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Originado das guerras de Reconquista da Baixa Idade Média, o sistema de mercês residia na recompensa régia à aristocracia por determinados serviços prestados, contribuindo para uma hierarquização da sociedade fundada em privilégios. Com a tomada de Ceuta, em 1415, tais valores, em sua essência, foram transferidos para o além-mar9. Em linhas gerais, a prática de concessão de mercês tinha início com o rei e ia sendo transmitida a pessoas de menor hierarquia de forma a reproduzir o poder e hierarquizar os sujeitos, inserindo-os em relações de favor e dependência, o que não suprimia seus projetos pessoais mas forçava-os a coadunarem-se com os recursos materiais e sociais por esses sujeitos detidos, com os quais buscavam efetivar tais projetos. Com a expansão e a conquista de novos territórios, a Coroa pôde atribuir ofícios e cargos civis e militares; conceder privilégios a indivíduos e grupos; e dispor de novos rendimentos com base nos quais se distribuíam pensões. Essas concessões “eram o desdobramento de uma cadeia de poder e de redes de hierarquia que se estendiam desde o reino, propiciando a expansão dos interesses metropolitanos, estabelecendo vínculos estratégicos com os colonos”10. Não somente na América, mas também em outras partes dos domínios lusos a visão dos indivíduos que foram para o ultramar crendo na hierarquização da sociedade, com base nas “qualidades” naturais e sociais das pessoas, seria reforçada pela idéia de conquista e pelas lutas contra o gentio as quais, por serem realizadas em nome de Sua Majestade, deveriam ser recompensadas com mercês e privilégios. Dentre os objetivos de tais conquistadores residia a vontade de aumentarem seu cabedal material, simbólico e político, resultando em uma possibilidade de serem revestido com o manto da nobreza e, por conseqüência, ascenderem na hierarquia estamental, o que significava reforçar o exercício de suas prerrogativas de mando11. O presente texto vale-se de tais pressupostos ao analisar as mercês e privilégios concedidos aos indivíduos que auxiliaram D. Antônio de Albuquerque pela feita da invasão francesa em 171112.
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