sexta-feira, 9 de março de 2012

A) - HISTÓRIAS E LENDAS DE S. VICENTE - PEABIRU Porta para as riquezas do Paraíso Terrestre: 1 (Transcrição)

Paraíso sulamericano - Com o avanço dos  descobrimentos marítimos ibéricos, e a percepção de que numa Terra redonda o Oriente bíblico poderia estar inclusive no Ocidente (ou as cartas geográficas poderiam ser desenhadas de ponta-cabeça, de forma que os locais imaginados para o Éden ficariam em posição nobre, na parte superior), aliada às maravilhas do Novo Mundo descritas pelos navegadores, o Paraíso Terrestre e todo o conjunto de lendas que o cerca foi rapidamente transportado para o interior da América do Sul.
A nova localização reunia todas as características descritas no Éden: clima temperado, vegetação luxuriante, fauna exuberante o ano todo (com muitas espécies desconhecidas e associáveis à mitologia paradisíaca), a aparente pureza de alma dos indígenas, os quatro rios (Orinoco, Amazonas, São Francisco e Prata). Espécimes da flora como a sensitiva, e da fauna como o louva-a-deus, o beija-flor e o colibri, a jibóia que troca de pele (associada à serpente bíblica), a anhuma (comparada ao unicórnio) apenas reforçavam a idéia da proximidade com as regiões paradisíacas.
E os papagaios, além de terem também status de aves-do-paraíso (ao lado do rouxinol e da mítica fênix), apresentavam em alguns casos as mesmas cores dos até então só encontrados na Índia (o papagaio de coleira vermelha, que existia no famoso Reino cristão do Preste João - que seria próximo ao rio Ganges, antes de ser trasladado nos relatos portugueses para a Abissínia/Etiópia), o que Cristóvão Colombo usou como argumento para sua tese de que tinha alcançado tão distante região.
O Brasil já foi denominado Terra dos Papagaios (em 1501) e o fascínio dessas aves sobre os navegadores é bem demonstrado neste mapa elaborado por Cantino, em 1502 - aqui parcialmente reproduzido, com a região Nordeste e a linha do Equador na vertical
Mapa conservado na Biblioteca Universitária de Modena, na Itália

A própria forma de coração do continente sulamericano, destacada pelo historiador e geógrafo Antonio de León Pinelo, conselheiro real de Castela, na obraEl Paraíso en el Nuevo Mundo, provaria que os primeiros homens nasceram em seu interior, habitando a América do Sul até o Dilúvio Universal, quando Noé construiu sua arca na vertente ocidental da cordilheira dos Andes, com cedros e madeiras fortes. Segundo seu relato, Noé rumou em sua Arca diretamente dos Andes peruanos para a Ásia e, depois de propagar-se ali a nova espécie humana, voltou ao Novo Mundo.
E se o Éden era cercado por ricas muralhas, não seriam novos indícios de sua proximidade o ouro, a prata e as pedras preciosas descobertos pelos espanhóis nos montes do Peru? Peru que, nas descrições da época, quase chegava ao Atlântico e à Bacia do Prata, pouco espaço deixando ao Brasil dos portugueses em certas cartas geográficas. Como o cosmógrafo e matemático italiano João Batista Gésio, que define a América Portuguesa como "terra continuata con el Peru".
Num mapa de fins do século XVI, o de Arnoldus Florentinus, o Peru ocupava quase toda a América do Sul, com espaços mínimos para os vizinhos Chile, Castilla del Oro e Brasilia. O Brasil também foi descrito no Livro que Dá Razão do Estado do Brasil, de 1612, como apenas a "parte oriental do Peru, povoada na costa do mar Etiópico". Na carta de mestre Pedro de Medina, de 1545, o Peru já quase se confunde com toda a América do Sul, o mesmo ocorrendo na que Alonso Peres elaborou em 1640.
Consultados os indígenas, a respeito dos caminhos para se chegar ao Eldorado, à Fonte da Juventude, à Lagoa Dourada, ao próprio Paraíso, estes acabaram reunindo um pouco de suas próprias lendas nativas às fantásticas histórias trazidas pelos navegadores. O mesmo São Tomé - que viveu e foi sepultado em Meliapor, na Índia - deixou assim pegadas e marcas de seu bastão gravadas em milagrosas rochas sulamericanas desde a Bahia até o Paraguai, sendo que seu caminho pela capitania de São Vicente até as terras do atual Paraguai é bastante citado nas crônicas da época.
Porém, o que mais queriam os navegadores portugueses era estabelecer um caminho por terra entre o litoral brasileiro e as riquíssimas regiões peruanas, ainda mais após a descoberta espanhola das minas de Potosi, em 1545. Para maior controle da Coroa, uma vez que a capital da colônia estava em Salvador, as primeiras expedições partiram da Bahia. Com a transferência da sede administrativa para o Rio de Janeiro, novas expedições foram feitas a partir dessa região.
Mas, bem antes de Martim Afonso se instalar em São Vicente, já era conhecido o caminho do Peabiru, que, com uma das ramificações partindo do litoral vicentino (outra delas começaria na Ilha de Santa Catarina), atingiria os contrafortes dos Andes - onde as montanhas nevadas, com certos efeitos luminosos causados pelo Sol sobre a neve, se transformavam facilmente em montanhas de encostas douradas, de ouro, confirmando assim os mitos do Paraíso Terrestre e da Lagoa Dourada.
Mina de Prata em Potosi, na atual Bolívia, em estampa de Theodor de Bry e Matthäus Merian
Reprodução de Americae Praeterita Eventa, de Helmut Andrä e Edgard de Cerqueira Falcão, 
Editora da Universidade de São Paulo, 1966, São Paulo/SP
Fonte:(crédito - Carlos Pimentel Mendes) http://migre.me/8ehQK

GUIA DA UNESCO - Una guía para la administración de sitios e itinerarios de memoria.

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