quarta-feira, 6 de junho de 2012

Com o Brasil no mapa - Parte 1

Um enorme litoral. E só. Durante mais de um século, os portugueses não avançaram quase nada na demarcação de sua nova colônia na América. Para aquele modelo de exploração inicial, bastava-lhes conhecer os contornos da costa, os portos, as baías e terras próximas, onde os engenhos se multiplicavam.
O interior brasileiro não existia nos mapas. Ou melhor, existia, mas apenas como espaço simbólico: bandeiras, brasões, fortes, fortalezas e a linha de Tordesilhas eram os elementos gráficos utilizados para enfatizar direitos de domínio e titularidade sobre aquelas terras.
Só a partir de 1630 o espaço virtual começou a ganhar contornos reais. E pelas mãos de inimigos: os holandeses. O estabelecimento da Companhia das Índias Ocidentais no Nordeste deu impulso à cartografia terrestre e ao mapeamento in loco dos sertões brasílicos. De parceiros fiéis dos portugueses e súditos do Império espanhol, os invasores se converteram nos seus mais vorazes concorrentes ao longo do século XVII. A cartografia tinha um papel estratégico para eles: os mapas serviam como propaganda das conquistas militares holandesas, que ampliavam suas rotas comerciais e a produção de matéria-prima na Ásia, na África e na América.
Alguns mapas holandeses influenciaram o imaginário geográfico do período. Difundiram, por exemplo, a representação de uma grande lagoa no interior do continente sul-americano — que corresponde atualmente à região do Pantanal —, conectando a bacia do Amazonas ao estuário platino, num sistema hídrico único e contíguo. Segundo Jaime Cortesão, grande estudioso da cartografia luso-brasileira, essa convicção — denominada “Ilha Brasil” — constituiu o mito fundador do Brasil como Estado independente, uma vez que o mostrava como entidade geográfica autônoma.
Apesar das contribuições holandesas, nas primeiras décadas do século XVIII os mapas do Brasil ainda retratavam um espaço aparentemente incógnito, povoado de topônimos indígenas, animais selvagens e figurações alegóricas, sem maiores indicações de uma ocupação estável. Foi o acirramento da concorrência expansionista entre impérios após o Tratado de Paz de Utrecht (1713) que impeliu a Coroa portuguesa a investir numa política mais sistemática de formação de quadros para o mapeamento dos seus domínios, em particular o sul-americano. Na prática, esse acordo tornava inválido o antigo Tratado de Tordesilhas, firmado entre as coroas ibéricas em 1494.
Na década de 1720, Guillaume Delisle, geógrafo do rei da França, apresentou uma dissertação na Academia das Ciências de Paris na qual revia os cálculos de longitude dos portugueses, questionando sua soberania na margem esquerda do Rio do Prata e nas terras do Cabo do Norte (fronteira com a Guiana Francesa). O estudo teve repercussão imediata na Academia Real de História Portuguesa, onde já se preparavam novas cartas geográficas de todo o império, sob a coordenação do engenheiro-mor do Reino, Manoel de Azevedo Fortes. A polêmica acelerou a necessidade de produzir documentação que comprovasse a ocupação portuguesa na América do Sul.
Com esse objetivo, em 1729 partiram para o Brasil os padres jesuítas e matemáticos Domenico Capassi e Diogo Soares, a mando do rei D. João V. Sua missão era elaborar um Atlas do Brasil com informações atualizadas das longitudes. Embora o trabalho não tenha sido finalizado, os dois jesuítas produziram uma série de mapas da costa e do interior do continente, do Sul de Minas à Colônia do Sacramento (atual cidade de Colônia, no Uruguai). Juntamente com outros mapas preparados por missionários do Paraguai e por sertanistas, as obras dos padres matemáticos foram utilizadas para a composição do Mapa das Cortes (1749), encomendado por Alexandre de Gusmão (1695-1753), diplomata e secretário particular do rei. O Mapa das Cortes serviu de base para as negociações do Tratado de Madri (1750), que atualizava a linha divisória entre as possessões portuguesas e espanholas na América.
Novo tratado, novas fronteiras, novas iniciativas cartográficas para a demarcação territorial. A partir da segunda metade do século XVIII, mais de uma centena de engenheiros militares, astrônomos, matemáticos e desenhistas se envolveram no trabalho de redefinir os domínios luso-espanhóis. A empreitada foi tão marcante que transformou o povoamento das fronteiras mais longínquas, com a construção de fortalezas e o estabelecimento de núcleos urbanos em regiões antes habitadas por indígenas ou, eventualmente, missionários, quilombolas e atravessadores de mercadorias.
A principal síntese cartográfica manuscrita dos domínios americanos nesse período foi a Carta Geographica de Projeção Espherica da Nova Lusitânia ou América Portuguesa e Estado do Brasil, composta sob a direção do astrônomo mineiro Antonio Pires da Silva Pontes Leme (1757-1805) a pedido do ministro D. Rodrigo de Souza Coutinho e concluída em 1797. Pontes Leme compilou na Secretaria de Estado da Marinha mais de oito dezenas de mapas em escala regional, executados durante as demarcações do Tratado de Madri e do de Santo Ildefonso (1777). Fonte: http://migre.me/9nqD2 

GUIA DA UNESCO - Una guía para la administración de sitios e itinerarios de memoria.

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