Resumo.
O propósito deste artigo é
desenvolver o estudo dos conflitos urbanos que aconteceram na cidade de São
Paulo na passagem do século XIX para o século XX., especialmentge os conflitos
entre a polícia e a população civil e
conflitos acontecidos entre os diversos corpos de polícia. Durante o
rápido desenvolvimento da cidade de São Paulo, contrariamente à idéia de um
período ordeiro e tranqüilo, de fato, houve processo bastante conflituoso e
repleto de desordens. Os policiais que
deveriam dar proteção à população, muitas vezes, se organizavam como
quadrilhas, com o objetivo de atacar e roubar a população. Os habitantes da
cidade nem sempre eram vitimas pacíficas desse processo. Os imigrantes, como
principais alvos dessa violência,
reagiam. Essa era a cidade que marchava rumo ao “progresso”. Mas,
marchava desordeiramente, crescendo em meio a esses conflitos. A cidade mesma
era o próprio conflito entre o velho e o novo.
Palavras
chaves.
cidade, conflitos urbanos, policia , crime .
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Uma
polícia violenta e desonesta
A utilização da prática explícita da violência como
política de governo, ocorrida no Brasil pós 1968, fez com que muitos olhassem do presente em direção ao passado,
com um certo saudosismo da polícia de outrora. Na memória construída através
dos tempos, os discursos críticos emergidos através da expressão dolorosa das
próprias vítimas ou através de organizações, de associações, da imprensa e,
inclusive em casos não tão raros, de documentos gerados no interior da própria
corporação policial, foram sendo apagados da memória coletiva e da história do
período. Todavia, a relação entre a população e a polícia era tensa e
conflituosa. Nesse aspecto, deve-se ressaltar a existência de distintas vozes
e, certamente, pode-se comprovar uma convivência amistosa entre a polícia e as
oligarquias retrógradas às quais costumeiramente a primeira servia. Contudo, deve-se sublinhar que,
mesmo no interior das elites dirigentes, emergiram alguns discursos críticos ao
comportamento das corporações policiais.
Foi possível constatar que o autoritarismo, a violência e
a corrupção estavam profundamente enraizados na instituição policial (em São
Paulo e, muito provavelmente, no Brasil como um todo) desde o início da
República e, em uma hipótese bastante plausível, desde as origens da
instituição. É possível supor uma
relação entre a concepção moderna de quadrilha e o termo quadrilheiro no
período colonial[7]. Além disso, outras fontes indicam a presença
do problema policial muito antes do
período republicano. Em meados do
século passado, jornais satirizavam a indolência da polícia e criticavam o
comportamento dos soldados. (Morse, 1977: 177).
Durante o desenvolvimento da pesquisa, dezenas e dezenas
de atos de violência policial emergiram dos documentos. No percurso
desenvolvido, foi possível observar que os imigrantes se constituíam em alvo
privilegiado das ações ilegais da
polícia. Dentre esses tipos de ocorrência,
pode-se destacar que eram rotineiros os assaltos cometidos por policiais.
Costumeiramente, policiais paravam uma pessoa na rua e solicitavam os documentos de identificação. Quando a
pessoa pegava a carteira para mostrar os documentos, tinha todo o dinheiro e,
muitas vezes, outros pertences como relógios e pulseiras roubados.
Observando-se a documentação existente, pode-se concluir
que homens e mulheres humildes e pobres eram costumeiramente alvos dos assaltos
cometidos por policiais. No caso abaixo relatado, fica evidente a estratégia
adotada. Marcilio Della Nina foi revistado e assaltado por dois policiais na
rua Gomes Cardim, em 22 de julho de 1904.
... á noite,
pelas onze e meia horas, mais ou menos, o declarante dirigia-se para a casa de
sua residencia (...) quando passava pela rua Gomes Cardim, foi interpellado por
dois soldados de cavallaria devidamente montados e armados; que um desses soldados
depois de perguntar ao declarante para onde ia disse-lhe: e
acto continuo desceu do cavallo que montava e aproximando-se do declarante
passou-lhe minuciosa(?) revista em todos os bolsos e tirou-lhe do bolso
esquerdo da calça duas notas de dez mil réis cada uma que o declarante levava;
que feito isso e vendo que o declarante nada mais tinha o dito soldado pegando
a espada embainhada deu uma pequena pancada nas costas do declarante e
disse-lhe: < vai embora > ; que o declarante nada disse e retirou-se
silencioso com direcção para sua casa mas em logar de recolher-se, a esta
voltou pela mesma rua Gomes Cardim e dirigiu-se ao posto policial do Braz.
[8]
Ocasionalmente, essas práticas eram seguidas de violência
física contra a vítima. Pode-se supor
que, em alguns desses casos, a violência cumpria o papel de intimidar a vítima
para que esta não procurasse as autoridades superiores com o intuito de
denunciar o crime, dificultando, assim, a punição dos envolvidos. Entendendo-se
essa assertiva como correta e considerando-se a possibilidade de que, não raras
vezes, muitas vítimas não registrassem denúncias contra os policiais, temendo
futuras represálias, certamente o número dessas ocorrências deva haver sido
significativamente superior aos casos reportados.
Nota n.º 7 - Dalmo
Dallari (1997) informa que durante o
século XVII e até a criação do Corpo de Permanentes - como passou a ser
conhecido - São Paulo contara com alguns grupos mais ou menos improvisados,
como os “Quadrilheiros” e a “Legião Paulista”
para a manutenção da ordem e defesa contra invasores. No Novo dicionário Aurélio, mantém-se o sentido de membro de quadrilha.
Fonte: http://migre.me/7rHaw