2. A GEOGRAFIA DAS DIVISAS DAS MINAS GERAIS
Na “Carta Geographica”, a escolha da extensão latitudinal e longitudinal do espaço de representação se deu para
enfocar os territórios confinantes com o de Minas Gerais, em consonância ao título do mapa. Dentre os territórios
representados, encontram-se mais destacados os do sul, sudeste e leste, compreendendo, respectivamente, parte da porção
nordeste da Capitania de São Paulo, incluindo seu litoral, e toda a extensão do território da Capitania do Rio de Janeiro e do
Espírito Santo. Essas grandes áreas fronteiriças não são apenas assinaladas, com a indicação de suas designações, como em
outros mapas coevos da Capitania. Elementos importantes da morfologia litorânea - ilhas, cabos, pontas, restingas e baías,
da rede hidrográfica - rios e lagoas, do relevo - serras, e dos assentamentos humanos - fazendas, registros, arraiais, vilas e
cidades, são localizados e identificados por seus topônimos.
Nessas áreas vizinhas são assinalados, também, caminhos que levam à Capitania de Minas Gerais. No território da
Capitania do Rio de Janeiro, encontra-se representada a variante do Caminho Novo conhecida por Caminho do Proença,
Caminho do Inhomirim ou conhecida por Estrada Real para Vila Rica, terminada entre 1722 e 1725, de acordo com Costa
(2005, p. 91). Esse percurso parte do fundo da baía da Guanabara – do Porto Estrela (Magé), localizado no rio Inhomirim,
marcada por fazendas e povoações, entre as quais se distinguem: Tamarati (Petropólis), Pegado, Secretario, Fazenda do
Fagundes (Pedro do Rio), Sebolas (distrito de Inconfidências, Paraíba do Sul); e o registro do Paraíba (Paraíba do Sul). Esse
registro corresponde à entrada para as Minas e a localidade onde a variante descrita acima se unia ao Caminho Novo.
No mapa, não se encontra marcado o caminho que partindo de Paraty, unia-se, nas vilas do rio Paraíba, Taubaté ou
Guaratinguetá, ao chamado Caminho Velho para as Minas, traçado pelas incursões dos paulistas para a região mineradora, a
partir dos primeiros descobertos de ouro. Nele, não se verifica também a representação do Caminho Novo construído no
trecho fluminense por Garcia Rodrigues, também chamado do Garcia, do Couto ou do Pilar, esses dois últimos nomes em
referência a localidades em que passava. Essas ausências reforçam o que a historiografia afirma, apoiando-se, sobretudo, em
documentos textuais, como pode ser verificado, por exemplo, em Romeiro e Botelho (2004, p. 62), sobre o fato de o
Caminho do Proença ter se tornado a principal via de acesso do litoral sul do território colonial à região mineradora da
Capitania das Minas Gerais, pouco tempo após a sua construção.
Na porção da Capitania de São Paulo representada no mapa, irradiando-se da cidade de São Paulo, encontram-se
traçados vários caminhos articulados, todos definidos pelo bandeirismo dos paulistas. Dentre esses caminhos pode ser
identificado o Caminho Velho de São Paulo para as Minas que, em direção a serra da Mantiqueira, cortando o rio Tieté,
passando ao largo das povoações paulistas Jacarei e S. Jose (São José dos Campos), e ligando as de Pindamonhangaba,
Consm
aparecida (Aparecida do Norte), Guaratinguetá, chegava ao rio Paraíba, em Piede
(Piedade). A partir dessa
localidade, verificam-se duas passagens para as Minas. Uma delas ultrapassa o rio Paraíba, chegando em Embaú (Cruzeiro),
ponto de passagem da serra da Mantiqueira, ainda em território paulista, alcançando Pinheirinho e finalmente Capivari, em
Minas. Outra passagem é a que, a leste de Embaú, chega à povoação mineira chamada Itajubá.
Além desse velho caminho, há no mapa outro que, saindo de São Paulo, corta as nascentes do rio Juqueri,
importante afluente do rio Tieté, e que, sempre em direção ao norte, atravessa a fronteira da Capitania de Minas Gerais,
alcançando o arraial de Campanha do Rio Verde (Campanha), após cortar o vale do rio Sapucaí Grande, situado em Minas.
Uma bifurcação desse caminho passa por S. Joao de Atibaya (Atibaia), chegando a Minas, através do registro do Jaguari
(Camanducaia). Desse registro, alcançavam-se outras localidades como Toledo e Ouro Fino, na Capitania de Minas.
Paralelamente a este caminho, destaca-se outro que passando a oeste da serra do Lopo corta os vales dos rios Mogi Mirim e
Mogi Guaçu, atingindo as paragens de Ouro Fino, já em Minas Gerais.
Os caminhos que ligavam a Capitania de Minas às de São Paulo e do Rio de Janeiro, bem como os fatores
relacionados à economia do território mineiro e a política da metrópole para sua exploração e ocupação, propiciaram a
formação de uma rede, muito densa, de caminhos e povoados na Comarca do Rio das Mortes. Ao sul do rio Grande, mais
precisamente, no sudoeste e centro sul da Comarca, já se destacam, como pontos de passagens ou encruzilhadas de
caminhos descritos, os arraiais de: Jacuí, Sta. Ana (Silvianópolis), S. Gonçalo e Campanha do R. Verde (Campanha).
Ainda ao sul do rio Grande, a oeste do rio Sapucaí, assinalam-se também os arraiais de Baependi, Lagoa de Iruoca
(Lagoa), Iruoca (Iuruoca). Entretanto, é a região leste do rio Grande, onde estão situadas as vilas de S. José (Tiradentes) e de
S. João ( São João Del Rei), esta cabeça de comarca e carrefour de caminhos do território, que se destaca pela maior
densidade da ocupação. Estão indicados, nessa área, entre outros, os arraiais: Igreja Nova (Barbacena); Lagoa Dourada;
Susuhy (São Brás do Suaçuí); Carijós (Conselheiro Lafaiete).
A propósito dos limites leste da capitania, excetuando-se os estabelecidos com a capitania do Rio de Janeiro, notase
que não foram assinalados, ressalvando-se as condições do original consultado. Porém, os territórios confinantes
pertencentes à Capitania do Espírito Santo e à da Bahia está representados, indicando-se, inclusive, o litoral dessas
circunscrições até a barra do rio Jequitinhonha, ao norte da atual Santa Cruz Cabralia, na Bahia. Essa longa faixa oriental
que se estende a partir do rio Doce, marcada pelos rios Jequitinhonha, Pardo, Gavião e rio de Contas, este como seu limite
setentrional, é apresentada como um grande vazio. Nela são representados apenas alguns poucos elementos da hidrografia,
sem nomeá-los, além dos já citados anteriormente.
Em referência aos limites setentrionais da capitania de Minas, estão bem indicados o com a Capitania de
Pernambuco, seguindo o rio Carinhanha, a oeste do São Francisco, e o com a Bahia, a leste do rio citado, marcado pelo rio
Verde Grande e Pequeno. O limite das Minas com a Bahia é marcado também por uma linha que partindo das nascentes do
rio Verde Pequeno, prolonga-se ao sul do rio Gavião, balizada pelos Montes Altos, sem se estender, no entanto, até os
limites orientais da representação.
Nas divisas citadas, não se verificam ligações entre a capitania de Pernambuco e a de Minas, ao contrário do que se
observa em relação ao território baiano. Nessa área, ressalta-se, ao longo da margem direita do rio São Francisco, o trecho
baiano da mais antiga das rotas de acesso à região das Minas, proveniente de Salvador e de outras paragens do nordeste.
Nota-se que não foi registrado seu prolongamento até a barra do rio das Velhas, onde se localiza o arraial homônimo
(Guaicuí, distrito de Várzea da Palma). Não obstante, vindo do caminho baiano do São Francisco, mostra-se, no território
mineiro, o registro da via que passava ao longo do rio Verde, ou seja, o caminho que fez João Gonçalves do Prado, de
acordo com a descrição de Costa (2005, p.75). Além disso, em relação a esse caminho, destacam-se, também, seus
prolongamentos, a oeste e leste do rio das Velhas, a partir do arraial da Barra do R. das Velhas (Guacui), em direção às
comarcas do Rio das Mortes e de Vila Rica.
Ainda sobre o território baiano confinante com o de Minas Gerais, verifica-se a representação do arraial de S.to
Anto
do Gavião (Gavião) e da vila do Rio de Contas, para onde convergem caminhos baianos que adentravam em Minas.
Essas vias, posicionadas na porção oriental da região de divisa em foco, tinham o arraial do Rio Pardo (Rio Pardo de
Minas), como referência. A partir desse povoado, o caminho articula as vilas - do Príncipe (Serro) e do Fanado (Minas
Novas), e os principais arraiais da Comarca do Serro Frio - Tijuco (Diamantina), Rio Pardo, Rio Preto, Rio Manso,
Chapada, Arassuahy (Senador Modestino Gonçalves), Agua Suja, à Vila Rica (Ouro Preto), sede política administrativa da
Capitania de Minas e da Comarca de Vila Rica.
Sobre os limites ocidentais da capitania de Minas, nota-se que a linha que o representa está bem nítida. Entretanto,
em relação ao território goiano confinante com o mineiro, apenas uma área fronteiriça ao noroeste mineiro encontra-se
representada, no mapa, marcada por vários elementos que denotam a ocupação da área, tais como: fazendas - Vereda, Luis
Correa, Campo Aberto, Tromba, Bom Sucesso, entre outras; e arraiais – Sta Rita, S. Pedro, Sta Rosa, Cerros, Boqueirão e
mais alguns outros; e caminhos. Sobre esses caminhos, observa-se que, vindos da direção oeste, noroeste e norte e buscando
à nascente do rio Urucuia, seguem ao longo das suas margens esquerda e direita. Essas vias têm como referência dois
arraiais da Comarca do Sabará: o de Morrinhos (Matias Cardoso, distrito de Manga), para onde convergem; e o de S.
Romão, que marca a passagem do rio S. Francisco, um pouco ao sul da barra do Urucuia. É a partir do prolongamento do
caminho citado, na Comarca do Serro Frio, que se verifica a sua articulação com outros visando as Capitanias da Bahia, do
Rio de Janeiro e de São Paulo.
Em território mineiro, na Comarca do Sabará, chama atenção, também, o caminho vindo da vila de Sabará, cabeça
de comarca, que corta nascentes de afluentes do rio das Velhas e cruza o rio S. Francisco próximo à barra do rio Abaeté,
para infletir a oeste, cortando os afluentes do rio Paracatu. Esse caminho que também corresponde a uma ligação importante
da Capitania de Minas com a de Goiás, a partir do arraial de Paracatu, bifurca-se para se lançar na capitania fronteiriça, nas
paragens de Arrependidos e S. Marcos. Não obstante, essa área fronteiriça já não está representada no mapa, como se
registrou anteriormente.
Ao sul da área drenada pelo Paracatu e afluentes, mais propriamente no centro-oeste mineiro, entre os rio Abaeté e
o São Francisco, o autor anota a palavra “Certões”. Novamente, entre as terras compreendidas entre o rio São Francisco, ao
norte da barra do Abaeté, e o rio das Velhas, registra o desconhecimento ou o pouco conhecimento da área através do termo
“Certões”. Porém, ainda nessa região fronteiriça ocidental das Minas Gerais, ao sul do alto curso do São Francisco e ao
norte do rio Grande, até a serra da Canastra, o cartógrafo deixa assinalado o avanço do povoamento, marcado por fazendas e
arraiais. Destacam-se nessa área os arraiais do Piauhy (Piuí), Tamandoá (Itapecerica), Onça (Onça de Pitangui), e a vila de
Pitangui.
O registro dos “certões” citados anteriormente vem mostrar que as fronteiras do desconhecido ou pouco conhecido,
nos limites ocidentais da Capitania, já tinham sido deslocadas, após os quase cinquenta anos de criação do território. Nessa
época, a área drenada pelos rios Sapucaí, Machado e Verde, afluentes do rio Grande, no sudoeste da Capitania, tendo
também como marco, a sudeste, o Morro do Lopo, era chamada de sertão. Todavia, essa área, por ocasião da elaboração do
mapa, já se encontra incluída na contextura da geografia construída pelos luso-brasileiros nas terras das Minas.
Fonte: http://migre.me/vh53K
Parafraseando: Apos ultrapassar o rio Paraíba, chegava-se a localidade denominada Itabaquara, espaço colonial de Piquete-SP, inicio do Vale do Embaú, quando então seguia-se em direção a Vila de Conceição do Embau (Cruzeiro-SP), cujo ponto de de passagem da serra da Mantiqueira, era pela Gartanta do Embaú, e ainda em território paulista, alcançando Pinheirinho e finalmente Capivari, em Minas. Outra passagem é a que, a oeste de Embaú, quando então à partir do localidade denominada Itabaquara, espaço colonial de Piquete-SP, via Alto da Serra, Garganta do Sapucai, desfiladeiro de Itajubá, em conformidade com o Mapa, chegava-se à povoação mineira chamada Itajubá, antiga Soledade de Itajubá. e ainda em território paulista, alcançando Pinheirinho e finalmente Capivari, em Minas.