A INSURREIÇÃO DE 1848
No início de 1848, as autoridades abriram uma investigação sobre o suposto plano de insurreição de escravos, que deveria eclodir no dia de São João ou de São Pedro e irradiaria de Lorena para Silveiras, Parati e Baependi, em Minas Gerais. O caso chegou até o Presidente da Província, avisado pelo chefe de polícia do Rio de Janeiro, sendo que o Vice-Presidente da Província, Gavião Peixoto, avocou a centralização das informações e providências. Os cabeças seriam Vicente, crioulo, escravo de Faustino Xavier de Morais; Francisco, escravo de D. Maria Pereira da Guia, e o mais importante, Agostinho, crioulo, forro do finado Antônio Gaspar Martins Varanda, que sabia ler e escrever e que acabou fugindo, após descoberto o movimento. Descobriu-se que as idéias da Rebelião eram insufladas pelo francês Jacques Troller, republicano e abolicionista, amigo do Sr. Varanda, que passava semanas em sua residência onde comumente lia jornais e livros estrangeiros e comentara, na presença de Agostinho, sobre a insurreição do Haiti. Afirmava, também, que os escravos receberiam ajuda dos ingleses. Jacques Troller declarou em depoimento que não tinha envolvimento com o plano dos escravos e o motivo de ser lembrado como autor do plano ou apoiador da insurreição pelo réu Agostinho e outros seria o fato de sempre ter argumentado calorosamente sobre a necessidade da abolição da escravatura no Brasil. O juiz municipal argumentava saber de iguais preparativos ou tendências de insurreição em alguns lugares da Província de Minas Gerais e que os escravos presos confessaram sobre o dia de São João, declarava, ainda, que vira uma carta de pessoa de confiança que asseverava terem sido encontrados os estatutos sobre o plano da rebelião, o que o levava à convicção de que tudo havia sido premeditado “ramificado em algumas províncias e quiçá pelo Brasil todo, plano certamente devido a mais desmedida ambição, egoísmo ou inveja e ciúme, que excita o Brasil a algumas nações”. Os escravos interrogados sofriam açoites públicos, mesmo quando inocentes e entregues aos seus senhores. O desfecho do processo se deu com a condenação de Francisco e Vicente à pena de 1.400 açoites – pena que exorbitava a todas as condenações conhecidas – além de usarem ganchos de ferro no pescoço por 3 anos, e a impronúncia do estrangeiro Jacques Troller. A Vila teve rondas e patrulhas nas ruas enquanto durou o processo, e também se aproveitou para pedir o destacamento de 30 praças da Guarda Nacional. O apavorado governo provincial atendeu prontamente, enviando também armamentos e munição.
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Fonte: Advogado graduado pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, bacharel em Letras Clássicas e Vernáculos pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo e pesquisador da Divisão de Acervo Histórico da Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo (ma.couto@uol.com.br). http://migre.me/vmoFv
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