Os Negros e o Quilombo do Campinho
Dois motivos levaram Paraty a ser um dos
mais movimentados porto de desembarque de escravos africanos. O
primeiro é que Paraty foi, durante muito tempo, o único ou o mais rápido
acesso do litoral para as cidades de Minas Gerais e do Vale do Paraíba.
Por isso, durante os ciclos do açúcar, ouro e café, era pelo porto da
cidade que chegavam os navios negreiros com escravos destinados a essas
regiões. O segundo motivo é que por ser uma vila pequena, não havia
fiscalização de autoridades civis, militares e eclesiásticas que
embaraçavam o desembarque, leilão, venda e entrega dos escravos.
Navio negreiro. Gravura: Rugendas
O principal local de desembarque de
escravos era no fundo do Saco de Mamanguá. Uma bula papal proibia a
venda ou leilão de escravos antes de serem batizados. Daí o motivo da
construção em 1720 da capela de Nossa Senhora da Conceição de Mamanguá. O
registro era feito apenas do primeiro nome e da idade estimada. Pouco
mais tarde a capela foi transferida para Paraty-mirim onde criou-se uma
estrutura de descanso, engorda, batizado e venda de escravos. Tão
intenso foi esse movimento que o território de Paraty-Mirim foi elevado à
categoria de Paróquia por decreto-provincial de 1836.
Por pressão dos ingleses, foi promulgada
em 1830 a Lei Feijó proibindo o tráfico de escravo. Apesar de não ser
levada a sério, os cafeicultores pressentindo o fim do tráfico,
começaram a fazer estoque de escravos. Devido a essa lei, os navios
negreiros não podiam chegar oficialmente pelo porto da cidade e, por
isso, até o ano de 1850 os escravos eram desembarcados clandestinamente
no porto de Paraty-Mirim, a 20 km da cidade. Nesse ano foi promulgada a
lei Eusébio de Queiroz que acabou definitivamente com o tráfico,
afetando a economia do município. A abolição definitiva da escravatura
foi em 1888, com a promulgação da Lei Áurea.
Com tanta facilidade para obter
escravos, Paraty foi construída utilizando esse tipo de mão de obra.
Foram os negros que moveram os engenhos de açúcar e os alambiques de
pinga, calçaram as ruas da cidade e as estradas da serra com pedras,
subiram a serra com mercadorias destinadas ao interior e desceram com
ouro e com café, cuidaram das plantações, mantiveram os rios limpos de
galhos e árvores para evitar enchentes. Em 1717 o Capitão Lourenço de
Carvalho era o mais rico paratiense “porque se acha com trezentos
negros, que lha adquirem grande cabedal com a condução de cargas, em que
continuadamente andam serra acima”. No auge do ciclo do café Paraty
tinha uma população de 10.000 habitantes dos quais 3.500 eram escravos.
Por um documento oficial - o Registro de
Posturas da Assembléia Legislativa Provincial de 1836 (equivalente à
Assembléia Estadual) - percebe-se, pelos artigos transcritos, como era
dura a vida dos escravos:
Postura 1: Ninguém poderá vender pólvora, nem arma de qualquer natureza ... à escravos ... O infrator escravo será punido com cem a duzentos açoites...
Postura 2: Todo escravo que for encontrado de noite ou nos domingos e dias santos a qualquer hora do dia, fora da fazenda de seus senhores .... será punido com vinte e cinco a cinquenta açoites
Postura 6: ... consentir ajuntamento para danças e candomblé entre escravos alheios, será punida com as penas impostas na Postura Quinta. Os escravos que forem apreendidos serão castigados com cinquenta a cem açoites.
Postura 1: Ninguém poderá vender pólvora, nem arma de qualquer natureza ... à escravos ... O infrator escravo será punido com cem a duzentos açoites...
Postura 2: Todo escravo que for encontrado de noite ou nos domingos e dias santos a qualquer hora do dia, fora da fazenda de seus senhores .... será punido com vinte e cinco a cinquenta açoites
Postura 6: ... consentir ajuntamento para danças e candomblé entre escravos alheios, será punida com as penas impostas na Postura Quinta. Os escravos que forem apreendidos serão castigados com cinquenta a cem açoites.
Outro documento oficial, este um
Registro das Posturas da Câmara Municipal da Villa de Paraty de 1829, dá
uma ideia sobre a vida dos escravos:
Artigo 52: Os escravos que forem encontrados nas ruas e praças públicas a jogarem (candomblé), serão castigados na cadeia a arbítrio dos senhores ....
Artigo 52: Os escravos que forem encontrados nas ruas e praças públicas a jogarem (candomblé), serão castigados na cadeia a arbítrio dos senhores ....
O fim do tráfico negreiro e, logo
depois, a abolição da escravatura foi um golpe para a economia
paratiense. Além da receita gerada pela intermediação da venda de
escravos, os alambiques perderam ao mesmo tempo sua mão de obra e seu
principal cliente: o traficante, que usava a pinga para trocar por
escravos na África.
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Fone: paraty.tur.br http://www.paraty.tur.br/negros/