A interferência da mitografia edénica no processo de exploração da América hispânica e portuguesa constitui a temática central da obra de Sérgio Buarque de Holanda, Visão do Paraíso. Os motivos edênicos no descobrimento e colonização do Brasil Este estudo arrojado e pioneiro é, no entanto, passível de aprofundamento e de revisão crítica no que toca à apropriação, circularidade e reversibilidade do paradigma simbólico utilizado para "baptizar" o Novo Mundo. Recorrendo a um vasto manancial de fontes: literárias, cosmográficas e teológicas, Buarque de Holanda examina as diferentes modalidades de representação e projecção das ideias e crenças dos primeiros inventores do continente americano, com o objectivo de demonstrar o efeito de refracção provocado pelo deslocamento do imaginário europeu no espaço atlântico. Por esta via, não afasta essa espécie de ilusão original dos fundamentos remotos da História do Brasil, embora reconheça que: "O gosto da maravilha e do mistério, quase inseparável da literatura de viagens na era dos grandes descobrimentos marítimos, ocupa um espaço singularmente reduzido nos escritos quinhentistas dos portugueses sobre o Novo Mundo" 1 . O comedimento assinalado não decorre apenas da estranheza ou da resistência à novidade que a longa experiência de contacto com outros povos e lugares, igualmente estranhos e exóticos, proporciona va aos navegadores portugueses, é antes o resultado do desfasamento espacial gerado pela convicção de que os sinais sobrenaturais deixados pelo rasto da criação divina se concentravam noutra direcção, isto é, a Oriente e não a Ocidente. Só a índia ou as regiões adjacentes ao Gion bíblico (Génesis, II, 13) - um dos quatro rios cujo curso, identificado com o Nilo, derivava do Paraíso terrestre - podiam abrir caminho, de acordo com a cosmografia cristão ocidental, à primitiva morada do homem. No quadro da regularidade de uma certa visão do mundo, a fantástica demanda lusa do maravilhoso cristão, ao reforçar o fascínio pelo Oriente, vinha responder ao desejo de identificação de uma herança sobrenatural comum ao Ocidente. A este respeito, é esclarecedor o investimento memorial centrado na celebração da chegada de Vasco da Gama à índia, na medida em que os símbolos que objectivam, no discurso das artes e da literatura, a mensagem ecuménica e messiânica da ideologia imperial da dinastia de Avis-Beja, repetem os signos da origem da cristandade e do reino no espaço físico do império 2 . No âmbito desta identidade da memória, D. Manuel, recorrendo ao bom ofício dos homens de letras, procura tornar patente, através da cronistica, da arquitectura, da escultura e da pintura, o universo mítico que herda, instaurando um "tempo monumental" (P Ricoeur), de recorte legitimador, que, simbolicamente, principia e termina a Oriente.
Fonte: * Professora auxiliar da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra e investigadora do Centro de História da Sociedade e da Cultura http://ler.letras.up.pt/uploads/ficheiros/2830.pdf Piquete-SP, Lugar de Memória: "Inventário dos Lugares de Memória do Tráfico Atlântico de Escravos e da História dos Africanos Escravizados no Brasil elaborado pelo Comitê Científico Internacional do Projeto da UNESCO “Rota do Escravo: Resistência, Herança e Liberdade”. Relativamente ao Núcleo Embrião de Piquete-SP, foram contemplados; "Caminho do Ouro", "Jongo" e "Irmandades", estes dois últimos, na condição de patrimônio imaterial.
GUIA DA UNESCO - Una guía para la administración de sitios e itinerarios de memoria.
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