segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Turismo étnico, um nicho bilionário (Transcrição)


Podemos dizer que, devido, paradoxalmente, ao processo de globalização, a medida reacenderá no Brasil a criação de novas tendências mercadológicas, como o turismo étnico, que se tornou realidade em outras nações. Por sermos uma nação multirracial, (...)
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A recente decisão do presidente Fernando Henrique Cardoso de considerar o turismo um produto de exportação e a articulação do trade turístico para que o próximo governo crie o Ministério do Turismo trarão uma perspectiva alvissareira para o setor.
Podemos dizer que, devido, paradoxalmente, ao processo de globalização, a medida reacenderá no Brasil a criação de novas tendências mercadológicas, como o turismo étnico, que se tornou realidade em outras nações. Por sermos uma nação multirracial, essa segmentação turística - devido aos incontáveis benefícios que pode gerar para as políticas sociais de todo o País -, tem tudo para aumentar a receita do Rio de Janeiro e de outros estados. Resultante do contato direto entre grupos étnicos de países diferentes com o mesmo perfil antropológico, e gerador de fortes vínculos de amizade e solidariedade entre o grupo receptivo e o visitante, o turismo étnico não implica grandes investimentos. Em geral, o turista pode ficar em hotéis - sem perder contato direto com a cultura local - ou mesmo hospedar-se na casa de cidadãos com a mesma cultura que ele. Existem cerca de 75 milhões de afrodescendentes no Brasil (depois da Nigéria, o país com a maior população afro), e, no Rio de Janeiro, são aproximadamente cinco milhões de negros e pardos, produzindo produtos originais, que fascinam os visitantes de todas as etnias. No caso afro-brasileiro, por exemplo, onde este tipo de turismo já vem sendo praticado há bastante tempo - mas de forma ainda pouco convencional, como na Bahia e no Rio de Janeiro, através de redes montadas por negros brasileiros e afro-americanos - ele pode gerar a consolidação de um nicho de mercado superpotencial, pois, mexe em quase todos os setores do mercado turístico. Ou seja, ele pode gerar novos empregos, maximizar receitas públicas e privadas, melhorar a capacitação da mão-de-obra, potencializar o patrimônio histórico-cultural, redistribuir a renda e desenvolver áreas negras decadentes, como aconteceu com o Pelourinho, em Salvador, e o Bairro do Recife, em Pernambuco. Segundo a Organização Mundial de Turismo, o turismo étnico já é uma realidade em muitos lugares e é um segmento que têm tido rápido crescimento. O potencial mais notável deste tipo de turismo está relacionado ao mercado afro-americano. Os "black" dos EUA, que têm visitando muito o Rio de Janeiro e Salvador nos últimos anos, estão famintos por contato direto com as culturas negras brasileiras. Nos EUA, várias agências de viagens vêm oferecendo pacotes para festas afro, como o desfile das escolas de samba e a festa religiosa de Nossa Senhora da Boa Morte, uma irmandade de mulheres negras iniciadas no candomblé, em Cachoeira, na Bahia. Segundo a Travell Industry of America (TIA), cerca de 65% dos 35 milhões de negros dos EUA gastaram muito dinheiro com turismo, principalmente na América do Sul, Caribe e África, em 1994.
A National Tour Association in Kentucky diz que, em 1998, os afro-americanos dispunham de US$ 34 bilhões para gastar em viagens de lazer. Em 2002, este número saltou para mais US$ 54 bilhões. Segundo a Câmara de Comércio Afro-Americana, os negócios envolvendo negros nos EUA já movimentam US$ 600 bilhões, um dos dez maiores PIB do mundo.
Em 2005, de acordo com as projeções do censo norte-americano, os EUA terão um milhão de negros novos ricos, com renda anual de quase US$ 200 mil, querendo gastar em serviços politicamente corretos. Com este fabuloso nicho de mercado à vista, é necessário que as agências estatais de turismo e o trade atentem para investirem e capacitarem os empreendedores afro-brasileiros, pois são eles os detentores dos principais insumos que o afro-americano quer ter acesso e desfrutar: a cultura negra.
Neste caso, seria o encontro de dois gigantes para gerar o terceiro, ou seja, o gigantismo dos produtos afro-brasileiros e o gigantismo de consumo afro-americano.
O terceiro gigante seria a grande perspectiva de investimentos que os negros dos EUA podem fazer no Rio e no Brasil, como várias câmaras de comércio negras dos EUA vêm sinalizando desde 1999, quando 150 empresários "black" estiveram na Firjan, fazendo negócios e mantendo contato interétnico com empresários brancos e negros.
Em síntese, além de seu potencial de turismo receptivo-cultural, este mercado pode atrair capitais para a indústria brasileira, pois, como dissera, em 1999, no Rio, Harry Alford, presidente da Câmara de Comércio Afro-Americano, "A globalização fez a gente correr para oportunidades de negócios em todo o mundo, principalmente na África e na América do Sul". Mesmo sem estar ainda organizado, o mercado étnico já funciona informalmente no Rio de Janeiro, com alguns bares da orla sendo freqüentados pelos turistas negros em alta e baixa temporada. Muitos são levados para se deliciar com os pratos afro-cariocas em botecos especializados ou visitarem quilombos do litoral norte do estado.
Alguns deles chegam a fazer, segundo conversas reservadas de donos de casa de jóias de Copacabana - reduto dos turistas negros -, compras de pedras brasileiras em torno de US$ 40 mil. Para este de turismo funcionar corretamente, é necessário, em primeiro lugar, a capacitação de guias e empreendedores afro na língua inglesa.
No mesmo tom, devemos reformar e melhorar o acesso aos monumentos negros do estado, organizar as comunidades de quilombolas para esta nova realidade. Sem também um shopping de produtos afro, pouco vai fazer efeito. Enfim, propostas existem, é necessário que este tipo turismo seja levado a sério.
A atividade pode abrir caminho para novos e diversificados tipos de mercados étnicos. Por exemplo: a criação de feiras étnicas no âmbito do Mercosul ou a realização no Rio de Janeiro, de dois em dois anos, de congressos de investidores afro das Américas, Caribe e da África, como é o desejo da própria Conferência das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento (Unctad), e do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), que têm programas de desenvolvimento de comunidades de baixa renda, através de geração de negócios para pequenos empreendedores.




Carlos Nobre - Professor da PUC- Rio
Manoel Messias Vieira - Presidente do Instituto de Turismo Étnico e Gestão Empresarial (Iterge)
Fonte: Revista de Estudos Turisticos 9tran http://www.etur.com.br/conteudocompleto.asp?IDConteudo=764

GUIA DA UNESCO - Una guía para la administración de sitios e itinerarios de memoria.

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