A reflexão sobre a reconciliação e a diversidade cultural é a proposta do Governo para as comemorações do 20º aniversário do projecto “A Rota do Escravo”, através de um programa comemorativo que decorrerá até 15 de Dezembro.
Em declarações à Inforpress, o assessor científico do ministro da Cultura, Charles Akibodé explicou que essas actividades, que arrancam hoje, são promovidas pelo Governo, respondendo ao apelo da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), que exortou a todos os governos dos Estados membros a assinalarem a data.
“É para aprofundar a reflexão sobre a reconciliação, a reapropriação da memória, a diversidade cultural, o diálogo intercultural e as identidades plurais no 20º aniversário do projecto “A Rota do Escravo”, que o Governo vai realizar um conjunto de actividades, consubstanciadas num vasto programa”, afirmou Charles Akibodé.
Segundo ele, essas actividades que serão desenvolvidas em parceria com entidades públicas, privadas e ONG, têm um conteúdo “altamente” pedagógico e “preconizam” a reconciliação dos cabo-verdianos com a temática da escravatura, indo “para além da tragédia humana que ela constituiu”.
“Até 15 de Dezembro, vai ser demonstrada que a história da escravatura é rica em termos de contribuições civilizacionais por parte dos escravos, repleta de acrescentos culturais, tecnológicos, económicos e sociais, contribuindo de forma marcante para o desenvolvimento dos continentes que receberam/importaram os escravos africanos”, declarou.
Charles Akibodé fez saber que o público-alvo das comemorações é sobretudo as escolas e as universidades mas também as pessoas interessadas pela temática, sendo que a UNESCO, através da sua Secção de História e Memória para o Diálogo e a Comissão Portuguesa para a UNESCO é colaboradora por “excelência” dessas comemorações, tendo disponibilizado duas exposições itinerantes e seis filmes, que serão expostos e exibidos de Setembro a Dezembro.
O lançamento do programa comemorativo do 20º aniversário do projecto “A Rota do Escravo” acontece esta quinta-feira pelas 10:00 na Assembleia Nacional e terá a participação do ministro da Cultura, Mário Lúcio, do ministro do Ensino Superior, Ciência e Inovação e presidente da Comissão Nacional da UNESCO em Cabo Verde (CNU), António Correia e Silva, e contará também com a presença do primeiro-ministro, José Maria Neves.
Do programa global até 15 de Dezembro, consta a itinerância de quatro exposições em Santiago e em outras ilhas, a exibição de filmes sobre a escravatura e o tráfico negreiro em todas as ilhas e um fórum promovido pelo Ministério da Educação e Desporto (MED) para discutir a integração nos programas escolares do ensino do tráfico negreiro e da escravatura.
Conferências, debates televisivos, publicação de suplementos culturais em jornais nacionais, tratamento da temática no programa televisivo institucional “Com Ciência” são outras das actividades previstas.
O projecto “A Rota do Escravo-Resistência, Liberdade, Herança” foi lançado em 1994, em Ouidah, Benin, após resolução da UNESCO tomada em 1993 durante a 27ª Conferência Geral, em resposta a uma iniciativa do Haiti e alguns países africanos.
O mesmo objectiva romper o silêncio sobre o tráfico negreiro e a escravatura nas diferentes regiões do mundo, evidenciar as consequências desta história, bem como as interacções culturais originadas por esses encontros forçados, que constituem a fonte da diversidade das sociedades, contribuir para a reflexão sobre os novos desafios e objectivos aos quais devem responder as sociedades modernas.
O projecto tem sido implementado em vários países do mundo ao longo dos últimos 20 anos e tem contribuído para a identificação, reconhecimento e promoção do património imaterial ligado ao tráfico negreiro e à escravatura.
Fonte: http://migre.me/lGQnj
