domingo, 28 de agosto de 2011

Transcrição - Parte 2 : A viagem de um magistrado: Caetano da Costa Matoso a caminho de Minas Gerais em 1749 - Laura de Mello e Souza Universidade de São Paulo -

4. O viajante:
Costa Matoso difere de outros viajantes por quase não falar da natureza, ou fazê-Ia de forma breve e lacônica. Seu olhar curioso capta instantâneos do que vê, privilegiando pessoas e situações concretas, anotando rendimentos e despesas da Coroa. Registra invariavelmente a rotina da jornada: as partidas sempre entre cinco e seis da manhã; a's tardes quentes, impróprias para viajar, entrecortadas por relâmpagos, trovoadas e fortes pancadas de chuva; os cavalos e bestas patinando na lama, cedendo ao peso das cargas ou dos cavaleiros. Anota cada pouso por que passa ou onde pernoita, numa meticulosidade e aplicação de cartógrafo. Locomove-se com bússola, dando sempre a direção dos trajetos. Seu relato indica um homem prático, atento aos aspectos concretos da vida, nada afeito a divagações.
A mata virgem que cobria a serra do Mar e seguia por sobre a Mantiqueira para rarear nos Campos Gerais foi objeto da admiração de muitos viajantes, antes e depois do ouvidor. A ele, parece que só causou incômodo. As descrições das cavalgadas mata adentro soam claustrofóbicas:
"assim continuava sempre o caminho todo fechado de um e outro lado, e quando não era copado, ao menos era quase inacessível ao sol, e para se ver o céu se precisa de se levantar a cabeça na muita altura das árvores"20.
Saudava os morros descobertos, apesar do calor apertar na ausência da cobertura vegetal densa:
"contudo vinhajá com algum desafogo, vendo que respirava e se estendiam mais ao longe os objetos da vista, deixando aquele afogado e melancólico caminho em que em dez dias não via outra coisa senão o mato e árvores imediatas a mim"21.
Homem afeito a controlar a paisagem com os olhos, esquadrinhando as distâncias para melhor avaliá-Ias e estimar a duração das jornadas, Costa Matoso sente alívio quando a mata densa fica para trás:
"Vim entrando pelo que chamam campo, deixando já o caminho a que chamam do mato; é chamado campo por descoberto a respeito do mato, e na verdade é caminho excelente e desafogado [ .. .]. E assim dava este caminho lugar a alguma extensão de léguas na vista para a parte de oeste, que para a de leste ia sempre a vista em pouca distância dos mesmos matos a que aqui chamam os Gerais..."22
Fonte: http://migre.me/5ycLv 
Nota:  Esse relato em sintonia com os relatos de roteiros de viajem de André João Antonil, e outros, possibilita vislumbrar a indescritível logística e técnicas de navegação utilizada. Restando claro que se orientavam por bússolas na definição do trajeto.  Fala-se das matas claustofobicas e das caminhadas por dez dias quando então via-se somente mato. Nesta condições, quando  se afirma que do Guaipacaré seguia-se por um afluente do rio Paraíba, talvez o ribeiro da lameira, resta claro que inexistindo qualquer possibilidade de se avistar ao longe a rota pretendida,  a obediência ao instrumento de orientação era de rigor. Por outro lado quando faz Antonil referência as muralhas da Mantiqueira, ou seja as cinco serras altas,  logo após referir-se as roças de Bento Rodrigues na região do Guaipacaré, atencipando a narrativas relativamente aos Ribeirões, resta claro que a visão da serra, se deu após vencer a mataria e de  uma visão em perspectiva, ou seja, em uma elevação, como afirma; "Saudava os morros descobertos",   o que resultaria impossível fosse o caminho pela planice do Paraíba que indiscutivelmente segue rumo Leste e não Norte.     






GUIA DA UNESCO - Una guía para la administración de sitios e itinerarios de memoria.

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