento na Obra da Professora Mafalda P. Zemella: “O Abastecimento da Capitania das Minas Gerais no Século XVIII, pág. 139, ao afirmar que: “a missão dos agentes tropeiros”, os boiadeiros e comboieiros, objetivando o abastecimento das Gerais, tinham qualquer coisa de heróico, pelo sacrifício da jornada e pelos perigos que era preciso enfrentar nos trajetos infestados de ladrões, negros fugidos, feras, etc. (grifo meu).
                                  Na mesma direção cita uma carta que Rodrigo César Meneses escreveu ao rei datado de 14 de junho 1728, sobre os perigos que inçavam os caminhos das minas, transcrevendo um trecho:
                                “.....representando-me o governador vosso antecessor Rodrigo César de Menezes os riscos e perigos que têm os viandantes pelas estradas dessa Capitania e a respeito de que nos grandes mattos não só há feras muito ferozes, mas facínoras escondidos e negros fugidos que uns e outros vivem de roubos, mortes e insultos e para defensa e guarda dos passageiros seria muito conveniente permitir-se que podessem levar pistolas, clavinas e espingardas e todas as mais armas que lhes parecessem..."(2)
                                  Faz-se necessário considerar que entre uma missiva e outra, 1728 e 1848, existe um lapso de 120 anos, deixando claro que em ambas, temos revelada a preocupação com os negros fugidos. Ou seja, 160 anos antes da declaração oficial da abolição da escravatura, pelas terras por onde viveu Luis Gama, já se fazia presente um povo guereiro. Desta feita, quando nos referimos a toponímia Quilombo, no contexto do território que veio a dar origem a Piquete, estamos falando de verdadeiro espaço de luta e resistência. Não restando dúvida que essa luta resultou da união do povo dos mocambos, com o povo das malocas. Povos do Sertão Bravio da Mantiqueira.
(1) Tropeiro escravo negro conduzindo tropa de mula. Pintura de Jean Baptista Debret. 
(2) http://migre.me/5yUSh 

                                       

GUIA DA UNESCO - Una guía para la administración de sitios e itinerarios de memoria.

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