Muito antes de a Coroa portuguesa cravar seus postos de fiscalização de
metais preciosos na Estrada Real, grupos de paleoíndios deixavam suas
marcas nos paredões de pedra da região das Minas Gerais. Formas
geométricas, desenhos de animais selvagens e homens gigantes foram
pintados por povos nômades até 8.000 anos atrás. Hoje, apesar do
incentivo ao turismo nos antigos caminhos do ouro, numerosos sítios
arqueológicos das cercanias são excluídos da rota cultural e permanecem
desconhecidos, malcuidados e até depredados. Uma pesquisa realizada na
Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ) vem mapeando estes
locais de arte rupestre e já identificou catorze cidades cortadas pela
estrada que guardam alguma marca dos povos antepassados.
“Estamos observando as condições e a gestão desses espaços, além do
modo como estão sendo inseridos no roteiro turístico”, conta Cristiano
Lima Sales, mestrando em História na UFSJ e participante da pesquisa
coordenada pela professora Maria Leônia Chaves de Resende. Ele
acrescenta que um dos desejos do grupo é que os locais com condições
físicas de receber visitação sejam um dia incluídos na rota turística da
Estrada Real. Afinal, muitos dos sítios encontrados pelo núcleo são
inéditos, ainda nem registrados no Iphan, estando mais sujeitos à ação
destrutiva do homem, como a mineração e mesmo o vandalismo.
Este é o caso do município de São Thomé das Letras, onde a equipe
localizou doze sítios de arte rupestre, estando dez reconhecidos pelo
Iphan e apenas um protegido pela prefeitura e incluído no trajeto
turístico da cidade – a Gruta de São Thomé, que fica na área urbana.
Devido ao descuido, inscrições de estilos nunca antes estudados correm o
risco de desaparecer.
Em Andrelândia, no sul de Minas, por onde também passa a Estrada Real, a
situação é bem diferente. Em 1986, um grupo de jovens amantes da
Arqueologia levantou dinheiro e comprou doze hectares de terra, cortados
por um paredão com 650 pinturas rupestres desenhadas até 4,5 metros de
altura. Após adquirir o terreno, fundaram o Núcleo de Pesquisas
Arqueológicas do Alto Rio Grande (NPA), uma associação sem fins
lucrativos encarregada de fazer a manutenção do local, posteriormente
transformado em parque ambiental e aberto à visitação. “Quanto maior a
visitação, maior é a conscientização da população a respeito do
patrimônio. Isso gera mais preservação, porque as pessoas percebem o
quanto aquilo é importante para a nossa História”, diz José Marcos Alves
Salgado, arquiteto e conselheiro fundador do NPA.
O Iphan divulga este mês um levantamento sobre os sítios arqueológicos
do estado de Minas. Nele, há registros da existência de mais de mil
áreas marcadas por povos pré-históricos, sendo 53 delas registradas nas
cercanias da Estrada Real. (Fonte:http://www.revistadehistoria.com.br/secao/capa/caminhos-do-ouro-e-da-pre-historia)
Nota: Mapa do Caminho do Ouro - Alto da Serra, espaço colonial de Piquete-SP que se constitui na Garganta do Sapucai, Desfiladeiro de Itajubá, é a porta de entrada para região do Alto Sapucaí, via Marmelópolis-MG, Caminho dos Paulista, Caminho Geral do Sertão, Estrada Real do Sertão etc.