domingo, 16 de outubro de 2016

A riqueza que ficou pelo caminho (Transcrição)

Caminho do Ouro de Paraty-RJ - Via Registro (Piquete-SP)
As estradas reais, antigos acessos a centros produtores de ouro, tornam-se roteiros turísticos
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Braços para o trabalho 
Os caminhos mais antigos para as terras que viriam a ser conhecidas como as "minas gerais" surgiram a partir de motivação diversa à descoberta de metais preciosos. No final do século 17, a vila de São Paulo de Piratininga não passava de um pobre povoado com cerca de 3 mil moradores, praticamente isolado pela distância de milhares de quilômetros das regiões canavieiras do nordeste, que constituíam os centros econômicos de interesse para a Coroa portuguesa. Sua localização geográfica, porém, facilitava a exploração do território. O planalto oferecia passagens naturais para o interior. Uma delas, pelo vale do Paraíba, ao sopé da serra da Mantiqueira, de onde se seguia para Minas Gerais, vale do São Francisco, norte e nordeste. A configuração do relevo e a presença do rio Tietê correndo em direção ao interior permitiram também aos paulistas atingir os territórios de Goiás e Mato Grosso, onde futuramente se estabeleceriam outras áreas de mineração. No entanto, a barreira íngreme representada pela serra do Mar, que os pioneiros venciam por meio de antigas trilhas utilizadas pelos indígenas, dificultava a relação dos moradores do planalto com o litoral, levando-os a mirar o sertão. 
Vivendo em uma economia de subsistência sustentada por roças e fazendas, os moradores de São Paulo foram buscar no índio braços para o trabalho, já que não dispunham de recursos para a compra de escravos africanos. Inicialmente os nativos eram capturados nas cercanias da vila de São Paulo, mas, com a escassez, passaram a ser procurados e aprisionados em locais cada vez mais distantes. Com o tempo, a mão-de-obra indígena se tornou mercadoria traficada para outras partes do Brasil, como as zonas de produção de açúcar da Bahia e de Pernambuco. Como conta a historiadora Myriam Ellis, em História Geral da Civilização Brasileira – A Época Colonial, o tráfico sofreu um grande aumento na primeira metade do século 17, com os ataques às missões jesuíticas localizadas na bacia cisplatina, "onde capturaram os bandeirantes grandes contingentes ameríndios já aculturados e aptos aos trabalhos braçais em geral". 
A partir da segunda metade do século 17, a preação de índios entrou em declínio. Um dos motivos foi a diminuição da atividade açucareira no nordeste, que causou redução no uso do trabalho escravo. Com isso, a Coroa portuguesa voltou seu interesse para outras possíveis fontes de renda, entre elas a exploração de metais preciosos, cuja busca já havia sido iniciada nos primeiros tempos do Brasil Colônia. Com a nova situação, os bandeirantes foram impelidos a percorrer o território com o objetivo de encontrar riquezas. Miryam Ellis diz, no mesmo ensaio, que essas entradas foram "estimuladas por cartas régias enviadas pela Coroa portuguesa aos paulistas. Prometiam prêmios e honrarias aos sertanistas que descobrissem minerais preciosos, incentivando-os à aventura". 
Muitas foram as entradas organizadas pelos paulistas, que se embrenharam pelo sertão mineiro, goiano, mato-grossense, paraguaio, alcançando até os contrafortes dos Andes e o Peru. A expedição mais famosa é a de Fernão Dias Pais em busca de esmeraldas. A viagem, repleta de reveses e atos heróicos típicos das grandes aventuras, teve início em 1674 e foi acompanhada por cerca de 700 homens, entre índios, mamelucos e brancos. Durante sete anos, a bandeira percorreu um longo itinerário até chegar à lagoa de Vapabuçu, na bacia do rio Doce, local que, no imaginário dos exploradores, guardava grandes reservas de riquezas. Ao longo do caminho, até então desconhecido do colonizador, que incluía as atuais regiões de Sabará, Serro e a serra do Espinhaço, em Minas Gerais, o bandeirante estabeleceu, para o abastecimento da tropa, roças que se tornariam arraiais, vilas e cidades.
Segundo ainda o livro de Márcio Santos, o trajeto da expedição de Fernão Dias deu origem ao que seria conhecido como Caminho Geral do Sertão. "Com a descoberta de ouro nas bacias do rio das Velhas, do rio Doce e do rio das Mortes, tornou-se esse caminho utilizado pelas levas de aventureiros que acorriam à região das minas a partir dos núcleos urbanos paulistas."
O itinerário para as minas gerais sofreria alterações com a intensificação do trânsito de pessoas e mercadorias a partir do Rio de Janeiro, porto que suplantou o de Santos na exportação de ouro. Dessa cidade, seguia-se pela baía de Sepetiba, de onde, por mar, alcançava-se Parati. Daí, novamente por terra, subia-se a serra da Bocaina até Taubaté, onde começava o Caminho Geral do Sertão. O encontro dos dois caminhos seria transferido posteriormente para Guaratinguetá por encurtar o trajeto. Para evitar o trecho marítimo, que expunha as embarcações a ataques de piratas, foi aberta uma via alternativa terrestre entre o Rio de Janeiro e o vale do Paraíba. Esse percurso todo entre as minas e o Rio, registrado desde a primeira década do século 18, seria conhecido anos depois como Caminho Velho. 
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Sopé da serra da Mantiqueira, Cinco Serras Altas do Roteiro de Andre João Antonil, inicio do Vale do Embaú, espaço colonial de Piquete-SP
 Fonte: Problemas Brasileiro  http://migre.me/vfKeR HENRIQUE OSTRONOFF

GUIA DA UNESCO - Una guía para la administración de sitios e itinerarios de memoria.

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