sábado, 16 de abril de 2016

Negros - (Transcrição)

Os Negros e o Quilombo do Campinho

Dois motivos levaram Paraty a ser um dos mais movimentados porto de desembarque de escravos africanos. O primeiro é que Paraty foi, durante muito tempo, o único ou o mais rápido acesso do litoral para as cidades de Minas Gerais e do Vale do Paraíba. Por isso, durante os ciclos do açúcar, ouro e café, era pelo porto da cidade que chegavam os navios negreiros com escravos destinados a essas regiões. O segundo motivo é que por ser uma vila pequena, não havia fiscalização de autoridades civis, militares e eclesiásticas que embaraçavam o desembarque, leilão, venda e entrega dos escravos.

     Navio negreiro. Gravura: Rugendas
O principal local de desembarque de escravos era no fundo do Saco de Mamanguá. Uma bula papal proibia a venda ou leilão de escravos antes de serem batizados. Daí o motivo da construção em 1720 da capela de Nossa Senhora da Conceição de Mamanguá. O registro era feito apenas do primeiro nome e da idade estimada. Pouco mais tarde a capela foi transferida para Paraty-mirim onde criou-se uma estrutura de descanso, engorda, batizado e venda de escravos. Tão intenso foi esse movimento que o território de Paraty-Mirim foi elevado à categoria de Paróquia por decreto-provincial de 1836.
Por pressão dos ingleses, foi promulgada em 1830 a Lei Feijó proibindo o tráfico de escravo. Apesar de não ser levada a sério, os cafeicultores pressentindo o fim do tráfico, começaram a fazer estoque de escravos. Devido a essa lei, os navios negreiros não podiam chegar oficialmente pelo porto da cidade e, por isso, até o ano de 1850 os escravos eram desembarcados clandestinamente no porto de Paraty-Mirim, a 20 km da cidade. Nesse ano foi promulgada a lei Eusébio de Queiroz que acabou definitivamente com o tráfico, afetando a economia do município. A abolição definitiva da escravatura foi em 1888, com a promulgação da Lei Áurea.
Com tanta facilidade para obter escravos, Paraty foi construída utilizando esse tipo de mão de obra. Foram os negros que moveram os engenhos de açúcar e os alambiques de pinga, calçaram as ruas da cidade e as estradas da serra com pedras, subiram a serra com mercadorias destinadas ao interior e desceram com ouro e com café, cuidaram das plantações, mantiveram os rios limpos de galhos e árvores para evitar enchentes. Em 1717 o Capitão Lourenço de Carvalho era o mais rico paratiense “porque se acha com trezentos negros, que lha adquirem grande cabedal com a condução de cargas, em que continuadamente andam serra acima”. No auge do ciclo do café Paraty tinha uma população de 10.000 habitantes dos quais 3.500 eram escravos.
Por um documento oficial - o Registro de Posturas da Assembléia Legislativa Provincial de 1836 (equivalente à Assembléia Estadual) - percebe-se, pelos artigos transcritos, como era dura a vida dos escravos:
Postura 1: Ninguém poderá vender pólvora, nem arma de qualquer natureza ... à escravos ... O infrator escravo será punido com cem a duzentos açoites...
Postura 2: Todo escravo que for encontrado de noite ou nos domingos e dias santos a qualquer hora do dia, fora da fazenda de seus senhores .... será punido com vinte e cinco a cinquenta açoites
Postura 6: ... consentir ajuntamento para danças e candomblé entre escravos alheios, será punida com as penas impostas na Postura Quinta. Os escravos que forem apreendidos serão castigados com cinquenta a cem açoites.
Outro documento oficial, este um Registro das Posturas da Câmara Municipal da Villa de Paraty de 1829, dá uma ideia sobre a vida dos escravos:
Artigo 52: Os escravos que forem encontrados nas ruas e praças públicas a jogarem (candomblé), serão castigados na cadeia a arbítrio dos senhores ....
O fim do tráfico negreiro e, logo depois, a abolição da escravatura foi um golpe para a economia paratiense. Além da receita gerada pela intermediação da venda de escravos, os alambiques perderam ao mesmo tempo sua mão de obra e seu principal cliente: o traficante, que usava a pinga para trocar por escravos na África.
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Fone: paraty.tur.br  http://www.paraty.tur.br/negros/

GUIA DA UNESCO - Una guía para la administración de sitios e itinerarios de memoria.

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