domingo, 20 de março de 2011

ORIGEM DE PIQUETE E AS ROÇAS DE BENTO RODRIGUES: O roteiro do caminho contido na Obra de Andre João Antonil, possibilita afirmar que, a realização de lavouras e roças eram privilégios dos descobridores das minas.Todavia não tinha essas roças o propósito de benevolência nem tão pouco caridade. Uma vez que, os produtos eram vendidos por altos preços aos passageiros. Dada a escassez de alimentos, os valores dos produtos eram elevados, ou seja, quanto maior eram as necessidades maiores os valores. As roças coincidiam com as paragem e estalagem, as quais se constituíam de vendas e pousos. Conseqüentemente os três dias demandados para percorrer as Roças de Bento Rodrigues, a partir do porto Guaipacaré garantia-lhe o monopólio e o privilégio nas vendados dos produtos comercializados nesse trecho. Em fim, resta incontrastável que, essas paragem e pousos deram necessariamente origem a núcleos populacionais, assertiva contida no próprio roteiro. Ademais, resta indubitável pelo prestigio que desfrutava junto a coroa, como descobridor das minas que, essa exploração comercial por Bento Rodrigues, teve inicio muito antes da oficialização da concessão da sesmaria. Sendo certo que havendo passado por esse caminho na expedição do pai (Fernão Dias) quando ainda contava com 13 anos de idade em 1674, soube escolher muito bem o que lhe interessava no caminho das 05 serras altas.Ou as plantas a que se refere de propriedade de Garcia Rodrigues, antes de chegar as serras de Itatiaia, não pertencia ao mesmo e indigitado descobridor


Roteiro do Caminho da vila de São Paulo para as Minas Gerais e para o rio das Velhas.
         Gastam comumente os paulistas, desde a Vila de São Paulo até as minas gerais dos Cataguás, pelo menos dous meses, porque não marcham de sol a sol, mas até o meio dia, e quando muito até uma ou duas horas da tarde, assim para arrancharem, como para terem tempo para descansar e de buscar alguma caça ou peixe, aonde o há, mel de pau e outro qualquer mantimento. E, desta sorte, aturam com tão grande trabalho.
         O roteiro de seu caminho, desde a Vila de São Paulo até a serra de Itatiaia, aonde se divide em dous, um para as minas do Caeté, ou ribeirão de Nossa Senhora do Carmo e do Ouro Preto e outro para as minas do rio das Velhas, é o seguinte, em que se apontam os pousos e paragens do dito caminho, com as distâncias que tem e os dias que pouco mais ou menos se gastam de uma estalagem para a outra, em que os mineiros pousam e, se necessário, descansam e se refazem do que hão mister e hoje se acha em tais paragens.
         No primeiro dia, saindo da vila de São Paulo, vão ordinariamente a pousar em Nossa Senhora da Penha, por ser (como eles dizem) o primeiro arranco de casa, e não são mais do que duas léguas.
Daí, vão à aldeia de Itaquecetuba, caminho de um dia.
Gastam, da dita aldeia, até a vila de Moji, dous dias.
         De Moji vão às Laranjeiras, caminhando quatro ou cinco dias até o jantar.
         Das Laranjeiras até a vila de Jacareí, um dia, até as três horas.
         De Jacareí até a vila de Taubaté, dous dias até o jantar.
         De Taubaté a Pindamonhangaba, freguesia de Nossa Senhora da Conceição, dia e meio.
         De Pindamonhangaba até a vila de Guaratinguetá, cinco ou seis dias até o jantar.
         De Guaratinguetá até o porto de Guaipacaré, aonde ficam as roças de Bento Rodrigues, dous dias até o jantar.
         Destas Roças até o pé da serra afamada de Amantiqueira, pelas cinco serras muito altas, que parecem os primeiros muros que o ouro tem no caminho para que não cheguem lá os mineiros, gastam-se três dias até o jantar.
         Daqui começam a passar o ribeiro que chamam de Passavinte, porque vinte vezes se passa e se sobe às serras sobreditas, para passar as quais se descarregam as cavalgaduras, pelos grandes riscos dos despenhadeiros que se encontram,e assim gastam dous dias em passar com grande dificuldade estas serras, e daí se descobrem muitas e aprazíveis árvores de pinhões, que a seu tempo dão abundância deles para o sustento dos mineiros, como também porcos monteses, araras e papagaios.
         Logo, passando outro ribeiro, que chamam Passatrinta, porque trinta e mais vezes se passa, se vai aos Pinheirinhos, lugar assim chamado por ser o princípio deles; e aqui há roças de milho, abóboras e feijão, que são as lavouras feitas pelos descobridores das minas e pro outros, que por aí querem voltar. E só disto constam aqueles e outras roças nos caminhos e paragens das minas, e, quando muito, têm de mais algumas batatas.Porém, em algumas delas, hoje acha-se criação de porcos domésticos, galinhas e frangões, que vendem por alto preço aos passageiros levantando-o tanto mais quanto é maior a necessidade dos que passam. E daí vem o dizerem que todo o que passou a serra de Amantiqueira aí deixou dependurada ou sepultada a consciência.
Dos Pinheirinhos se vai à estalagem do Rio Verde, em oito dias, pouco mais ou menos, até o jantar, e esta estalagem tem muitas roças e vendas de cousas comestíveis, sem lhe faltar o regalo de doces.
Daí, caminhando três ou quatro dias, pouco mais ou menos, até o jantar, se dá na afamada Boa Vista, a quem bem se deu este nome, pelo que se descobre daquele monte, que parece um mundo novo, muito alegre: tudo campo bem estendido e todo regado de ribeirões, uns maiores que outros, e todos com seu mato, que vai fazendo sombra, com muito palmito que se come e mel de pau, medicinal e gostoso. Tem este campo seus altos e baixos, porém moderados, e por ele se caminha com alegria, porque têm os olhos que ver e contemplar na prospectiva do monte Caxambu, que se levanta às nuvens com admirável altura.
         Da Boa Vista se vai à estalagem chamada Ubaí, aonde também há roças, e serão oito dias de caminho moderado até o jantar.
         Do Ubaí, em três ou quatro dias, vão ao Ingaí.
         Do Ingaí,em quatro ou cinco dias, se vai ao Rio Grande, o qual, quando está cheio, causa medo pela violência com que corre, mas tem muito peixe e porto com canoas e quem quer passar paga três vinténs e tem também perto suas roças.
         Do Rio Grande se vai em cinco ou seis dias ao rio das mortes, assim chamado pelas que nele se fizeram, e esta é a principal estalagem aonde os passageiros se refazem, por chegarem já muito faltos de mantimentos E, neste rio, e nos ribeiros e córregos que nele dão, há muito ouro e muito se tem tirado e tira, e o lugar é muito alegre e capaz de se fazer nele morada estável, se não fosse tão longe do mar.  Desta estalagem vão em seis ou oito dias às plantas de Garcia Rodrigues.
         E daqui, em dous dias, chegam à serra Itatiaia.
Desta serra seguem-se dous caminhos: um , que vai a dar nas minas gerais do ribeirão de Nossa Senhora do Carmo e do Ouro Preto, e outro, que vai a dar nas minas do rio das Velhas, cada roçarias de milho e feijão, a perder de vista, donde se provêem os que assistem e levam nas minas.

GUIA DA UNESCO - Una guía para la administración de sitios e itinerarios de memoria.

Ficha 22: Ruta de la libertad (A Rota da Liberdade), São Paulo, Brasil (A Rota da Liberdade), São Paulo, Brasil ■ ANTECEDENTES ■ ANTECED...