quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Transcrição - Parte 1: A viagem de um magistrado: Caetano da Costa Matoso a caminho de Minas Gerais em 1749 - Laura de Mello e Souza Universidade de São Paulo -

3. O Caminho
Costa Matoso percebeu com acuidade que o Caminho promovia e reforçava a condição social. Ao longo dele vicejou um grupo de potentados, que como tantos outros desempenhou o papel ambíguo próprio a tais homens na América Portuguesa: a descendência de Garcia Rodrigues Pais15.
Era ele o primogênito de Fernão Dias Pais e de sua mulher Maria Garcia Betim, e como escreveu Diogo de Vasconcellos, "foi o homem que ligou seu nome a toda a história de Minas nos primeiros tempos, desde a expedição de seu pai em 1674 até o ano de 1738, quando morreu aos 7 de março em São Paulo"16. Em 1701 já principiara a abertura do Caminho Novo, conforme relatava em carta ao rei D.Pedro II17. No ano seguinte, o monarca fazia-o Guarda-Mor das Minas. Em 1718, por remuneração aos serviços prestados, viria o favor responsável pela fixação definitiva dele e dos seus na região que ajudara a desbravar: a concessão de 4 sesmarias à sua pessoa e de mais uma a cada filho seu, todas a serem escolhidas ao longo da estrada - tamanha quantidade de terra, que acabaria largando "muita parte" para ficar só com a que bordejava o Caminho, "que é coisa imensa", conforme julgou Costa Matoso.
Garcia Rodrigues parece ter sido potentado característico dos primeiros tempos das Minas: orgulhoso, proclamando-se independente mas, ao mesmo tempo, useiro de cortejar o poder. Costa Matoso registrou um seu comportamento que provavelmente ouviu dos contemporâneos: agraciado pelo rei com a guardamoria, não a quis aceitar, "dizendo, arrogantemente, que ele não queria que el-rei lhe fizesse mercê porque ele é que as queria fazer a el-rei". A atitude foi vista pelo ouvidor como soberba própria a paulistas, estando então ainda vivos na memória os episódios da guerra emboaba, pródigos em insolências praticadas pelos habitantes de São Paulo: "e levado desta mesma elevação de paulista", prossegue Costa Matoso, "deu a el-rei a passagem destes dois rios [Paraíba e Paraibuna], que no princípio mandava fazer pelos seus escravos sem emolumento e ofereceu a el-rei, dizendo que podia fazer nela um bom rendimento." O colono plebeu que concede favores ao rei imita a ética própria à nobreza européia, assim incorporada em meio rústico e de sedimentação social ainda em curso18. A independência de Garcia Rodrigues não o impedia contudo de ir amiúde a Ribeirão do Carmo, "tendo voto sempre ouvido nas deliberações do governador D.Braz, de quem foi amigo"19.
Pedro Dias Pais Leme, ou simplesmente Pedro Dias, como escreve Costa Matoso, era o primogênito da união entre Garcia Rodrigues e D. Maria Antonia Pinheiro da Fonseca, sua prima. Quando o ouvidor passou pelo Caminho, era "o Guarda-Mor de todas as Minas", pois sucedera ao pai, morto onze anos antes. Continuava agindo como potentado absoluto da região do Caminho Novo, onde era "senhor de duas léguas de terreno, pelo caminho que vim até a borda deste rio [Paraibuna], de cinco até Paraibuna, de mais duas até Três Irmãos, e sem medida pela largura, por ser tudo sertão, de que usa como lhe parece".
Ao longo do Caminho, ainda tinham terras outros parentes de Garcia Rodrigues: o sogro, Alcaide-Mor do Rio de Janeiro, e que emprestara o nome a uma das roças onde paravam os viajantes; o cunhado :Manuel de Sá, casado com uma de suas irmãs; o juiz-de-fora do Rio, Luís Fortes, que vinha a ser irmão de Manuel de Sá; um membro da família do juiz-de-fora. Esta constela-ção é um exemplo das redes de famílias extensas típicas dos tempos antigos, e que, no caso, tinha por coluna dorsal o Caminho Novo das Minas.
Fonte: http://migre.me/5ycLv
Nota: Por ser oportuno uma breve analogia, entre o contido no relato que Costa Matoso fez, quando de sua viagem pelo caminho novo  relativamente a descendência de Garcia Rodrigues Pais. O Quilombo vai falar!  Convenhamos que as Roças de Bento Rodrigues, constantes do Roteiro de Viagem de André João Antonil, localizada na Freguesia de Nossa Senhora da Piedade, por onde transitavam os viajantes por 03 (três) dias,  pelas cinco serras altas, até o jantar, para se chegar ao pé na serra,  não era nenhuma "roça de pé de couve" de fundo de  quintal. Nessas condições ainda que se faça ouvidos moucos,  resulta  incontrastável,  dada verossimilhança, no que diz respeito às benécias advinda do potentado, ou seja, a condição de Soberano de poder absoluto do beneficiário que, o núcleo embrião de Piquete estava contido, nessas Roças, constituindo-se de pouso e vendas.  Agora vem a mais absoluta evidência, no sentido de se tratar Piquete de um núcleo originado de aldeiamento indigena e comunidade tradicional negra,  esta hoje, com a clara natureza juridica de "comunidade tradicional negra urbana", ou Bento Rodrigues deu "férias coletiva" a seus escravos quando da formação de suas Roças no trecho em questão? Eis o fundamento da assertiva: "deu a el-rei a passagem destes dois rios [Paraíba e Paraibuna], que no princípio mandava fazer pelos seus escravos sem emolumento e ofereceu a el-rei, dizendo que podia fazer nela um bom rendimento."
*potentado – chefe de um Estado não-democrático, em geral usado para indicar que se trata de alguém com grande riqueza. Fonte: http://migre.me/5ygbi

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