Em 1671, Fernão Dias revelou a intenção de estruturar uma bandeira paulista objetivando encontrar as sonhadas serras de prata e de ouro. Passou três anos preparando os roteiros, levantando recursos, víveres, pessoal e tropa. Sua bandeira adentrou o sertão em 21 de julho 1674. No final do século XVII o ouro foi encontrado e atraiu muita gente: fluminenses, paulistas, baianos, pernambucanos e até mesmo portugueses, que para as Minas vieram à procura da riqueza fácil no ouro encontrado nas margens dos ribeiros. O metal precioso movia tudo, mas era uma vida difícil. Tudo vinha de longes paragens para abastecer as áreas minerarias. Logo surgem as primeiras plantações de subsistência. Ao longo dos caminhos vão criando os pontos de descanso, abrigo e abastecimento. No final dos setecentos mais de meio milhão de pessoas vivia nas Minas Gerais e para garantir a sobrevivência e diversificar a circulação de bens, outras atividades foram desenvolvidas: agricultura e agropecuária.
São João del Rei tornou-se um expoente entreposto e passou a circular com a produção, recebendo e enviando produtos para outras localidades e especialmente o Rio de Janeiro. O que era encaminhado: carne, toucinho, café, arroz, feijão, farinha, milho, rapadura, aguardente, algodão, trigo, queijo e doce. Diversos animais: galinhas, carneiros, patos, perdizes. Transportavam também utensílios como: selas, estribos, chicotes, chapéus etc. Tudo isso era transportado por tropas, que tocavam, ainda, boiadas que eram comercializadas por todos os cantos. Muitas tropas circulavam com oratórios de santos de suas devoções, mas tinham como padroeira Nossa Senhora da Boa Viagem. Alguns tropeiros vendiam santos de barro cozido, peças pequenas que se tornaram conhecidas como paulistinhas.
No comando do comboio ia a madrinha da tropa, que era uma mula ou égua líder, podia ser a mais velha e a conhecida de todos os muares. A madrinha portava o guinzo ou cincerro, fitas e ia sinalizando a passagem ou chegada da tropa. Por ser mais hábil, ela identificava o melhor percurso, disciplinava os demais animais, impedindo que a ultrapasse. Auguste Saint-Hilaire registrou: “No silêncio das matas ouvia constantemente o eco das vozes dos tropeiros e o ruído dos guizos da madrinha da tropa, mula predileta que guia fielmente a caravana, a cabeça ornada de panejamentos coloridos tendo ao alto uma pluma ou uma boneca.”
“... Passou um macho rosilho.
E, sem parar o animal,
falava contra o governo,
contra as leis de Portugal. Nós somos simples tropeiros,
por estes campos a andar.
O louco já deve ir longe:
mas ainda o vemos pelo ar...”
E, sem parar o animal,
falava contra o governo,
contra as leis de Portugal. Nós somos simples tropeiros,
por estes campos a andar.
O louco já deve ir longe:
mas ainda o vemos pelo ar...”
Os tropeiros eram os homens de negócios, que compravam e vendiam. Alguns produziam em suas propriedades. Circulavam por infinitas trilhas e caminhos, subindo e descendo serras, atravessando rios e riachos. Abasteciam os povoados de novidades, de utensílios e variedades. Tinha até tropeiro joalheiro. Além de vender de tudo um pouco, em muitos lugares o tropeiro levava e trazia notícias ou mensagens. Os tropeiros circulavam de norte a sul, de leste a oeste.
Um importante tropeiro foi o alferes Tiradentes. Ele ingressou na Cavalaria Paga que circulava pelos caminhos da Estrada Real, para evitar os ataques e assaltos às tropas. Cecília Meireles, no “Romanceiro da Inconfidência”, no Romance XXX ou o Riso dos Tropeiros, apresenta: “... Passou um macho rosilho./ E, sem parar o animal, / falava contra o governo, / contra as leis de Portugal. Nós somos simples tropeiros, / por estes campos a andar. / O louco já deve ir longe: / mas ainda o vemos pelo ar...”
Fonte: http://migre.me/gPI0a