Desinteresse - Enquanto isso, os paulistas estavam mais interessados na caça aos índios para escravização que na busca de riquezas minerais, e convencidos de que, se o ouro e as esmeraldas fossem encontrados, imediatamente a Metrópole reforçaria seu controle sobre São Paulo, tirando sua liberdade de ação. Assim, havia um amplo desinteresse, quando não um verdadeiro boicote, à busca dessas riquezas pelas terras paulistas.
A propósito, vale recordar que, no século XVI, os diamantes (incolores) eram considerados desinteressantes, tendo muito maior valor as esmeraldas, verdes, estas bem mais procuradas, pelo papel importante que tinham nas visões paradisíacas (eram encontradas no bíblico rio Fison), em que a tais pedras verdes eram atribuídas virtudes sobrenaturais, como a identificação de venenos e resistir a quaisquer malefícios, garantindo ainda a castidade de suas portadoras e sendo um símbolo da vida eterna.
A cidade de Sabará foi fundada pelo bandeirante Borba Gato nas montanhas de Sabarabuçu
Óleo de Alberto da Veiga Guignard, conservado no Museu Nacional de Belas Artes (RJ)
O comércio de escravos indígenas era mais compensador que a busca de lendárias riquezas, e o insucesso de várias expedições ao Peru, algumas massacradas por indígenas hostis, não animavam muitas tentativas.
Ainda assim, registram-se por volta de 1600 algumas entradas em busca dessas riquezas, especialmente da lendária lagoa dourada de Paraupeba ou Paraupava (nas montanhas de Sabarabuçu ou Sabaroasu - topônimo proveniente de Taberaboçu, forma corrompida do tupi Itaberaba e seu aumentativo Itaberabaoçu, significando "serra resplandecente"), onde começariam importantes rios, como o São Francisco, o Prata e o Amazonas - que se acreditava estarem interligados a ela, pelo fato de serem rios caudalosos e perenes.
Tal lagoa - que explicaria o fato desses rios serem ainda mais caudalosos no verão, quando se esperaria que secassem devido ao calor - estaria no território do atual estado de Goiás ou em Minas Gerais, onde inclusive existe ainda o assim denominado sítio de Paraopeba (e o Rio Paraopeba é um dos principais afluentes do alto curso do Rio São Francisco).
Assim acreditava João de Laet, que reproduziu em sua obra as observações do compatriota Guilherme Glimmer "acerca de uma viagem que pudera empreender em 1601, quando morador na capitania de São Vicente, e que até hoje representa o único documento conhecido sobre o percurso da bandeira confiada ao mando de André de Leão. As origens dessa expedição prendem-se, de acordo com o testemunho de Glimmer, ao fato de ter recebido Dom Francisco de Sousa de certo brasileiro, pela mesma época, amostras de uma pedra de cor tirante ao azul, de mistura com grãos dourados. Submetida ao exame dos entendidos, um quintal dessa pedra chegara a dar nada menos do que trinta marcos de prata pura."
A respeito, Sérgio Buarque cita a Historia Naturalis Brasiliae, pág. 263: "Is narrat eo tempore quo ipse in Praefectura S. Vicentii degeret, venisse ad illas partes à Praefectura Bahiae Franciscum de Sousa; acceperat enim à quodam Brasiliamo mettalum quoddam, è montibus Sabaroason, ut serebat, erutum, coloris cyanei sive caelestis arenulis quibusdam aurei coloris interstictum quod unu à minerariss esset provatum, in quintali triginta marcas puri argenti continere deprehensum fuit".
Depois de aludir às expedições de Aleixo Garcia e do espanhol Cabeza de Vaca, pelo caminho iniciado em Cananéia, nos primeiros anos do século XIV, o autor de Visão do Paraíso observa ser "provável que a via de São Vicente a Assunção, aberta aparentemente pelo ano de 1552 ou pouco antes, fosse um dos galhos da mesma estrada. Não há prova de que antes da vinda dos europeus fosse correntemente usada, em todo o seu curso, pelos Tupi vicentinos. Ao menos em certa informação que, depois de 1554, escreveu do Paraguai Dona Mencia Calderón, a viúva de Juan de Sanabria, diz-se que 'de São Vicente se podia ir até Assunção por certo camiño nuevo que se habia descubierto'."
"Esse novo caminho - continua Sérgio Buarque -, descrito no livro do célebre aventureiro alemão Ulrico Schmidl, que em 1553 o percorreu de regresso ao Velho Mundo, foi largamente trilhado naqueles tempos, em toda a sua extensão, pelos portugueses de São Vicente, em busca dos Carijó, e ainda mais pelos castelhanos do Paraguai, que vinham à costa do Brasil ou pretendiam ir por ela à Espanha, até que os mandou cegar Tomé de Sousa no mesmo ano de 1553. Com alguma possível variante, deve ser uma das trilhas que no século seguinte percorrerão numerosos bandeirantes de São Paulo para seus assaltos ao Guairá".
Peabiru era o nome português do caminho que os espanhóis chamavam de São Tomé, por ter sido percorrido, segundo a lenda por esse santo, identificado pelos indígenas como Sumé e no Peru como Pay Tumé. Mas, esta já é uma outra história.
:Fonte:(crédito - Carlos Pimentel Mendes) http://migre.me/8ehQK
Nota: Eu não tenho dúvida de qual era esse NOVO CAMINHO, "a via de São Vicente a Assunção, aberta aparentemente pelo ano de 1552!"
Parafraseando - Mapa: Apresentando o Estado Político da Capitania de São Paulo em 1766, foi elaborada, com particular atenção aos limites com Minas Gerais. Nessa direção, somado ao único documento conhecido sobre o percurso da bandeira confiada ao mando de André de Leão, é possível afirmar que deve ser acrescido esse documento cartográfico, uma vez que, a toponímia "Alto da Serra", que corresponde ao limite com Minas Gerais, coincide com a "Raiz do Monte" do referido percurso. Estamos falando do Núcleo Embrião de Piquete, primitivo caminho para Minas. (Fonte: http://migre.me/9r3rL)