CAPÍTULOS DE HISTÓRIA COLONIAL (Capistrano de Abreu)
Observações:
Parafraseando: Entre o senso e o contrassenso - Refletindo sobre o texto; em se tratando da entradas para o sertão, temos que "o rio Tietê corria perto; bastava segui-lhe o curso para alcançar a bacia do Prata. Para tanto, não transpunha-se uma garganta fácil e encontrava-se o Paraíba, encaixado entre a serra do Mar e a Mantiqueira, apontando o caminho do Norte? Por outro lado a confederação dos tamoios envolvendo também tribos situadas ao longo do Vale do Paraíba, não implicou no apossamento do caminho da Serra a cima pelos portugueses? Guilherme Glymmer que seguiu o caminho em busca do Norte, ao se referir a confluência de rios que vão desaguar no Paraguai, citando inclusive o sentido, não está reiterando as informações relativamente ao movimento paulista para o sertão ocidental à partir do Alto Sapucai, em demanda do mar do Sul, sendo esse o mesmo objetivo do inglês Athony Knivet? Estando Piquete a uma latitude 22º36'49"sul, na direção do desfiladeiro de Itajubá, Garganta do Sapucaí. Por que haveriam de seguir além do ponto de navegabilidade do rio Paraíba enfrentando as catadupas? Ou a busca do Mar do Sul, em alternativa ao caminho de Peabiru, via capitania do Sul, não foi implementada, em razão do total insucesso, representado pelo naufrágio da embarcação de Martins Afonso de Souza e extermínio das expedição de seu irmão, Pero Lobo e outros, pelo índios carijós, ao pretenderem alcançar a região do Alto Peru (hoje Bolivia) via caminho de Peabiru?
IX - O SERTÃO
O Tietê corria perto; bastava seguir-lhe o curso para alcançar a bacia do Prata. Transpunha-se uma garganta fácil e encontrava-se o Paraíba, encaixado entre a serra do Mar e a da Mantiqueira, apontando o caminho do Norte. Para o Sul estendiam-se vastos descampados, interrompidos por capões e até manchas de florestas, consideráveis às vezes, mais incapazes de sustarem o movimento expansivo por sua descontinuidade. A Este apenas uma vereda quase intransitável levava à beira-mar, vereda fácil de obstruir, obstruída mais de uma vez, tornando a população sertaneja independente das autoridades da marinha, pois um punhado de homens bastava para arrostar um exército, e abrir novas picadas, domando as asperezas da serra, rompendo as massas de vegetação, arrostando a hostilidade dos habitantes, pediria esforços quase sobre-humanos. Sob aquela latitude, naquela altitude, fora possível uma lavoura semi-européia, de alguns, senão todos os cereais e frutos da península. Ao contrário o meio agiu como evaporador: os paulistas lançaramse a bandeirantes. Bandeiras eram partidas de homens empregados em prender e escravizar o gentio indígena. O nome provém talvez do costume tupiniquim, referido por Anchieta, de levantar-se uma bandeira em sinal de guerra. Dirigia a expedição um chefe supremo, com os mais amplos poderes, senhor da vida e morte de seus subordinados. Abaixo dele com certa graduação marchavam pessoas que concorriam para as despesas ou davam gente.
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Se encontravam algum rio e prestava para a navegação, improvisavam canoas ligeiras, fáceis de varar nos saltos, aliviar nos baixios ou conduzir à sirga. Por terra aproveitavam as trilhas dos índios; em falta delas seguiam córregos e riachos, passando de uma para outra banda conforme lhes convinha, e ainda hoje lembram as denominações de Passa-Dois, Passa-Dez, Passa-Vinte, Passa-Trinta; balizavamse pelas alturas, em busca de gargantas, evitavam naturalmente as matas, e de preferência caminhavam pelos espigões.
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À parte geográfica das expedições corresponde mais ou menos o seguinte esquema: Os bandeirantes deixando o Tietê alcançaram o Paraíba do Sul pela garganta de São Miguel, desceram-no até Guapacaré, atual Lorena, e dali passaram a Mantiqueira, aproximadamente por onde hoje transpõe a E. F. Rio e Minas. Viajando em rumo de Jundiaí e Mogi, deixaram à esquerda o salto do Urupungá, chegaram pelo Paranaíba a Goiás. De Sorocaba partia a linha de penetração que levava ao trecho superior dos afluentes orientais do Paraná e do Uruguai. Pelos rios que desembocam entre os saltos do Urubupungá e Guaiará, transferiram-se da bacia do Paraná para a do Paraguai, chegaram a Cuiabá e a Mato-Grosso. Com o tempo a linha do Paraíba ligou o planalto do Paraná ao do S. Francisco e do Parnaíba, as de Goiás e Mato-Grosso ligaram o planalto amazônico ao rio-mar pelo Madeira, pelo Tapajós e pelo Tocantins. As bandeiras no século XVI devastaram sobretudo o Tietê, cujos numerosos Tupiniquins depressa desapareceram, e o alto Paraíba, chamado rio dos Surubis em Piratininga, segundo informa Glimmer; com o tempo foram-se alongando os raios do despovoamento e depredação, característico essencial e inseparável das bandeiras. O movimento paulista para o sertão ocidental chocou-se com o movimento paraguaio à procura do mar: Ciudad Real, no Piqueri, próximo do salto das Sete Quedas, Vila Rica, no Ivaí, datam da segunda metade do século XVI, antes do Brasil cair sob o domínio da Espanha. Com estes colonos a gente de São Paulo cultivou a princípio boas relações; nas caçadas humanas foram às vezes sócios aliados. Além disso a viagem por terra do Paraguai para a costa fazia-se mais facilmente procurando Piratininga, do que repetindo a incômoda travessia de Cabeza de Vaca. A harmonia entrava assim no interesse de ambas as partes. Só mais tarde houve conflitos e as duas povoações desapareceram.
Fonte: http://migre.me/8mva9Observações:
1) A Confederação dos Tamoios é a denominação dada à revolta liderada pela nação indígena Tupinambá, que ocupava o litoral do que hoje é o norte paulista, começando por Bertioga e litoral fluminense, até Cabo Frio, envolvendo também tribos situadas ao longo do Vale do Paraíba, na Capitania de São Vicente, contra os colonizadores portugueses, entre 1556 a 1567, embora tenha-se notícia de incidentes desde 1554. (http://migre.me/8mwAR)
2) Guilherme Glymmer, flamengo, que tomou parte em uma expedição ao sertão em 1601, e que dela fez uma descrição: " "Três dias depois, chegamos a um rio, que deriva do Nascente, e, atravessando-o, durante quatorze dias, tomamos a direção de Noroeste, através de campos abertos e outeiros despidos de árvores, até outro rio, que era navegável e corria da banda do Norte. Atravessamo-lo em umas embarcações chamadas jangadas, e, quatro ou cinco léguas mais adiante, topamos outro rio que corria quase de Norte e era navegável. Creio, porém, que estes três rios, afinal, confluem num só leito e vão desaguar no Paraguai, em razão de que o curso deles é para o Sul, ou para o Ocidente." (Fonte: http://migre.me/8mxdR)
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