domingo, 30 de outubro de 2016

Na Capitania de São Vicente Washington Luís - 2.º Parte

Capitulo XIX - Nicolau Barreto
Os documentos locais da vila de S. Paulo dão elementos seguros para se concluir que a diretriz da bandeira foi Mogi das Cruzes.
O documento, já aqui citado, inserido em nota pelo padre P. Pastells, no volume 1º da sua citada História da Companhia de Jesus na Província do Paraguai, às páginas 189 a 191 em nota, e consistente como disse em uma carta do pe. Justo Mancilla van Surck, datada da cidade do Salvador, Bahia, a 2 de outubro de 1629, dirigida ao Geral dos Jesuítas, narra que "O pe. Francisco Carneiro contou que no ano de 1602 (?) saiu de S. Paulo a buscar e a trazer índios Nicolau Barreto, irmão de Roque Barreto capitão da terra, com o fim ostensivo (com capa) de descobrir minas e levou em sua companhia 270 portugueses e 3 clérigos. Acrescenta que uns quarenta deles encontraram por aqueles montes com uns índios cristãos, que, enviados por nossos padres de Vila Rica do Espírito Santo, tinham ido buscar seus parentes e trazê-los para as nossas aldeias e, com efeito, levavam para lá umas 700 almas; porém os portugueses tomaram todos, não obstante os índios cristãos lhes dizerem que eram enviados dos nossos padres e que perto havia muitos outros índios infiéis, que poderiam ser levados".
Na sessão de 24 de novembro de 1602 (Atas, vol. 2º, pág. 113) em requerimento e protestação ao capitão-mor Diogo Lopes de Castro, a Câmara declarou que "eram ido dez homens ou mais pelo rio abaixo em busca de algumas peças (índios) e que lhes poderia suceder matarem-nos"..., declaração que se torna mais explícita, quando em seguida fez escrever "que a sua notícia era vindo, como dez ou doze homens que estavam em seguimento de Nicolau Barreto, capitão, que Roque Barreto, capitão que foi desta capitania, mandou ao sertão, mudaram de viagem e se foram pelo rio Anhembi abaixo, aonde lhes pode suceder muito mal com os matarem" e "que é necessário e será grande serviço de Deus mandar em seu seguimento 15 ou 20 homens... e os tirar d’algum perigo em que podem estar"... (Atas, vol. 2º, pág. 114).
Evidentemente o fato narrado por Pastells é o mesmo referido pela Câmara de S. Paulo; o mesmo ano de 1602, a mesma expedição sob o comando de Nicolau Barreto com três clérigos, a mesma circunstância, de uma parte que se destacou do corpo principal da bandeira. Esses dois documentos se completam. Há apenas pequena discordância quanto ao número dos homens, que se separaram da bandeira, discordância facilmente explicável.
O padre Mancilla alude a cerca de 40 homens, a Câmara de S. Paulo se refere a uns 10 ou 12. Nenhum deles quis dar, nem o poderia fazer, o número exato desse destacamento. O padre Mancilla não sabia, de ciência própria, o fato de 1602. Escrevendo 27 anos depois, e da Bahia, a ele se referiu por o ouvir ao padre Francisco Carneiro, que possivelmente aumentou o número das pessoas, componentes do destacamento.
A Câmara de S. Paulo, contemporânea e interessada no fato, sugeriu menor número para facilitar o capitão Roque Barreto a prestar o auxílio de 20 ou mais homens para juntá-los aos 10 ou 12 que tinham ido rio abaixo, o que provavelmente foi feito, e faz coincidir aproximadamente os dois efetivos indicados para o destacamento. Essa circunstância tem porém, pouca importância, desde que em ambos está bem caracterizada a bandeira de Nicolau Barreto em 1602, da qual se separou uma parte.
Do trecho transcrito da obra do pe. Pastells vê-se que o destacamento, que se separou da bandeira de Nicolau Barreto, encontrou "por aqueles montes 700 índios que iam sendo levados para Vila Rica do Espírito Santo", a fim de serem catequizados nas aldeias que lá existiam. Como se lê os 700 índios, aprisionados nessa ocasião, pois, não estavam na Província do Paraguai; ao contrário, eram para lá levados por índios já cristianizados. Eram os padres jesuítas do Guairá – que vinham "chasser dans nos terres", poderia dizer o cabo da bandeira.
O aprisionamento foi feito nos montes do vale do Tietê, onde habitavam os tupiniquins. Ambas as entradas, quer a mandada pelos jesuítas, mencionada na obra de Pastells, quer a que se referiu Azevedo Marques, tendo por objetivo buscar gentio, motivo da luta entre a catequese religiosa e a cativação colonial, se haviam de encontrar nos sertões da capitania de S. Vicente, nos quais ambas penetravam.
Se o destacamento tivesse ido ao Guaíra, o padre Mancilla indicaria essa circunstância, como, também, sem dúvida alguma, mencionaria a presença de Nicolau Barreto, se ele lá tivesse ido com a sua bandeira.
É claro que não se limitaria a transmitir a informação do pe. Francisco Carneiro, ex-reitor do Colégio do Rio de Janeiro. Afirmaria o que teria ouvido in loco aos padres das reduções do Guairá, porque ele foi um deles e dos mais zelosos, desde 1628 [1
]
A Câmara Municipal da pequenina vila de S. Paulo seiscentista, situada na colina entre o Tamanduateí e o Anhangabaú, informa que dez ou doze homens, que estavam em seguimento de Nicolau Barreto, mudaram de viagem e foram pelo Rio Tietê abaixo.
Ora, visto desse S. Paulo quem mudou de viagem pelo rio, deixando a companhia de Nicolau Barreto e foi pelo Tietê abaixo, evidentemente tomou a direção de Barueri, de Pirapora, de Itu etc., foi em suma em direção ao Rio Paraná para o Oeste.
A tropa de Nicolau Barreto, que não mudou de direção, não poderia ir para o Oeste, porque então toda ela mudaria de direção; não seguiria para o Sul, porque logo chegaria ao litoral, nem para o Norte porque logo esbarraria com as então ínvias serras da Cantareira, Atibaia, Bragança, contrafortes da Mantiqueira, que, se fossem transpostas, dariam também caminho para as nascenças do Rio S. Francisco.
A bandeira de Nicolau Barreto, portanto, só poderia ir para Leste, e indo para Leste foi em direção a Mogi das Cruzes. E é lógico que para lá fosse, porque mais numerosa em homens e bem apercebida de víveres, e organizada com parecer de d. Francisco de Souza, fosse buscar as minas de ouro e prata, por este governador obstinada e ardentemente procuradas, e que se supunham situadas nas nascenças do Rio S. Francisco, não atingidas por André de Leão.
É natural que seguisse para o mesmo sertão já percorrido sem êxito por André de Leão, em busca das minas desejadas. Era uma nova tentativa que se realizava para o mesmo fim.
Era lógico que o fizesse; porque esse roteiro, já conhecido e já em parte trilhado recentemente nessa época, levava às nascenças do Rio S. Francisco.
E foi por aí que seguindo, sem dúvida alguma, o mesmo roteiro de Glymmer, atingiu afluentes do Rio S. Francisco já atingidos pela bandeira de André de Leão. A identificação no terreno deve ser a mesma.
Após cerca de cinco meses de marcha, a bandeira de Nicolau Barreto, a 17 de fevereiro de 1603, chegava ao Rio Guaibií, e nesse dia e no arraial de Nicolau Barreto, Braz Gonçalves assinou um documento a Domingos Barbosa no valor de 3 cruzados (Inv. e Testamentos, vol. 21, pág. 32), atingindo depois o Rio Paracatu. Nos valiosos Prolegômenos à História do Brasil, de frei Vicente do Salvador, no capítulo IV, Capistrano de Abreu, não obstante reconhecer a excelência dos dois ensaios feitos por Orville Derby, a respeito das entradas de André de Leão e de Nicolau Barreto, publicados na Revista do Instituto Histórico de S. Paulo, põe em dúvida que Nicolau Barreto tivesse chegado ao Rio Paracatu, afluente do alto S. Francisco, e que lá tivesse aprisionado índios temiminós. Para essa dúvida indica o episódio de Manuel Preto vindo do Guairá (em 1606-1607) ter encontrado temiminós no caminho e cita o volume 2º das Atas de S. Paulo na página 184. O fundamento dessa dúvida, tenho a ousadia de dizer, não me parece procedente.
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Nota: Ainda que não tenha sido possivel esmiuçar as reflexão trazidas no Boletim Vol. 12, do Departamento do Arquivo do Estado de São Paulo com o tema; "A exploração do vale do S. Francisco pela bandeira de Nicolua Barreto (1602-1604) e a fábula da invasão do Guayrá" Superada a dúvida quanto ao caminho percorrido, é certo que a partir das Capitanias do Sul, entraram as Bandeiras,  enviadas a região central do Brasil, em demanda do São Francisco, por ordem de D. Francisco de Souza. Entre outras, as Bandeiras comandada por Andre de Leão em 1601 e Nicolau Barreto de 1604. Indubitavelmente, faz-se necessário considerar que também esteve a serviço do mesmo Sétimo Governador Geral do Brasil, nos Sertões das Gerais, bem como em mais de uma oportunidade o aventureiro Inglês, Anthony Knivet. Entrando pelo rio Jaguari na região de Mogi da Cruzes, afluente do Paraiba,  sendo certo que este ultimo rio foi a partir do Rio de Janeiro (Paraty)

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