Índios loiros no interior de Minas (Transcrição)
Não foram raras as princesas incas que se casaram com os espanhóis, sendo recebidas em pé de igualdade na corte. No Brasil, diz o cronista padre Simão de Vasconcellos, referindo-se aos aimoré: “Desses aimoré alguns são tão brancos como os portugueses.” Talvez por pura coincidência, esses indígenas viviam na região limítrofe entre Minas e Bahia, onde se encontram os alinhamentos e outros importantes monumentos. Mais desconcertante, porém, é a noticia de Knivet. No interior de Minas, no vale do Sapucai, o aventureiro inglês deparou e conviveu algum tempo com os muirapaque (gente esperta).
Segundo palavras do aventureiro, esses indígenas eram muito altos, loiros e barbadas, muito parecidos fisicamente com os holandeses. Este povo não possuia qualquer tradição sobre sua origem ou normas religiosas, havendo adotado inclusive a antropofagia ritual, corrente entre o comum dos nossos silvícolas. Esta circunstância pode avaliar a longa permanência do grupo na terra, já que não se pode considerá-los como nativos. Suas aldeias eram fortificadas com muralhas de pedras, barro e madeira. Habitantes da Mantiqueira devem ter sido destruídos tão logo se iniciaram as incursões dos bandeirantes paulistas, em direção às Minas Gerais. A entrada de Knivet data de fins do século 16, época em que o sertão de Minas permanecia virgem e intocado pelo branco. É ainda significativo o diálogo entre os tamoio e o explorador inglês, em que as palavras soam como eco daquelas com que Montezuma recebeu Hernán Cortez: “Nada receies, pois que teus antepassados foram nossos amigos, e nós amigos deles.” Em seguida, os tamoio conduziram-no ao Cabo Frio, a fim de que testemunhasse, pessoalmente, a obra do grande civiliza dor branco.
LUIS GALDINO é arqueólogo, membro da Escola Superior de Ciências e especialista em história da arte. Passou cinco anos no interior do Brasil, catalogando e documentando importantes ocorrências arqueológicas. Tem feito conferências e cursos em várias universidades brasileiras. Tem colaborado em jornais e revistas, nacionais e estrangeiros, divulgando e desmistificando fatos ligados à cultura dos brasilíndios.
Texto extraído da Revista Planeta
Número 4 - Dezembro de 1972
Fonte: http://migre.me/bQctd