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O Caminho Grande – a estrada indígena sulamericana que ligava o oceano Pacífico, desde a grande civilização inca, ao Atlântico, no litoral brasileiro, passando pela cordilheira andina, pelas florestas, pelo Centro-Oeste, Sudeste, Nordeste e Norte brasileiros, vencendo pantanais, cruzando rios – segundo alguns historiadores e pesquisadores – muito se aproxima do status de uma obra de gênios e – é quase certeza – já existia antes das chegadas dos europeus.
No Pacífico, os pontos de chegada-partida situavam-se em Callao, Potosi, Arequipa e Cuzco.
No Brasil, o arqueólogo e artista plástico alemão Heinz Budweg afirma ter localizado obras de um trecho de estrada que ligava Cuzco a Salvador; chegando ao Nordeste e ao Norte.
O engenheiro e historiador baiano Teodoro Sampaio e outros estudiosos apontaram Tibagi, no Paraná, como o lugar onde se juntavam o tronco e os ramais vindos dos povoados situados em Santa Catarina e no Paraná.
No século XVIII, o jesuíta Pedro Lozano, em seu livro Historia de la conquista espiritual, a respeito de PEABIRU, assim resumiu: “ Por esta província corre o caminho denominado pelos Guaranis de PEABIRU e pelos espanhóis de São Tomé...”
FERNANDO MAXIMILIANO JOSÉ (OU MAXIMILIANO DE HABSBURGO), ARQUIDUQUE austríaco, irmão de Francisco, Imperador da Áustria e primo de Dom Pedro II, e que, por vontade de Napoleão III, foi imposto como Imperador do México, onde foi fuzilado, talvez com o apoio dos americanos do norte, depois que esteve, por duas vezes, em Ilhéus, na Bahia, registrou em seus livros – Bahia 1860 e Mato Virgem – que “por Ilhéus, passava um caminho, muito estreito, que ligava Bahia - Minas Gerais, por onde transitavam as riquezas minerais”.
Os Incas formaram um império que abrangia 4.000 quilômetros de extensão. E, com ideias expansionistas, teriam planejado chegar ao Atlântico, de olho em territórios que lhes proporcionassem variados e numerosos produtos. O apogeu deles teria sido em 1.400. E o seu império terminaria em 1536.
Achados localizados no que seria um piso de um ramal de PEABIRU, submetidos ao carbono 14, indicaram os anos abrangentes entre 1215 e 1480, o que pode sugerir ter sido o PEABIRU feito, em grande parte, pelos Incas.
O colonizador espanhol Martinez Irala, em 1553, escreveu a seu rei: “Y Dios fue servido que descobri um camino más cierto e seguro...”
Os historiadores brasileiros Hélio Viana, Alfredo Ellis Jr. e Buarque de Holanda enfatizam que PEABIRU marcou a vocação sertanista dos moradores da província de São Paulo. E por ele, em parte, chegou a Lisboa a volumosa prata extraída de Potosi.
Ao fim de algum tempo, “o grande caminho” caiu em desuso: os bandeirantes desviaram-se para o ouro de Minas, os paraguaios voltaram-se para Buenos Aires, seguindo, preferencialmente, pelos grandes rios e o Brasil persistiu em progredir à beira do mar.
Aventureiros, bandeirantes, entradeiros e mascates deixaram registros de suas viagens e até comércio, pelos caminhos e ramais do PEARIBU, como: Alvar Núñes Cabeza de Vaca, o Jesuíta Leonardo Nunes, Francesco Gambarrota, Ulrich Schmidl, Diogo Nunes, Brás Cubas, Luis Martins, Cipriano de Góis, Juan de Salazar, Diogo Dias e Nicolau Barreto, todos relacionados pelo historiador Gentil de Assis Moura, como cita HERNANI DONATO, na Revista História Viva, nº 69, Duetto Editora, páginas 60/65.
E quando foi aberto este grande caminho? Quem o construiu?
E é ainda Hernani Donato que escreve:
“Portugueses e espanhóis, com diferentes interesses, métodos e ênfase, buscaram controlar e limitar o uso do PEABIRU. O primeiro governador-geral do Brasil, Tomé de Souza, (1549-1553), deu início a esta política de restrições. Os espanhóis seguiram-na e chegaram a fundar três vilas, que sugeriam posições de posse e vigilância sobre o traçado. Eles detiveram, processaram e penalizaram infratores, mas o espaço era amplo, e a audácia dos aventureiros era equivalente.”
E continua: “Uma documentação veraz informa a atividade profissional de paulistanos e de moradores de Assunção, no Paraguai, servindo de guias para interessados nessas viagens, visando, preferencialmente, aprisionar índios, negociar objetos de ferro, subir ao Potosi, na Bolívia, e enriquecer com a prata”.
E conclui:
“Em abril de 1581 (e até 1680), Portugal passou a ser governado pelo rei da Espanha. Com um só monarca para todo o subcontinente, as proibições foram levantadas. Os bandeirantes, entradeiros, ao norte, aproveitaram e foram eles levar o Brasil até quase as fronteiras atuais.
Historiadores brasileiros apontam as penetrações de Domingos Jorge Velho e, entre tantas, a que, partindo de São Paulo, chegou ao reduto de Zumbi dos Palmares, depois de arregimentar muitos combatentes, inclusive índios, pelo caminho, conseguiu, por final, destruí-lo.
Assim, se existiu o complexo PEABIRU, atravessando os andes, as florestas, os rios e pantanais, por onde passaram aventureiros, exploradores, conquistadores, mensageiros e nativos, por diversas razões, por que não acreditar que o Rio São Francisco foi importante, fácil, certo e seguro caminho, passagem e pouso, por onde, com certeza, transitaram e vivenciaram muitas nações e tribos nativas, não só nomadeando livremente, mas e também guerreando, fugindo, conquistando, pousando e fixando-se, principalmente, nos Sertões dos Rodelas, em suas dezenas de ilhas, por seu isolamento natural e por suas riquezas, tais como a pesca e as terras vazantes, ricas em húmus, sempre depois das cheias?
“A terra era tão larga e a gente tão solta”. Este registro do Jesuíta Padre Antonio de Sá, citado por Afrânio Peixoto no magistral Prefácio de Cartas Jesuíticas 2, Editora Itatiaia Limitada, 1988, robustece a tese da atávica e intuitiva predisposição da terra e do povo brasílico para as amplidões, as distâncias, as descobertas e as aventuras, tanto quanto as contidas nos âmagos dos europeus daqueles ousados momentos históricos.
A Sinopse de Afrânio Peixoto, fls. 47/64 do mesmo livro, é um rico mapa-leque tonificador dessas implacáveis multirotas geográficas e humanas.
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