Livro do século 18 leiloado em Londres traz referências a Paraty
Texto: Cássio Ramiro Mohallem
No dia 14 de novembro, a Sotheby's de Londres leiloou um exemplar
da primeira edição do Antonil. Trata-se de um livro impresso no ano de 1711.
Quem arrematou foi a "John Carter Brown Library", fundação privada
americana.
O autor era um jesuíta italiano especialista em
direito privado, trazido ao Brasil pelo padre Antônio Vieira. Quando o livro foi
publicado, o Vieira já estava de dieta: comia grama pela raiz...
Voltando ao livro: O nosso jesuíta se chamava Giovanni Antonio
Andreoni, e escreveu o livro com o pseudônimo de André João Antonil. O título do
livro é: "Cultura e Opulência do Brasil por suas Drogas e Minas". Nos capítulos
dedicados ao ouro e às recém descobertas Minas Gerais, o livro traz roteiros de
todos os caminhos para as Minas: de quem vinha do Rio de Janeiro, de São Paulo e
também da Bahia.
Quando o livro (já impresso) caiu nas mãos dos ministros do Rei
de Portugal, o Conselho Ultramarino convenceu Sua Majestade (Dom João V) a
mandar confiscar o livro e queimá-lo. Sete exemplares escaparam ao fogo, e agora
um oitavo exemplar apareceu. Desse oitavo exemplar eu já havia ouvido falar. Uma
longa história...
Conforme eu já disse, o livro foi leiloado pela Sotheby's de
Londres. Preço alcançado no leilão: GBP 116,650 (cento e dezesseis mil e
seiscentas e cinqüenta Libras da Grã Bretanha). Se você quiser, pode chamar de
"Great Britain Pounds", que para mim não haverá a menor diferença (até mesmo
porque eu não tinha essa quantia e mais um pouquinho para cobrir a oferta).
Considerando a Libra Inglesa a um preço aproximado de um dólar e meio, isso dá
uns 180.000 dólares. "Dinheiro de Cachaça...!!!"
Quando digo que eu não tinha dinheiro, isso é mera formalidade...
Eu não tinha em casa, mas bastaria ir buscar no Banco...!!! Na verdade, eu
estava um pouco indisposto e não queria ir a Londres. A viagem me faz mal... Lá
faz muito frio nessa época do ano... Eu odeio comida inglesa...!!! Resultado:
não fui a Londres e não comprei o livro. Uma grande perda para a coleção de
Paraty, mas isso também é mera formalidade...
Nos Estados Unidos, em Rhode Island existe uma fundação que foi
deixada por um milionário daquele país: John Carter Brown. Ele foi um gigante do
colecionismo. O tema da coleção: "Americana". O Brasil está na América. Os
livros referentes ao Brasil ("Brasiliana") interessam, portanto, aos
colecionadores de "Americana".
Para que um livro seja de "Brasiliana", tem que preencher quatro
requisitos: Livros referentes ao Brasil, cujo autor seja estrangeiro, terem sido
publicados fora do Brasil, serem anteriores ao ano de 1900 (incluindo este ano).
Também são "Brasiliana" os livros de autores brasileiros, publicados até a data
de 1808. São livros publicados no estrangeiro, porque no Brasil era proibida a
impressão de livros e documentos (justamente até 1808 porque, com a vinda da
Corte portuguesa para o Brasil, abriu-se a
Impressão Régia e começaram a ser impressos livros e documentos no Rio de Janeiro).
Impressão Régia e começaram a ser impressos livros e documentos no Rio de Janeiro).
Voltemos ao John Carter Brown. A coleção de "Americana" desse
colecionador tem praticamente tudo o que foi publicado a respeito das Grandes
Navegações. Além disso, muita coisa da História da América. Quando ele morreu,
deixou tudo para uma fundação privada que leva o seu nome (e que é mundialmente
conhecida como "John Carter Brown Library".
O livro é, sem favor algum, o mais raro e o mais cobiçado livro a
respeito da nossa terra. Nele estão descritos todos os processos de fabricação
do açúcar no nordeste, de plantação do tabaco e fabricação de fumo na Bahia, dos
caminhos do ouro de Minas e dos processos de mineração nas recém descobertas
Minas Gerais, e da criação de Gado no sul do país. O Antonil é, portanto, uma
obra econômica que retrata o Brasil no começo do século XVIII.
Dessa importância vem a cobiça pelo livro. Os outros exemplares
existentes também estão em instituições públicas. Desse modo, nenhum
colecionador particular tem, hoje, a primeira edição do Antonil. Os outros
exemplares estão nos seguintes lugares: Faculdade de Direito do Largo de São
Francisco, da Universidade de São Paulo, Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro
(que tem dois exemplares), Biblioteca Nacional de Lisboa, Palácio das
Necessidades, em Portugal, Biblioteca Nacional de Paris, British Museum, de
Londres e John Carter Brown Library.
Ah, eu já ia me esquecendo de dizer: é um livro com duas
importantes citações a Paraty, e de enorme importância para o Ciclo do Ouro e da
Mineração em Minas Gerais.
Descreve o caminho velho do Rio de Janeiro para Minas e se refere à casa de fundição de Paraty, que foi aberta em 1703 e que teve vida curta. (Fonte: http://migre.me/gRabP)
Descreve o caminho velho do Rio de Janeiro para Minas e se refere à casa de fundição de Paraty, que foi aberta em 1703 e que teve vida curta. (Fonte: http://migre.me/gRabP)