terça-feira, 13 de setembro de 2011

I Simpósio Luso-Brasileiro de Cartografia Histórica (Taciana Botega Tavares Universidade Federal de Minas Gerais)

A consolidação do espaço urbano em Vila Rica


RESUMO

Este trabalho tem como objetivo analisar as tentativas de consolidação do espaço urbano em Vila Rica setecentista, que tem início a partir do final do século XVII com os primeiros assentamentos efêmeros estabelecidos ao longo dos ribeiros e morros auríferos. Para melhor compreensão da ocupação e formação da região de Vila Rica, analiso diversos autores que se enquadram principalmente numa abordagem que privilegia os poderes religioso e civil. Além da influência desses poderes, atividades como o comércio, a mineração e o apossamento irregular influenciaram na confrontação, na localização, na demarcação dos lotes, na presença de grandes espaços reservados aos quintais, nos tipos de construções e na própria arquitetura das casas que como características habitacionais exerceram grande influência na forma como se estruturou o espaço social, político e cultural de Vila Rica.
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Geralmente os quintais eram delimitados por uma cerca ou muro de pedra, no documento acima não há referência a nenhum tipo de cercado, o que confirma a idéia de que o quintal da casa térrea de Pedro não possuía fronteiras bastante definidas.  Quintais prolongados sem cercados e casas sem confrontação nos arredores da vila geravam uma indefinição da própria delimitação do espaço da vila. Os moradores dessas áreas mais distantes podiam desfrutar de seus quintais, que se prolongavam sem limites bem definidos. Essas áreas se constituíam em espaços híbridos, onde ocorriam simultaneamente, e de forma mais acentuada que no centro, tanto práticas tidas como urbanas, quanto rurais.
Por outro lado, a sociedade que se configurou na região mineradora teve como característica primordial a diversidade. Comerciantes de todos os tratos, artífices e artesãos, funcionários da administração local, mineradores, toda essa leva de gente proporcionou uma dinâmica social, econômica e cultural tão significativa, a tal ponto de podermos afirmar que a região experimentou uma certa urbanização, pela existência de atividades administrativas, comerciais e artesãs.

Diferentemente de tentar delimitar os espaços geográficos entre urbano e rural, procuramos demonstrar que as vilas e povoados do século XVIII possuíam uma dinâmica própria.  As vilas e povoados eram lugares onde atividades como a criação de pequenos animais, como porcos e galinhas, lotes cercados para pastagens de gado, onde pequenas plantações se faziam necessárias para o seu funcionamento. Em Vila Rica encontramos um desses lotes cercados, no testamento de João Alves do Couto:

“Sessenta braças de terras no morro da Forca, no caminho Novo que vai para a Barra que serve de pasto tapados com seus valos e paredes de pedra. Na frente seu portão fechado com fechadura e chave que comprei e paguei foral a Câmara”.(43)
Esse documento nos mostra que o fato de o pasto estar localizado geograficamente nas delimitações da vila revela uma dinâmica própria daquela sociedade. João Alves, o arrematante do foro, não possuía animais de qualquer espécie. O pasto poderia funcionar como uma espécie de “estacionamento” onde se alojavam as tropas de animais que eram utilizadas para o transporte de carga pelos caminhos entre Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo e Bahia. “Tais tropas foram utilizadas inicialmente na região centro-sul e tornou-se a única alternativa para o transporte de cargas na região de Minas Gerais, devido ao difícil acesso à capitania”.(44) Esses pastos cercados poderiam também servir para acomodar animais para serem abatidos. Assim o pasto, elemento rural, é ao mesmo tempo indispensável para o funcionamento do comércio, já que o transporte de cargas era feito em lombos de animais ou em carros tracionados pelos mesmos.
Os pastos eram comuns em Vila Rica e se situavam próximos aos locais como os quartéis, matadouros ou casa de corte, onde atividades que demandavam o uso de animais eram desempenhadas.  No termo de aforamento feito a Luís Antônio Cabral, em 1760, de quatro braças de terras, há a referência ao pasto de cavalos junto aos quartéis:

“Parte da ponte de São José com terras do dito arrematante José Gomes de Almeida e da parte do Palácio com um beco que se deixa de uma braça para serventia pública para o córrego e bicas de água que estão atrás dos quartéis e parte com o muro novo que fecha o pasto de cavalos”.(45)
As casas localizadas em Vila Rica também dividiam o espaço com estrebarias e currais:
Nota: Piquete-SP setecentista - O presente estudo possibilita entender de forma incontrastável, a importância dos piquetes, currais de pedra, cerca de pedra, termos sinônimos na constituição do espaço urbano na época. Possibilitando ainda afirmar que,  esses topônimos sempre estiveram diretamente lIgados às atividades  Tropeiras, aos  pousos, vendas, roças no caminho para Minas Gerais. Piquete no Caminho do Ouro, no Sertão da Mantiqueira, no Sertão dos Índios Bravos, na terra do Jongo/Caxambu, no Caminho da História.

GUIA DA UNESCO - Una guía para la administración de sitios e itinerarios de memoria.

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