quinta-feira, 16 de agosto de 2012

CULTURA E OPULÊNCIA DO BRASIL (André João Antonil)

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CAPÍTULO VII
Da abundância de mantimentos, e de todo o usual que hoje há nas minas, e do pouco caso que se faz dos preços extraordinariamente altos.
SENDO A TERRA QUE DÁ OURO esterilíssima de tudo o que se há mister para a vida humana, e não menos estéril a maior parte dos caminhos das minas, não se pode crer o que padeceram ao princípio os mineiros por falta de mantimentos, achando-se não poucos mortos com uma espiga de milho na mão, sem terem outro sustento. Porém, tanto que se viu a abundância do ouro que se tirava e a largueza com que se pagava tudo o que lá ia, logo se fizeram estalagens e logo começaram os mercadores a mandar às minas o melhor que se chega nos navios do Reino e de outras partes, assim de mantimentos, como de regalo e de pomposo para se vestirem, além de mil bugiarias de França, que lá também foram dar. E, a este respeito, de todas as partes do Brasil, se começou a enviar tudo o que dá a terra, com lucro não somente grande, mas excessivo. E,não havendo nas minas outra moeda mais que ouro em pó, o menos que se pedia e dava por qualquer cousa eram oitavas. Daqui se seguiu mandarem-se às minas gerais as boiadas de Paranaguá, e às do rio das Velhas as boiadas dos campos da Bahia, e tudo o mais que os moradores imaginaram poderia apetecer-se de qualquer gênero de cousas naturais e industriais, adventícias e próprias. E, ainda que hoje os preços sejam mais moderados, contudo porei aqui um rol, feito sinceramente por quem assistiu nas gerais três anos, dos preços das cousas que por comum assento lá se vendiam no ano 1703, repartindo-o em três ordens, a saber: os preços que pertencem às cousas comestíveis; o do vestuário e armas; e os dos escravos e cavalgaduras, que são os seguintes:
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Preços dos escravos e das cavalgaduras
Por um negro bem feito, valente e ladino, trezentas oitavas.
Por um molecão, duzentas e cinqüenta oitavas.
Por um moleque, cento e vinte oitavas.
Por um crioulo bom oficial, quinhentas oitavas.
Por um mulato de partes, ou oficial, quinhentas oitavas.
Por um bom trombeteiro, quinhentas oitavas.
Por uma mulata de partes, seiscentas e mais oitavas.
Por uma negra ladina cozinheira, trezentas e cinqüenta oitavas.
Por um cavalo sendeiro, cem oitavas.
Por um cavalo andador, duas libras de ouro.
E estes preços, tão altos e tão correntes nas minas, foram causa de subirem os preços de todas as cousas, como se experimenta nos portos das cidades e vilas do Brasil, e de ficarem desfornecidos muitos engenhos de açúcar das peças necessárias e de padecerem os moradores grande carestia de mantimentos, por se levarem quase todos aonde vendidos hão de dar maior lucro.

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Fonte: ANTONIL, André João. Cultura e opulência do Brasil. 3. ed. Belo Horizonte : Itatiaia/Edusp, 1982. (Coleção Reconquista do Brasil). http://migre.me/ajasM

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