terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Parte 2 - OS SERTÕES DA FOME: A HISTÓRIA TRÁGICA DAS MINAS DE OURO EM FINS DO SÉCULO XVII Adriana Romeiro1

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(Transcrição) Bem frágil era o equilíbrio entre as roças de mantimentos e as necessidades da população. Uma estiagem  inesperada ou chuvas prolongadas podiam significar a fome de milhares, como aconteceu em 1705, quando os relatos descrevem uma estação chuvosa que se estendera por mais de oito meses, fazendo os mantimentos apodrecer na terra.21 Mais decisivo para o colapso da agricultura de subsistência foi, sem dúvida, o grande afluxo populacional, desencadeado pela corrida do ouro. Fenômeno pouco estudado, o que se verificou nas Minas entre os fins do século XVII e início do XVIII configurou o maior deslocamento demográfico ocorrido em toda a América Portuguesa no período colonial. Não há nada que se lhe compare. Em dez anos, foram cinqüenta mil entrantes - um número considerável até mesmo para os padrões do século XXI. O impacto mais evidente dessa corrida do ouro foram os surtos de fome, produzidos pela desestruturação das formas de subsistência dos descobridores. A descrição mais completa do fenômeno é de autoria de Baltazar de Godói Moreira, paulista radicado na região: “os primeiros sertanistas se sustentaram só com o milho e feijão que o sítio produzia, havia muita quantidade de mel de abelhas, e caça, e frutas agrestes, que ajudavam a sustentar o seu gentio; mas como a gente fosse crescendo, diminuiu-se tudo, e está exausto o sertão em forma que não poderão viver com esta falta...”22 Diante da fome aguda, muitos se retiraram para os matos, em busca de algum alimento. Os arraiais e datas minerais se despovoaram por completo, jazendo abandonados à cobiça de novos aventureiros. Lançando-se aos matos e campos gerais, à procura de “lugares mais desertos, menos combatidos e mais férteis de víveres silvestres”, esses refugiados ficavam à espera dos mantimentos plantados na estação anterior, contando que as roças pudessem  fornecer algum remédio para a penúria.23 Em pouco tempo, porém, os víveres silvestres se esgotaram, e nada havia para caçar ou coletar. A tal ponto havia chegado a escassez de víveres que, no ano de 1700, os matos ficaram silenciosos: não se ouvia sequer o pio dos pássaros. Para a grande maioria, o recurso aos mantimentos do sertão implicava uma experiência radicalmente nova: tinham diante de si espécimes animais e vegetais desconhecidos, que envolviam sofisticadas técnicas de preparo igualmente desconhecidas. Era o caso do bicho da taquara, que devia ser lançado num tacho bem quente, e ingerido ainda vivo - caso contrário, era venenoso. As fontes aludem à grande mortandade de tapanhunos e carijós, vitimados pela consumo inadequado destes bichos.24 As condições ecológicas da região proporcionavam uma grande variedade de víveres, pois que a maior parte das áreas povoadas estava coberta pela Mata Atlântica, com a ocorrência do cerrado na porção central, oeste e noroeste, além dos campos gerais ou campos limpos – terrenos baixos e uniformes, desprovidos de árvores, que aparecem na documentação como o sítio preferido para a prática da caça. Nem todos se atreveram, porém, a buscar sustento nos matos. Muitos preferiram, ao contrário, retornar às localidades de origem para ali esperar o florescimento das roças. Esse foi o caso dos paulistas. De acordo com os relatos, eles se punham numa jornada de trinta a quarenta dias sem carregar qualquer alimento, alimentando-se apenas com o que podiam colher e coletar ao longo do caminho.25 Certamente contavam com as roças plantadas durante a jornada para as Minas, confiando assim na tradicional estratégia dos sertanistas.
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Fonte: http://migre.me/7FbHB

GUIA DA UNESCO - Una guía para la administración de sitios e itinerarios de memoria.

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