sexta-feira, 27 de novembro de 2009

ENTREVISTA NO ESTAFETA - GENTE DA CIDADE, Piquete, novembro de 2009 "feliz é o homem que tem um lugar para onde voltar. Mesmo que nunca volte".

"Não há prosperidade se faltar a chama da esperança, assim como não há esperança se perdemos a capacidade de sonhar. (...) Não há nada mais restaurador do que voltar às memórias despertadas pelo barulho do trem do metro e vislumbrar um lugar que pudesse se chamar Piquetópolis...". A frase é de Sérgio Santos, um piquetense que construiu sua vida fora de Piquete, mas que nutre especial paixão por sua cidade natal.
Sérgio, nascido a 10/03/1959, é filho de Antonio Braz dos Santos e Izabel Maria dos Santos e tem nove irmãos. Sobre a infância, diz que o grande valor foi a intensa vida comunitária, com brincadeiras de rua, banhos em poços, peladas no campinho atrás do mercado, romarias a pé até Aparecida no Norte... Os amigos são tantos, que "torna-se quase impossível citá-los sem preterir alguns", afirma.
Ao iniciar os estudos, sua primeira professora foi D. Irene Fonseca. "Fiz o primeiro ano três vezes, com as professoras Maria de Lurdes, Darci Damico e Cidinha Marcondes...", na Escola do "seu Leopoldo". A partir da quarta série, transferiu-se para o Colégio Leonor Guimarães, onde concluiu o atual Ensino Médio. "As dificuldades financeiras não foram poucas. A partir dos 13 anos passei a  estudar  de manhã e, na parte da tarde e finais de semanas, a trabalhar na Papelaria do Estudante. A remuneração garantia os materiais de que necessitava".
Com muito esforço, Sérgio formou-se em Direito, pela UNIVAP. Em 1998 tornou-se Defensor Público em Minas Gerais, cargo que exerce até hoje.
Inquieto, batalha para aprimorar-se, cada vez mais, na capacidade de se fazer chegar aos corações das pessoas por meio do bom uso da palavra, essencial em sua profissão. Foi assim que, há anos, ingressou com uma ação pública pela preservação da Estação Rodoviária Rodrigues Alves. "Aquele espaço destruído representaria a destruição de uma valiosa parte da história de muitas pessoas e da minha própria" – foi essa a mensagem que tentou transmitir à época para os piquetenses. A defesa do patrimônio histórico e ambiental foi uma das miltâncias junto aos amigos do GAM, Grupo Ambientalistas Marins, um dos mais ativos no Vale do Paraíba já na década de 90.
Negro e pobre, jamais deixou-se vencer por preconceitos. Hoje profissional de destaque, traduz "sucesso" como o "direito de vir a ser" e cita o senso de dignidade e prosperida como sua principal ferramenta. Explica a dignidade com sua infância, que, apesar das privações materiais, contou com o carinho das diversas "vós": Nina, Tutinha, Dorva, Olímpia – sua parteira – e tantas outras. Cita, ainda, Benedita do Euclides, que o levava para piqueniques e dona Ditinha, que o levou para a primeira pesagem. Já a prosperidade é considerada porque acredita que nenhum ser humano nasceu para crescer  como vegetal – "meus amigos, todos tinham um projeto de vida, alguns com menos, outros com mais possibilidades."
Casado desde 16 de fevereiro de 1995 com Luciane Nogueira Amaral dos Santos, tem duas filhas, Juliana e Sofia. Divide o tempo entre Minas Gerais e São Paulo, com visitas frequentes a Piquete, onde está investindo num projeto para desenvolver os temas dignidade  e prosperidade junto à comunidade piquetense, especialmente a negra. Proclama a certeza de que todo ser humano nasceu para ser o protagonista de seu próprio tempo, e reclama do ostracismo imposto pela academia no que diz respeito à relevância do negro na formação socioeconômica de Piquete. Sua premissa merece ser divulgada: "Negar a alguém o direito de apropriar-se do seu passado – que o permite entender o presente e vislumbrar um futuro – talvez seja uma das formas mais cruéis de violência, pois representa negar-lhe o existir".
A sensibilidade de "Sérgião" é emocionante. Incorpora uma criança na inocência dos desejos e um leão quando se propõe a defender Piquete. Deseja uma Piquete idealizada, pois afirma que "feliz é o homem que tem um lugar para onde voltar. Mesmo que nunca volte". Oxalá ele volte logo. Piquete só teria a ganhar."
Abraços piquetepolenses!
Fonte Estafeta: http://migre.me/56cco

GUIA DA UNESCO - Una guía para la administración de sitios e itinerarios de memoria.

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