quarta-feira, 16 de novembro de 2011

CAMINHO DAS ÁGUAS, POVOS DOS RIOS UMA VISÃO ETNOLINGÜÍSTICA DA TOPONÍMIA BRASILEIRA* Maria Vicentina de Paula do Amaral Dick (USP) Maria Cândida Trindade Costa de Seabra (UFMG)

Caminho das águas:

as trilhas das bandeiras em Minas Gerais
As entradas e bandeiras, organizadas nos séculos XVI e XVII, em busca de prata e esmeralda, seguiam três roteiros: o caminho velho da Bahia, o caminho velho de São Paulo e o caminho novo do Rio de Janeiro. Estes caminhos tinham como meta alcançar a Região das Esmeraldas, entre o Jequitinhonha e o Doce, chamado Rio das Esmeraldas, que poderia conter ouro.
Seguindo o curso do Rio São Francisco, a rota baiana, também conhecida como o caminho dos currais, tornava a região do sertão mineiro, antiga comarca de Serro do Frio, vinculada e dependente da Capitania da Bahia. Por este caminho tentava-se evitar o contrabando do ouro e dos diamantes.
Partindo de São Paulo ou Taubaté, seguindo o rio Paraíba, passando pela atual cidade de Lorena e transpondo a Serra da Mantiqueira pela garganta do Embaú - já conhecida dos índios - seguia a rota paulista. Seu curso coincide hoje com um trecho da Estrada de Ferro Central do Brasil e em outro, com a Rede Férrea Sul Mineira, antiga Minas-Rio.
Este caminho também era feito saindo do Rio de Janeiro, pelo mar, até Parati, subindo a Serra do Mar, por uma antiga trilha aberta pelos índios Goianases, até os Campos do Cunha e daí até Taubaté, no Vale do Paraíba.
No início do século XVIII, abriu-se um novo caminho do Rio de Janeiro até as Minas de Ouro Preto, através do Vale do Rio Paraibuna, na atual Zona da Mata. Este roteiro, conhecido inicialmente como Caminho Novo do Rio de Janeiro, recebeu melhorias, tornando-se a rota oficial de escoamento de ouro da coroa portuguesa. A este caminho foi dado o nome de estrada real.
No estado de São Paulo, vários pontos de paradas dos bandeirantes tornaram-se, posteriormente, vilas, sendo, bem mais tarde, elevadas a cidades. Segundo ANTONIO (In: Megale, 2000: 77-91) na formação desses núcleos urbanos, houve, no território paulista, presença de “famílias inteiras saídas de São Paulo (por ex.: Domingos Luiz leme e seus irmãos, na fundação da cidade de Guaratinguetá; ou Jacques Felix, seu irmão e seus filhos na fundação da cidade de Pindamonhangaba)”. Este aspecto salienta a disseminação da língua pelo interior de São Paulo e destaca o Vale do Paraíba como um ponto de fixação no roteiro das bandeiras.
Já em relação às expedições realizadas pelos bandeirantes paulistas ao atual território de Minas Gerais, pode-se dizer que a maioria delas partia sem qualquer outro interesse que não o da descoberta de ouro e pedras preciosas. Os primeiros desbravadores não pretendiam sesmarias e nem se interessavam em se fixar nas terras descobertas. Traziam armas e munições, mas raramente algum alimento. Muitas vezes, as trilhas das bandeiras se desdobravam, levando parte dos bandeirantes a incursões até então não programadas.
Vários historiadores que se dedicaram ao estudo do Brasil Colônia afirmam que as bandeiras não tinham um caráter colonizador: segundo ABREU (In: Elia, 1979: 175-218) “o bandeirante devassou sem povoar, agindo mais em extensão do que em profundidade”. Enquanto MOOG (1956:148) diz “(...) já não basta que o bandeirante tenha dilatado a pátria, deixando para os pioneiros o ‘problema concêntrico de povoá-la’ (...)”.
Todavia, de acordo com HOLANDA (1977: 71-76) em Minas Gerais essa “ação” dos bandeirantes foi um pouco diferente: “(...) antes do descobrimento das minas, não realizaram obra colonizadora, salvo esporadicamente”, ou seja, na região do ciclo do ouro, o movimento das bandeiras teve caráter colonizador.
Segundo VILLALTA (1997), os bandeirantes abriam caminhos pelo sertão, falando a “língua geral”, mas também liam Camões e traziam sempre em suas bandeiras um padre. Em Minas Gerais, os bandeirantes se depararam com outras “línguas gerais” de origem tupi, mas nesse território, onde foram encontrados minérios preciosos, essas línguas não tiveram uma convivência tão intensa com a Língua Portuguesa como ocorreu nos outros estados brasileiros. VILLALTA (1997: 339) ressalta que a eliminação das “línguas gerais” em Minas foi “radical em decorrência do desenvolvimento urbano acentuado e da força da mineração no conjunto da economia, assentada no uso do escravo africano. Os índios, na região mineradora, foram sendo massacrados e empurrados progressivamente para além das fronteiras da ocupação lusitana”. Mesmo assim, a “língua geral do sul” trazida pelas bandeiras faz-se presente em um grande número de toponímias em suas trilhas pelo território mineiro. Em camadas mais antigas do nosso léxico, podemos observar topônimos de origem indígena que ainda se conservam em nosso léxico, outros foram sobrepostos por nomes de santo.
Com relação à expansão da língua tupi ou geral na região das Minas Gerais, SAMPAIO (1955: 49-50) afirma que à medida em que as várias regiões iam sendo desbravadas, recebiam um nome tupi. Entretanto,



(...) mais para o sul, penetrando já na região mineira, entre a zona litorânea e a Serra do Espinhaço, que foi o país dos botocudos, dos Porys e de numerosas tribus tapuyas, já a raridade dos nomes selvagens na geographia local ressalta logo. Prevalecem denominações portuguesas entre alguns nomes tupis. Dificilmente se encontrará ahi um nome tapuya, botocudo, pory ou camacã, designando um monte, um rio ou um povoado. (...) são bem poucos os vestígios da língua dos primitivos dominadores, acaso salvos do dilúvio tupi ou português, que o bandeirante ou o missionário estendeu por toda a parte.
Fonte: http://migre.me/6aUll


GUIA DA UNESCO - Una guía para la administración de sitios e itinerarios de memoria.

Ficha 22: Ruta de la libertad (A Rota da Liberdade), São Paulo, Brasil (A Rota da Liberdade), São Paulo, Brasil ■ ANTECEDENTES ■ ANTECED...