quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

História (São Paulo) *Ana Carolina de Carvalho VIOTTI (Transcrição)

ANTONIL, André João.  Brazil at the Dawn of the Eighteenth Century . Tradução: Timothy J. Coates (completando uma tradução parcial iniciada por Charles R. Boxer). UMASS
– Dartmouth: Tagus Press, 2012, 246 p
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Desde meados do século XIX,  quando desperta de um hiato editorial de pouco menos de  um século melhor, passa a circular depois de ter sua destruição oficialmente  decretada –, a obra “Cultura e opulência do Brasil por suas drogas e minas” assinada pelo então “Anônimo Toscano”  (1711) tem suscitado muitas edições. A  aqui apresentada,  sob o título de  “Brazil at the Da wn of the  Eighteenth Century” , é de 2012 e traz a primeira versão em língua inglesa da obra, fruto do  empenho inicial do professor Charles Boxer e do professor Timothy J. Coates, que  finalizou o  projeto. O autor da obra, cuja identificação passou de “anônimo” a André João Antonil e, finalmente, a João Antonio Andreoni (1649-1716), um jesuíta italiano em atividade no Brasil, bem apresenta o assunto de sua empresa: a “cultura ” , tomada por ele como a atividade agrícola, e a “opulência” ou riquezas passíveis de uso pela Coroa nas terras austrais. Das riquezas, as que considerou principais: o açúcar da Bahia e de Pernambuco e a mineração recém - descoberta nos antigos Cataguazes  – as  Minas Gerais, no século XVIII  – , grandes alvos da atenção e dedicação do  inaciano, e a pecuária e o tabaco, aos quais reservou breves capítulos. O trabalho de Antonil é demasiado detalhado: há, por exemplo, no capítulo intitulado “Sumário de tudo que é normalmente exportado anualmente do Brasil para Portugal e seu valor” (ANTONIL, 2012, p.  207), a demonstração “do bem que o Brasil propicia ao reino de Portugal”, colocando um sumário do que apresentara nas outras partes do texto, inclusive com indicações numéricas, de onde conclui que  “listando  todas as informações juntas, não deixará de atrair mais atenção” (ANTONIL, 2012, p. 207), àquilo que optara por tratar em separado.  Outros  tantos exemplos poderiam seguir.  A obra não conheceu, porém, sucesso em seu tempo. Pouco depois de ser dada à prensa, recebeu ordem régia de que a recolhessem “logo e não se deixe correr ” e, mesmo tendo passado pelo crivo censor dos peninsulares, foi então julgado que suas licenças haviam sido “dadas sem a ponderação que pede um negócio público”.1 Fosse porque “o livro ensinava o segredo do Brasil aos brasileiros, mostrando toda a sua possança, justificando todas as suas pretensões, esclarecendo toda a sua grandeza” (ABREU, 1969,  p 196), pela possibilidade de ter sido apreciada apenas pelo  Tribunal do Santo Ofício (SILVA, 2011, p. 53), por ter revelado o caminho do ouro aos estrangeiros (SCHWARTZ, 2012, p. XI),  pela conjuntura política de Portugal naquele início de século (LEITE, VII, p. 111-113)ou por nenhuma dessas razões, o fato é que apenas sete exemplares remanesceram da tentativa de extirpe.Após a “redescoberta”, em 1800, daquele tex.to inacessível, as edições, parciais, alteradas ou mais verossímeis, passaram surgir e, com elas, novas formas de período alvejado pelo irmão Andreoni.
 Todos esses dados podem não configurar novidade  à queles que dominam o português,  tanto se consideramos  o volume de reedições  quanto , especialmente,  quando se têm à  mão exemplares bastante completos e precedidos de estudos exaustivos sob re o período e a obra, como o  de Andrée Mansuy Diniz Silva – publicado na França e  em  Portugal (2001), reeditado pela Edusp /São Paulo (2007) e tida como “versão definitiva” do texto em francês por Stuart Schwartz. Esse leitor pode acessar com facilidade, ainda,  reflexões de autores de relevo, especificamente  sobre  o jesuíta e sua “Cultura e opulência” ou que o abordam para dar as cores do Brasil Setecentista,  como Capistriano de Abreu, Affonso E. Taunay,  Sérgio Buarque de Holanda, entre tantos outros. Há que se considerar,  contudo, que mesmo com a  menção  a Antonil em importantes  estudos  estrangeiros,  o texto integral ainda se mantinha fora do alcance de seus entusiastas não - lusófonos.  A primeira das edições na língua de Shakespeare, nesse sentido,  procura  trazer àqueles pesquisadores anglófonos  o texto completo do jesuíta do Setecentos.  Precedida de um breve  prefácio  do citado Professor Schwartz e uma igualmente breve introdução do tradutor final,  Professor Coates,  percebe - se que a preocupação de seus organizadores não rezava em rechear a edição com notas explicativas ou com um estudo mais detido sobre o conteúdo do documento. Não  se caracteriza, igualmente, como uma versão fac-símile: é, pois, uma tradução que busca divulgar o texto do irmão da Companhia e, a partir das alterações que tornaram, segundo Coates, o texto  inteligível ao inglês, fomentar outras pesquisas. A divisão dos capítulos e subcapítulos presente no original de 1711 foi integralmente mantida, assim como os termos que se mostraram não traduzíveis como tostões ou mascavos batidos  (ANTONIL, 2012, p.  112). Apesar dessa tentativa de manter,  com maior rigor possível, o texto pautado no original,  a alteração do título salta aos olhos e acaba  por  alter ar a intenção do autor primeiro; c omo era então corrente, Antonil oferece quase um resumo  da obra no título: “Cultura e opulência do Brasil por suas  drogas, e minas; com várias notícias curiosas do modo de fazer o açúcar; plantar e beneficiar o tabaco; tirar ouro das minas, e descobrir as da prata; e dos grandes emolumentos, que esta conquista da América Meridional dá  ao Rei no de Portugal com estes, e outros gêneros, e contratos reais”. O novo batismo do texto, algo como “O Brasil na aurora do século dezoito”, em tradução livre,  acaba por excluir aquilo que pareceu tão caro ao inaciano, a saber: enumerar com cuidado quais assuntos o leitor  poderia encontrar no volume, embora ressalte  que esse mesmo volume, para além de falar dos quatro itens  elencados pelo italiano , é um panorama sobre aquele Brasil.  Se é verdade que a Coroa portuguesa viu nas linhas do jesuíta um verdadeiro mapa para as  minas de ouro do Brasil, não com menor riqueza o historiador consegue vislumbrá-la. As  prescrições e indicações de técnicas, caminhos e assuntos vinculados à produção, beneficiamento e comércio de gêneros aqui encontrados podem ser lidas como um verdadeiro panorama das relações  sociais de outrora: através das descrições do funcionamento do engenho e dos centros mineradores,  acabava por imprimir sua ótica não só da economia, mas das gentes do Brasil. Em português, francês ou inglês , a obra permanece  como ponto de apoio e referência incontornável para os que se debruçam sobre a história econômica, do cotidiano, do trabalho, dos escravos...
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Fonte:http://www.scielo.br/pdf/his/v32n1/25.pdf
*Doutoranda em História e Cultura Social na Universidade Estadual Paulista (UNESP – SP– Brasil). Historiógrafa do Centro de Documentação e Apoio à Pesquisa História  (CEDAPH)  da mesma Universidade. Contato

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