terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Os Puris e os Botocudos (Transcrição)

O termo botocudo é a denominação dada pelos portugueses aos indígenas pertencentes a grupos de diversas filiações linguísticas e regiões geográficas, uma vez que a maior parte usava botoques labiais e auriculares, acessórios que na verdade eram peças arredondadas, as vezes até de grandes dimensões, que fixavam nos lóbulos das orelhas e nos lábios, conferindo-lhes aparência particularmente assustadora.
Os Botocudos, também chamados Boruns ou Aimorés, pertenciam ao tronco macro-gê (grupo não-tupi-guarani) como os Goitacases e viviam do sul da Bahia ao norte do Espírito Santo e região do vale do rio Doce. Ainda há botocudos nas bacias dos Rios Mucuri e Pardo. Caracterizavam-se por sua violência. Consta em várias citações que tinham o costume da antropofagia, atacando aldeias de Puris ou de Goitacases, seus adversários tradicionais, ou caravanas de viajantes e até fazendas de sesmeiros, incendiando o que encontravam no caminho.
Cronistas antigos já atestavam que os Goitacases falavam uma língua diferente da língua tupi - era mais "bárbara" e "truncada" e os tupis não a compreendiam. Chamavam estes povos Gês de Tapuias (bárbaros, inimigos). Já a língua dos Puris era diferente da dos demais indígenas de outras tribos, caracterizava-se por um vocabulário esparso, do qual alguns viajantes fabricaram pequenos dicionários. A língua puri era falada nos vales do Itabapoana, médio Paraíba do Sul e nas serras da Mantiqueira e das Frecheiras, entre os rios Pomba e Muriaé. Dividia-se em três subgrupos: sabonan, uambori e xamixuna.
Com a descoberta do ouro nas proximidades, os bandeirantes passaram a investir nesta região e a partir de 1780 começou um verdadeiro extermínio aos Puris. Com a crise do ouro, existia a preocupação em aumentar os campos de minerações e, sabendo-se da existência de ouro na região, de imediato organizaram-se expedições, sendo a primeira em Julho de 1780 por um ano, quando ocorreram várias mortes e escravização de índios Puris.
A segunda expedição, de Julho de 1781, foi mais desbravadora ainda. Abriram-se caminhos por toda a região, seguida de distribuição de terras e incentivo à mineração e à agricultura. Os conflitos entre índios e brancos se tornaram então cada vez mais frequentes e contínuos, acarretando na matança dos índios que não eram considerados pelos “invasores”, ou melhor, pelos europeus, donos das terras nem seres dignos de respeito.
Com isto, viu-se a necessidade de intensificar o processo de “civilização”, criando aldeamentos sem nenhum critério, misturando-se tribos e etnias diferentes, introduzindo a eles os valores europeus, sem nenhum respeito à sua cultura nativa. Os índios que se rebelavam ou aqueles que não se submetiam eram caçados e praticamente exterminados, através inclusive de guerra bacteriológica principalmente com o vírus da varíola introduzida nas aldeias através de presentes.
Também eram comuns massacres promovidos por soldados do governo e até mesmo o estímulo de guerras entre tribos, além de matanças isoladas, promovidas por fazendeiros, que se viam no direito de eliminar “obstáculos”. Os índios Puris só conseguiram sobreviver por mais tempo devido à sua imersão em matas e serras de difícil acesso. Até o final do século XIX, mantinha-se boa parte de sua cultura e costumes, alguns destes ainda preservados por famílias que se dizem descendentes destes indígenas.
Os Puris tinham sua sociedade composta por um chefe, por um pajé e homens e mulheres com funções distintas. O chefe era eleito pela astúcia, braveza e habilidades de guerreiro e não tinha poder efetivo sobre seu povo: Ao pajé se destinavam as tarefas religiosas e rituais de cura; aos homens cabiam a fabricação de armas, a caça e a guerra; as mulheres cuidavam da colheita, de recolher as caças abatidas e cuidar das vasilhas e demais utensílios usados na tribo.
Cada índio podia escolher mais de uma esposa, eram polígamos. A sociedade indígena desta espécie não exercia a agricultura nem a navegação, retiravam da natureza seus meios de subsistência. Por isso, viviam em habitações provisórias como nômades.
Eram devotos de várias entidades poderosas, contemplavam a natureza e seus fenômenos como deuses. Usavam colares protetores para afastar animais ferozes. Ressalta-se o papel do pajé como símbolo maior do poder da religião entre os índios. Após o falecimento, eram colocados em vasos de barro junto a seus pertences e sua habitação abandonada por medo do espírito do morto.
O significado da palavra Puri, em tupi, pode ser "… gentinha ou povo miúdo ou comedor de carne humana”, contudo esta segunda não pode ser comprovada apenas pelos relatos dos viajantes da época. Também há relatos descrevendo os Puris como traiçoeiros e desumanos com os homens brancos, contudo esses atos podem ser tidos como resistência contra as agressões para defesa de seu território, sua família, sua tribo. Para o autor Cláudio Moreira Bento:
"…Não se conhecia fato algum de um Puri que haja matado um branco. Quando os brancos embrenhavam-se na mata para colher a planta medicinal poaia, ao encontrarem os Puris estes se punham a correr arriscando-se furtivamente a apanharem para seus usos as ferramentas dos brancos. O próprio nome Puri significava na língua deles gente mansa ou tímida."
Quanto aos costumes e hábitos indígenas, a contradição da busca por riquezas pelos portugueses e a indiferença do índio pelas coisas materiais eram fatores que o homem branco não conseguia compreender, pareciam exóticos, incompreendidos e mal-interpretados. Eram opostos extremos, os índios almejavam a harmonia com a terra para o seu sustento e o europeu buscava apenas a riqueza, adentrando a mata e tomando posse do que antes era de todos, e que, a partir de então, passaria a ser do homem branco.
Os Puris foram descritos como calmos e receptivos por alguns e valentes e armados, por outros, de fato, podemos perceber que o homem branco facilmente os combateu. Os brancos adentraram a mata fechada, favorecendo embates entre os exploradores e os índios. Com a exploração das terras, o índio também foi empregado. Sabe-se que leis tratavam de impor que não fossem exterminados, mas como em toda história brasileira e, nesta região não seria diferente, a extinção dos indígenas ocorreu. Os Puris sumiram da área sem deixar rastros não existindo sinais de quando partiram, mas sabe-se que a sua extinção se deu ainda no século XVIII.
Até pouco tempo julgava-se extinta a cultura e o povo Puri, porém, mais recentemente, tem-se notícia da existência de inúmeros descendentes que guardam a língua, a história, os costumes e outros saberes, além de marcarem presença no folclore e no imaginário religioso. Os Índios Puris são lembrados até hoje através de suas heranças culturais, podendo-se destacar a Dança de Caboclopor regiões mineiras, uma das mais importantes manifestações folclóricas daquela região.
De acordo com pesquisas realizadas, esta dança era praticada pelos próprios índios Puris. Com o passar do tempo e devido à forte perseguição à sua cultura, principalmente às de maior expressão, como as danças e rituais religiosos, o costume foi sendo esquecido pelos remanescentes, inibidos, e talvez proibidos de cultuar e praticar seus costumes.
A principal fonte de documentação dos Puris no momento encontra-se perdida. O padre Manuel Eufrazio de Oliveira, sucessor do padre Francisco das Chagas Lima (1757-1832) que catequizou esses índios quando foi pároco de Queluz na divisa entre os estados de Minas Gerais e do Rio de Janeiro, mencionou a existência de um catecismo bilíngue elaborado pelo Pe. Francisco e que o teria enviado ao Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. O conhecimento dessa língua ficou prejudicado pela falta de documentação. Restam apenas algumas listas de palavras.
Alberto Torrezão, responsável pelo melhor material conhecido dos Puris, em 6 de setembro de 1885 encerra suas anotações com os ensinamentos de dois remanescentes dos puris, um já idoso e outro seu sobrinho-neto, Manoel José Pereira e Antônio Francisco Pereira, que lhe passaram alguns vocábulos desta língua desconhecida, resultando em uma amostra escassa. Nesta ocasião encontravam-se domiciliados em terras dos Srs. Frades, na localidade do Gramma, a três léguas aproximadamente daquele arraial, o Arraial do Abre-Campo em MG.
Com esforço e dedicação podem ser realizadas pesquisas e escavações arqueológicas nos sítios e fazendas por toda região sul capixaba e norte fluminense para resgate de uma definitiva fonte de pesquisa sobre os índios que habitaram a região. Além de é claro fornecer material que confirme que a ocupação do sul capixaba foi diferente de todo os demais pontos do Estado. (Fonte: http://migre.me/hewYx)
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Nota: Piquete-SP - Serra de Jaguamimbaba: Mesorregião do Vale do Paraíba Paulista
A mesorregião do Vale do Paraíba Paulista é uma das quinze mesorregiões do estado brasileiro de São Paulo. É formada pela união de 39 municípios agrupados em seis microrregiões.
O Vale do Paraíba, em sua porção paulista, encontra-se a leste do estado, sendo eixo de ligação entre os estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro e entre as duas maiores metrópoles nacionais. Entre as Serras da Mantiqueira e do Mar, possui um importante e diversificado pólo industrial.
Seu nome advém do Rio Paraíba do Sul, que atravessa e dá personalidade a toda a região. Fonte: http://migre.me/hexin
                                            

GUIA DA UNESCO - Una guía para la administración de sitios e itinerarios de memoria.

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