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As mais belas páginas sobre a peculiar cultura dos sertanistas foram escritas por Sérgio Buarque de Holanda, que identificou nela o princípio da fronteira, entendida como “fronteira entre paisagens, populações, hábitos, instituições, técnicas, até idiomas heterogêneos que aqui se defrontavam, ora a esbater-se para deixar lugar à formação de produtos mistos ou simbióticos, ora a afirmarse ao menos enquanto não a superasse a vitória final dos elementos que se tivessem revelado mais ativos, mais robustos ou melhor equipados.”10 Em fins do século XVII, os paulistas haviam acumulado um sólido e inigualável repertório de saberes sobre a natureza, que os capacitava a extrair dela todo o necessário à vida, desde a subsistência até a farmacopéia. Em suas correrias pelos sertões, haviam aprendido a despender uma grande parte do tempo ao que chamavam de “empregos necessários (...) para o alimento e conservação da vida.”11 Antonil também observou que, em vez de caminhar de sol a sol, os paulistas o faziam até ao meio dia, quando então se arranchavam “como para terem tempo de descansar e buscar alguma caça ou peixe aonde o há, mel de pau e outro qualquer mantimento.”12 Disso fazia parte o plantio de roças de milho, mandioca e feijão, e a criação de aves e animais ao longo dos caminhos, o que era feito por uma parte da tropa, encarregada de seguir àfrente da expedição, garantindo assim a subsistência de todos. A estratégia previdente dos sertanistas foi, ainda no século XVII, incorporada ao arsenal dos saberes e práticas das expedições oficiais, pois no Regimento dado aD. Rodrigo de Castelo Branco, em 1679, consta, em seu capítulo primeiro,a seguinte recomendação: “toda a pessoa de qualquer qualidade que seja, que for ao sertão a descobrimentos, será obrigada a levar milho, e feijão, e mandioca, para poder fazer plantas e deixa-las plantadas, porque com esta diligência se poderá penetrar os sertões, que sem isso é impossível.”13 Tal costume implicava cálculos sofisticados quanto à época mais indicada para o plantio e quanto aos locais em que as roças deveriam ser plantadas - afinal, um erro dessa natureza podia comprometer o sucesso de toda uma expedição, jogando por terra o alto investimento feito nela.
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Nota: Eis a transcrição do trecho do artigo que nos remete a uma verdadeira Epopeia:"Antigo Testamento – que melhor se prestaram à identificação da natureza dos sertões: a célebre passagem em que Antonil compara as freguesias móveis das Minas com os filhos de Israel no deserto é reveladora.32 Como o deserto, transformado em floresta no imaginário medieval, a natureza mineira se apresentava como cenário de aflições e provações, o palco de uma experiência marcada pela fome e pelo sofrimento".pág 12
Por que razão, enquanto comunidade, temos sido privados pela omissão da academia, quanto a constituir o Núcleo Embrião de Piquete, um histórico e verdadeiro espaço de memória, parte da logística de um "arsenal de técnicas destinadas à sobrevivêcia....das quais fazia parte o plantio antecipado de cereais, em nosso caso as roças de Bento Rodrigues, no sertão dos índios bravos (grifo meu)? Por outro lado, se; "Nos escritos de orientação pró-paulistas, os sertanistas são apresentados como homens dotados de excepcional bravura e coragem, capazes de suportar os mais terríveis trabalhos e as fadigas, sem jamais se abaterem, mesmo sob a ação da fome". Com absoluta certeza entre esses estava o povo índio e negro daquelas paragens, tratando-se de uma sobrevivência digna de reconhecimento heróico, sabido que a crueldade da escravidão, "foi incapaz de atingir a sua força vital intenra", parafraseando, os tambores nunca se calaram!
FAROFA DA MAZÉ
Foto: Iça, consumo de hábito indigena, estava entre as imundisses consumidas no Sertão da fome, segundo os Portugueses na época. Hoje a iguaria acupa um espaço no Caderno de Receitas de Olivier Anquier.(Fonte: http://migre.me/5AREd)
FAROFA DA MAZÉ