"A análise de crônicas de viajantes pode impor alguns riscos,
como o conflito de datas, quando as ocorrências da viagem podem
ser encontradas em outros relatos, o que leva a dúvidas se postas
de maneira diferente; a mentalidade, ou seja, quem escreveu o
relato, se foi de próprio punho ou ditado; o meio social, com relação
à escrita, se procedeu no próprio território de visita, prospecção
(neste caso, a colônia portuguesa), ou se foi escrito na Europa. E,
se escrito na Europa, outros fatores incidem, como a possibilidade
de ser utilizado como instrumento de governabilidade, como será
discutido ao longo do artigo.
Esses pontos levam os pesquisadores a uma série de
questionamentos que não são atuais. No século XIX, com
Capistrano de Abreu, há a crítica sobre a veracidade ou não da
crônica do marinheiro de Cavendish; já no século XX, Teodoro
Sampaio defende um estudo mais aprofundado da narrativa de
Knivet, afirmando que a nomenclatura presente na obra não a
qualifica como um documento importante para a compreensão da
história colonial no final do primeiro século da conquista.
[...] quando assegura ter visto uma sereia, somados a alguns
problemas de encadeamento cronológico e de orientação geográfica,
entre outras pequenas estranhezas que este texto quinhentista nos
traz, fizeram Capistrano de Abreu afirmar que o livro de Knivet é “um
misto de observação, de credulidade, quiçá de mendacidade ou
apoucada inteligência”. Contra esse juízo, Teodoro Sampaio
sustenta que a narrativa de Knivet não foi estudada “por ser tachada
de inverídica, confusa ou mentirosa”, uma avaliação injusta, pois
segundo ele, Knivet redigiu “um documento de não pequeno valor
para a nossa história do primeiro século da conquista”. Cabe ao leitor
saber que partido tomar (KNIVET, 2007, p. 24)." (Transcrição) - Fonte: A VIAGEM DO CORSÁRIO INGLÊS ANTHONY KNIVET
AO MAR DO SUL E SUA PASSAGEM PELO VALE
DO RIO PARAÍBA (1591-1597)1
GIOVANNA LOUISE NUNES* link http://migre.me/vCmuP
...............................................................................................................................................................
CONTRAPONTO: Ou seja, não estamos falando de mundos que se cruzam, visto na perspectiva da nova História Cultural. Não podemos afirmar que, o que contrasta, (visão de mundo), ao mesmo tempo não se complementa. (grifos meus)
...........................................................................................................................
"O encontro entre culturas diferentes sempre foi marcado por grandes conflitos. Os povos acabam entrando em atrito por tentarem impor aos oponentes a sua forma muito específica e peculiar de ver o mundo, pouco se importando com o que os outros pensam a respeito dos mesmos assuntos. Quando a relação é temperada por ingredientes que tornam o encontro ainda mais "caliente", como minérios valiosos, terras férteis e religião, podem ter certeza que as coisas ficam ainda mais complicadas.
Se pararmos e pensarmos a respeito da chegada dos europeus na América perceberemos que todos os aspectos ponderados no início do texto estiveram presentes nos contatos que se estabeleceram entre os nativos das Américas e os conquistadores (portugueses, espanhóis, ingleses, franceses ou holandeses). A mentalidade européia do período (séculos XV e XVI) baseava-se principalmente no mercantilismo e, as Américas representavam para os europeus, que estavam envolvidos no processo de expansão marítima, a possibilidade de superar as dificuldades encontradas para o estabelecimento do comércio de especiarias com o Oriente, até então monopolizado por árabes e italianos (no que tange as rotas do Mediterrâneo).
Os europeus tinham sede de conquistas, necessitavam de ouro e prata para rechear os cofres das monarquias recém estabelecidas, diziam querer propagar a fé cristã através de suas caravelas e sonhavam com o surgimento de oportunidades comerciais muito enriquecedoras em seus horizontes.
Os índios americanos viviam próximos da natureza, em muitos casos desprovidos de qualquer senso de posse, distanciados da idéia de que ouro e prata enriqueceriam suas comunidades quando transformados em moedas, cultuando em suas preces o frescor das límpidas águas, o alimento oferecido pelo solo e a enorme variedade de animais que podiam encontrar nas florestas. Diferentes visões do mundo. Propostas ainda mais diversas quanto ao futuro esperado. Os índios vislumbravam o encontro com os deuses e o estabelecimento da paz e da prosperidade. Os europeus desejavam encontrar as cidades de telhados de ouro descritas por Marco Polo em suas anotações sobre as viagens que fez a Cipaio e Cipango (China e Japão), o tão sonhado eldorado. Pensavam ao longo do caminho no que teriam que fazer para derreter tais telhados..." (Transcrição) - Fonte: planeta Cinema na Educação - Caminho para El Dorado - Mundos que se cruzam por João Luís de Almeida Machado é consultor em Educação e Inovação, Doutor e Mestre em Educação, historiador, pesquisador e escritor. link http://migre.me/vCnfw