RANCHO DO EDSON - PIQUETE-SP |
Nesta semana, a diretora do Museu do Tropeiro, de Ipoema, distrito de Itabira, Eleni Cássia Vieira, viajou por cidades da Estrada Real, na companhia do paranaense Carlos Roberto Solera, especialista em tropeirismo. O objetivo da dupla é identificar pontos e temas que integrarão o projeto que visa à declaração da Unesco reconhecendo o tropeiro como patrimônio cultural da humanidade. Segundo Solera, que pesquisa o tropeirismo há 32 anos, o desafio é comprovar que o tropeiro teve uma influência positiva na formação do povo brasileiro. O projeto é resultado de um convênio da ONG Núcleo dos Amigos da Terra e da água (Nata), de Curitiba, com a Universidade de Girona, na Catalunha (Espanha). São três os museus do tropeiro brasileiro envolvidos com o projeto: o de Ipoema, o de Castro (PR) e o de Lajes (SC). E são três os trechos pesquisados como ação do projeto: um de 400 quilômetros na região Sul, um do Sudeste, envolvendo São Paulo e Minas Gerais, com ênfase para o roteiro da Estrada Real, e um no Nordeste, reservado a uma terceira fase. A ênfase no Sul e Sudeste, na primeira fase, deve-se ao fato de que, no Nordeste, a atividade do tropeiro tinha características diferentes do resto do país. Carlos Solera explica que a criação de muares no Brasil era proibida pela Coroa portuguesa. O burro e a mula são resultado do cruzamento de jumento com égua. Esse cruzamento não acontece com naturalidade nos pastos e currais, necessitando da intervenção do ser humano, para promover o encontro. No Nordeste, então, sem muares, o comum era a utilização de equinos. Os muares usados a partir do período colonial, em Minas Gerais, chegaram à região em 1734, vindos dos Sul do país, ensina Solera. E eles chegaram ao Sul a partir das minas de prata de Potosí, na Bolívia. Como se sabe, as tropas, usadas como meio de transporte das mercadorias, de alimentos e da produção até a nossa época, marcaram profundamente a história e os costumes de Minas e dos mineiros. A viagem de Eleni e Solera começou domingo passado, justamente em Ipoema. Guiado pela especialista mineira, Carlos Solera foi conhecer os caminhos trilhados por escritores como Guimarães Rosa, autor de Grande sertão: veredas, chegando a lugares emblemáticos como Serro e Diamantina, onde, por toda parte, estão as marcas deixadas pelos tropeiros, do cheiro do torresmo no meio do feijão ao barulho dos cascos dos animais em contato com as pedras do calçamento. No bojo do projeto está o desenvolvimento do ecoturismo e do turismo rural/cultural, outra especialidade de Solera. Ele conta, por exemplo, que a Feira de Sorocaba (SP), que era realizada em meados do século 18, tornou-se um marco do ecoturismo no país, considerando que cidadãos de outras cidades e regiões viajavam para ver o que acontecia. Por essa razão, Sorocaba, na época, chegou a ter de 100 a 150 estalagens, diz o especialista. Outra ação prevista é a edição de cartilha para ser fartamente distribuída nas escolas, como forma de despertar o interesse e fomentar o turismo cultural. Na avaliação de Carlos Solera, o tropeirismo se encaixa perfeitamente nesse perfil. O tempo estimado para a conclusão de todo o processo, até a desejada declaração da Unesco classificando o tropeirismo como patrimônio cultural da humanidade, é de quatro a cinco anos, considerando todas as fases.
Fonte:A Magia de Educar
http://migre.me/5Lizb
Nota - Cultura viva: Piquete onde ainda existem tropeiros em plena atividade, se constitui em espaço de memória, Portão das Gerais, Sertão da Mantiqueira, Área Proibida, Sertão dos Indios Bravos, Tribos Guainazes, Caminho Velho, Estrada Real, Caminho do Ouro, Roças de Bento Rodrigues, Caminho dos comboios de escravos e interligação de caminhos tropeiros
entre Minas e o Cone Sul, Passando por Sorocaba-SP e Garatinguetá-SP,
Topônimos que não deixam dúvidas, por estarem inquestionavelmente
ligados as atividades em questão, a exemplo da Região Sul do Brasil, ou
seja, Piquete=Cerca de Pedra=Potreiro=Mangueiro=Curral de Pedra etc.