domingo, 9 de março de 2014

Parte 1 - OS CONDUTORES DE ALMAS AFRICANAS: CONCENTRAÇÃO E FAMÍLIAS NO TRÁFICO DE ESCRAVOS PARA MINAS GERAIS, C. 1809- C.1830 - Fábio W. A. Pinheiro Mestre em História Social (PPGHIS-UFRJ)

Notas Iniciais No dia 26 de abril de 1822 na praça mercantil do Rio de Janeiro, José Lourenço Dias, natural e residente em Minas Gerais, despachava para sua terra 41 escravos, destes, 37 eram recém-chegados da África e quatro faziam parte de sua tropa. Além destes escravos, Lourenço Dias trazia em sua companhia Caetano José da Silva Santiago, natural da cidade do Porto.1 Dois anos depois, José retornava ao Rio de Janeiro e despachava para as Minas 65 escravos, todos africanos novos.2 O personagem em destaque fez parte de um seleto grupo que negociava escravos, freqüentemente, entre a cidade do Rio de Janeiro e a capitania/província de Minas Gerais nas primeiras décadas do oitocentos. Além disso, os negócios de José Lourenço Dias se estendiam também ao tráfico de escravos entre a África e o porto carioca nos anos de 1811 a 1830.3 Dentre milhares de outros, o caso ora exposto mostra como o périplo entre o Rio de Janeiro e os caminhos terrestres que levavam a Minas ainda eram bastante sedutores para negociantes de escravos no século XIX, embora a mineração tenha perdido sua opulência e glamour de outrora e as atividades ligadas a produção mercantil de alimentos ganhado destaque na economia mineira.4 Traduzindo em números a afirmação acima, Minas Gerais teria importado entre os anos de 1809 e 1830 40% dos cativos redistribuídos na praça mercantil carioca. As Capitanias do Rio de Janeiro, São Paulo e Rio Grande do Sul, que em conjunto com Minas eram as principais economias escravistas da América portuguesa, adquiriram no mesmo período, respectivamente, 36%, 15,5% e 8,5% das almas disponíveis no mercado carioca. Destes 40% com destino a Minas, nada mais do que 97,8% eram africanos novos, ou seja, escravos recém-chegados da África, enquanto no Rio de Janeiro, São Paulo e Rio Grande do Sul esta proporção foi de 90,9%; 94,7% e 72,2% respectivamente.5 Todas estas informações mostram a íntima ligação entre a economia de Minas Gerais e o tráfico atlântico de escravos nas primeiras décadas do século XIX. Por sua vez, estes dados colaboram com uma discussão teórica que há quase trinta anos vem rondando os ambientes acadêmicos das principais Universidades brasileiras, a saber: a forma pela qual a população escravas de Minas Gerais se reproduziu no século XIX. O trabalho de Roberto Borges Martins é o ponto de partida desta discussão ao mostrar no início da década de 1980 que Minas Gerais era uma das principais importadoras de mão-de-obra escrava ao longo do oitocentos, sendo, por sua vez, dona do maior contingente escravo do Brasil neste período.6  Francisco Vidal Luna e Wilson Cano estão entre os historiadores céticos em relação às idéias de Roberto Martins.7 Em linhas gerais, estes autores não acreditavam que a imensa população escrava existente em Minas no século XIX teria sido fruto das maciças importações de escravos. A partir de resultados de outros pesquisadores, Luna e Cano demonstraram que a situação socioeconômica de Minas após a derrocada do ouro em meados do século XVIII teria criado condições favoráveis para a “produção de escravos”, fato este que Martins teria subestimado em suas explanações. Sendo assim, para Luna e Cano a reprodução natural seria o principal responsável pela reiteração física dos escravos de Minas no século XIX e não o tráfico de escravos. A teoria destes autores ganhou ampla adesão na historiografia mineira, principalmente entre importantes estudiosos como Douglas Cole Libby e Laird Bergad que desenvolveram profundas pesquisas sobre a forma pela qual a população escrava de Minas se reiterou ao longo dos séculos.8 Dentre estes, Bergad foi quem se apresentou de forma categórica em relação à teoria corrente. A partir de uma vasta pesquisa realizada com fontes censitárias e cartorárias (sobretudo com inventários post-mortem), o autor procurou demonstrar ao longo de sua pesquisa que “o impressionante aumento demográfico dos escravos de Minas Gerais durante o século19 resultou em grande parte da reprodução natural, e não da importação da África por meio do comércio escravagista”.9 Sua convicção é tão forte nesta teoria que para o dito, não teria nenhum outro exemplo de qualquer sociedade escravagista de grande porte na América Latina e no Caribe onde este fenômeno tenha ocorrido.10 Eis assim o cenário no qual o presente trabalho se insere, onde as informações a serem expostas visam contribuir para a corrente discussão teórica em torno da população escrava de Minas. Para além da demonstração de números de ordem demográfica, este escrito pretende enriquecer este debate tendo como centro das atenções os indivíduos responsáveis pela movimentação das engrenagens do tráfico de escravos para Minas Gerais, embora o fio condutor deste texto seja o escravo. Para tanto, iremos num primeiro momento estabelecer o padrão de tropas conforme o número de escravos enviados em cada viagem, procurando perceber, deste modo, o grau de concentração do mercado de cativos entre a praça mercantil carioca e o território mineiro. Com base nestas constatações, passaremos, num segundo instante, ao estudo dos principais agentes envolvidos no tráfico de escravos para Minas Gerais. A partir de uma seleção, onde escolhemos os indivíduos que enviaram mais de 20 escravos por mais de uma vez, colocaremos em foco importantes negociantes de grosso trato da praça mercantil carioca que se envolveram em grandes despachos para o território mineiro. Finalmente, destacaremos neste trabalho algumas famílias importantes da Zona da Mata mineira que também se lançaram no tráfico de escravos. Esta região, entre 1809 e 1830, pertencia a Comarca do Rio das Mortes, que neste período se sobressaía como uma das mais ricas de Minas Gerais devido à agropecuária mercantil.11 Além disso, a Zona da Mata é um território conhecido pelo pioneirismo da implantação do café em terras mineiras – principal produto na pauta de exportação do Brasil no século XIX – se tornando a principal produtora da província em meados do oitocentos.12 Mais do que isto, devemos salientar que a região da Mata mineira nos primeiros decênios do século XIX teve uma grande influência do tráfico de escravos no crescimento da sua população cativa, onde o africano do sexo masculino e em idade adulta obteve o maior incremento em relação a população crioula. 13
...................................................................................................................................
........................................................................................................................
Parafraseando: Piquete-SP, espaço colonial se constitui comprovadamente em rotas dos caminhos terrestres que levavam a Minas, os quais eram bastante sedutores para negociantes de escravos no século XIX,  Neste caso em conformidade com o Mapa de Santos de 1776, a transposição da serra da Mantiqueira (Jaguamimbaba relativamente ao lado Paulista) era realizada pelo Alto da Serra, onde se deu a instalação do Registro de Itajubá, Hoje meia lua.

GUIA DA UNESCO - Una guía para la administración de sitios e itinerarios de memoria.

Ficha 22: Ruta de la libertad (A Rota da Liberdade), São Paulo, Brasil (A Rota da Liberdade), São Paulo, Brasil ■ ANTECEDENTES ■ ANTECED...