Escravidão e nostalgia no Brasil: o banzo (Ana Maria Galdini Raimundo Oda) 1
...................................................................................
...................................................................................
"Oliveira Mendes destacou a ligação entre as mortais enfermidades e o péssimo tratamento dado aos cativos em todas as etapas do comércio negreiro, bem como os efeitos nefastos dos castigos excessivos e das injustiças sobre sua saúde. Descreveu de forma muito positiva as características morais dos africanos (amor, ódio, constância, justiça, honra), suas instituições sociais (a família, o casamento) e suas formas de reagir às vicissitudes do cativeiro. Assinalava que, mesmo bárbaros, os africanos eram sinceros e constantes nos afetos, compassivos, crédulos e resolutos; ressaltava ainda sua capacidade de suportar a dor física e sua robustez inata. Como já mencionei, o banzo era apresentado como uma gravíssima enfermidade causada pela exacerbação do sentimento de saudades ou por outra paixão triste. Como não havia remédios para este mal, dizia ele que a única forma de tratamento seria distrair o escravo de seus funestos pensamentos e desviá-lo de suas justas paixões, tratá-lo com paternal benevolência e dar permissão para que se divertisse – honestamente, claro – com seus companheiros, pois a alegria dissiparia a tristeza. Como “meios de se acautelarem e de se curarem” as enfermidades, aconselhava: Deviam ter como primeira regra, que os pretos perdendo a sua liberdade ficam desde logo apaixonados, e entregues a um indizível ressentimento, que é justo, e inseparável, e extensivo ao mesmo bárbaro; que também tem alma, e que também sente. Deviam por isso mesmo desde logo começar a tratá-los com toda a brandura, e agrado, para fazer o cativeiro menos sensível, desimaginá-los e desvanecer pouco a pouco o banzo, que os não desacompanha (Oliveira Mendes, 2007, p. 372 [1812]).
(1) Fonte: Este artigo discute a nostalgia dos escravos, banzo no Brasil.http://migre.me/ahhcG