domingo, 9 de março de 2014

Parte 2 - OS CONDUTORES DE ALMAS AFRICANAS: CONCENTRAÇÃO E FAMÍLIAS NO TRÁFICO DE ESCRAVOS PARA MINAS GERAIS, C. 1809- C.1830 Fábio W. A. Pinheiro Mestre em História Social (PPGHIS-UFRJ)

5 - A concentração do tráfico de escravos para Minas Gerais. No instante em que fazemos alusão ao mercado colonial brasileiro não nos é possível abstrair de uma de suas principais características inerente a sua estrutura econômico-social, qual seja: a concentração. João Fragoso ao estudar os índices de concentração presentes no comércio de cabotagem do açúcar e do trigo nos anos de 1802, 1811 e 1822, percebeu, no primeiro caso, que apenas 10% dos comerciantes controlavam mais de um terço dos valores anuais negociados, enquanto 50% detinham menos de um quarto do valor. Para o trigo, a configuração era similar, ou seja, 15% dos comerciantes centralizaram mais de 40% das receitas negociadas anualmente, já 60% dos empresários negociaram menos de 42% dos valores gerados. 17 No tocante ao tráfico Atlântico de escravos, Manolo Florentino afirma que apesar deste negócio envolver milhares de pessoas na América, Ásia, Europa e África, poucos controlavam as condições de sua operacionalização, “provendo-o do capital necessário e, por conseguinte, dele auferindo os maiores lucros”. 18 A título de exemplo, das 1187 entradas de negreiros no porto do Rio de Janeiro registradas entre os anos de 1811 e 1830, das quais 1092 foram possíveis detectar os consignatários das embarcações, as dezessetes maiores empresas traficantes (9,1% do total) foram responsáveis por quase metade das viagens, enquanto as 108 maiores empresas (58%) organizaram somente 13% das expedições. 19 É neste cenário, portanto, que analisaremos a concentração do tráfico de escravos para Minas Gerais entre 1809 e 1830. Apesar deste contexto, não se pode deixar de ressaltar que a concentração das atividades mercantis ligadas ao exterior era bem mais acentuada em relação às práticas vinculadas à circulação interna de bens. Os motivos os quais explicam esta diferença podem ser resumidos em dois pontos: 1) o montante do investimento inicial requerido pelas atividades direcionadas ao mercado externo era bem mais elevado, seja na importação, seja na exportação e 2) este alto investimento inicial do comércio exterior, por sua própria natureza marítima, envolvia gastos elevados com capital fixo (naus) e seguros. 20 Diante dessas considerações começaremos, então, a estudar o perfil das tropas despachantes de escravos para Minas Gerais, tendo por base a metodologia desenvolvida por João Fragoso e Roberto Ferreira acerca da estrutura do comércio de escravos entre o Rio de Janeiro e o centro-sul.21 Em suma, nossa idéia é estabelecer um padrão de tropas conforme o número de escravos remetidos. Para tanto, estabeleceremos uma divisão dos envios por tropa em duas ocasiões: na primeira, iremos avaliar 2402 despachos dos quais contemplam 13.581 cativos no período de 1809 a 1822 e na segunda ocasião, situada entre 1824 e 1830, se fará o mesmo para os 7692 despachos responsáveis pelos registros de 54.478 escravos enviados para Minas. Na presente divisão buscou-se uma tentativa de observar os padrões de despachos antes do processo de extinção do tráfico e durante tal processo, que acabou se efetivando em 1830. Em meio a esta conjuntura irá se averiguar também a tendência de concentração deste mercado e sua evolução ao longo do período, isto é, se houve o registro de um aumento ou diminuição desta concentração. Ambas as fases estão expressas nas tabelas 2 e 2.1. O panorama esboçado mostra em primeira instância a predominância das pequenas tropas nas remessas de um a dois cativos, com 57,9% dos despachos emitidos entre 1809 e 1822, sendo que entre 1824 e 1830 este índice foi de 49,8%. No entanto, estas tropas de pequena monta foram responsáveis por somente 13,8% dos cativos remetidos na primeira fase e 9,5% na segunda. Temos também os tropeiros mais arrojados, assim denominados por Fragoso e Ferreira, ou seja, aqueles responsáveis pelo envio de 11 a 50 escravos. Embora representem uma parcela pequena enviaram a maior parte da força de trabalho remetida do Valongo. Tomando somente o intervalo de 1824-1830, este grupo contemplava 15,6% dos despachos, porém, enviaram 49,5% dos cativos registrados, ou seja, quase metade. Acima destes últimos, observamos também os tropeiros de grande envergadura, estes são “empreendedores” que em uma única viagem enviaram para Minas Gerais mais de 51 almas, número suficiente, conforme Fragoso e Ferreira, para a montagem de um engenho de açúcar do porte das propriedades existentes na capitania fluminense, ou mesmo uma fazenda média de café do Vale do Paraíba do século XIX. 22 Entre 1809 e 1822 os despachos emitidos por este grupo foram de apenas 1,2% do total, em compensação, somente estas tropas foram responsáveis por quase 11% dos escravos enviados neste período, ou ainda 1432 almas no total. No período de 1824- 1830, sua proporção cresce no mercado, com 2,1% das remessas e 17,4% da mão-deobra enviada, ou então 9247 cativos na totalidade. Embora estes tropeiros de grande envergadura tenham enviado uma quantidade menor de escravos se comparado às tropas arrojadas, os ditos partiram para Minas com uma quantidade substancial. Para se ter uma idéia, enquanto no grupo de 11 a 50 a
média das remessas foi de c. 22 almas por tropa, entre os homens que enviaram acima de 51 a média chegou a c. 71 escravos por tropa entre 1824 e 1830!
Fonte: http://migre.me/iepC3

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