segunda-feira, 2 de maio de 2016

1.º Parte - De “Paradoro de estalage” no caminho para as Minas do Pitangui à Cidade do Pará (1877) - Artigo de Maria da Graça Menezes Mourão Especialista em História e Cultura de Minas pela PUC-Minas (Transcrição)

Introdução
O movimento que avançou além do Tietê e do Paraíba ou como usualmente diziam os bandeirantes no final do século XVII, para os sertões além do Taubaté, era o mesmo que deu origem aos núcleos urbanos das cidades paulistas de Pindamonhangaba, Guaratinguetá e Jequeri. Ele perdurou na direção Centro-Oeste do sertão desconhecido durante todo aquele período. Depois de descoberta a zona aurífera dos ribeirões do Carmo (Mariana), do Tripuí (Vila Rica) e Sabará, os homens continuaram desbravando os matos à frente, tanto à procura de ouro, diamantes e pedras preciosas, como abrindo picadas, fundando povoados, aproximando de outros existentes e surgidos no Alto São Francisco. Aqueles que se estabeleciam à margem direita do rio eram chamados de baianos e os da esquerda de pernambucanos, mesmo sendo portugueses ou ascendentes de paulistas. O resultado dessa movimentação foi o surgimento do famoso Caminho dos Currais. O território dos matos gerais, depois das minas gerais, se formou entre o Rio Grande e o Rio Verde; este, próximo a Pitangui.
Para introduzir o tema proposto – “De Paradoro de estalage no caminho para as Minas do Pitangui à Cidade do Pará (1877)” – vamos caminhar pela rota traçada por quem escreveu parte da história do país, ou seja, os bandeirantes, plagiando o autor do editorial do livro “Cartografia da conquista do território das Minas” de Antônio Gilberto da Costa.
Porém, primeiro nos detemos para explicar que na Mata do Cego – referência da trilha do Caminho do Pitangui citada no mapa do Padre Cocleo – se desenvolveu dois núcleos, o do Paciência, onde José Nunes de Camilo Lélis, além de minerar fazia do seu rancho um paradouro de estalage[1] e o do Patafufo onde também Manuel Gomes Baptista tinha seu arranchadouro.
Os bandeirantes eram descendentes dos primeiros do povoado fundado pelos jesuítas, o que se formara à volta do Colégio de São Paulo e, por isso, denominados de paulistas, nome usado pela primeira vez pelo Conde de Assumar em viagem às Minas. Analisando as condições de vida existentes nesse arraial durante os séculos dezesseis e dezessete, pode-se afirmar que os seus moradores não podiam contar com as possibilidades de enriquecimento oferecidas pelo empreendimento colonial na forma como se efetivou no Nordeste com a cana de açúcar. Era preciso procurar outra forma de ganho ou, pelo menos, de mera sobrevivência.[2] E por isso, acabaram sendo os protagonistas da empresa que se denominou bandeira. Para Lima Júnior, foram os jesuítas os iniciadores do empreendimento, com as expedições denominadas entradas de resgate ou tropas de resgate, cujo fim era libertar os índios prisioneiros de outra tribo. Tem crédito essa afirmativa, pois o nome bandeira, nitidamente espanhol, explica-se pela nacionalidade dos primeiros missionários inacianos. Mas, o autor também nos lembra que a ordenança de D. Sebastião, rei de Portugal em 1563, era uma Bandeira em forma de milícia rural, uma instituição militar portuguesa muito antiga, do tempo da Idade Média.[3] Nessa mesma linha de esclarecimentos se encontra a conceituação de Calógeras:
 [...] a Bandeira já não era somente o aparelho econômico de aliciamento brutal e cruel de trabalhadores baratos. [Era] também, a expedição guerreira que conquistaria terras, alongando as fronteiras além da linha de Tordesilhas no Brasil, tratado esse que delimitou as possessões entre Espanha e Portugal. A Bandeira organizou-se como terços militares e pelo movimento das massas populares, os escravos, os índios e negros, [e essa organização] espalhou-se pelo sertão constituindo feitorias e gerando povoados.[4]
Explicações a parte, o Bandeirismo se tornou tão profissionalizante que o aprender fazer fazendo foi exercitado ao pé da letra. Adolescentes de doze anos eram levados para o aprendizado in loco no sertão. A bandeira se deslocava carregando consigo objetos de uso pessoal, animais domésticos, alimentos e sementes. Certo tempo depois, na época das chuvas, os bandeirantes detinham-se e cortavam-se faxinas[5] e amassava-se o barro para os ranchos de pau a pique.

A rancharia desalinhada apontava entre os matagais mal roçados. As sementes iam para o seio da terra virgem, os cães e as aves reproduziam-se à solta, bem como outros animais úteis. Aprenderam com os índios o uso do aipim, da mandioca. Sem a farinha de mandioca, alimento fácil de transportar e conservar, seriam enormes as dificuldades alimentares dos bandeirantes, como também de soldados e marinheiros no Brasil Colônia. A farinha transformou-se na primeira ração de reserva das tropas. Tão logo chegava a estação própria da colheita e, feitos os armazenamentos nos lombos dos índios, a Bandeira reiniciava a marcha, deixando para trás um arraial, em que permaneciam alguns bandeirantes que não queriam ou não podiam seguir adiante. Eram as feitorias na linguagem militar.[6]
Eram caminhadas de meses a fio com roças que surgiam para desenvolverem-se como arraiais ou desaparecerem se o ouro rareava. Os homens embrenhavam-se à procura do seu remédio, isto é, da solução para suas preocupações básicas, dentre elas, lugar pra criar família longe da ameaça constante da Inquisição. Preavam[7] índios reféns de guerra de nações que administravam, transformando-os em escravos para o trabalho na lavoura e para o comércio e, conseqüentemente, para encontrar riquezas minerais. A eles eram dados vários nomes, como gentio da terra, carijós, tapanhunos...
Criada como empresa para solucionar a situação de pobreza dos paulistas, a bandeira tornou-se fenômeno social, [cujo] grupo social se deslocou de São Paulo em várias direções, [...] principalmente rumo a oeste, conduzido por um chefe organizado militarmente e com governo próprio, em função econômica e de povoamento, [resultando] a atual silhueta geográfica do Brasil.[8] Para diminuir o imprevisto da entrada, os mestres de campo antecediam à tropa da bandeira, como Matias Cardoso, conhecedor do sertão Centro-Oeste, nas terras sanfranciscanas. Ele partiu de São Paulo em 1672, antes da saída do grupo de comando de Fernão Dias Pais, a fim de plantar roça de milho, feijão e mandioca e criar animais, à espera do grosso do contingente, garantindo sua subsistência na Passagem do Paraopeba, hoje Belo Vale.
A partir da análise da função de Matias Cardoso infere-se que a manutenção de um arraial através dos mercadores ou passagem de viandantes na Minas Colonial, em parte sempre foi devida aos caminhos que a ela levavam, já que é por meio deles que se desenvolveram os fluxos migratórios, as trocas de mercadorias, entre outros fatores materiais e imateriais. Condições tão necessárias para o surgimento, crescimento ou decadência de um núcleo urbano! 

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Fonte: http://migre.me/tFInz
 "Depois de descoberta a zona aurífera dos ribeirões do Carmo (Mariana), do Tripuí (Vila Rica) e Sabará, os homens continuaram desbravando os matos à frente,...." "também denominado de Caminho do Pitangui o destino de quem vinha pelo Caminho dos “Corrais”[20], no seguimento do Caminho Geral do Sertão. "[21]  Desta feita, este ultimo caminho, também conhecido como caminho dos paulistas, Caminho Velho, Estrada Real do Sertão,  possiblita identificar  no ponto de transposição da Serra da Mantiqueira (Serra de Jaguamimbaba) a toponímia Alto da Serra, espaço colnial de Piquete-SP;  Garganta do Sapucai; desfiladeiro de Itajubá; Meia Lua; Bairro Boa Bista;  Caminho de Fernão Dias, cujo filho, Bento Rodrigues Caldeira, estabeleceu-se com roças na região do Guaipacaré (Lorena-SP).  Parafraseando, não restando dúvida que, para diminuir o imprevisto da entrada da bandeira de Fernão Dias, os mestres de campo que antecediam à tropa da bandeira, como Matias Cardoso, conhecedor do sertão, igualmente percorreu este caminho, avançando para o  Centro-Oeste, nas terras sanfranciscanas. 

 
 "O resultado dessa movimentação foi o surgimento do famoso Caminho dos Currais. O território dos matos gerais, depois das minas gerais, se formou entre o Rio Grande e o Rio Verde; este, próximo a Pitangui."

GUIA DA UNESCO - Una guía para la administración de sitios e itinerarios de memoria.

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