sábado, 2 de junho de 2012

Capítulo XVII - D. Francisco de Souza

Pouco depois da sua chegada ao Brasil, trazendo uma caravela de Lisboa novas do falecimento de sua mulher, publicou ele que não tornaria ao reino e ficaria no Brasil até a morte por parecer-lhe boa manha, para atrair a dedicação dos "cidadãos e naturais da terra, fazer-se com eles cidadão e natural". .............................................................................................

Nesse tempo eram correntes as lendas de riquíssimas minas de ouro e prata no Novo Mundo, e todos sonhavam com os inesgotáveis tesouros de reis fabulosos, que governavam países inverossímeis pela sua riqueza. Repetiam-se e acreditavam nessas fantasias como se fossem verdades incontestáveis. 

Supunha-se que o Rio S. Francisco tinha as suas nascenças na Lagoa Dourada no centro do continente sul-americano, a terra do ouro.

Essas minas eram faladas no Brasil, e, principalmente, na Europa. Muitas das expedições marítimas espanholas e portuguesas, que então se organizaram, não tiveram outro fim senão descobrir e assenhorear-se, e por qualquer forma, dessas terras onde o ouro e a prata eram mais abundantes que o ferro em Bilbao. E tudo fácil de colher.
Os piratas, franceses e ingleses, corriam os mares não policiados para saquear, se apoderar dos galeões carregados de ouro que vinham da América para os reinos de d. Carlos I.
D. Francisco de Souza, mesmo em Lisboa e em Madri, ouvira falar dessas minas e nas pretensões de Roberio Dias, e sem dúvida, a esses boatos dera crédito; no Brasil, depois de sua vinda essa crença mais se confirmou.

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J. Marcgrave narra que na Bahia, d. Francisco de Souza recebera de um brasileiro certo metal extraído dos montes Sabaroason de cor azul escuro ou celeste, mesclado com certas areias finas cor de ouro, que, depois de ser examinado pelos faisqueiros, foi reconhecido conter num quintal trinta marcos de prata pura (J. Marcgrave – História Natural do Brasil, Edição do Museu Paulista, pág. 263). 
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Varnhagen julga severamente o governador geral e até acusa-o de se ter apoderado dos roteiros e mais indicações para o descobrimento das minas. É mais provável que Julião da Costa tivesse entregue ao governador geral todos os papéis da expedição.

O fato é que, de posse dos roteiros e das indicações das duas primeiras tentativas, d. Francisco de Souza tratou de requerer e obteve do rei da Espanha todos os favores, concessões, privilégios, antes outorgados a Gabriel Soares de Souza, e muitos outros ainda, entre eles a promessa de ser feito marquês das Minas, se tal ouro ou prata fosse descoberto. Este título sintetiza a época, caracteriza o rei e define o governo de d. Francisco de Souza. Ele procurava honras e rendas, o rei precisava de ouro para as suas guerras na Europa.

Ao mesmo tempo que, pelos roteiros, tivera conhecimento da existência de minas de ouro e prata nas nascenças do Rio S. Francisco, também tivera notícia certa e segura que, desde a vila de S. Paulo, homens que resistiam às sezões e às onças, às agruras e às asperezas das selvas, que guerreavam e venciam os índios ferozes, faziam entradas ao sertão do alto S. Francisco, já tendo tocado era alguns de seus afluentes. Esses homens, partindo do Sul, seriam capazes de ir e chegar à Lagoa Dourada e voltar depois de descobrir as afamadas minas.

Desejando encontrar as minas de ouro e prata nas cabeceiras do Rio S. Francisco, e sentindo que obstáculos eram criados à gente de S. Paulo, impedindo-a de ir a essas cabeceiras, d. Francisco de Souza achou intempestiva a atitude de Jorge Correia, pressuroso recebeu os embargos opostos pela Câmara de S. Paulo à provisão expedida, atendeu aos "capítulos de acusação opostos pelas câmaras que lhe foram apresentados por Atanázio da Motta", e suspendeu Jorge Correia dos cargos de capitão-mor e ouvidor da Capitania de S. Vicente, emprazando-o a ir à cidade do Salvador para se defender na devassa, que contra ele mandou abrir.
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As instruções dadas ao novo capitão, é lícito crer, foram para fazer guerra imediata ao gentio, como reclamava a Câmara de S. Paulo, dirigir as expedições para esse sertão, já percorrido pelas bandeiras paulistas, nas proximidades do alto S. Francisco, onde, no seu pensar, se achavam as minas, e aí descobri-las. É o que se pode deduzir da ação de João Pereira de Souza, como ver-se-á no capítulo em que é estudada essa ação. ....................................................................................................
Logo depois ele mesmo, como governador geral, para estimular, para mandar ao sertão diversas bandeiras, se transportaria para a Capitania de São Vicente, para a Vila de S. Paulo, onde estabeleceu, por assim dizer, a sede do governo geral do Brasil. 
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Para essa vila de S. Paulo partiu d. Francisco de Souza, e a transformou, por assim dizer, em sede do Governo Geral, nela se estabelecendo com a sua guarda, sob o comando do capitão Diogo Lopes de Castro e da qual era alferes Jorge João (Registro Geral, vol. 7º, pág. 79), com os oficiais de sua Câmara, como Pedro Taques seu secretário, Antonio Coelho escrivão, José Serrão cirurgião, com seus criados, com uma comitiva enorme na qual vinham também o engenheiro alemão Geraldo Beting, e mineiros entre os quais Jaques Oalt, também alemão, Cornele de Arzam etc. 
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Mas o intuito de d. Francisco de Souza, vindo a S. Paulo, com mineiros, com ensaiadores de ouro, com fundidores, com imensa comitiva, com trabalhos e despesas enormes, com todos os papéis dos dois irmãos Soares de Souza, que haviam feito tentativas de descobrimentos pelo Norte, foi o de tentar descobrir pelo Sul as "minas" nas nascenças do Rio S. Francisco, minas que o obcecavam.

Possuindo os roteiros das minas, tendo a sua disposição os elementos sertanistas para execução, tratou de organizar uma expedição que, partindo de S. Paulo, deveria chegar ao ponto desejado. Não obstante a sua habilidade incontestável, a sua atividade perseverante, os seus árduos e esforçados trabalhos, d. Francisco de Souza não viu a fortuna coroar a empresa a que ele se dedicara inteiramente.

Fez partir para o sertão a companhia de André de Leão; estimulou e ajudou com o seu prestígio de governador geral do Brasil a formação e a partida da bandeira de Nicolau Barreto, ambas em busca das minas que ele supunha no alto São Francisco, como se verá quando se tratar dessas duas expedições. Nada conseguiu. Antes mesmo que a bandeira de Nicolau Barreto voltasse a povoado, já tinha sido ele substituído no governo geral do Brasil por Diogo Botelho, que foi reacionário ao seu antecessor.
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Apresentando  o Estado Político da Capitania de São Paulo em 1766, foi elaborada esta carta, com particular atenção aos limites com Minas Gerais.http://migre.me/9kz6a


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