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Lá eu andava completamente nu, sem usar nada, somente algumas folhas que amarrava no corpo por vergonha. Um dia, enquanto eu pescava sozinho por diversão, fi quei sentado pensando em como me achava e no que já tinha sido. Então comecei a amaldiçoar o dia em que pela primeira vez ouvi falar do mar, e me lamentei, pensando como pude ser tão tolo em abandonar minha própria terra onde nada me faltava. Naquele momento eu não tinha qualquer esperança de rever minha terra ou mesmo algum cristão. Enquanto eu lá estava, sentado na margem do rio, em meio a esses pensamentos desesperados, aproximou-se um velho índio que era um dos chefes da tribo. Começou a conversar comigo dizendo sentir falta do tempo em que estavam em Cabo Frio , pois podiam comerciar com os franceses e nada lhes faltava, mas que agora já não tinham facas nem machadinhas, ou outras coisas, e se achavam tão desprovidos. Ao ouvir isto respondi que eu desejava ardentemente que ele e os seus fossem morar de novo na costa, livres das ameaças dos portugueses.(18). Voltamos para a aldeia e o índio contou a todos o que eu lhe tinha dito. Na manhã seguinte vieram pelo menos vinte dos seus principais na casa em que eu dormia e me perguntaram se eu conhecia o local exato em que eles poderiam encontrar navios franceses. Eu lhes respondi que tinha certeza que entre o rio da Prata e um rio chamado pelos portugueses de Patos encontraríamos franceses e, se não os encontrássemos, lá os portugueses não poderiam nos fazer mal. Além do mais, acrescentei, seria melhor morar na costa, onde teríamos abundância de tudo, do que ali, onde não tínhamos qualquer outro alimento exceto raízes. Esses anciãos contaram isto ao povo e todos quiseram ir para a costa, então decidiram partir. Preparamos as provisões e partimos de nossa morada, sendo ao todo trinta mil.
Nota:
18. No capítulo IV, Knivet dá uma versão diferente: “Muitas vezes eu lhes falava sobre as idas e vindas de nossos navios ingleses para os estreitos de Magalhães e como tratávamos bem todas as tribos e como tínhamos todo tipo de coisa útil para eles. Essas palavras fizeram com que os canibais quisessem ir até o litoral e me perguntaram como poderiam ir viver na costa sem se tornarem escravos dos portugueses.”
Obs: A Confederação dos Tamoios é a denominação dada à revolta liderada pela nação indígena Tupinambá, que ocupava o litoral do que hoje é o norte paulista, começando por Bertioga e litoral fluminense, até Cabo Frio, envolvendo também tribos situadas ao longo do Vale do Paraíba, na Capitania de São Vicente, contra os colonizadores portugueses, entre 1556 a 1567, embora tenha-se notícia de incidentes desde 1554.(Fonte: http://migre.me/7XRvu)
Obs: A Confederação dos Tamoios é a denominação dada à revolta liderada pela nação indígena Tupinambá, que ocupava o litoral do que hoje é o norte paulista, começando por Bertioga e litoral fluminense, até Cabo Frio, envolvendo também tribos situadas ao longo do Vale do Paraíba, na Capitania de São Vicente, contra os colonizadores portugueses, entre 1556 a 1567, embora tenha-se notícia de incidentes desde 1554.(Fonte: http://migre.me/7XRvu)
Parafraseando: A conversa do velho índio com Anthony Knivet, dizendo sentir falta do tempo em que estavam em Cabo Frio, não diz respeito a Confederação dos Tamoios, revolta liderada pela nação indigena Tupinambá que ocupava o litoral norte paulistas e litoral fluminense, até Cabo Frio, envolvendo também tribos situadas ao longo do Vale do Paraíba, contra os portugueses. É difícil entender que no caminho do sertão, o rio do Paraíba e a serra da mantiqueira eram verdadeiras trincheiras na luta dos Tupinambá contras os portugueses. A citação quanto ao fato de que podiam comerciar com os franceses, não está ligado à aliança que tinham os tupinambá com esses durante a tentativa de criação da França Antártica entre 1555 a 1560 no Rio de Janeiro? Ou seja, com o apoio dos tupinambá, não teriam os Franceses adentrado por esse sertão antes mesmo dos portugueses?