Desde São Vicente - Em sua obra Visão do Paraíso, toda ela dedicada à análise desses mitos especialmente na época dos Descobrimentos, conta Sérgio Buarque de Holanda que "a possibilidade de se acharem pelo caminho de São Paulo as mesmas riquezas que tinham sido procuradas a partir de Porto Seguro, do Espírito Santo e da Bahia ficara demonstrada, aliás, desde que Brás Cubas, conforme já foi notado, trouxera ou fizera trazer do sertão mostras de ouro, além de recolher pedras verdes de suas mesmas propriedades, que corriam, como se sabe, até o limite ocidental da demarcação lusitana, ou seja, até as raias do Peru. E, em 1574, segundo um documento divulgado por Jaime Cortesão (Pauliceae Lusitana Monumenta Historica, I, págs. XCLX e CI), certo Domingos Garrucho (ou Garocho?), morador na capitania de São Vicente, e possivelmente em Santos, onde devera ter conhecido Braz Cubas, recebeu patente de mestre de campo do descobrimento da lagoa do Ouro".
Além das referências sobre caminhos possíveis para se chegar a esses lugares fantásticos, dadas pelos degredados e pelos indígenas, São Vicente tinha uma outra vantagem sobre os pontos litorâneos mais ao Norte: a menor distância entre o litoral e os Andes, encurtando bastante a viagem. De fato, os antecessores dos primeiros bandeirantes teriam - mesmo com todas as adversidades - chegado por terra aos rios da Prata/Paraná e São Francisco, senão ao território inca peruano. Assim pensou Dom Francisco de Sousa, "nomeado capitão-general de São Vicente, Espírito Santo e Rio de Janeiro, ou melhor, quando ainda governador-geral do Brasil".
Em 1553, chegava a Lisboa a notícia levada por Tomé de Sousa, atribuída a certo mameluco do Brasil que o acompanhava, que pretendia ter andado no Peru, de onde tornara por terra à costa do Brasil e afirmava que tal percurso poderia ser feito em muito poucos dias. Em 1560 e no ano anterior, tinham-se realizado as expedições de Brás Cubas e Luís Martins, a partir do litoral vicentino, e "de uma delas há boas razões para presumir que teria alcançado a área do São Francisco, onde recolheu amostras de minerais preciosos. Marcava-se, assim, um trajeto que seria freqüentemente utilizado, no século seguinte, pelas bandeiras paulistas", refere Sérgio Buarque de Holanda.
O historiador Capistrano de Abreu tentou identificar tal mameluco citado por Tomé de Sousa como sendo Diogo Nunes, provavelmente natural da capitania de São Vicente, que por volta de 1554 ofereceu a Dom João III curiosos Apontamentossobre uma viagem ao Peru, relatando que seria possível "ir por São Vicente, atravessando pelas cabeceiras do Brasil, tudo por terra firme". Nesse ponto, contradiz outro historiador, Varnhagen, que acreditou ser o espanhol Diogo Nuñes de Quesada o autor de tal documento.
Um documento aparentemente definitivo sobre o tema seria a relação que Martin de Orue escreveu antes de setembro de 1554 (conservada no Arquivo de Índias de Sevilha), com o trecho "del peru vyno por el año pasado un pasajero natural portugues que se dize domyngo nunes natural de Moron ques Junto ala Raya de Castilla el qual trujo de veynte a treynta myll ducados este andando persuadiento al Rey por uma conquysta por el Brasil para por ally entrar a las espaldas de cuzcol [...]". Com as abreviaturas usadas na época e o pouco esmero de Orue na transcrição de nomes portugueses, não é difícil a Sérgio Buarque de Holanda apontar que Domingos e Diego sejam o mesmo prenome do viajante natural de Mourão (Moron), junto à raia de Castela, na Espanha.
Sérgio Buarque cita por sua vez o Archivo de Indias (Sevilha), conforme cópia da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro: "[...] traxo consigo vn ombre hijo de vn portugues ~q lo ubo de vna mujer del brasil el qual se crió por la tierra del brasil adelante y ~q el dho ombre dize que ha estado en d peru y ~q del peru vino alli al brasyl por tiérra y ~q esta muy çerca de aquello y ~q donde estan los portugueses en el peru y ~q creis ~qlo que este ombre dize deue ser en la demarcaçion de sua mag.de el brasyl em muy pocos dias por tierra yran y ~q ay mas mynas de oro e plata ~q en y tenesys por çierto que juntamente con los que alla tiene en el brasyl lleguen al cauo esto que dize ese ombre y tengoos en seruiº el aviso que dello nos days que ha sydo açertado [...]". Ele observa a respeito que "este ofício do príncipe, datado de Valladolid aos 17 de novembro de 1553, responde à carta de Luís Sarmiento de 8 do mesmo mês e ano." Luís Sarmiento de Mendoza era embaixador espanhol em Lisboa.
São também citadas as narrativas de Anthony Knivet sobre como seria bem mais curto o trajeto do litoral vicentino (que abrangia Cananéia, um dos pontos de entrada dos expedicionários) ao Serro de Potosi. Outro inglês - Thomas Griggs, tesoureiro do navio Minion of London, mandado ao Brasil em 1580 por uma companhia londrina de aventureiros - informava que certa parte do Peru estaria situada "por água ou terra a doze dias apenas" da vila de Santos. Seu testemunho confirma as informações do compatriota John Whithall, então morador em Santos, que atraíra a atenção dos aventureiros londrinos.
Não por acaso, Santos e São Vicente passaram subitamente a despertar grande interesse entre mercadores, navegantes e piratas ingleses, que pensaram em estabelecer na ilha vicentina um trampolim para a conquista das minas espanholas de Potosi, já que São Vicente era pouco fortificada e bastante abastecida de víveres que sustentariam "infinitas multidões" de conquistadores.
Fonte:(crédito - Carlos Pimentel Mendes)http://migre.me/8ehQK
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