sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

NEGROS NO CAMPO DAS ARMAS: HOMENS DE COR NOS CORPOS MILITARES DAS MINAS SETECENTISTAS (1709-1800)

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(Transcrição) Em 14 de abril de 1777, Noronha endereçou uma carta ao general e governador de São Paulo, Martim Lopes Lobo de Saldanha, segundo a qual deixa claro que havia aprontado uma tropa de quatro mil homens que deveria ajudar na guerra luso-castelhana. Nela o governador afirma que tomou as providências necessárias para “fazer marchar o número de quatro mil homens, negros, cabras, mulatos forros e mestiços, armados com lanças e em diferentes corpos para marcharem para o Rio Grande, por esta capitania, pelas ordens que me foram dirigidas”. Como já dissemos, essa medida ia na direção contrária da institucionalização das milícias negras que gradualmente ocorria na capitania de Minas Gerais desde meados da década de 1760. O governador enviou essa tropa com o intuito de que ela tivesse alguma utilidade no conflito que se seguia nas partes meridionais. Nesse sentido, Noronha teria ordenado que a dita tropa seguisse a partir de “São João Del Rei e acampando do Rio Verde”, quando seria auxiliada “pelos meus ajudantes de ordens, a quem determinei fizessem seguir esta gente pelo registro da Mantiqueira, por ficar mais próximo a entrar nessa capitania”.192 Os ajudantes de ordens teriam de mandar “estes diferentes corpos por aquela parte que vissem ser mais fértil e me persuado que a esta hora a terá entrado alguma partida deles nessa capitania”.193 Esses recrutas, em sua maioria homens de cor, seriam de grande ajuda para o Estado do Brasil na guerra luso-castelhana. Ainda em abril de 1777, em várias partes do Estado do Brasil se ouviu falar da dita tropa de Minas Gerais que iria reforçar os exércitos do sul. Uma grande expectativa foi construída com relação a esses mais de 4 mil recrutas. Por onde quer que as companhias que formavam essa tropa passassem, os oficiais ligados aos corpos militares deveriam providenciar mantimentos, abrigo para esses homens. No entanto, logo o general e governador de São Paulo, Martim Lopes Lobo de Saldanha, atentou para as dificuldades em abastecer a dita tropa; os capitães-mores queixavam-se que não tinham comida nem para alimentar os próprios soldados regulares, quem dera para aqueles homens.194 A tropa deveria chegar em Curitiba para dali se juntar com outros corpos militares e seguirem em marcha até a ilha de Santa Catarina. Uma vez chegando lá, formariam uma linha de frente para atacarem os castelhanos, enquanto as demais tropas ficariam na retaguarda.195 Contudo, o problema de abastecimento da tropa era realmente grave. Saldanha teve conhecimento de todas as desordens que esses homens cometeram desde sua saída da capitania de Minas Gerais, e responsabilizou os sargentos-mores que a acompanhavam.196 A fome desses recrutas foi tão grande, que ao passarem na região de Araçarigoama - pertencente à capitania de São Paulo - arrombaram a porta de um armazém e roubaram os mantimentos lá existentes.197 Sabendo da posição de Saldanha com relação aos quatro mil recrutas, Noronha resolveu enviar uma carta em resposta às críticas do governador de São Paulo. A correspondência foi escrita em 13 de maio de 1777. Nela, Noronha diz saber das crítica de Saldanha, o qual havia afirmado que os quatro mil recrutas teriam chegado em São Paulo num “miserável estado, por causa da nudez pela incapacidade do armamento e por não levarem os aprestos que lhe são precisos para as suas marchas”.198 Contudo, o governador de Minas  Gerais se defende dizendo que o Marquês de Lavradio não o havia ordenado que formasse “um corpo de tropa regular, mas somente que fizesse expedir para o Rio Grande quatro mil homens, assim brancos como mestiços, mulatos e negros”, os quais Noronha acreditava que estes não eram “tropa que possa entrar em ação, mas só como recruta para completar as praças que faltam nos regimentos do exército”, os quais poderiam também ser utilizados no emprego de “diferentes trabalhos do campo em que os quiser ocupar o general do mesmo exército”.199 Ou seja, para vencer a guerra luso-castelhana, o governador de Minas Gerais acreditava que podia até mesmo ir, como já dissemos, na direção oposta à institucionalização das milícias negras.
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Fonte: LEANDRO FRANCISCO DE PAULA - Dissertação apresentada como requisito parcial para obtenção do título de Mestre no Programa de  Pós-graduação em História da Universidade Federal do Paraná, na Linha de Pesquisa Espaço e Sociabilidades sob a orientação do Prof. Dr. Luiz Geraldo Silva pág 61/62 -  http://migre.me/dgwN1

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