segunda-feira, 23 de julho de 2012

Irmandades de Pretos e Pardos no Vale do Paraíba Paulista (XVIII e XIX). Fábia Barbosa Ribeiro (Doutoranda - FFLCH-USP) (Transcrição)

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A ereção dos primeiros locais de culto, simples cruzes e ermidas, quer nas cercanias das  cidades e aldeias, quer à margem dos caminhos ou em lugares solitários. Essas ermidas e   capelinhas, construídas pelo fervor de pessoas particulares, dão origem às primeiras  irmandades destinadas ao cuidado desses locais de culto, e cujos membros buscam a proteção  do santo contra as vicissitudes da vida e para obter uma boa morte”. (11)
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O surgimento da Capela de São Gonçalo em Guaratinguetá ilustra bem essa fase do catolicismo brasileiro. Construída à margem do Caminho da Piedade, no ano de 1726 “pouco maes ou menos, pella devoção do homes de Caminho, cavaleiros, tropeiros e viandantes” (12)  - abrigava uma imagem do Santo e se localizava na passagem para as Minas Gerais. Provavelmente fora erguida pela devoção dos muitos tropeiros que circulavam pela região, os tais “viandantes”, e não há registros de que abrigasse alguma irmandade. Embora alguns escritores locais associem-na a  uma devoção de pardos, o mais correto é que fosse dedicada a São Gonçalo do Amarante, frade  dominicano e eremita beatificado por volta de 1561, conforme nos aponta Thereza Maia(13) , posto que São Gonçalo Garcia, o chamado “santo pardo”, seria entronizado no Brasil somente no ano de 1745 em Pernambuco. (14) A Capela de São Gonçalo abrigaria alguns anos mais tarde a Irmandade de  São Benedito dos Homens Pretos, à qual farei referência mais adiante.  Além da sociabilidade e da circularidade propiciada pelas irmandades, também a  importância do culto aos mortos nas sociedades africanas, da passagem do mundo dos vivos para o  dos ancestrais, justificaria a rapidez com que os escravos e seus descendentes aderiram às irmandades e ao cristianismo de um modo geral.(15) A chamada “boa morte”, configurava–se em  acontecimento de suma importância na vida comunitária, o apego aos santos e o sectarismo  religioso, garantiam uma “passagem” tranqüila. Também para os cristãos era necessário dar aos  mortos uma “última morada” digna, temia-se que ficassem sem sepulturas e que virassem alma  penada, havia também um grande pavor do afogamento, que tiraria a possibilidade de estar em terra  após a morte.(16)  Para grande parte das comunidades africanas, especialmente na África Central, os  espíritos antepassados insepultos vagueavam pela terra trazendo doenças e morte aos vivos. Havia uma profunda relação com a morte, para os ambundos, por exemplo, não bastava simplesmente enterrar o morto, este deveria descansar em terras de sua própria linhagem, próximo a sua família,  que poderia assim arcar com as responsabilidades inerentes ao seu corpo e espírito.(17)  Por estas paragens a partir dos testamentos de negros libertos, podemos também identificar tal preocupação, sobretudo porque a grande maioria destes tinha como finalidade única registrar as exigências do moribundo durante a sua morte. As irmandades, todas elas, desempenhavam papel fundamental na realização dessa celebração, posto que os mortos costumassem ser acompanhados  por cortejos que, na medida do possível, mantinham a maior pompa possível, sempre com a presença do cura, sacristão ou dos sacerdotes e demais irmãos. Era comum darem-se esmolas para mendigos e pobres para que carregassem o corpo e seguissem o féretro.(18)  As Constituições Primeiras do Arcebispado da Bahia de 1707 dispensavam extensas recomendações no cuidado com  os mortos. As irmandades que não possuíam cemitério próprio realizavam seus enterros no adro das matrizes ou de outras igrejas, ser enterrado próximo aos altares era motivo de honra na medida em que colocava o defunto próximo ao seu santo de devoção, portanto era algo destinado somente aos irmãos de maior prestígio, qualquer que fosse o status social da irmandade. O cortejo que seguia o corpo era um elemento de distinção social dentro das irmandades e ajudava a distinguir a posição ocupada pelo falecido no interior das confrarias. O sepultamento era  patrocinado na maioria das vezes pela própria entidade, para a qual o irmão contribuía anualmente com uma jóia, mas também se realizava através de esmolas ou de pecúlio deixado pelo falecido em testamento, conforme mencionado acima, fato não muito raro entre escravos e libertos, conforme demonstra a pesquisa de Eduardo França Paiva.(19)  Fonte: http://migre.me/a0Fjd
Nota: Núcleo Embrião de Piquete, passagem para as  Minas, da aldeia São Miguel do Piquete, à margem do caminho. Ermidas e capelinhas na invocação de São Miguel e almas. Do surgimento da capela de São Gonçalo em 1726, é possível afirmar que a   Irmandade de São Benedito, se faz presente neste contexto há mais 286 anos.


GUIA DA UNESCO - Una guía para la administración de sitios e itinerarios de memoria.

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