Entretanto, ainda não ficou esclarecido o verdadeiro motivo do abandono da antiga Trilha
dos Tupiniquins. Por que a teria interditado a ordem tão peremptória de Tomé de Souza? Aqui
surge outro enigma dos primórdios da colonização da América do Sul.
Desde o início da colonização do Sul do Brasil houve relatos de que os indígenas
possuíam caminhos demarcados, apenas conhecidos pelos iniciados e que, cruzando matas,
campos, rios e serras, ligavam os oceanos Atlântico e o Pacífico. A corrente mais incisiva
descreve um caminho que partindo de São Vicente, ou de Cananéia mais abaixo, e se estenderia
até o Peru, atravessando os atuais Estados de São Paulo e Paraná, o Paraguai e a Bolívia, num
percurso de mais de três mil quilômetros. Este caminho teria, ainda, ramais que partiam do litoral
dos atuais Estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul, formando uma rede de mais de cinco
mil quilômetros (há referências, também, a trilhas semelhantes nas regiões norte e nordeste do
Brasil).
Muitos autores referem-se a esses caminhos indígenas pelo termo Peabiru, traduzindo-o
como “caminho da montanha do sol” e outros como “caminho do Peru”. Para a época, seriam
caminhos de grande facilidade de trafego e de rápida comunicação entre seus mais longínquos
pontos. Há a suposição de que os Incas o construíram (ou teriam ensinado a técnica a outros
indígenas). Atribui-se a Guilherme Schuch (1825-1908), o Barão de Capanema6
, engenheiro e
naturalista de grande reputação, a identificação da técnica construtiva desses caminhos com a dos
Incas.
O historiador paulista Hernani Donato7
, levantou o trecho “Botucatu” da trilha, a partir de
Sorocaba e seguindo o curso do rio Paranapanema em direção ao Paraná. Uma equipe de
pesquisa da Universidade de São Paulo teria proposto o levantamento da trilha no planalto de
Piratininga (não há relato de resultados, talvez devido às dificuldades de pesquisa numa região
em que a desenfreada urbanização pode ter apagado quaisquer vestígios). Desde 1970, diversas
equipes de pesquisadores de universidades paranaenses têm se dedicado ao levantamento e
estudo de trechos da trilha.no território daquele estado, ao longo do curso dos rios Tibagi, Ivaí,
Piqueri e Iguaçu. Estas pesquisas apresentaram alguns resultados, como a descoberta de trechos
conservados da antiga trilha – infelizmente logo em seguida destruídos por máquinas agrícolas –
e a coleta de diversas peças arqueológicas que remontariam à época dos Incas.
Fonte:O autor é professor e pesquisador universitário, estudioso da colonização, povoamento e desenvolvimento posterior
do Estado de São Paulo. http://migre.me/vvo5C