O caminho das águas, os rios do Brasil: o São Francisco e o elemento étnico
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Saindo do curso do São Francisco, em direção sul-sudeste, as fronteiras fluviais demarcam outros territórios étnicos. Aos “tapuias”, sobrepõem-se os grupos de origem tupi, no litoral até São Vicente, passando pelo Espírito Santo e Guanabara, e fazendo divisa com Cananea. Repartidos em vários grupos locais, à semelhança dos distribuídos pela costa nordestina, ainda que falando a língua brasílica comum, de comunicação e de maior uso entre os índios e europeus, popularizaram-se vários nomes como tamoio, tupinambá, tupiniquim, carijó-guarani, tape; entre os rios étnicos que os abrigavam, citam-se o Paraíba do Sul, o Tietê, Ribeira, Iguape, Paranapanema, Paraná, Itajaí, Prata.
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Qualquer que seja, portanto, a origem lingüística de seus topônimos, trazem em si a mística das águas, maior que o tempo e a memória de épocas denominativas, revelando estágios de nomeação característicos. Deixam esses nomes de ser apenas signos arbitrários da língua, para se referencializar como ícones de uma memória vivenciada, porque subjacente em si a cosmovisão dos falantes e o sentido próprio que ela lhes confere. A conquista pelo europeu da região ao sul da Guanabara conduziu a transformação de um “vazio onomástico”, na concepção luso-hispânica, em um universo lingüístico marcado por sentimentos mutantes: orgulho, coragem, valentia, luta, medo, posse, escravismo.
Todos os cursos fluviais e marítimos, sem dúvida, experimentaram, e ainda experimentam, o temor representado por esse universo não de todo conhecido, em profundidade ou extensão, o perigo escondendo-se em cada uma de suas voltas. É o encantado da água que os envolve e que, na tradição indo-européia, representa uma simbologia feminina, ou seja, a figura criadora dos domínios do universo. Daí a existência das “mães” “do mato, do campo, dos bichos, do dia, da noite, das serras, do vento” (...) e a “mãe d’água”, corporificada na cobra-grande (ou boiuna), que é o “duende mais inquietante do vale amazônico”, no dizer de MORAIS (1936: 73-74).
http://www.filologia.org.br/vcnlf/anais%20v/civ6_07.htm
Fonte: Carta corográfica - Cap. de S. Paulo, 1766 .Apresentando o Estado Político da Capitania de São Paulo em 1766, foi elaborada esta carta, com particular atenção aos limites com Minas Gerais. (http://migre.me/aWncu)
Parafraseando: Qualquer que seja, portanto, a origem lingüística de seus topônimos, tamoio, tupinambá, tupiniquim, carijó-guarani, tape, que trazem em si a mística das águas, não possibilitam afirmar igualmente, neste caso, que definem caminhos, os quais são maiores que o tempo e a memória de épocas denominativas? Para tanto, em se tratando do Caminho Geral do Sertão, Caminho dos Paulistas, (partindo de São Vicente), Caminho Velho (partindo de Parati) no contexto da região ao Sul da Guanabara, devemos ter em conta que, o Tietê em sua confluência com o Rio Paraíba do Sul, levava os sertanista, até seu limite de navegabilidade, a região do Guaipacaré (Lorena-SP), possibilitando a derivação, a partir do encontro dos dois caminhos, para transposição das Montanhas e Muralhas com seus Picos Alados, a Serra da Mantiqueira, via Alto da Serra, espaço colonial de Piquete, em demanda do Alto Sapucai. A partir dessa localidade, deparamos com outros elementos da mesma mística das águas, um conjunto de rios, ou seja, rio Sapucaí, rio Verde, Rio Grande, apenas para citar os mais importantes, não por coincidência, afluentes do rio Paraná, sendo impossível considerar despiciendo, uma vez que este, desemboca no rio da Prata. Ou não estamos falando do caminho para os Mares do Sul, referência feita por Athony Knivet.