Amor à terra?
Sempre considerada um levante nativista, a Guerra dos Emboabas, na verdade, opunha dois grupos que queriam as mesmas coisas: ouro e poder político (Adriana Romeiro)
Sempre considerada um levante nativista, a Guerra dos Emboabas, na verdade, opunha dois grupos que queriam as mesmas coisas: ouro e poder político (Adriana Romeiro)
O episódio é famoso. Bandeirantes paulistas descobrem enormes jazidas
de ouro na região de Minas Gerais e reclamam exclusividade em sua
exploração. Os achados atraem muitos portugueses e pessoas de todas as
partes do Brasil. Esses forasteiros são pejorativamente chamados de
“emboabas” – para alguns, a palavra designava o indivíduo que cobria as
pernas para protegê-las dos perigos dos sertões. As tensões entre os
dois grupos culminam em um conflito armado que ficou conhecido como
Guerra dos Emboabas. Há exatos 300 anos.
O confronto entre paulistas e emboabas já foi tema de um sem-número
de livros e estudos. No entanto, pouco se avançou no conhecimento do
episódio. Ao longo dos anos, houve um debate acalorado e polarizado que
nada mais fez do que mascarar as reais motivações da guerra. Ao
contrário do que se defendeu por muito tempo, o fato é que nem os
bandeirantes nem os emboabas eram movidos pelo amor à terra.
O levante emboaba entraria para os anais da história mineira e para a
memória local como o evento mais formidável das origens da capitania.
Prova disso é o poema épico “Vila Rica”, no qual Manuel da Costa narra o
nascimento da vila mineira partindo do conflito entre paulistas e
emboabas:
Levados de fervor, que o peito encerra
Vê os Paulistas, animosa gente,
Que ao Rei procuram o metal luzente
Co’as próprias mãos enriquecer o erário.
Vê os Paulistas, animosa gente,
Que ao Rei procuram o metal luzente
Co’as próprias mãos enriquecer o erário.