sábado, 24 de agosto de 2013

TRÁFICO ATLÂNTICO, ESCRAVIDÃO E PROCEDÊNCIAS CATIVAS NO SUL DE MINAS GERAIS (1799-1850)* (Transcrição)

4. Procedência dos cativos africanos.
No geral, as fontes que contemplam algum tipo de informação em relação à população  escrava, as dividem em dois grandes grupos: crioulos, nascidos no Brasil, ou africanos. Do primeiro grupo fazem parte crioulos, pardos, cabras e mulatos. O segundo está definido por critérios de origem como, por exemplo, os mina, os angola, os benguela, os cabinda, os caçanje e muitos outros. Como tem alertado a historiografia, esses termos não correspondem a denominações étnicas, pertencem a uma nomenclatura do tráfico e referem-se a regiões ou a portos da África.13 Segundo Waldemar de Almeida Barbosa, nas primeiras décadas do século XVIII houve uma importação, em larga escala, de escravos da África Ocidental para Minas, definidos genericamente como “negros mina”.14 Estudos recentes têm demonstrado que, desde a segunda metade do setecentos, ocorreu uma mudança na rota do tráfico, passando a predominar os escravos oriundos do centro-oeste africano, especialmente os angola.15 Mary Karasch constatou que a grande maioria dos escravos que desembarcaram na cidade do Rio de Janeiro, na primeira metade do século XIX, procedia do centro-oeste africano. Mesmo no período em que houve um decréscimo na representação deste grupo, nunca ficou abaixo de 66%. Os escravos da África Oriental vinham em segundo lugar, oscilando entre 16% e 26%, seguidos, por último, pelos cativos da África Ocidental, com cifras que não ultrapassavam 7%. O centro-oeste africano era dividido em três regiões principais: Congo Norte (Cabinda), Angola e Benguela. Como reitera a autora, “o significado destes termos variava muito e o uso deles no tráfico de escravos não era consistente com a verdadeira identidade étnica, nem com os nomes nacionais cariocas”.16 Isto não quer dizer que essas referências devam ser menosprezadas. Estudos recentes têm demonstrado as formas de apropriação dos nomes de procedência e sua utilização na configuração de novas identidades nas relações do cativeiro, especialmente nas de compadrio, na formação da família escrava, nas irmandades religiosas e nas revoltas escravas.17 Se uma grande parte dos cativos que desembarcava no porto do Rio de Janeiro tinha como destino a província de Minas Gerais, é mais ou menos evidente que as informações constantes dos registros locais corroborem os dados encontrados pelos autores que estudam a demografia do tráfico na Corte. Ao analisar uma lista de remessa de escravos para Minas Gerais, entre 1831-1832, Mary Karasch encontrou os seguintes percentuais: 40,6% do centrooeste africano, 38,4% da costa oriental e 7,5% da África Ocidental.18 Como constatam João Luís Fragoso e Roberto Guedes Ferreira, ao examinarem os dados dos despachos e dos passaportes da Intendência de Polícia da Corte, entre 1819 e 1833, as fontes tendem a acompanhar os resultados das estimativas do tráfico internacional, uma vez que, entre 1795 e 1840, cerca de 81,8% dos navios negreiros procediam da África Central. Em 1831, por exemplo, 63%  dos cativos registrados nos despachos e nos passaportes eram provenientes da África Central, 24% da Oriental e 9% da Ocidental.19 Com base no levantamento sistemático das informações sobre a origem dos cativos, contidas em inventários post mortem dos termos de São João del-Rei, São José del-Rei, Vila Rica e Mariana (1715-1888) e Diamantina (1790-1888), Laird Bergard também chega a conclusões semelhantes. Dos escravos africanos que tiveram a origem mencionada, os que ocupavam maiores índices eram os banguela (28,3%), os angola (23,9%) e os congo (10,7%), ou seja, a grande maioria dos cativos era procedente da África Central Atlântica. Os mina correspondiam a 10,5%.20 O autor fez um levantamento sistemático das informações contidas em 10.028 inventários, arrolando um total de mais de 110 mil cativos. As principais críticas ao seu trabalho   foram formuladas por Douglas Cole Libby e se referem aos limites das fontes utilizadas, e,  particularmente, ao fato de ele desconsiderar as diferenças no tempo e no espaço para algumas regiões das Minas Gerais. Embora o argumento central de Laird Bergard seja a ênfase na  capacidade de reprodução natural da população escrava, hipótese que não é de modo algum negada por outros estudiosos, as discordâncias se manifestam nos percentuais apresentados para algumas regiões, sobretudo aquelas localizadas nos termos de São João, São José e Diamantina, áreas com alto nível de desenvolvimento econômico e um percentual de africanos bem maior do que o encontrado por Laird Bergard.21 Os dados levantados para os termos de Campanha e Baependi confirmam o que a historiografia mineira e do tráfico tem enfatizado, ou seja, que a região participou ativamente do tráfico negreiro internacional pelo menos até os primeiros anos  da década de 1830.
Fonte: Marcos Ferreira de Andrade http://migre.me/fQsp5
 
 
Origem do Mapa: http://migre.me/fQtRj
Parafraseando - PIQUETE - ROTA DA AFRO-DIÁSPORA - Em conformidade com o Mapa, quando então alcançava-se a região de Marmelópolis à partir do Alto da Serra, (espaço colonial de Piquete-SP),  assim como os termos de Campanha e Baependi, confirmam o que a historiografia mineira e do tráfico tem enfatizado, ou seja, que a região também participou ativamente do tráfico negreiro internacional pelo menos até os primeiros anos da década de 1830.
 
 
 
 

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