Caminho das águas:
as trilhas das bandeiras em
Minas Gerais
As entradas e bandeiras,
organizadas nos séculos XVI e XVII, em busca de prata e esmeralda, seguiam
três roteiros: o caminho velho da Bahia, o caminho velho de São Paulo e o
caminho novo do Rio de Janeiro. Estes caminhos tinham como meta alcançar a
Região das Esmeraldas, entre o Jequitinhonha e o Doce, chamado Rio das
Esmeraldas, que poderia conter ouro.
Seguindo o curso do Rio São
Francisco, a rota baiana, também conhecida como o caminho dos currais, tornava
a região do sertão mineiro, antiga comarca de Serro do Frio, vinculada e
dependente da Capitania da Bahia. Por este caminho tentava-se evitar o
contrabando do ouro e dos diamantes.
Partindo de São Paulo ou
Taubaté, seguindo o rio Paraíba, passando pela atual cidade de Lorena e
transpondo a Serra da Mantiqueira pela garganta do Embaú - já conhecida dos
índios - seguia a rota paulista. Seu curso coincide hoje com um trecho da
Estrada de Ferro Central do Brasil e em outro, com a Rede Férrea Sul Mineira,
antiga Minas-Rio.
Este caminho também era feito
saindo do Rio de Janeiro, pelo mar, até Parati, subindo a Serra do Mar, por uma
antiga trilha aberta pelos índios Goianases, até os Campos do Cunha e daí
até Taubaté, no Vale do Paraíba.
No início do século XVIII,
abriu-se um novo caminho do Rio de Janeiro até as Minas de Ouro Preto, através
do Vale do Rio Paraibuna, na atual Zona da Mata. Este roteiro, conhecido
inicialmente como Caminho Novo do Rio de Janeiro, recebeu melhorias, tornando-se
a rota oficial de escoamento de ouro da coroa portuguesa. A este caminho foi
dado o nome de estrada real.
No estado de São Paulo,
vários pontos de paradas dos bandeirantes tornaram-se, posteriormente, vilas,
sendo, bem mais tarde, elevadas a cidades. Segundo ANTONIO (In: Megale, 2000:
77-91) na formação desses núcleos urbanos, houve, no território paulista,
presença de “famílias inteiras saídas de São Paulo (por ex.: Domingos Luiz
leme e seus irmãos, na fundação da cidade de Guaratinguetá; ou Jacques
Felix, seu irmão e seus filhos na fundação da cidade de Pindamonhangaba)”.
Este aspecto salienta a disseminação da língua pelo interior de São Paulo e
destaca o Vale do Paraíba como um ponto de fixação no roteiro das bandeiras.
Já em relação às
expedições realizadas pelos bandeirantes paulistas ao atual território de
Minas Gerais, pode-se dizer que a maioria delas partia sem qualquer outro
interesse que não o da descoberta de ouro e pedras preciosas. Os primeiros
desbravadores não pretendiam sesmarias e nem se interessavam em se fixar nas
terras descobertas. Traziam armas e munições, mas raramente algum alimento.
Muitas vezes, as trilhas das bandeiras se desdobravam, levando parte dos
bandeirantes a incursões até então não programadas.
Vários historiadores que se dedicaram
ao estudo do Brasil Colônia afirmam que as bandeiras não tinham um caráter
colonizador: segundo ABREU (In: Elia, 1979: 175-218) “o bandeirante
devassou sem povoar, agindo mais em extensão do que em profundidade”.
Enquanto MOOG (1956:148) diz “(...) já não
basta que o bandeirante tenha dilatado a pátria, deixando para os pioneiros o
‘problema concêntrico de povoá-la’ (...)”.
Todavia, de acordo com HOLANDA
(1977: 71-76) em Minas Gerais essa “ação” dos bandeirantes foi um
pouco diferente: “(...) antes do descobrimento das minas, não realizaram
obra colonizadora, salvo esporadicamente”, ou seja, na região do ciclo do
ouro, o movimento das bandeiras teve caráter colonizador.
Segundo VILLALTA (1997), os
bandeirantes abriam caminhos pelo sertão, falando a “língua geral”,
mas também liam Camões e traziam sempre em suas bandeiras um padre.
Em Minas Gerais, os bandeirantes se depararam com outras “línguas gerais”
de origem tupi, mas nesse território, onde foram encontrados minérios
preciosos, essas línguas não tiveram uma convivência tão intensa com a
Língua Portuguesa como ocorreu nos outros estados brasileiros. VILLALTA (1997:
339) ressalta que a eliminação das “línguas gerais” em Minas foi
“radical em decorrência do desenvolvimento urbano acentuado e da força da
mineração no conjunto da economia, assentada no uso do escravo africano. Os
índios, na região mineradora, foram sendo massacrados e empurrados
progressivamente para além das fronteiras da ocupação lusitana”. Mesmo
assim, a “língua geral do sul” trazida pelas bandeiras faz-se
presente em um grande número de toponímias em suas trilhas pelo território
mineiro. Em camadas mais antigas do nosso léxico, podemos observar topônimos
de origem indígena que ainda se conservam em nosso léxico, outros foram
sobrepostos por nomes de santo.
Com relação à expansão da
língua tupi ou geral na região das Minas Gerais, SAMPAIO (1955: 49-50) afirma
que à medida em que as várias regiões iam sendo desbravadas, recebiam um nome
tupi. Entretanto,
Fonte: http://migre.me/6aUll
(...) mais para o sul, penetrando já na região mineira, entre a zona litorânea e a Serra do Espinhaço, que foi o país dos botocudos, dos Porys e de numerosas tribus tapuyas, já a raridade dos nomes selvagens na geographia local ressalta logo. Prevalecem denominações portuguesas entre alguns nomes tupis. Dificilmente se encontrará ahi um nome tapuya, botocudo, pory ou camacã, designando um monte, um rio ou um povoado. (...) são bem poucos os vestígios da língua dos primitivos dominadores, acaso salvos do dilúvio tupi ou português, que o bandeirante ou o missionário estendeu por toda a parte.