terça-feira, 27 de agosto de 2013

Rotas Atlânticas da Diáspora Africana (Transcrição)

 Atlânticas da Diáspora Africana (PDF)
http://editoradauff.com.br/63-thickbox/rotas-atlanticas-da-diaspora-africana.jpg
Em setembro de 1994, a UNESCO lançou um projeto de pesquisa sobre o comércio de escravos conhecido no Brasil como ROTA DOS ESCRAVOS que se desdobrou em um conjunto de iniciativas em todo o mundo, entre elas o NIGERIAN HINTERLAND PROJECT, por mim dirigido. A região então objeto de minha investigação abrangia o interior das baías do Benim e Biafra, na costa ocidental africana, de onde saíram aproximadamente 40% do total dos escravos enviados para as Américas. O objetivo primordial desse projeto era reunir um grupo de pesquisadores em história da África e da diáspora africana de diferentes instituições e países com o objetivo de mapear a origem desses escravos. Um segundo objetivo era, através dessa experiência, fortalecer uma rede de colaboração entre pesquisadores e formar novos estudiosos que dessem continuidade ao trabalho. Um dos mais significativos resultados desse esforço foi a publicação de um conjunto de obras individuais e coletivas que começam a trazer a público os resultados desse trabalho. ROTAS ATLÂNTICAS DA DIÁSPORA AFRICANA é um exemplo desse trabalho colaborativo e seguindo os objetivos do projeto explora o impacto histórico da escravidão e da diáspora africana, tendo como foco a rota entre a Baía do Benim e a cidade do Rio de Janeiro.
Ao contrário de outras iniciativas anteriores em que as conexões atlânticas são apresentadas por um conjunto diversificado de pontos de partida e chegada, essa coletânea enfoca uma linha de deslocamento específica e privilegia a compreensão das formas particulares de organização dos escravos oriundos da Baía do Benim que integram o grupo que os portugueses convencionaram chamar de “pretos minas”. Nesse sentido, a concentração do olhar na cidade do Rio de Janeiro  – um dos mais importantes portos atlânticos, mas minoritário para a entrada de escravos vindos da Baía do Benim – se mostra como uma estratégia inovadora para estudar esse grupo em profundidade, assim como perceber a complexidade das redes comerciais aí envolvidas.
No seu conjunto é um livro extremamente provocador, tanto pela escolha do universo abordado quanto pelas questões tratadas em cada texto que vão desde o comércio atlântico até o cotidiano urbano da vida dos africanos escravos e forros. Outro ponto que merece destaque é justamente a longevidade dessa rota. Vindo diretamente da África para o Rio de Janeiro, como chega a acontecer no século XVIII, ou com passagens intermediárias por outras partes (como Pernambuco e Bahia), rota mais freqüente e demograficamente mais relevante,  a verdade é que o Rio de Janeiro recebeu escravos oriundos da Baía do Benim desde os primeiros anos do século XVIII até a extinção do tráfico ilegal, e, como apontado, mesmo depois, num fluxo ainda não estudado de africanos efetivamente livres, aí chegados nas últimas décadas do século XIX.
Esse é, portanto, um livro que merece ser lido e assimilado, não apenas por seus resultados mas como ponto de partida para novas investigações de modo a, mais uma vez, formar novas gerações de pesquisadores que levem adiante a imensa tarefa de não deixar cair no esquecimento os mais de dez milhões de africanos que desembarcaram nos portos das Américas como escravos.
Paul E. Lovejoy FRSC
Distinguished Research Professor
Canada Research Chair in African Diaspora History

GUIA DA UNESCO - Una guía para la administración de sitios e itinerarios de memoria.

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